Duas populações estão isoladas e 45 vias rodoviárias interditas ainda hoje em Portugal, na sequência das fortes chuvadas que se fizeram sentir na última semana no país. As duas populações isoladas são Reguengo do Alviela, no distrito de Santarém, e Foros do Mocho, em Montargil, Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, disse à Lusa o oficial da GNR, Ricardo Silva. Também nos distritos de Santarém e Portalegre estão localizadas a grande maioria das 45 vias rodoviárias que ainda se encontravam interditas, explicou.
As fortes chuvadas que se fizeram sentir na última semana no país causaram várias inundações e acidentes.
No total, há registo de 83 desalojados, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
Mau tempo isola aldeia de Foros do Mocho, ponte militar pode ser solução
A aldeia de Foros do Mocho, na freguesia de Montargil (Ponte de Sor), ficou isolada após a intempérie da última terça-feira. A água provocou danos num pontão que está sobre as águas da barragem de Montargil, no final de um dos braços da albufeira, isolando a povoação.
Mas as soluções estão em curso. O presidente da Junta de Freguesia de Montargil, Joaquim Oliveira Dias, disse ao mediotejo.net que já esteve no local uma equipa de peritos de engenharia militar no sentido de estudar a possibilidade de instalar uma ponte militar, o que permitirá restabelecer a circulação automóvel.
O presidente da Junta referiu também ser uma possibilidade construir um desvio numa estrada de terra batida que inicialmente teria 13 quilómetros mas que a análise do terreno permitiu reduzir para menos de metade. Essa solução também permitirá que a circulação automóvel seja restabelecida.
Neste momento “estamos numa fase de conjugação duas possibilidades, que é criar um caminho alternativo viável para veículos ligeiros” que terá o apoio de uma ponte suportada pelo regimento de Engenharia, portanto uma ponte militar”, num desvio que será inferior a seis quilómetros, confirmou ao nosso jornal o coordenador municipal da Proteção Civil, Simão Velez, na sexta-feira.
O responsável esclareceu que a ponte militar, no entanto, “não será colocada naquele local. A distância e a instabilidade do terreno implicaria uma ponte muito grande”, ou seja “não há capacidade de montar uma estrutura daquelas em substituição da existente”, ou seja, o pontão por onde passa a Estrada 162.
O percurso alternativo será assim a jusante e, segundo o Simão Velez, para atravessar a linha de água “há a necessidade de ter uma ponte, o que está previsto”.
A movimentação de materiais de construção foi iniciada na manhã de sexta-feira, “uma operação que vai demorar alguns dias, e que está em curso”, indicou, sem quantificar o número de dias. “Estamos dependentes de alguns materiais que têm de se adquirir, como betão pré fabricado, é muito difícil assumirmos uma data definitiva até para não criar uma expectativa que depois possa ser defraudada”.
No entanto, deu conta do “empenho” do Município pôr em prática a solução “tão breve quanto possível” não só porque “traz consequências às pessoas” mas também aos serviços municipais, referiu.
Por outro lado, de acordo com o coordenador da Proteção Civil de Ponte de Sor, “existe alguma estabilidade na derrocada que se tem vindo a sentir neste dois dias, no local onde o terreno cedeu, fruto de um equilíbrio de pressões, porque a água, de um lado e do outro, já está nivelada”, indicou.
A movimentação de pessoas apeadas continua a ser permitida, de acordo com “as análises regulares da condições de segurança”, embora esteja interdita a circulação de veículos.
“Temos veículos de um lado e do outro, há movimentações de alguma mercadoria, fundamentalmente bens essenciais” e encontra-se no terreno uma embarcação dos Bombeiros de Ponte de Sor por segurança e, “se necessário, movimenta pessoas de um lado ao outro”, acrescentou.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal, Hugo Hilário, indicou que este pontão situa-se no troço rodoviário que faz a ligação da Estrada Nacional 2 (EN2) à localidade de Foros do Mocho.
Segundo o presidente da autarquia, a Proteção Civil Municipal e os serviços técnicos da câmara iniciaram uma avaliação da estrutura, depois de ter sido sinalizada “uma escavação na parte da alvenaria do pontão, que não é normal”.
