Nesta gravura paleolítica no vale do Ocreza, o circulo só é bem visível durante a manhã, depois do meio-dia quase que desaparece. Foto: mediotejo.net

O presidente da Câmara Municipal de Mação revelou na segunda-feira terem sido “encontradas novas gravuras rupestres paleolíticas” no vale do Ocreza, a par de “alguns artefactos”, tendo as descobertas decorrido no âmbito de uma campanha de escavação que ali decorreu.

A primeira gravura ali encontrada foi a do ‘Cavalo do Ocreza, no ano 2000, uma gravura rupestre paleolítica com mais de 20 mil anos, seguindo-se a identificação de mais de 50 gravuras desenhadas nas rochas junto ao rio.

“É um achado muito importante e que vem no fundo consolidar (…) a ideia que existiria ali no vale do Ocreza, no complexo rupestre do Tejo, a possibilidade de encontrar gravuras rupestres paleolíticas e, no âmbito destas escavações (…), foi encontrado um novo painel onde foram identificados desenhos de alguns animais, ainda em estudo, bem como artefactos que estavam junto ao local”, disse Vasco Estrela, presidente da autarquia.

Rio Ocreza. Foto: DR

ÁUDIO | VASCO ESTRELA, PRESIDENTE CM MAÇÃO:

A primeira gravura paleolítica encontrada no vale do Ocreza, em Mação, deu-se em 2000 com a descoberta de uma gravura rupestre paleolítica com mais de 20 mil anos numa das margens do rio Ocreza, – um cavalo sem cabeça -, a primeira encontrada abaixo do Côa e na área do complexo de arte rupestre do Vale do Tejo.

Poucos meses depois da descoberta do ‘cavalo do Ocreza’, arqueólogos portugueses e internacionais referenciavam mais de 50 gravuras no vale do rio Ocreza (afluente do Tejo) comparáveis com as gravuras das fases antigas do Vale do Côa e Escoural, tendo as mesmas originado uma dinâmica turística, através de visitas guiadas, e um trabalho continuado de investigação por parte dos responsáveis do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo, de Mação.

Mação anuncia descoberta de novas gravuras rupestres no vale do Ocreza . Foto: mediotejo.net

A escavação que decorreu nos últimos meses e que resultou na descoberta de um novo painel com “quatro a cinco animais gravados na rocha” e de “alguns artefactos nos depósitos que cobriam as gravuras e que serviriam para esculpir”, foi promovida pelo Instituto Terra e Memória, de Mação, numa parceria com a Câmara Municipal local, Museu de Arte Pré-Histórica, Instituto Politécnico de Tomar e Universidade Autónoma de Lisboa.

Mação anunciou a descoberta de novas gravuras rupestres no vale do Ocreza. Foto: CMM

“Duas décadas depois dos primeiros achados de arte Paleolítica em Mação, as novas figuras representam vários animais e vêm abrir uma nova perspetiva sobre os estudos de arte rupestre do Complexo Rupestre do Tejo e uma melhor compreensão das figuras rupestres do vale do Ocreza”, disse Vasco Estrela.

A gravura rupestre do ‘Cavalo’ do Ocreza foi encontrada em 2000 em Mação. Foto: DR

O autarca ressalvou que os achados “podem dar um novo impulso ao Centro de Aprendizagem e Observação (CAO) de Arte Rupestre”, um investimento que chegou a estar projetado para aquele local, “inspirado” nas grutas francesas de Tautavel, com vestígios de ocupação humana de 450 mil anos, mas que nunca chegou a avançar.

“Por razões várias não se concretizou, mas com esta descoberta e eventuais novas escavações podemos revisitar e, quiçá, avançar com algum projeto, mas é prematuro dizer ou comprometer-me com alguma coisa neste momento”, disse, pedindo tempo para “parar, pensar e ver como potenciar mais o concelho” a partir das novas descobertas.

A pedra do peixe, gravura no no vale do Ocreza. Foto: mediotejo.net

Com um investimento perspetivado em 2010 de um milhão de euros, a construção do CAO estava projetado para o Vale do Rato, próximo do atual Museu de Arte Pré-Histórica, e incluiria um espaço de observação na aldeia de Zimbreira, – “a porta para o parque do Ocreza” -, que acolheria uma exposição de arte rupestre mundial, em colaboração com museus e universidades da Europa, América do Sul, África, Ásia e Austrália, segundo anunciou na ocasião o presidente do município de então, José Saldanha Rocha.

 Luiz Oosterbeek, diretor cientifico do Museu de Arte Pré Histórica de Mação, por sua vez, havia afirmado à Lusa que o conceito do CAO, no quadro da rede de equipamentos do Museu, é o de “espaço complementar” do edifício-sede, ficando este vocacionado para a gestão, conservação e exposição de parte das coleções, e que o novo espaço iria dedicar-se à exposição de arte rupestre, articulada com a sua observação ao vivo e com a natureza que a enquadra, bem como para laboratórios interativos e abertos ao público, biblioteca, sessões de experimentação e ações de formação.

Dezenas de gravuras rupestres foram já identificadas no vale do Ocreza, do lado de Mação. Foto: DR

A Câmara de Mação deu hoje ainda conta que a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) “já visitou o local” das novas gravuras postas a descoberto e que os primeiros resultados serão apresentados internacionalmente no Congresso da União Internacional das Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas, no dia 05 de setembro, em Marrocos.

O espaço recebe visitas guiadas mediante marcação prévia com os serviços da Câmara Municipal ou do Museu de Mação. 

C/LUSA

Mário Rui Fonseca

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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