Com a desova e a chegada das espécies de arribação, chegou também a tradicional Festival da Lampreia ao concelho de Mação, iniciativa que decorre até 2 de abril em certame gastronómico que conta com 9 restaurantes aderentes prontos a servir o típico Arroz de Lampreia à mesa. Certo e sabido é que o Tejo não vive os melhores dias, mas ainda assim, o autarca Vasco Estrela pretende que esta “publicidade negativa” em torno das questões de poluição e baixo caudal não seja impeditivo para que os apreciadores do ciclóstomo possam vir degustá-lo a Mação, bem como provar outros produtos locais, caso do presunto maçaense, e conhecer as referências e potencialidades que potenciem regressos ao território “noutras ocasiões”. O mediotejo.net foi até ao restaurante ‘O Bigodes’, em Ortiga, perceber os truques da confeção desta iguaria que não é de meios termos: ou se ama, ou se odeia.
A lampreia volta a ser rainha das mesas de Mação muito pelos restaurantes, que segundo a autarquia, “entenderam que fazia sentido levar a efeito este festival, porque obviamente sem a presença deles não era possível mantermos esta tradição”. Vasco Estrela reconheceu, durante a conferência de apresentação deste festival, que existe uma “razão óbvia” que leva à desconfiança por parte das pessoas, tendo em conta “os problemas que vão assolando a nossa região, nomeadamente o rio Tejo e como é natural, o facto de a lampreia ser pescada/ou poder ser pescada neste rio”.
Ainda assim, entendeu a CM Mação que faz sentido manter esta tradição, uma vez que “não é pelo facto de, conjunturalmente, as coisas não estarem da forma como todos nós desejaríamos em termos de qualidade da água do rio Tejo e até quantidade de água no rio Tejo que nós deixaríamos de manter esta aposta, mantendo também assim uma tradição no nosso concelho desde há muito anos a esta parte”, frisou o autarca, acrescentando ser essa também uma obrigação da câmara municipal, “de manter a tradição, de a preservarmos, independentemente de a lampreia ser pescada no rio Tejo ou não”.
Para o autarca, “há todo um saber das nossas gentes que é importante que seja preservado”, não podendo ainda descurar-se o fator económico que está presente neste festival, bem como o facto de também ser uma forma de promoção do concelho, “não só no que diz respeito à lampreia, mas também no que diz respeito ao presunto da Marca Mação, que a CMM oferece aos restaurantes aderentes para ser disponibilizado a todas as pessoas que vierem a Mação neste período e para ajudar a promover os restaurantes e os seus espaços, razão pela qual o festival é feito em cada um dos restaurantes, para que as pessoas sendo bem servidas, como esperamos que venha a acontecer, possam ficar com esta referência e possam voltar noutras ocasiões”, explicou.
Desta feita, visitámos José e Joaquina, no seu estabelecimento, em Ortiga, para degustar a iguaria e perceber a sua confeção e como é servido o tradicional Arroz de lampreia.
Segundo Joaquina, cozinheira com costela alentejana, o segredo está “nas ervinhas aromáticas”, nos coentros e poejo. A própria reconheceu que a lampreia tem muita procura nos períodos fora do Festival, indicando que “na semana passada já tivemos procura, já temos gente a telefonar e a perguntar”.
Em Mação, o arroz é servido em separado, feito com o caldo com que é cozinhada a lampreia, que contém vinagre e vinho tinto, depois de devidamente limpa e cortada em postas finas.
A dar cor, o verde dos coentros que são colocados por cima, nas taças de barro tradicionais, desperta os sentidos. À mesa, com um vinho tinto também local, junta-se o presunto como entrada, pois onde há rainha, deverá também existir rei.
Este ano juntam-se à iniciativa 9 restaurantes, de todo o concelho, em todas as freguesias que têm restaurantes, sendo eles:
A Lena – Ortiga
Avenida (Pica-Fino) – Mação
Café Restaurante da Reta – Mação
Casa Cardoso – Envendos
Churrasqueira Norberto – Mação
Dona Flor – Penhascoso
O Bigodes – Ortiga
O Godinho – Mação
Solar do Moinho – Cardigos
O facto de estarem representados restaurantes de todo o concelho é um sinal positivo para a Câmara, uma que vez que significa “que não só na sede de concelho ou eventualmente na Ortiga onde faria mais sentido que houvesse restaurantes aderentes, nos outros locais do concelho há empresários da restauração que têm a vontade de continuar a fazer coisas e a dinamizar os seus espaços”.
