Bagas, tubérculos, mirtilos, cogumelos, peixe, veado e javali são alguns dos pratos que vão ser confecionados em fogueiras, no fim de semana, em Mação, no âmbito das I Jornadas Ibéricas de Gastronomia Pré-Histórica.

Promovidas pelo Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo (MAPHSVT), de Mação, partindo de estudos de tecnologia e de fauna e flora do passado, esta atividade irá desenvolver experiências do que terá sido a cozinha na pré-história, com recurso a seis fogueiras, antes e depois da invenção da agricultura.

“O objetivo é dar conta dos resultados de investigação gastronómica desenvolvida em Portugal e em outros países, nomeadamente em Espanha, e recriar, em zona de natureza, junto ao espelho de água da Ribeira de Eiras, o modo como se preparavam as refeições, onde se comiam, o que se comia e como se comia”, disse hoje à Lusa Pedro Cura, responsável pelo setor de arqueologia experimental do MAPHVT.

“Depois, vamos nós próprios experimentar o que vamos cozinhar ao modo pré-histórico”, acrescentou.

As jornadas irão juntar arqueólogos, nutricionistas e chefes de cozinha, numa experimentação dos ingredientes e modos de cozinhar usados no período de cerca de 20.000 a 5.000 anos antes de Cristo.

“Vamos ter duas cozinhas diferentes, em termos da experimentação, que assentam na investigação de duas fases distintas: o Paleolítico e o Neolítico”, observou Pedro Cura, sublinhando que “vão-se notar bem as diferenças” no modo de preparar a comida.

“No âmbito da fase neolítica, e com técnicas mesolíticas, vamos cozinhar marisco de concha, com a técnica de fazer fogo da época, com seixos do rio no fundo da cova onde se confecionará a refeição, e já com recurso a panelas de cerâmica, tendo em conta que, em zona de estuário, consumiam peixe, mas, principalmente, e muito mais, berbigão, mexilhão e amêijoas, que eram mais fáceis de apanhar”, destacou.

Para a fase da gastronomia paleolítica, o investigador destacou os pratos de caça, como o coelho, o veado ou o javali, e o “prato principal”: tubérculos, raízes, bagas e insetos.

“A carne não era o prato principal porque a taxa de sucesso na caça, com recurso a emboscadas e armadilhas, era muito baixa, cerca de 20%, pelo que a principal dieta assentava na recoleção”, observou Pedro Cura.

Ao longo do dia, os investigadores vão recriar o ambiente gastronómico pré-histórico e mostrar ao público que pedras eram usadas, como se fazia o fogo e como se preparavam as fogueiras, ao mesmo tempo que vão cozinhando e demonstrando ao vivo como se faziam instrumentos da época, como as facas, as cordas ou a cerâmica.

Alguns dos pratos que vão confecionados, com o apoio de várias entidades – entre as quais os alunos de cozinha do Agrupamento Escolar Verde Horizonte, de Mação – são espetadas de cogumelos, marisco à moda antiga, javali na pedra e coelho com mel, estando as bagas e os frutos reservados para a sobremesa (mirtilos, morangos e nozes, entre outros).

O investigador espera que as jornadas sejam “inspiradoras” para um trabalho escolar que crie uma “receita de fusão entre a cozinha pré-histórica e a cozinha contemporânea”, proposta que vai apresentada aos alunos de cozinha do Agrupamento de Escolas de Mação.

Agência de Notícias de Portugal

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