Com mais de 40 mil utentes atualmente sem médico de família, a situação agudizou-se no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo este mês de março devido à aposentação de mais cinco profissionais. Com 29 médicos em falta neste ACES, a perspetiva futura não é animadora uma vez que, ao longo deste ano há ainda 17 médicos que atingiram, ou irão atingir, a idade da aposentação.
Diana Leiria, diretora executiva do ACES, falou ao mediotejo.net do panorama atual na região e das medidas e perspetivas para minimizar o problema a curto/médio prazo, tendo apontado alguma esperança nas vagas dos concursos de acesso à carreira especial médica de Medicina Geral e Familiar, a par do recurso à contratação de médicos aposentados e à prestação de serviços médicos para poder servir as populações.
ÁUDIO | DIANA LEIRIA, DIRETORA EXECUTIVA ACES MÉDIO TEJO:
O ACES Médio Tejo tem 225.000 utentes inscritos e frequentadores, sendo que mais de 40 mil utentes aguardavam em janeiro por atribuição de médico de família, panorama que se agravou a 1 de março, com a aposentação de cinco profissionais. A situação mais complicada centra-se em Ourém, Abrantes, Torres Novas, Alcanena e Ferreira do Zêzere, mas a falta de médicos de família é transversal a toda a região, disse ao mediotejo.net fonte oficial da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
“O ACES Médio Tejo debate-se com uma grave carência de médicos de família, que se tem vindo a agravar com o elevado número de aposentações. Este ano, de 2022, entraram dois médicos especialistas de Medicina Geral e Familiar em janeiro, através do concurso de ingresso na carreira médica da época especial, mas registaram-se 4 saídas por aposentação. No dia 1 de março estão já confirmadas mais 5 aposentações, pelo que o número de utentes sem médico de família atribuído irá inevitavelmente aumentar. Para garantir a atribuição de médico de família aos utentes inscritos e frequentadores necessitaríamos de 29 médicos de família”, disse fonte da ARSLVT.
Questionada onde se sente mais o problema da falta de médicos e quantos profissionais se prevê se possam aposentar nos próximos meses no ACES Médio Tejo, a ARSLVT não escondeu o cenário cinzento que se perspetiva para o futuro a curto e médio prazo.
“Infelizmente, o problema afeta transversalmente todo o ACES, destacando-se os concelhos de Ourém, Abrantes, Torres Novas, Alcanena e Ferreira do Zêzere. Este ano, 25 médicos de Medicina Geral e Familiar atingem ou ultrapassam a idade de aposentação, sendo que 8 destes profissionais já se aposentaram nos primeiros meses deste ano (1 de janeiro, 1 de fevereiro e 1 de março), e temos ainda 17 médicos que atingiram ou irão atingir, ao longo deste ano, a idade da aposentação”.
Perante a realidade, a ARSLVT traçou as expectativas de futuro para dar resposta à população: “durante este ano irão ainda decorrer os concursos de acesso à carreira especial médica de Medicina Geral e Familiar, nos quais, certamente, nos irão ser atribuídas vagas que esperamos vir a conseguir preencher. Até lá, temos recorrido quer à contratação de médicos aposentados, quer à prestação de serviços médicos, de forma a chegar ao maior número de utentes e, desta forma, tentar minimizar as dificuldades de acesso à prestação de cuidados médicos”, concluiu.
Mais de um milhão de portugueses sem médico de família
O bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães, indicou que, no dia 14 de janeiro, havia mais de um milhão de pessoas sem médico de família, sem que o problema, apesar das sucessivas promessas, esteja resolvido.
De acordo com os dados que revelou naquele dia, em fevereiro de 2019 eram 688 mil os utentes sem médicos de família, em junho de 2021 850 mil, em julho de 2021 1.1 milhão e, em meados de janeiro de 2022, mais de 1.2 milhões.
O Bastonário da Ordem dos Médicos afastou a ideia de que seja por falta de clínicos que o problema não está resolvido, indicando que, neste momento, há mais de 1.500 médicos de família a trabalhar exclusivamente no setor privado ou social.
“Nós para termos a cobertura deste mais de um milhão e cem mil [utentes] que está em falta, bastavam-nos 600 médicos de família “, revelou, desejando que o novo Governo possa ter “uma ideia brilhante” para resolver esta situação que a Ordem considera preocupante.
Esta realidade é ainda mais preocupante se tivermos em conta que a situação pandémica levou a uma diminuição do número de consultas presenciais, menos 4.5 milhões de consultas (cerca de 33%) quando comparamos 2019 com 2021.
Utentes da Saúde do Médio Tejo pedem “medidas extraordinárias e imediatas” para contratação de médicos
A Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT) reclamou a 14 de fevereiro por “medidas extraordinárias e imediatas” para a contratação de profissionais de saúde para os cuidados primários, sugerindo a criação de incentivos ou o recrutamento de estrangeiros.
José Manuel Soares, porta-voz da CUSMT, disse à Lusa que esta foi uma das questões abordadas na reunião realizada naquele dia com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), a administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a direção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo e um representante dos autarcas, na sequência da petição com mais de 7.500 assinaturas entregue, em janeiro, pela comissão, no Ministério da Saúde.
A reunião realizou-se por iniciativa do presidente da ARSLVT, Luís Pisco, realçando Manuel Soares o consenso entre todos os participantes quanto ao essencial das preocupações levantadas no abaixo-assinado e das propostas avançadas.
Em particular, salientou o reafirmar das dificuldades atualmente existentes na contratação de médicos e enfermeiros, o que, sublinhou, torna mais urgente, “pensar-se, a curto prazo, em medidas, que podem ser temporárias, de incentivos ou de contratação de profissionais estrangeiros”, a exemplo do que já se fez no passado.
C/LUSA