A promessa tinha ficado feita durante os incêndios deste fatídico ano de 2017 que vieram para pintar de negro o concelho de Mação, deixando mais de 80% da sua área ardida. A Aldeia do Rock também se viu com o fogo à porta, e até as afamadas festas de verão foram beliscadas pelo medo das chamas. Mas foram em frente. Aqui ficou decidido que, mais tarde, se havia de reproduzir a festa, mas desta vez, com cariz solidário. 1950 euros da bilheteira das noites de 1 e 2 de dezembro, sexta e sábado, serão agora entregues aos Bombeiros Voluntários de Mação. É um renascer da terra e das suas gentes. E em 2018 há mais.
O anoitecer fez-se gélido, mas o pavilhão do Grupo Desportivo Recreativo e Cultural de Penhascoso já estava preparado para acolher quem viesse. À entrada, as bilheteiras distinguiam as pulseiras para as entradas diárias ou passe de dois dias, de 3 e 5 euros, respetivamente, e que reverteriam totalmente para os Bombeiros Voluntários.
Dentro do pavilhão, já se fazia durante o final da tarde o soundcheck, e os balcões do bar estendiam-se até ao fundo do recinto, sendo antecedidos pela bancada das senhas. Estes lucros remeteriam-se então para pagar a logística das bandas que se propuseram a atuar de forma gratuita, mas também conseguir algumas “benfeitorias para a aldeia”.
O mediotejo.net esteve em Penhascoso, a acompanhar os últimos preparativos e o arranque da iniciativa. As expetativas eram altas, e o facto é que logo na primeira noite o evento contou com casa cheia.
Daniel Jana explicou uma vez mais ao nosso jornal que este é “o culminar da onda solidária” a que se tem assistido em Mação e corresponde a uma “causa de todos”. “Num ambiente mais descontraído, já passado alguns meses, queremos levar por diante este evento que está a marcar a região”, fez notar, esperando uma grande adesão pois “a causa merece isso”.
A angariação de verbas para os Bombeiros Voluntários do concelho prende-se com o facto de se entender que o seu dever não é apenas e só o combate a incêndios florestais no verão. “Também têm a parte do dia-a-dia, das ambulâncias, e tudo o que envolve a ação das corporações de bombeiros ao longo do ano”, frisou o membro da organização.
A restante verba, no que toca ao bar, servirá para outras iniciativas, como a aquisição de um kit de combate a incêndios ou construção de um tanque de armazenamento de águas, mencionou Daniel Jana.
O cartaz juntou seis artistas e bandas que se dispuseram a vir tocar a Penhascoso em prol da causa. Na primeira noite, Élsio Nunes, Ferro & Fogo e o Dj Hugo Rafael subiram a palco, ao passo que, na última noite, sábado, deram lugar a Carlos Catarino, Rock Em Stock e Dj Kid Kat.
Élsio Nunes, Carlos Catarino, Ferro&Fogo e Dj Kid Kat voltaram três meses depois para dar novamente música à aldeia de Penhascoso, sendo que a meados de agosto, a caminho das festas, já haviam sido confrontados com os danos causados pela passagem das chamas. Ponto assente seria que estes quatro nomes estariam à disposição da aldeia para atuar sem contrapartidas. E assim foi.
João Carlos Ferreira, vocalista dos Ferro & Fogo, banda já bem conhecida na região e que é presença assídua há vários anos na realização das festas na Aldeia do Rock, contou ao mediotejo.net que há uma relação “afetiva” a esta terra, nomeadamente pela “consideração e respeito por todas as comissões de festas que, longo destes anos, têm demonstrado em relação a nós, mas também para colaborar de alguma maneira e para tentar minimizar tudo aquilo que aconteceu”.
“Hoje por eles, amanhã por nós, e se há uma coisa com que possamos contribuir, é com música”, sublinhou o vocalista, referindo que o objetivo é “angariar o mais possível” e que este ato, mesmo sendo “uma gota de água”, levará a que “gota a gota, talvez se faça um oceano”, terminou.

Nesta noite, após o baile de música pimba, à boa maneira portuguesa, com Élsio Nunes no teclado, seguiu-se o momento de tributo aos grandes êxitos do Rock com os Ferro & Fogo.
Em palco, o vocalista da banda doou a Nuno Marcos, presidente da direção do GDRC Penhascoso, um prato de bateria autografado, para que a direção pudesse leiloar se assim o entendesse, ajudando a complementar esta angariação de verbas.

O pavilhão estava cheio, a afluência ao bar mostrava que a noite ia ser longa e que o frio não chegava para assustar ou demover aqueles que, sabendo ou não, estavam ali a ser solidários.
E eis que a solidariedade fica bem a Penhascoso, tendo-lhe assentado como luva. De tal forma, que já existe um próximo evento solidário marcado para fevereiro de 2018, em data a definir, onde os irmãos, Sérgio e Nelson Rosado, dos Anjos,vão também contribuir a estender esta onda solidária que quer fazer a diferença no bem estar da comunidade, ajudando o concelho a renascer e, acima de tudo, a olhar em frente com esperança num futuro mais sereno.