Hugo Hilário adiantou no momento que o único acesso rodoviário a Foros do Mocho é, agora, “restrito e controlado” por militares da GNR. A aldeia de Foros do Mocho tem “cerca de 100 habitantes”, esclareceu.

De acordo com o autarca, a chuva forte que assolou a região provocou também “várias inundações” no concelho, sobretudo na zona ribeirinha de Ponte de Sor, e algumas estradas estiveram temporariamente cortadas ao trânsito.
A chuva intensa e persistente que caiu de madrugada causou na terça-feira centenas de ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas nos distritos de Lisboa, Setúbal e Portalegre, onde há registo de vários desalojados.
Em declarações à Lusa, o Comandante Operacional Distrital (CODIS) de Portalegre, Rui Conchinha, explicou que foram registadas na terça-feira, entre as 00h00 até cerca das 17h00, mais de 150 ocorrências no distrito, das quais cerca de 130 inundações.
A maioria das inundações foi provocada pelo “galgamento de linhas de água para estradas municipais e nacionais”, pelo que “muitas [das vias] estão cortadas”.
Os concelhos de Campo Maior e Sousel foram os que registaram o maior número de inundações.
Caudais lançados no Tejo baixaram, mas mantêm-se constrangimentos no distrito de Santarém
Os caudais lançados pelas barragens no Tejo nas últimas horas situam-se nos 1.386 metros cúbicos por segundo (m3/s), com a previsão de nas próximas horas manter-se, indicou hoje ao final do dia a Proteção Civil de Santarém, que prevê a manutenção dos constrangimentos em diversas vias do distrito.
Admitindo que os níveis registados no Tejo possam ter “algumas oscilações”, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém afirma, em comunicado, ser expectável que os caudais do rio se mantenham nas próximas horas, reafirmando as recomendações às populações para que não atravessem, com viaturas ou a pé, estradas ou zonas alagadas, tomem medidas de precaução e se mantenham informadas.
Segundo a nota, mantêm-se submersas ou inundadas diversas vias em vários concelhos do distrito de Santarém.
No concelho de Ferreira do Zêzere, mantêm-se os condicionamentos na Estrada Municipal (EM) 521, enquanto no de Santarém a circulação está condicionada devido a lençóis de água na EM 1348, que liga a Ribeira de Santarém a Vale de Figueira, na rua de Marvila, na ligação Ómnias/Caneiras, e na Estrada Nacional (EN) 365, no Reguengo do Alviela.
Em Constância, continua inundada uma parte do parque de Estacionamento na margem do Zêzere (10%) e no município de Golegã está condicionadas a Estrada dos Lázaros (no CM 1).
Em Almeirim, estão condicionadas a ER-A2, entre Benfica do Ribatejo e a EN 368, e a ER-A5, entre a EN 368 e o Porto da Courela, estando ainda limitada a circulação, no concelho de Coruche, na EM 1427 (na ligação Fajarda/Biscainho), na estrada de Meias (Coruche/Azervadinha), a rua Paul (em Coruche) e o CM-H, em Amieira, Fajarda e Raposeira.
No município de Benavente, a EM 1456 (Estrada do Campo) e a estrada D’el Rei (EN118/Foros de Salvaterra) e, no do Cartaxo, a EN 3-2, em Ponte do Reguengo e Setil, enquanto em Salvaterra de Magos se mantêm condicionadas a rua Miguel Torga (Marinhais) e a estrada do Furo (Foros de Salvaterra).
Em Mação está condicionado o CM 1166 – Zimbreira / Padrão (Proença Nova).
Na terça-feira de manhã, a Comissão Distrital de Proteção Civil de Santarém acionou o Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, no nível Amarelo, devido ao “aumento considerável dos níveis hidrométricos e caudais do rio Tejo, especialmente nos provenientes de Espanha”.
Nesse dia, os caudais debitados pelas barragens no Tejo estavam acima dos 2.000 metros cúbicos por segundo, tendo sido registados 3.000 m3/s na estação de Almourol.
c/LUSA