A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição: enfeitar com flores as fontes da freguesia no dia 1 de maio. Fonte do Monte Novo. Créditos: mediotejo.net

A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição e, no dia 1 de maio, as fontes da freguesia apresentam-se de forma diferente, um trabalho feito de véspera pelos populares num enfeite com flores, que além das perfumar, ornamentar e colorir revelam a criatividade dos desenhos traçados em pétalas e flores campestres. O continuar de uma tradição centenária que esteve em vias de se perder.

É verdade que atualmente a tradição já não se faz exclusivamente com os vasos ditos namoradeiros. Evoluiu para um empenho diferente da população que enfeita as oito fontes de Ortiga com desenhos em pétalas e flores no chão, arranjos florais nos cercados e muros da envolvente, revelando o orgulho popular no querer manter este património imaterial.

Na Fonte Velha, as pessoas ainda enfeitam com os tais vasos que iniciaram a tradição… talvez por ser a mais antiga de Ortiga, construída no ano de 1639. Mais complicado será determinar a data e de como foi possível prolongar a tradição até aos dias de hoje confiando apenas na transmissão oral de geração em geração.

“As origens não sei dizer mas contavam os meus avós, e estes, por sua vez, já ouviam dos seus avós e bisavós, que esta era a forma, ou um pretexto, para os rapazes da aldeia meterem conversa com as raparigas de quem estavam enamorados ou de quem gostavam”, contou ao mediotejo.net Leonor Matos, uma das dinamizadoras da decoração da Fonte do Monte Novo, situada perto da casa da sua mãe. Isto porque as pessoas de cada bairro da freguesia com uma fonte são responsáveis pela sua ornamentação floral.

E a história nasceu do amor quando, num passado longínquo, a Fonte do Centro era a única no centro da aldeia pelo que todos os que queriam água tinham de lá ir. Esses encontros fizeram da fonte a mais casamenteira.

“Os rapazes, na véspera do 1 de maio, sorrateiramente, iam a altas horas da noite buscar os vasos que estavam nos jardins ou nas varandas das casas das raparigas por quem estavam interessados e iam pô-los ao pé da fonte. No dia seguinte, quando as raparigas iam à água viam lá os seus vasos e ficavam intrigadas ou chateadas mas depois aparecia o rapaz que aproveitava o pretexto para meter conversa” e os ânimos serenavam, contou Leonor.

A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição: enfeitar com flores as fontes da freguesia no dia 1 de maio. Fonte da Fonte Velha. Créditos: mediotejo.net

Apesar da provecta idade, a imortalidade da tradição chegou a caminhar para o mito, quando há cerca de oito anos ganhou um novo fôlego e, na noite de 30 de abril, o povo passou a juntar-se para enfeitar a fonte mais próxima da sua residência.

No 1 de maio, em jeito de passeio pedestre pela freguesia, todos visitam as fontes comprovando o trabalho desenvolvido e “é uma alegria porque esta aldeia é muito bairrista e orgulhosa das suas tradições”, vincou.

E foi precisamente essa caminhada de visita às oito fontes, num total de cerca de seis quilómetros, que o mediotejo.net acompanhou. O passeio organizado pela Junta de Freguesia começa cedo, cerca das 09h30, com o sol a esticar os raios calorosamente deixando adivinhar que a roupa fresca e as garrafas de água seriam preciosas companheiras na jornada.

Em 2019, a visita começou pela Fonte da Fonte Velha ajudada por um mapa-roteiro, colocado junto aos fontanários com o nome de cada um, com a distância total e parcial entre cada fonte. O percurso desenhou-se então pela Fonte da Fonte Velha, Fonte Velha, Fonte do Monte Novo, antigo bebedouro dos burros, Fonte do Porto, Fonte da Estação, o chafariz do Largo da Igreja, Largo do Busto do Dr. João d’Oliveira Casquilho e a Fonte do Centro.

Joaquim Luís Abelho, tesoureiro do Executivo da Junta ia explicando todo o movimento, nomeadamente o projeto que a autarquia tem em parceria com a Câmara Municipal de Mação e com a Igreja no sentido de repor a Fonte da Igreja que agora não passa de um chafariz.

“O Largo da Igreja vai ser requalificado até agosto deste ano. Por época das Festas de Ortiga (15 de agosto) já estará pronto com a Fonte resposta”, assegura.

