Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação. Foto: Paulo Jorge de Sousa

O presidente da Câmara de Mação disse este domingo ao mediotejo.net “não saber mais o que fazer”. O concelho volta a ser fustigado pelos incêndios, dois anos depois do fogo ter consumido 80% do concelho. As chamas que se propagaram de Vila de Rei a Mação causaram em poucas horas mais 3 mil hectares de área ardida nesses 20% de mancha verde que restaram após 2017. Nada está a salvo e, uma vez mais, Vasco Estrela acusa haver “uma informação deficiente” no teatro de operações.

Mação voltou a arder. A região do Pinhal Interior volta a ser fustigada pelo fogo. Dos três incêndios que ocorreram em Sertã e Vila de Rei praticamente à mesma hora, deste sábado, o incêndio de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, evoluiu para o concelho vizinho de Mação, chegando à zona que restava verde, poupada pelos incêndios de 2017.

As povoações de Amêndoa, Maxieira e Cardigos chegaram a ser a maior preocupação dos bombeiros, ainda na manhã deste domingo 21 de julho, mas “neste momento não há nenhuma situação crítica. Estão a levantar-se outro tipo de problemas de reacendimento da extensa área ardida” disse ao mediotejo.net o presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela.

As chamas não sacrificaram a totalidade dos 20% do verde que resta no concelho, mas já “arderam 3 mil hectares, foi uma situação muito complicada”. O incêndio “partiu ao meio a zona verde que tínhamos e criou uma descontinuidade importante” na floresta de Mação, revela Vasco Estrela, manifestando-se apreensivo até que o fogo esteja complemente controlado, uma vez que tudo depende também “da intensidade do vento”, disse.

Desde o final do dia de ontem que Mação voltou a fazer parte das preocupações das autoridades em mais um dia de incêndios de grandes proporções, com a frente de fogo a atingir 25 quilómetros. “Mação voltou a ser fortemente fustigado por um incêndio vindo de fora, com prejuízos evidentes para as pessoas. Infelizmente tem sido esta a nossa sina nos últimos anos”, lamentou o presidente.

Em Mação enfrentou-se durante a noite um incêndio com várias frentes, em várias localidades, mas desta vez o fogo não queimou casas de primeira habitação. “Não há casas de primeira habitação a lamentar, que tenham ardido. Houve algumas situações de barracões agrícolas, mas felizmente sem as consequências de há dois anos”, explicou.

Vasco Estrela voltou a apontar o dedo à falta de meios no terreno. “Se assim não fosse não haviam localidades que estiveram durante várias horas, ou vários momentos, rodeadas pelo incêndio, sem bombeiros. Uma vez mais houve uma informação deficiente por parte de quem deveria ter dado a informação correta”, acusa. Sem qualquer povoação evacuada, o presidente confirma “a retirada” de algumas pessoas dos locais mais problemáticos.

Para o autarca e para as gentes de Mação esta foi novamente uma noite mal dormida. “Havemos de recuperar com o tempo”, diz, até porque tem sido, em cada verão, “uma situação recorrente” no concelho e, para “grande desgosto” de Vasco Estrela e da população, a terra por queimar é “cada vez mais diminuta”.

Quando questionado sobre a ação futura, após as batalhas que tem travado, incluindo na justiça, contra o Estado português, Vasco Estrela diz não saber. “Já não sei. Acho que tenho tentado fazer tudo, cumprindo a minha obrigação como presidente de Câmara, defendendo a população, os seus bens, dizendo aquilo que acho que não está correto, que é factual. Passaram-se coisas que terão de ser esclarecidas.”

Após apagadas as chamas “teremos de ver, conversar e ponderar”, diz. “Mas não sei o que mais podemos fazer num concelho onde tentamos ser exemplares naquilo que é o cumprimento das nossas obrigações e isso é visível no terreno, nas intervenções que fizemos“, incluindo na área agora fustigada por mais um incêndio. “Infelizmente nada disso foi suficiente. É esta a nossa pouca sorte!”, concluiu, deixando a garantia de “continuar a lutar por este concelho e por estas gentes”.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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1 Comentário

  1. Que resposta se pode deixar numa situação destas?
    Este governo , e quem o governa e tudo um verbo de encher.
    Gostaria de ver as casas, onde esses senhores vivem, serem consumidas pelas chamas, e perderem tudo o foi o resultado de uma vida inteira de trabalho duro e sacrificios.
    Talvez nesse momento eles dessem valor ao que perderam , e providenciar para que tal não volte a acontecer, e a indeminizar todos os que perderam tudo, e que até hoje no receberam compensação alguma. E quanto tempo já passou? Será necessário dizer. ?
    Que vergonha , e tristeza.

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