AM Mação

O presidente da Câmara Municipal de Mação (CMM), Vasco Estrela, deu conta durante a sessão da Assembleia Municipal, realizada esta quinta-feira, que o Município não vai desistir do Tejo e anunciou vários investimentos relacionados com o rio.

Tratou-se de uma sessão de cidadania, a reunião ordinária da Assembleia Municipal (AM) de Mação que decorreu, esta quinta-feira dia 8 de fevereiro, no auditório da sede do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, com a sala a abarrotar de alunos e professores, marcada essencialmente pela defesa do Tejo, com o anúncio de investimentos camarários em estruturas ligada ao rio.

“Estamos empenhados em ajudar a resolver o problema do Tejo e não desistimos do rio”, garantiu Vasco Estrela, indicando que ainda em fevereiro ou no início de março será lançado o concurso para adjudicação do Núcleo Museológico do Museu das Pescas de Ortiga, a instalar na antiga escola primária, num investimento de 150 mil euros. “É o melhor exemplo que podemos dar de não desistência do rio”. O equipamento estará “vocacionado para as artes da pesca, para a divulgação da cultura ribeirinha, para a preservação da memória da freguesia no que diz respeito à atividade da pesca e também como uma forma de sinalizar que, para o concelho, o Tejo não está morto, muito pelo contrário, deve ser fator de desenvolvimento”.

Agradecendo a hospitalidade de uma “aula de cidadania” o presidente da CMM optou então iniciar a sua intervenção com a questão da poluição do rio Tejo assegurando que a CMM acompanhará as decisões que a AM tomar.

Anunciou também “em fevereiro foi possível, com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, a aprovação de parte daquilo que queremos realizar junto ao rio Tejo, nomeadamente na zona das Lagoas e das pesqueiras”. Em perspetiva está a realização de “uns passadiços para que as pessoas possam usufruir e contactar com o rio, num espaço único nesta região e tirar partido do que ali está”. Para tal, o Município de Mação terá uma verba, de financiamento comunitário, na ordem dos 400 mil euros a gastar numa primeira intervenção.

O presidente Vasco Estrela na Assembleia Municipal de Mação

Apesar da convicção e de manter a esperança de que o rio renascerá, Vasco Estrela admite “temer” pelos investimentos do Município no rio. “Daí esta nossa luta. Tudo isto tem essas condicionantes. Já está a ter repercussões no peixe, na lampreia, nos restaurantes vocacionados para o peixe que não têm a adesão que tinham. Mas não podemos ficar agarrados a esse receio”, sustentou.

O autarca manifestou igualmente empenho na reabilitação da Barca da Amieira “para não nos esquecermos que o rio Tejo no concelho de Mação não é só Ortiga, mas também freguesia de Envendos, e tem importância histórica para muitos de nós a Barca que a CMM quer recuperar, mantendo conversações com a Câmara de Nisa”.

Vasco Estrela deu ainda conta de estar elaborado o projeto de bombagem de efluentes da praia fluvial de Ortiga, dos restaurantes e do parque de campismo, para serem tratados na nova ETAR de Ortiga num investimento perto de 100 mil euros suportado na íntegra pela CMM. Neste momento está em processo de concurso para conceção e construção “esperando que dentro de um ano” essa obra esteja concluída.

Sublinhou a existência de um histórico de intransigência da parte da CMM “em relação à defesa do Tejo e à defesa daquilo que é essencial para as populações ribeirinhas” lembrando que no passado havia tomado “posições políticas firmes de condenação” marcando presença na Comissão Parlamentar do Ambiente fazendo-se acompanhar pelo deputado municipal do Partido Socialista, João Filipe. Lembrou ainda que o vice-presidente, António Louro, “acompanhou residentes em Ortiga numa manifestação” a Vila Velha de Rodão.

AM Mação

Sobre o ‘guardião do Tejo’ o presidente do Município aproveitou a ocasião para dizer que Arlindo Marques “conta com o apoio unânime de todos os eleitos da autarquia”, porque “tem ajudado a resolver um problema que é de todos”.

Por isso, acrescentou, irá a tribunal defender o ambientalista: “Vou servir de testemunha abonatória de Arlindo Marques neste processo que a Celtejo lhe moveu, mas com muitos mais apoios o Arlindo pode contar nesta luta pela defesa de um Tejo com qualidade e sem poluição”.

Vasco Estrela informou ainda que dia 14 de fevereiro será ouvido na Assembleia da República, na Comissão Parlamentar do Ambiente também no âmbito da poluição do rio Tejo a pedido do Bloco de Esquerda.

E foi com “natural agrado, apesar de não termos responsabilidade desde 2010, ouvir o ministro do Ambiente e o secretário de Estado dizer que a ETAR de Mação (de Ortiga) não estava a poluir” cumprindo os parâmetros. Há três anos que diariamente são recolhidos efluentes na ETAR da Ortiga para que o Município não seja prevaricador.

A poluição no rio Tejo foi também motivo de várias intervenções do lado da bancada do Partido Socialista. O deputado municipal eleito pelo PS, João Filipe, mencionou a constituição da comissão de defesa do Tejo há anos e considerou ter-se chegado “ao limite”. Para que o Tejo viva disse não ser necessário encerrar empresas, mas exige-se o respeito pelo ambiente. “Não vale tudo”, afirmou.

AM Mação, deputado Duarte Marques

Já do lado do PSD, Duarte Marques defendeu que o aparecimento da espuma no açude insuflável de Abrantes no passado mês de janeiro “foi positivo”. Disse mesmo, ter sido a melhor coisa que aconteceu ao rio nos últimos tempos.

“Foi a espuma que permitiu evidenciar o que muita gente tentava esconder. Todos sabíamos da existência da poluição na água, mas a espuma veio tornar incómodo o silêncio” daqueles que permaneciam calados. “Deixaram de ser só os ambientalistas, alguns deputados e alguns presidentes de câmara a manifestar-se e a espuma obrigou outros presidentes de câmara, obrigou o ministro e outros agentes a virem para o terreno” averiguar a poluição “tornando-se demasiado evidente o que estava a acontecer no Tejo”.

Relativamente ao processo movido ao ambientalista Arlindo Marques pela empresa Celtejo, que reclama o pagamento de 250 mil euros de indemnização por difamação, devido à associação que o guarda prisional tem feito entre a poluição no rio e aquela empresa de celulose instalada em Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, Duarte Marques espera que o ambientalista da ProTejo seja absolvido e que o Tejo fique limpo.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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