A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição: enfeitar com flores as fontes da freguesia no dia 1 de maio. Fonte do Porto. Créditos: mediotejo.net

Outra Fonte que tem projeto de requalificação é a do Centro onde antigamente estava o busto de João d’Oliveira Casquilho, benemérito de Ortiga responsável por trazer a água para dentro da aldeia e, no fundo, o homem que abriu o caminho a esta tradição. Após a construção das casas-de-banho públicas (ao lado), a Fonte do Centro ganhou uma diferente configuração mas a ideia do Executivo é conseguir recuar no tempo e assemelhá-la o mais possível ao que um dia foi.

Quanto às fontes, a criatividade dos enfeites impressiona. Sem qualquer temática definida, as pessoas idealizaram, desenharam e criaram alinhavando a imaginação a motivos alusivos à história da Ortiga, como aconteceu na Fonte da Estação com o tema ‘Piquenique’ onde não faltou o peixe do rio grelhado, uma vez que as gentes moradoras junto à Estação Alvega/Ortiga são vizinhas do rio Tejo e corre-lhes no sangue as lides da pesca.

A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição: enfeitar com flores as fontes da freguesia no dia 1 de maio. Fonte da Igreja que presentemente é apenas um chafariz mas que será reposta até agosto de 2019. Créditos: mediotejo.net

Maria Isaura é uma das mulheres que ajuda a ornamentar a Fonte. “Representa a tradição dos pescadores, com o piquenique e o peixe grelhado. Desde que me lembro que existe esta tradição” disse, enquanto a filha Liliana, que também colabora nos enfeites, já leva o filho para que as gerações mais novas adquiram o mesmo gosto.

A tradição é para continuar garante o presidente da Junta de Freguesia, Rui Dias, “assim o povo queira”, afinal, “o povo é quem mais ordena”, salienta, considerando que existe “uma disputa saudável” entre os vários bairros da freguesia.

No evento, a Junta apoia na pintura das fontes e proporciona uma caminhada com o respetivo apoio logístico oferecendo aos caminheiros uma “pequena lembrança e um lanche”, refere Rui Dias.

Veja aqui o vídeo:

Durante o passeio pedestre, desde o Largo da Liga até à Estação voltando a subir até ao Largo da Igreja, Leonor Matos explica que “com a população a ir buscar todo o tipo de flores e verduras. Rosas, papoilas, mato, junco, pampilhos, cabecinhas de rosmaninho, hera, alecrim enfim, tudo o que vai servir para todos se juntarem ao pé das suas fontes e desenharem os enfeites” na noite da véspera.

Mas muitos outros assuntos são trocados e lembrados na caminhada. Aliás, o passeio apresenta-se também como um reencontro das gentes da terra. E por ser feriado do Dia do Trabalhador, algumas pessoas vêm de longe, por exemplo da capital, só para acompanhar a tradição.

Recorda-se a juventude, os recantos dos namorados, fala-se da vida, dos sinais dos tempos, da importância dos mais novos manterem a tradição, da vontade e do compromisso de a manter e do rio Tejo, como não podia deixar de ser.

Afinal, são um povo ribeirinho e têm as raízes plantadas dentro de água. Alguns dos caminhantes estudaram no colégio de Alvega, atravessando diariamente o rio no bote do ti’Vitorino, alheios às tejadas, confiantes na experiência e conhecimento extremo que o barqueiro tinha do Tejo, outros faziam do rio a sua praia de verão.

A população de Ortiga, no concelho de Mação, continua a honrar a tradição: enfeitar com flores as fontes da freguesia no dia 1 de maio. Fonte da Estação. Créditos: mediotejo.net

Os mais velhos relembram ainda épocas de um Tejo totalmente navegável e guardam até na memória episódios macabros da Guerra Civil de Espanha quando os corpos vinham rio abaixo, acabando sepultados no cemitério de Ortiga.

Com as conversas, as flores vão ficando para trás e pelo caminho, alegrando a caminhada, que na volta até ao último fontanário a visitar, a Fonte do Centro, obriga ao impulso da subida até ao derradeiro folego para alcançar o coração daquela aldeia empinada na serrania com o rio aos pés.

Duas horas e meia depois o calor aperta, a fome nem tanto após o lanche oferecido pela Junta na Estação ferroviária, mas as pernas começam a pedir descanso ignorando a beleza da paisagem. É belo o panorama visto da aldeia, mas não há dúvida que Ortiga é uma prova de esforço… em todos os sentidos.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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1 Comentário

  1. Ó MINHA LINDA GENTE… DESTA VEZ… VOTA INDEPENDENTE
    Independentes ao poder que se lixem os Partidos…

    ACORDA PORTUGAL… O interior De Portugal continua a rder e a morrer.
    Em Portugal, as eleições europeias vão realizar-se a 26 de maio de 2019 … e podemos votar em INDEPEDENTES DE PARTIDOS

    Em Portugal dá-nos razão de pensar que todos os Partidos Politicos estão controlados por uma Seita Secreta.
    Que faz desses Partidos todos, um só Partido…O Partido da Seita!

