As doenças cardiovasculares ocuparam o primeiro lugar nas causas de morte com 29% dos óbitos no ACES Médio Tejo. Créditos: Pixabay

O último estudo que caracterizou a população residente nos 11 concelhos do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Médio Tejo através de indicadores demográficos, socioeconómicos, determinantes de saúde e indicadores do estado de saúde, concluiu que as doenças cardiovasculares ocuparam o primeiro lugar nas causas de morte, com 29% dos óbitos, seguido dos tumores malignos (26%) e doenças do aparelho respiratório (12%). O “Diagnóstico da Situação da Saúde 2017-2018” do Observatório da Saúde a que o mediotejo.net teve acesso, foi publicado em 2019, antes da pandemia, e tem os indicadores mais recentes.

O estudo “Diagnóstico da Situação da Saúde 2017-2018” do Observatório da Saúde indica que no ano 2017, a principal causa de morte, na área geográfica do ACES do Médio Tejo, foram as doenças do aparelho circulatório com 29% do numero de óbitos, seguida dos tumores malignos, com 26%, e das doenças do aparelho respiratório, com 12%.

Contudo, no período compreendido entre 2012 e 2014, a taxa de mortalidade padronizada pela idade (menos de 75 anos) em ambos os géneros, a primeira causa de morte foram os tumores malignos, (140,0 por 100.000 habitantes), superior às doenças do aparelho circulatório (61,3 por 100.000 habitantes), sendo seguidos dos tumores da laringe, traqueia, brônquios e pulmões nos homens (46,5 mortes por 100 mil habitantes) e nas mulheres os tumores da mama, seguido dos tumores do cólon (15,1 e 10,5 mortes por 100 mil habitantes respetivamente).

Relativamente à segunda maior causa de morte, para ambos os sexos, com idade inferior a 75 anos, que são as DAC (doenças do aparelho circulatório), destacaram-se as doenças cerebrovasculares com 23,3 mortes por 100.000 habitantes.

Nos registos dos cuidados de saúde primários, verificou-se que o concelho do Sardoal, teve a mais elevada incidência de acidente vascular cerebral (AVC), com (3,31‰) – expressa em número de portadores por 1000 -, seguido de Vila Nova da Barquinha (2,29‰) e logo depois Abrantes (2,26‰). Para além destes ficaram acima da incidência de AVC verificada no ACES Médio Tejo (1,79‰), os concelhos de Ferreira do Zêzere (2,00‰), Torres Novas (1,93‰), Tomar (1,89‰) e Mação (1,88‰). Constância foi o concelho com menor incidência de AVC (0,72‰) .

Ferreira do Zêzere apresentou a maior incidência de enfarte agudo do miocárdio, com (1,14‰), acima do valor verificado no ACES MT (0,70‰), seguido por Tomar e Abrantes ambos com 0,93‰, depois Constância (0,90‰), Sardoal (0,83‰) e Alcanena (0,74‰). Vila Nova da Barquinha foi o concelho com menor incidência (0,24‰). 

Na distribuição da proporção de utentes por diagnóstico ativo, encontraram-se distanciadas as proporções de utentes com “hipertensão arterial” (24,83%) e com “alterações do metabolismo dos lípidos” (22,84%). Os utentes com neoplasia brônquios/pulmão foram os que tiveram a menor proporção de diagnóstico ativo (0,08%).

No ano 2017, a taxa bruta de mortalidade no Médio Tejo (13,9‰) – expressa em número de óbitos por 1000 – foi superior à verificada em Portugal (10,6‰). Analisando por concelho, verifica-se que o concelho com maior taxa de mortalidade foi o de Mação (25,9‰), seguido de Ferreira do Zêzere (17,4‰) e de Tomar (15,3‰). O concelho com menor taxa de mortalidade foi o do Entroncamento com 9‰.

Quanto à morbilidade, ou seja a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento, verifica-se que na distribuição da proporção de utentes por diagnóstico ativo, encontraram-se com valores mais elevados as proporções de utentes com “hipertensão arterial” (24,83%) e com “alterações do metabolismo dos lípidos” (22,84%). Os utentes com neoplasia brônquios/pulmão foram os que tiveram a menor proporção de diagnóstico ativo (0,08%).