À semelhança do que tem sido feito, a autarquia promove ainda a a distribuição de presunto da Marca Mação para que possa ser servido aos visitantes nos restaurantes aderentes da iniciativa, havendo ainda preocupação na divulgação e promoção de outros produtos locais.
Uma vez que a lampreia é um prato que tem muitos admiradores, e é razão para que muitas pessoas façam centenas de quilómetros para degustar esta iguaria em Mação, a intenção da câmara municipal é continuar a sua aposta, mostrando a tradição e a qualidade que existe no concelho em termos da confeção da lampreia e no próprio arroz de lampreia que é servido, bem como dar a conhecer o concelho e as suas potencialidades.
Mas… e a lampreia? Onde é pescada? Há garantia de qualidade?
A lampreia que vai ser servida é, segundo o autarca maçaense Vasco Estrela, “da exclusiva responsabilidade dos restaurantes”, já no que toca à segurança alimentar, “aplica-se à lampreia tudo aquilo que se aplica a outros produtos que lá são confecionados, ou seja, eu não posso garantir que a lampreia não é do rio Tejo, nem compete à CMM garantir a qualidade”, referiu, fazendo notar, “não quero crer que alguém vá servir qualquer tipo de lampreia ou produto que não esteja com todas as condições de salubridade e garantia de qualidade”.
“É um assunto que nem quero pensar, e acho que é negativo sequer que se possa presumir que as coisas não têm qualidade, as pessoas que vão servir a lampreia são pessoas responsáveis, presumo que há total qualidade”, afirmou o autarca.
Quanto à segurança alimentar e à qualidade quanto ao consumo de peixe vindo do rio Tejo, Vasco Estrela salienta que não houve ainda comunicação oficial que viesse colocar entraves ao consumo de peixe pescado no Tejo, dizendo ainda que essa monitorização deve ser feita pelas entidades competentes. “Há entidades em Portugal que têm obrigação de avisar os consumidores e fazer os alertas necessários, e ter a coragem – se for o caso – de alertar que os peixes que são apanhados no rio Tejo não estão em condições. Fica o desafio para que essas entidades com competência na matéria o dizerem”.
Já no que toca às questões de poluição, o autarca considera que é “publicidade negativa em relação ao rio”, ao que acrescentou que “não há provas de que os peixes que são apanhados no rio Tejo não estão em condições, porque quero crer que ninguém permitiria que continuasse a pesca no rio Tejo se não estivesse em condições”.
Estas questões colocam em causa a atividade do concelho, nomeadamente o Festival da Lampreia, os avultados investimentos que o município de Mação e outros municípios têm previstos para a requalificação para as margens do rio, a praia fluvial na albufeira da barragem de Belver, na Ortiga e o parque de campismo, e é entendimento de Vasco Estrela que se deve começar a valorizar os recursos e os produtos, esvaziando o caráter negativo que se tem vindo a associar ao rio Tejo.
“Não quero com isto dizer que temos de esconder o que lá se passa para que as pessoas venham a engano, mas se calhar está na altura de tentarmos valorizar o que temos, perceber que há ali um problema que pensamos que está a ser resolvido e que vai sê-lo, e temos de ter essa esperança, confiar nas entidades que estão a fazer o seu trabalho, visto que elas não nos vão dando evidências de que as coisas não estão bem conforme tem sido dito”, concluiu.
Por outro lado, António Louro, vereador da CM Mação, fez a ressalva que “de todos os peixes do Tejo, provavelmente a lampreia será aquela que, teoricamente, estes problemas de poluição menos se refletirão, primeiro pelo curto tempo de permanência no rio, e outra é que não se alimentam, só permanecem na água”, porém, “não quer dizer que não hajam problemas”.
Fique com os registos da apresentação do Festival da Lampreia 2017:
Dona Flor – Penhascoso
O Godinho – Mação
Abraço
Retificado!
Agradeço a indicação.
Os meus cumprimentos