    Paulo de Morais, da Frente Cívica, é candidato ao Parlamento Europeu. Em 2016, Paulo de Morais candidatou-se a Presidente da República, conseguindo 100 mil votos.
    Paulo de Morais, professor universitário e membro da Frente Cívica, vai ser candidato ao Parlamento Europeu nas próximas eleições. Morais vai candidatar-se pelo como “DEPUTADO INDEPENDENTE” pelo movimento Nós, Cidadãos!.
    A seguir a Morais, surgem na lista José Inácio Faria, como independente (que atravessa um diferendo com o Partido da Terra), e em terceiro lugar Isabel Sande e Castro.

    Queremos candidaturas de cidadãos, Independentes de fora dos partidos.

    O INTERIOR DE PORTUGAL CONTINUA A MORRER … POR CAUSA DUMA POLITICA DE PRAIA, IMPLANTADA EM PORTUGAL PELO P.S.D – C.D.S – P.S e agora até o B.E (Bloco Esquerda) ….também já está pronto para entrar na mesma dança!

    LEVAR TUDO PARA A BEIRA MAR???

    NOS ÚLTIMOS 40 ANOS ELES O P.S.D – C.D.S & P.S LEVARAM TODAS AS AUTOESTRADAS, INDUSTRIAS, OS POSTOS DE TRABALHO, HOSPITAIS, ESCOLAS, CORREIOS, CAIXAS GERAL DE DEPOSITOS e TRIBUNAIS, TUDO PARA O LITORAL.

    Até “desapareceram” os 1,3 milhões no fundo dos donativos particulares para as vítimas de Pedrógão Grande, que o Governo criou.

    Portugal hoje, presentemente é o País mais centralista da Europa!

    Mais de 70% do dinheiro QREN vindo da C.E.E para desenvolver o interior de Portugal, Norte, Centro e Sul, nunca chegou ou chegará a sair de LISBOA.

    Lisboa come tudo, com o seu punhado de políticos corruptos, suas expos, suas fudações, seus museus, suas galerias de arte…e até exposições de fotos de CUS ( tudo pago com os nossos impostos).

    Lisboa come mais de 70% do produto Nacional bruto.

    Enquanto o interior de Portugal continua a morrer do NORTE ao SUL…Eles P.S.D – C.D.S e P.S somente se mostram interessados no interior, durante as eleições, para cá vir buscar os nossos votos e as nossas matérias primas.

    BASTA….ISTO QUALQUER DIA VAI TER DE PARAR!
    ACORDEM…GENTE DA LINDA ZONA CENTRO…
    O PODER ESTÁ COM O POVO DE PORTUGAL???
    A CURA COMEÇA SEMPRE PELO INTERIOR!

    Nas próximas votamos sempre em INDEPENDENTES nas autarticas. Tambem queremos poder votar para Independentes nas Eleições Legislativas.

    O presente sistema eleitoral para as eleições legislativas, em que os círculos eleitorais correspondem à organização administrativa, mas não permite aos cidadãos-eleitores elegerem os seus representantes, pois os deputados são escolhidos pelos partidos.

    O actual sistema proporcional, de círculos plurinominais e do domínio de listas partidárias, é um sistema representativo em que não existe uma relação entre o deputado e o eleitor, e, consequentemente, onde as ânsias verdadeiras das gentes são relegadas para um plano secundário e permutadas pelas conveniências das agendas próprias dos deputados e dos partidos políticos, assim como dos lobbies instalados.

    É necessário um sistema que permita a escolha dos deputados pelos eleitores, e não exclusivamente pelos partidos, como actualmente.

    Assim, com o actual sistema proporcional, a maneira de organizar as actuais listas partidárias cria uma espécie de blindagem, fazendo dos deputados meros representantes dos partidos e não dos eleitores e, em último grau, do Povo.

    Em Portugal dá-nos razão de pensar que todos os Partidos Politicos estão controlados por uma Seita Secreta.

    Que faz desses Partidos todos, um só Partido…O Partido da Seita???

    Juntem-se a nós … Numa Só Voz … Apoiamos Coletes Amarelos

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