Pandemia atira ações preventivas para segundo plano

A diretora executiva do ACES Médio Tejo, Diana Leiria, em declarações ao nosso jornal, afirma que “paulatinamente a Saúde Pública irá retomar a sua atividade normal, que tinha antes da pandemia”. Desde logo atualizando o perfil local de saúde, sem dados novos desde 2018, tendo sido publicado em 2019, como referido anteriormente.

No caso da “hipertensão arterial” a primeira maior proporção de doença no ACES Médio Tejo, Diana Leiria admite que “as várias iniciativas que as unidades já tinham localmente” ainda não foram retomadas. No entanto, dá conta de “vários programas para a vigilância do doente hipertenso que é definido pela norma da DGS e que nós cumprimos”.

Garantiu que “assim que possível iremos retomar” as atividades de grupo. Bem como as iniciativas das unidades de saúde locais designadamente “chamar as pessoas, intervir, assinalar a data da doença”. Na saúde escolar “em termos de alimentação chamar a atenção dos meninos para evitar que quando forem adultos caiam numa alimentação desregulada e que venham a ter hipertensão. Continuamos a intervir nesse aspeto”, disse.

Diana Leiria, diretora executiva do ACES Médio Tejo. Foto: mediotejo.net

Para a diretora executiva do ACES Médio Tejo os problemas de saúde que caracterizam a população do Médio Tejo “não são muito diferentes do resto do País” estabelecendo uma relação com a existência de “uma população envelhecida” e com “os hábitos de vida que temos” estando na causa da “hipertensão, dislipidemia, diabetes embora em menor número, é uma percentagem elevada da população”, muito por causa “do tabagismo, uso e abuso do sal, alimentação desregulada, falta de exercício físico, situações que levam inclusivamente a neoplasias”, aponta acrescentando que “algumas serão genéticas, 20% das nossas doenças terão a ver com os nossos genes” as restantes estão relacionadas “com a nossa forma de estar, de viver”.

Neste últimos dois anos, com a centralização das atenções na pandemia, deixando as medidas de prevenção para segundo plano, Diana Leiria considera “expectável” que a atualização do estudo revele alterações no perfil local de saúde.

Indica dois planos que merecem atenção: o primeiro a deteção precoce da doença, nomeadamente através de rastreio de base populacional. E a promoção da saúde. Relativamente a este último ponto, Diana Leiria sublinhou a importância do plano local de saúde e o papel “determinante” das autarquias na definição do mesmo, ou seja, na criação de “um plano de ação efetivo, olhando para o perfil da saúde e ver onde temos de atuar”.

ÁUDIO | DIANA LEIRIA, DIRETORA EXECUTIVA ACES MEDIO TEJO

Advertindo não possuir elementos científicos para o afirmar, Diana Leiria admite que os dados disponíveis indicam que a pandemia veio agravar as doenças do foro da saúde mental.

Mas dá conta de, no Médio Tejo, estar em funcionamento o grupo de saúde mental e existir “uma parceira muito estreita com o serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar do Médio Tejo”, inclusivamente com a equipa comunitária de saúde mental.

Neste momento “a equipa de psiquiatria do Centro Hospitalar (médicos/enfermeiros) fazem consulta no Centro de Saúde de Ourém e no Centro de Saúde de Fátima. A intensão é alargar a outros concelhos”, avança ao nosso jornal.

A responsável garante que o ACES Médio Tejo cumpre as normas e os programas prioritários da DGS, e exemplifica com as neoplasias. “Temos sempre a decorrer três rastreios de base populacional: rastreio do cancro da mama em colaboração com a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a ARS; rastreio do cancro do cólon e reto através de protocolo com a ARSLVT e o Hospital de Santa Maria, bem como o rastreio de oportunidade tendo em conta a idade do utente. E ainda o rastreio do cancro do colo do útero”.

