Moinho da Fadagosa, no Mação profundo. Foto: Bryce Groves

*Artigo originalmente publicado em 2019, republicado em agosto de 2020

Fica no concelho de Mação e passa despercebido da maioria das pessoas, apesar de estar a dois passos da vila. Toma-se o caminho como quem vai para os lados de Carvoeiro, passando pelas Casas da Ribeira, Caratão e Vale do Grou, seguindo a Estrada Municipal. Na vila ainda consta a placa que diz Fadagosa, remetendo para as antigas termas. E é mesmo no cruzamento para Vale do Grou que seguimos em frente, começando a experimentar o relevo do lugar, envolto em floresta, tranquilidade e quietude daquelas vistas meio serranas.

Nas primeiras curvas já se consegue avistar o moinho de vento adquirido pelo casal britânico Fiona McCready e Simon Broad: um cantinho de paraíso, longe da confusão do dia-a-dia, onde o ar puro e os sons da natureza são os ingredientes necessários para uma estadia em pleno, onde não falta o romantismo, a comodidade e o convite a apreciar a beleza das coisas simples.

Entramos no estradão de terra, e lá está no alto, o imponente moinho a convidar a entrar, com uma chaminé a fumegar e a porta aberta. É Fiona quem nos recebe, e nos leva até ao interior, junto de Simon.

Moinho da Matagosa, em Mação. Foto: Bryce Groves

Entrámos naquela que, desde 2018, passou a ser a sua propriedade em Portugal. O sítio para onde o casal, natural do sul de Inglaterra, foge à rotina e ao corropio das grandes cidades. Ali, tudo é mais fácil e vagaroso.

Entramos e temos um espaço aconchegante, com duas poltronas amarelo-torrado, com a lareira ali, a aquecer o ambiente. Em cima da mesa, um bolo acabado de fazer e com a presença de rosmaninho e ramo de oliveira, junto a uma garrafa de licor. Assim se dão as boas-vindas e ainda houve tempo para um chá inglês.

Foto: Bryce Groves

Fiona, 40 anos, trabalha na área do Marketing, mesmo no centro de Londres, e é também escritora já com dois romances publicados. Simon, 41 anos, é especialista em vinhos e tem um wine bar em Inglaterra, projeto que diz até gerir melhor à distância. O português ainda é uma barreira, mas algo que tentam ultrapassar tendo aulas e tentando comunicar o máximo com a comunidade local.

Ambos já conheciam Portugal desde 2015, pelas várias viagens que foram fazendo, junto à fronteira com Espanha. Encantados com o país, quiseram começar a procurar uma propriedade para comprar e reabilitar. A procura chegou a ter como opções Góis e o Alto Alentejo, mas foi Mação quem ficou com os louros.

Foto: mediotejo.net

Como o trabalho permitiu que as estadias por terras lusas fossem sendo mais duradouras, o casal não se fez rogado e tomou uma decisão.

“Decidimos que queríamos viver em Portugal, e começámos a procurar propriedades e locais… demorou muito, muito tempo”, disse Fiona, tendo Simon concordado logo de seguida que isso se deveu ao facto de procurarem “algo especial”.

O objetivo passaria por “trazer mais pessoas até Portugal e que essas pessoas possam aproveitar o que o país tem e apaixonar-se por ele”, e eis que surge a derradeira oportunidade. “Encontrámos o moinho de vento! E adorámos. Nós queríamos algo peculiar, diferente do habitual, mas algo que estivesse inserido na natureza, fora das cidades”, explicou Fiona.

Para Simon também seria importante estar localizado perto de boas regiões vinícolas, “para que pudéssemos levar os nossos clientes a provas de vinhos”.

Por outro lado, a paisagem, que vai melhorando com o passar do tempo e que neste momento está já a recuperar em força do último incêndio que ali passou. Questionados sobre o risco relativamente aos fogos que assaltam o concelho – infelizmente – com frequência, ambos concordaram que seria arriscado em qualquer zona rural em que se estabelecessem.

“Nós sabíamos que iria ser um risco que teríamos de correr se realmente queríamos viver no campo. Mas nós estamos dispostos a lidar com isso e é um risco que estamos dispostos a correr, desde que cuidemos da propriedade. Já cortámos imensos eucaliptos à volta…”, referiu Fiona.

Moinho da Fadagosa com o casal Simon e Fiona. Foto: mediotejo.net

O processo de compra durou cerca de um ano, e foi extremamente fácil para o casal britânico começar a preparar o seu novo projeto de vida, neste moinho de vento que os recebeu de braços abertos e que não precisou de muita manutenção.

Fiona logo lembrou o antigo proprietário, Artur Esteves, de Rosmaninhal, que já o havia restaurado e que também o alugaria no passado, e por isso só precisaram de trabalhar em termos de decoração no seu interior.

Foto: Bryce Groves

O desafio agora passa pela envolvente, onde já começaram a trabalhar a terra. “Já plantámos uma vinha aqui em frente, para tentarmos fazer um belo vinho português”, contaram-nos, sorridentes.

