Marcha pela paz em Sardoal. Foto: Paulo Jorge de Sousa

Em todos os municípios do Médio Tejo estão a ser realizadas campanhas de acolhimento e de recolhas de bens e alimentos para ajudar os ucranianos, numa onda de solidariedade e amizade que junta a sociedade civil, autarcas, empresários, alunos, professores e pais.

“As escolas estão unidas numa onda de solidariedade e de amizade para com o povo ucraniano. É uma preocupação real, não é só da boca para fora. Os alunos e os pais estão a aderir em massa, porque querem ajudar”, contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima.

O ETwinning Sardoal e a Associação de Estudantes do Agrupamento de Escolas promoveram na manhã desta sexta-feira, 11 de março, uma Marcha pela Paz pelas ruas da vila e contra a guerra na Ucrânia.

A ação levou os alunos da Escola à Praça da República, onde, a partir da varanda dos Paços do concelho, discursaram dois alunos da Associação de Estudantes, a diretora do Agrupamento de Escolas, Ana Paula Sardinha, e o presidente da Câmara, Miguel Borges.

Fotos de: Paulo Jorge de Sousa

O Instituto Politécnico de Tomar (IPT), e a ESTA, em Abrantes, solidários com toda a comunidade ucraniana, manifestaram disponibilidade para prestar apoio a todos e, diretamente aos estudantes, antigos estudantes, docentes e investigadores através do grupo de mentoria WPOC ( World Point of Contact – wpoc@ipt.pt ) e de toda a sua Rede.

Alguns agrupamentos de escolas estão a lançar campanhas e apelos para a doação de alimentos, roupa e medicamentos para enviar para a Ucrânia, entre eles as escolas de Sardoal e Gavião, e até jardins-escola, como o João de Deus, nomeadamente o de Tomar, estão a promover angariação de bens.

Um pouco por todo o país, as direções têm mobilizado a comunidade escolar em ações humanitárias e de solidariedade com as vítimas da guerra na Ucrânia, a que se têm juntado municípios, associações, igreja, e muitos particulares.

Em Abrantes, na quarta-feira, 16 de março, às 19h30, vai decorrer uma vigília pela paz na Ucrânia. O momento vai decorrer na Praça Raimundo Soares (Largo da Câmara Municipal), com celebração de eucaristia pelos párocos das paróquias do concelho de Abrantes

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento (AHBVE), por exemplo, lançou a campanha “Missão Ucrânia – Ajude a fazer a diferença”, através da qual aceita alimentos e demais bens com o objetivo de os encaminhar para entidades legalmente constituídas que os façam chegar até às vítimas da invasão da Ucrânia. Ao mesmo tempo, a AHBVE enviou uma carta aberta ao ministro dos Negócios Estrangeiros onde se propõe a acolher até duas famílias ucranianas nas suas instalações e a colaborar “na sua integração em condições dignas”.

Em Ferreira do Zêzere, o município está a promover uma campanha de recolha de artigos, com entregas na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Também em Ourém está em curso uma iniciativa de solidariedade. As entregas podem ser efetuadas no Centro Comunitário de Voluntariado, de Ourém, ou no Mercado de Fátima.

Em Vila de Rei, onde o Centro Geodésico de Portugal, no Picoto da Melriça, está iluminado com as cores da Ucrânia, o município disse estar disponível para “colaborar com ONGs ou instituições internacionais para promover recolhas e envio de vestuário, de forma a apoiar a população ucraniana no terreno”. O município tem em funcionamento o Gabinete de Apoio ao Migrante, para prestar apoio gratuito aos migrantes e aos seus familiares, com aconselhamento jurídico, apoio no regresso ou inserção e/ou em processos burocráticos.

Foto: CMVR

Também a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila de Rei se encontra a promover uma campanha de solidariedade “Missão Ucrânia”, com o intuito de recolher diversos bens necessários e urgentes para ajudar o povo ucraniano. As doações podem ser feitas nas instalações dos Bombeiros até dia 11 de março.

Se em Vila de Rei a Casa do Benfica também se associou à campanha nacional de recolha de bens de 1ª necessidade (produtos de saúde, higiene, produtos para bebés e enlatados), na Chamusca também o município e as Juntas de Freguesia do concelho (Carregueira, Chamusca e Pinheiro Grande, Parreira e Chouto, Ulme, Vale de Cavalos), solidários com o povo ucraniano, associaram-se à recolha de bens.

A Rede Social do Município de Abrantes, por sua vez, está a promover até 18 de março uma campanha de recolha de bens, podendo os mesmos ser entregues em todas as sedes das Juntas de Freguesia do concelho de Abrantes, de 2ª a 6ª, entre as 9h e as 17h, na Delegação de Abrantes da Cruz Vermelha Portuguesa, de 2ª a 6ª, entre as 9h e as 20h, e aos sábados, das 9h às 18h. Também o Quartel dos Bombeiros de Abrantes é ponto de recolha, podendo aqui ser entregues bens todos os dias, a qualquer hora.