Para a diabetes refere “vários programas de promoção para a saúde” mas admite que durante a pandemia “não pudemos fazer essas atividades de grupo e ainda não retomámos porque ainda não houve orientações nesse sentido. Iremos retomar assim que possível”.

Nos casos de dislipidemia, ou seja níveis elevados de colesterol “mantemos isso”, assegura Diana Leiria e já foi reativado, segundo diz, “o rastreio auditivo e visual nas escolas com os alunos do primeiro ciclo”. 

ÁUDIO | DIANA LEIRIA, DIRETORA EXECUTIVA ACES MEDIO TEJO

O ACES Médio Tejo abrange onze concelhos: Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha. A sub-região integra mais dois concelhos; Vila de Rei e Sertã, fora da abrangência do ACES Médio Tejo.

O Médio Tejo tem nas assimetrias demográficas uma das suas principais características. Com 2706,04 Km2, engloba concelhos com áreas muito diferentes (entre 14 e 715 Km2 ), tem 228 744 mil habitantes (segundo os Censos de 2021). Com zonas rurais de grande dispersão e urbanas de grande concentração populacional, com zonas de atração e zonas de desertificação.

Outros dados do estudo

Hipertensão arterial

Utentes com “hipertensão arterial” no ACES Médio Tejo, a primeira maior proporção, foi 24,83%, acima deste valor ficaram os concelhos de Mação (35,57%), Sardoal (33,09%), Abrantes (28,06%), Torres Novas (27,73%) e Vila Nova da Barquinha (26,14%). O concelho com menor valor foi o Entroncamento com 20,76%.

Alteração do metabolismo dos lípidos

O ACES Médio Tejo, em 2017, teve uma proporção de utentes com “alteração do metabolismo dos lípidos igual a 22,84%. Acima daquele valor ficaram os concelhos de Mação (36,78%), Sardoal (28,82%), Vila Nova da Barquinha (28,78%), Abrantes (25,98%) e Torres Novas (25,02%). Constância foi o concelho com a proporção mais baixa (15,68%).

Perturbações depressivas

A proporção de utentes com “perturbações depressivas”, terceira maior proporção de utentes com diagnóstico ativo no ACES Médio Tejo, teve em 2017 um valor igual a 10,05%. Vila Nova da Barquinha (12,26%), Torres Novas (12,09%), Entroncamento (11,80%), Ferreira do Zêzere (10,69%), Tomar (10,21%) e Abrantes (10,18%) foram os concelhos onde se verificou uma proporção maior do que a do ACES Médio Tejo. Constância foi o concelho com menor proporção de utentes com diagnóstico ativo de “perturbações depressivas” (6,04%).

Diabetes mellitus

Os utentes com “diabetes mellitus” apresentaram a quarta proporção mais diagnosticada (8,80%), no ACES Médio Tejo, em 2017. Para esta causa de morbilidade, não existe assimetria entre os vários concelhos do ACES MT, sendo que o concelho com maior proporção de utentes com “diabetes mellitus” foi Ferreira do Zêzere (10,64%) e o com menor valor foi Ourém (7,47%).

Obesidade

Nos utentes com “obesidade” a proporção foi de 8,70%. Nesta verificou-se alguma assimetria, com Vila Nova da Barquinha a apresentar o maior valor (16,13%) e Ferreira do Zêzere o menos valor com (4,62%).

Osteoartrose do joelho

Relativamente à “osteoartrose do joelho”, o concelho de Ferreira do Zêzere sobressaiu com uma proporção de 9,58%, superior ao valor do ACES MT (4,74%). O concelho com menor valor foi Constância com 3,28%.

Doenças dos dentes e das gengivas

O concelho de Vila Nova da Barquinha destacou-se na proporção de doentes diagnosticados com “doenças dos dentes e das gengivas”, com 7,70%, muito acima dos 2,81% do ACES Médio Tejo. Mação foi o concelho com menor proporção de doentes diagnosticados com “doenças dos dentes e das gengivas” com 0,48%.

Osteoporose

Relativamente à proporção de utentes com “osteoporose”, o valor foi 2,55%, tendo sido Abrantes o concelho com o valor mais elevado 3,53% e Constância o concelho com o valor mais reduzido 0,90% .