Simon mencionou ainda a preciosa ajuda do “amigo português” Gady, que adora natureza, e que tem ajudado com o jardim e a envolvência exterior.

E é naquele ambiente que a maioria dos casais (o público tem sido essencialmente este) se deliciam com momentos de descontração e puro lazer no Moinho da Fadagosa – com este nome porque se encontra ali ao lado das antigas Termas da Fadagosa, cuja água seria milagreira para problemas relacionados com os ossos e a nível do aparelho respiratório. O que resta consegue ver-se do alto da propriedade, e ali perto surgem tantos outros moinhos à espera de serem recuperados.

Onde antes moíam os cereais para produzir farinha para o pão que seria sustento das famílias, surge um alojamento local T1. O quarto é no andar de cima, perto do que resta do mecanismo, nomeadamente a entrosga.

Tudo empedrado, dá um aspecto rústico quando vemos antigas pias, que serviam de bebedouros para o gado e para as galinhas, reaproveitadas como poliban e lavatório, naquela pequena casa de banho onde não falta nada.

Foto: Bryce Groves

O quarto tem uma cama grande e as janelas deixam entrar a luz perfeita em cada parte do dia, permitindo uma vista periférica da paisagem.

Consegue ouvir-se o chilrear dos pássaros, o vento a roçar os apetrechos em barro metidos nas velas. À entrada de casa, uma mó a fazer voltar atrás no tempo.

Ali, a inspiração surge nos detalhes e na exploração da área, com a ribeira de Eiras a correr ali em baixo e onde o leito deixa dar uns bons mergulhos em tempo quente, e apreciar o som da água a correr ali sentado na sua margem ou aproveitando a rede ali colocada para dormir uma sesta ou ler um livro. É ali, mais perto do curso de água, que nascerá a casa de Fiona e Simon, cujo processo está a decorrer para avançar para a construção.

No interior não faltam livros para ler, mas na mesa surge uma pasta onde os anfitriões deixam alguma informação sobre o local, sítios e atividades de interesse no concelho e nas regiões vizinhas.

As sugestões passam por restaurantes, que Fiona e Simon fazem questão de tratar das reservas quando necessário, mas também a nível cultural e desportivo, onde não faltam as praias fluviais e a possibilidade de se fazer canoagem ou percursos pedestres.

“Basicamente nós recomendamos aquilo que também gostamos de fazer aqui. Pomo-nos no lugar das pessoas e pensamos no que gostaríamos que nos fosse recomendado”, acrescentou Simon.

As boas-vindas têm sempre incluídos produtos caseiros, normalmente um bolo feito por Fiona. Na mesa encontram-se ainda todas as informações úteis, bem como uma pasta com informação de contexto sobre o moinho, a região e com sugestões para visita. Foto: mediotejo.net

A curiosidade reside no facto de a maioria das pessoas que ali pernoitam não saírem da propriedade e ficarem a aproveitar o moinho só para si, vivendo a verdadeira “escapadinha”.

“Isto é assim mesmo, é um escape à realidade, ao quotidiano. Aqui arranjam o espaço e tempo para si próprios”, diz Simon, sendo que ali são bem-vindos até os animais de companhia, desde que, tal como os donos, tenham comportamentos adequados e preservem o espaço tal como estava à chegada.

“Este é o tipo de lugar onde queres trazer o teu cão, e explorar e caminhar com ele”, notou.

E tal continuará a ser possível, ainda que estejam prestes a chegar à propriedade novos habitantes: gatos bebés, que vão passar a fazer parte da família e, aí, Fiona diz que se arranjará forma de coabitarem.

Quanto à língua, não será entrave, até porque já por ali passaram turistas de todas as partes do mundo. O que se pretende é que venham conhecer “este Portugal autêntico” a partir do Moinho da Fadagosa e que possam contactar com a cultura, tradições e património locais e regionais, fazendo deste um ponto de referência para recomendar a amigos e familiares.

Foto: Bryce Groves

Até porque no futuro, Simon e Fiona querem disponibilizar mais dois pequenos alojamentos na propriedade, provavelmente em estilo bungalow, para que possam atrair grupos até ali e que estes consigam desfrutar ao máximo daquele lugar, noutro tipo de experiência.

Seja sozinho, com amigos ou namorados, aquele sítio será sempre místico e idílico, onde o verbo que melhor se conjuga é o verbo apreciar.

Desde o amanhecer, ao pôr do sol e até à noite, olhando a lua e contando as estrelas, num observatório natural esplêndido e onde não tem de pagar bilhete para entrar. Entre uma e outra atividade, haverá sempre tempo para celebrar a vida e o amor. Ali, o tempo pára para que possa viver cada momento de forma única e irrepetível.

Para informações ou reservas, basta contactar os proprietários na página de Facebook, nas plataformas Booking ou Airbnb, procurando por Moinho da Fadagosa. Por fim, resta-lhe rezar para que a data que escolheu não esteja já preenchida e possa viver esta aventura com tudo a que tem direito.

 

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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