O presidente da Câmara Municipal de Mação afirmou que foi com tristeza que constatou no local o elevado grau de destruição dos passadiços de Ortiga, inaugurados este ano à beira Tejo, por força da corrente das águas. Foto: Joana Santos/mediotejo.net

Desabamentos de terras, quedas de árvores, ruas inundadas, estradas cortadas, trânsito condicionado e situações de cheia são as principais ocorrências registadas na região derivadas das condições atmosféricas adversas que se mantêm desde a madrugada desta terça-feira. O maior número de ocorrências registou-se no concelho de Coruche (14), seguindo-se Abrantes (11), num total de 87, em 18 dos 21 concelhos do distrito de Santarém, as quais envolveram 275 operacionais e 107 viaturas.

A subida do nível das águas na bacia do Tejo obrigou ao encerramento ou condicionamento de várias vias no distrito de Santarém, dependendo a evolução nas próximas horas das descargas das barragens espanholas, disse fonte da Proteção Civil.

O Comandante Distrital de Operações de Socorro de Santarém, David Lobato, disse à agência Lusa que, durante a tarde, baixou o número de ocorrências no distrito (57 em 13 dos 21 concelhos, contra as 87 registadas durante a manhã), mas várias vias nos concelhos da Golegã, Santarém, Almeirim, Alcanena, Constância e Coruche estão submersas ou inundadas em alguns pontos, obrigando à interdição ou condicionamento da circulação.

A evolução da situação vai depender das descargas das barragens, em particular das espanholas, que preveem continuar a debitar até às 21:00 cerca de 2.600 metros cúbicos por segundo, a que se junta a água da barragem de Pracana, estando Castelo de Bode (no rio Zêzere) ainda com capacidade de encaixe, disse.

O desagravamento da situação, aponta o IPMA, está previsto para hoje, no entanto, a chuva não vai parar e mantém-se o risco de cheias e inundações devido aos níveis hidrométricos e caudais do rio Tejo. Às 10h00, a Comissão Distrital da Proteção Civil de Santarém (CDPCS) já tinha acionado o Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, no nível amarelo.

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David Lobato, Comandante Operacional da Proteção Civil Distrital, fala em “muito trabalho para os próximos dias”, uma vez que “vai chover com menos intensidade, mas a chuva não vai parar”. Ao mesmo tempo, alerta para que as populações adotem uma “cultura de risco e segurança”, evitando passeios turísticos junto às margens do Tejo, tomando cuidados redobrados em zonas submersas ou perante situações de lençóis de água.

ÁUDIO | DAVID LOBATO, COMANDANTE OPERACIONAL DISTRITAL (CODIS)

Por sua vez, Anabela Freitas, presidente da CDPCS, disse ao mediotejo.net que, apesar de não existirem “situações muito preocupantes” na região, o panorama de risco implica redobradas ações de prevenção: “Implica um reforço de todos os agentes de proteção civil, sejam bombeiros, GNR ou PSP… um reforço daquilo que são os seus operacionais e uma monitorização mais fina dos caudais. A APA – Agência Portuguesa do Ambiente, está a fornecer-nos de hora a hora aquilo que está a acontecer com os caudais nas diversas linhas de água do rio Tejo”, sublinhou.

Além do rio Tejo, Anabela Freitas apontou também preocupações relativamente ao Rio Nabão. “Temos estado a monitorizar o Rio Nabão. Às 04h30, o Agroal registava 3 metros e às nove da manhã mantinha os 3 metros. Portanto, não houve aqui uma subida significativa. Temos é estado a registar uma subida a jusante da cidade, na Estação que temos na Matrena, que está com 4,21 metros, muito próximo de atingir aquilo que está registado como pico de cheia”, disse, explicando que neste caso, a grande influência “não é tanto o que chove em Tomar, mas o que chove a montante, sobretudo, nas zonas de Alvaiázere e de Ansião, pelo que estamos a monitorizar também a chuva no distrito de Leiria”, notou.

O objetivo é evitar prejuízos maiores, pelo que, por precaução, “todos os comerciantes da chamada Rua da Levada foram contactados no sentido de tomarem precauções e para o caso de termos um pico de cheias. Foi criado um sistema de alerta específico para esses comerciantes, para que, durante a noite, se for necessário, podermos acionar os alertas”.

Anabela Freitas referiu ainda que nos últimos três anos tem havido uma atenção especial com o Rio Nabão, nomeadamente com intervenções de limpeza, pelo que o rio “tem muito maior capacidade de encaixe, que é o que está a verificar-se”.

ÁUDIO | ANABELA FREITAS, PRESIDENTE CM TOMAR E PROTEÇÃO CIVIL DISTRITAL

Em nota de imprensa, a Proteção Civil explica que a precipitação que se tem sentido em Portugal e especialmente em Espanha nos últimos dias, gerou um aumento considerável dos níveis hidrométricos e caudais do rio Tejo. A subida do nível das águas no Tejo provocou danos nos passadiços inaugurados este ano em Ortiga, no concelho de Mação, tendo o presidente do município, Vasco Estrela, dito à Lusa que só conseguirá ter noção dos estragos quando a água baixar.

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Desde as 00:00 de hoje, os caudais estão acima dos 2.000 metros cúbicos por segundo (3.000 em Almourol), havendo risco “muito significativo” de galgamento das margens do Tejo. O maior caudal lançado pelas barragens com influência no Tejo, com 2.000 metros cúbicos por segundo, ocorreu cerca das 06:00 de hoje.

Segundo o presidente do IPMA, nas próximas horas haverá uma “fase de dissipação da situação”.

Miguel Miranda afirmou ainda que os níveis de alerta vão reduzir-se nas próximas horas em vários distritos, passando alguns para amarelo e outros para verde.

A chuva intensa e persistente que caiu de madrugada causou hoje centenas de ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas nos distritos de Lisboa, Setúbal e Portalegre, onde há registo de vários desalojados.

Na zona de Lisboa a intempérie causou condicionamentos de trânsito nos acessos à cidade, que levaram as autoridades a apelar às pessoas para permanecerem em casa quando possível e para restringirem ao máximo as deslocações.

No distrito de Santarém, a chuva fez aumentar os caudais do rio Tejo, levando a Comissão Distrital de Proteção Civil a acionar o Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, dado o risco “muito significativo” de galgamento das margens do rio. Nesta bacia hidrográfica e na do Douro foi ativado o alerta amarelo.

*Com Mário Rui Fonseca, Joana Santos, Luís Ribeiro e Agência Lusa

Carla Paixão

Natural de Torres Novas, licenciada em jornalismo, apaixonada pelas palavras e pela escrita, encontrou na profissão que abraçou mais do que um ofício, uma forma de estar na vida, um estado de espírito e uma missão. Gosta de ouvir e de contar histórias e cumpre-se sempre que as linhas que escreve contribuem para dar voz a quem não a tem. Por natureza, gosta de fazer perguntas e de questionar certezas absolutas. Quanto ao projeto mais importante da sua vida, não tem dúvidas, são os dois filhos, a quem espera deixar como legado os valores da verdade, da justiça e da liberdade.

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