Foto: mediotejo.net

Os alunos do Mestrado Europeu DYCLAM do IPT procederam a apresentações públicas dos projetos finais sob o mote “O futuro do interior hoje”, centrados nas localidades de Cardigos, São José das Matas, Ortiga e Mação. Além das sessões nas várias localidades, houve esta segunda-feira uma apresentação global dos quatro trabalhos, no Centro Cultural Elvino Pereira. Os alunos envolveram-se na comunidade e deixaram propostas de desenvolvimento de projetos que sirvam o concelho no futuro, dotando-o de espaços de memória, fruição e consolidação da cultura e história dos lugares.

Os mestrandos, vindos de países como França, Senegal, China, Colômbia, França, Líbano, Holanda, Brasil, Canadá e Reino Unido, analisaram de perto os vários aspetos do território e os seus trabalhos, no âmbito do Mestrado, visou dar balanço a propostas junto da comunidade, algumas delas até já pensadas pelos maçaenses, mas que aqui ganharam outros contornos, com as sugestões técnicas dos mestrandos.

“São todos colegas, jovens de várias áreas de formação académica e liceal, que vêm fazer aqui um Mestrado em Gestão do Património e Dinâmicas das Paisagens Culturais”, sendo objetivo “poderem fazer um trabalho que seja útil para eles, mas que seja útil para as pessoas de Mação e para aquilo que se pode fazer no futuro, aqui no concelho”, introduziu Luiz Oosterbeek, professor coordenador do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e coordenador deste curso.

Luiz Oosterbeek, também diretor do Museu de Mação e presidente do Instituto Terra e Memória no concelho, referiu que estes projetos ajudaram a traçar “uma linha de rumo” para o concelho e para a população de Mação, que o docente crê que se trata de “uma comunidade que apresenta soluções, que faz aquilo que pode fazer dentro dos seus recursos”.

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“Os alunos todos perceberam, e todos os grupos em contextos diferenciados, e foram capazes de perceber o que é que movia a população de cada um dos locais”, referiu, congratulando os alunos por “não se renderem às ideias que estão na comunidade”, dando sugestões e opiniões, dando a sua perspetiva como técnicos, mas contando com o apoio dos maçaenses para conseguirem explorar as localidades e as suas potencialidades o mais possível.

Oosterbeek congratulou a autarquia e a comunidade por permitirem que este seja “o único projeto que uma instituição de ensino superior em Portugal tem fora da sua sede”, disse, dando conta que “as comissões de avaliação fizeram um elogio enorme ao Politécnico de Tomar pela relação que tem com a Câmara de Mação, e não só não puseram em dúvida, como disseram que este é o caminho que deve ser seguido”, terminou, indicando que o sucesso se deve à comunidade maçaense.

A sessão incluiu quatro apresentações de quatro grupos de alunos, sendo o primeiro projeto referente a Mação e intitulado “Valores da Nossa Terra: Tradições e os produtos emblemáticos de Mação”, consistindo numa recolha de dados através de inquéritos e entrevistas, abordando a produção local e património cultural de Mação.

Foi apresentado um mini-documentário, produzido com recolha de vídeo durante as entrevistas a produtores locais, retratando as cavacas/Fofas de Mação, a produção de morangos em semi-hidroponia, o segredo do nobre vinho da Chave Dourada, a criação de cabras e produção de queijo, a produção de vinho, licores e azeite, os brinquedos de madeira, o mel e os enchidos, pão e bolos.

Por fim, o grupo deixou como propostas a adaptação do mercado semanal ou aumentar a frequência com que é feito o mercado “Quintais nas Praças do Pinhal”, bem como criação de um Centro de transmissão de Práticas tradicionais do concelho, que seria implantado num dos 10% de prédios que se encontram inutilizados na vila, mencionaram os estudantes.

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Por seu turno, o segundo grupo deixou como propostas para São José das Matas a criação de um Eco museu, a promoção de uma Rota das Fontes, a inclusão em circuitos turísticos com empreendimento de Eco turismo e reinserção de cabras e ovelhas com a prática da silvopastorícia.

Também a Barca da Amieira foi alvo de proposta de reabilitação, nomeadamente da Estação de comboios do local, criando um circuito turístico pela inclusão e restauração de uma ligação com a localidade de Amieira do Tejo, na margem oposta, no concelho de Nisa, distrito de Portalegre. A ideia seria unir as duas margens por via de uma ponte pedestre. Também o circuito de arte rupestre pelo vale do Ocreza foi apontado como devendo ser fortalecido através destas propostas.

O grupo 3 debruçou-se sobre Ortiga, deixando mote para a criação do CEOGA, que seria o Centro Etnográfico de Ortiga, tendo como proposta a exposição museográfica quer da cultura e artes da pesca, quer da cultura e artes rurais.

Os alunos fizeram catalogação e levantamento de objetos históricos e de interesse público/comunitário, que pertencem à vasta coleção de objetos históricos do Grupo Etnográfico de Ortiga que se encontra sob a guarda da Liga de Melhoramentos.

Concluindo, “O território de Cardigos e o seu património” foi o tema apresentado pelo último grupo de alunos. As propostas passaram pela criação de um centro de interpretação bem como conservação e reabilitação da Torre da Igreja para uso museográfico.

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Apresentando imagens do projeto, o museu conteria as várias vertentes da cultura e memória cardiguenses, desde o fabrico de velas, artesanato, interpretação da paisagem e incluindo a tradicional Festa do Espírito Santo, algo que se reveste de muita importância para a comunidade. As sessões de apresentação pública terminaram esta terça-feira, dia 19, em Cardigos, com apresentação deste mesmo projeto.

Recorde-se que este mestrado é uma formação universitária europeia com um caráter original e única no mundo tendo em conta quer a abordagem, quer os métodos aplicados aos atuais problemas internacionais de desenvolvimento sustentável e gestão dos territórios e do património ou paisagem cultural. O Instituto Politécnico de Tomar é a única instituição de ensino superior portuguesa a integrar o Consórcio DYCLAM (Dynamics of Cultural Landscapes and heritage Management).

O final da noite desta segunda-feira foi marcado ainda pela apresentação do trabalho do estudante de Doutoramento da Universidade de Artes de Bucareste, Sever Petrovici-Popescu, que se encontra a fazer estágio no Centro de Arte e Imagem do Instituto Politécnico de Tomar, orientado pelo docente António Ventura. Apresentou o projeto “Photosculpture”, cuja exposição está patente na galeria do mesmo centro, em Tomar.

Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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