Já o Rotary Club de Abrantes associou-se à Campanha de Solidariedade com o povo ucraniano disponibilizando a sua conta bancária para a angariação de fundos (IBAN da conta bancária: PT50 0035 0003 00051134530 51), ao passo que as Paróquias de Abrantes, S. Vicente e S. João, através da Cáritas, estão a realizar a campanha de solidariedade “azul e amarelo – vidas fraternas”, para recolha de roupa de inverno e alimentos não perecíveis. A entrega pode ser feita no Salão Paroquial de S. Vicente /Casa Paroquial de Abrantes, das 10h às 13h e das 16h às 18h.

A Associação Empresarial da Região de Santarém (Nersant) também se juntou ao movimento solidário e já informou o Governo da sua disponibilidade para encontrar junto dos seus associados ofertas de trabalho para refugiados ucranianos que cheguem ao país.

Em Ourém, foi criada uma linha de apoio e está a decorrer uma campanha de recolha de bens para doar ao povo ucraniano. A iniciativa SOS Ucrânia, promovida pela Câmara e Junta de Freguesia de Fátima, consiste na recolha de alimentação, agasalhos, produtos de higiene, artigos de saúde, entre outros produtos, que podem ser entregues no Centro Comunitário de Voluntariado (junto ao edifício sede da Câmara) e no mercado de Fátima.

Em Alcanena, localizada numa das lojas do Mercado Municipal, a unidade “SOS Ucrânia” funciona como um polo de apoio às vítimas da guerra que está a decorrer entre a Federação Russa e a Ucrânia. O funcionamento desta estrutura é assegurado através de voluntários, responsável pela receção, triagem e preparação dos bens para envio para a zona de conflito. A iniciativa encontra-se de portas abertas a todos aqueles que queiram ajudar nesta causa e a inscrição pode ser feita através do número 939 091 302.

Na Sertã, até 13 de março, o Município promove a campanha “Missão de Solidariedade com o Povo Ucraniano”. Nesse sentido, apela à solidariedade e contributo de todos na dádiva de bens de primeira necessidade. Para além das juntas de freguesia e outras entidades, a campanha conta também com o apoio do Agrupamento de Escolas da Sertã e Escola Tecnológica e Profissional da Sertã.

O conflito na Ucrânia, que começou no dia 24 de fevereiro, e os milhares de refugiados que diariamente tentam sair do país, tornaram-se conversas habituais nas salas de professores e nos recreios, contou à Lusa Filinto Lima.

Há já cerca de dois milhões e meio de refugiados da Ucrânia para países vizinhos, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.

A guerra tornou-se um tema presente nas conversas das famílias e, também por isso, surgiram iniciativas nas escolas que partem dos próprios alunos ou dos encarregados de educação, acrescentou o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascensão.

A Confap está a levar a cabo uma recolha de roupas, em especial roupa térmica e bens essenciais para as mulheres e crianças que estão em deslocação, mas Jorge Ascensão prefere sublinhar que este é um fenómeno nacional.

“Há uma grande mobilização das associações de pais juntamente com as direções, a nível nacional. Mas, neste momento não interessa qual é a escola, somos nós todos. E todos nós sentimos que é sempre pouco”, concluiu Jorge Ascensão.

O presidente da Confap voltou a lembrar que “a escola é o reflexo de toda a sociedade”: “Começámos com uma manifestação pública de condenação ao que se estava a passar, mas agora é preciso arregaçar as mangas e ajudar”.

Filinto Lima precisou de recuar quase duas décadas para se lembrar de uma mobilização semelhante: “Esta onda de solidariedade fez-me lembrar os ataques em Timor Leste, quando todos nós em Portugal nos unimos, com vigílias e recolhas de bens essenciais”, disse o diretor, recordando a ofensiva de 1991, ordenada por militares indonésios contra uma multidão de timorenses, que protestava contra a ocupação do país.

“Neste momento, os nossos alunos estão a pôr em pratica aquilo que lhes ensinamos e que cultivamos na escola, que é a solidariedade e a amizade”, saudou Filinto Lima.

No agrupamento de escolas a que pertence Filinto Lima há alunos ucranianos e russos. Até ao momento, Filinto desconhece que tenha havido quaisquer casos de discriminação em relação a crianças russas.

“Penso que as pessoas percebem que de facto a população russa também está amordaçada e conseguem distinguir o que é a população russa do que são as atitudes do governo russo. Até ao momento não senti qualquer atitude contra a população da Rússia. Mas seja como for devemos estar atentos a alguns sinais que possam surgir”, afirmou.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

c/LUSA

Mário Rui Fonseca

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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