Asma

Utentes diagnosticados com “asma” a dimensão foi de 2,40% no ACES Médio Tejo. Apenas três concelhos ficaram acima daquele valor, nomeadamente Torres Novas (3,45%), Vila Nova da Barquinha (3,18%) e Entroncamento (3,08%). O concelho com menor valor de doentes com “asma” foi Constância com 0,76%.

Osteoartrose da anca

A proporção de utentes diagnosticados com “osteoartrose da anca” foi 1,89%. Destacou-se o concelho de Ferreira do Zêzere com um valor de 4,25%. O concelho com menor valor foi Constância com 0,94%.

Bronquite crónica

A proporção de utentes diagnosticados com “bronquite crónica” destacou-se no concelho de Alcanena com 2,42%, enquanto que o ACES Médio Tejo apresentou um valor de 1,28%. O concelho com menor proporção foi Mação, com 0,33%.

Doença pulmonar obstrutiva crónica

Doentes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) a dimensão foi de 1,17%. Sardoal e Mação apresentaram uma proporção de 2,01% e 1,99%, respetivamente. Acima do valor do ACES Médio Tejo ficaram também os concelhos de Torres Novas (1,67%), Abrantes (1,40%) e Vila Nova da Barquinha (1,29%). O concelho com menor valor foi Constância com 0,34%.

Demência

A proporção de doentes diagnosticados com “demência” destacou-se nos concelhos de Mação e de Ferreira do Zêzere com 2,09% e 1,74%, respetivamente. Valores acima do ACES Médio Tejo 1,02%. Acima ficaram também os concelhos do Sardoal (1,41%) e de Vila Nova da Barquinha (1,23%). Constância foi o concelho com menor número de doentes com demência, com 0,65%.

Doença cardíaca isquémica

Já utentes diagnosticados com “doença cardíaca isquémica” foi de 0,96%. Os valores mais elevados verificaram-se nos concelhos de Alcanena (1,70%) e de Torres Novas (1,46%). O concelho com o menor valor desta doença foi Ferreira do Zêzere com 0,31%.

Neoplasia da mama feminina

Utentes diagnosticados com “neoplasia da mama feminina”, a proporção foi de 0,90%. Nesta proporção o intervalo foi pequeno, com o valor mínimo a ter lugar no concelho de Ourém (0,78%) e o valor máximo no concelho de Alcanena (1,13%).

Neoplasia do cólon/reto

Contabilizados os utentes diagnosticados com “neoplasia do cólon/reto”, destacou-se o número de Mação com 1,07%, acima dos 0,59% do ACES Médio Tejo. O concelho com menor valor desta doença foi Constância com 0,45%.

Neoplasia da próstata

Mação destacou-se também na proporção de utentes diagnosticados com “neoplasia da próstata”, com 0,96%. O ACES Médio Tejo apresentou um valor desta proporção de 0,54%. Alcanena foi o concelho com o menor valor (0,42%).

Neoplasia do colo do útero

Alcanena, teve uma proporção de utentes diagnosticados com “neoplasia do colo do útero” de 0,40%, que se destacou dos outros concelhos e do valor do ACES Médio Tejo que foi 0,13%. O concelho com menor valor foi Ferreira do Zêzere (0,03%).

Neoplasia do estômago

Doentes com “neoplasia do estômago” a proporção registou-se nos 0,10%. O concelho com menor valor foi Vila nova da Barquinha com 0,02% e o concelho com maior valor foi Ferreira do Zêzere com 0,17%. O intervalo é muito reduzido não alcançando os 0,2% entre o valor máximo e o valor mínimo.

Neoplasia dos brônquios/pulmão

O ACES Médio Tejo teve uma proporção de utentes diagnosticados com “neoplasia dos brônquios/pulmão” de 0,08%. O concelho com menor valor foi o Sardoal com 0,03% e o concelho com valor mais elevado foi Mação com 0,12%. O intervalo entre o valor mínimo e o valor máximo, de utentes com “neoplasia do brônquio/pulmão” é muito reduzido, não chegando a 0,1% .

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *