Luísa Burguette Cunha foi convocada pela Federação Portuguesa do Pentatlo Moderno para representar Portugal no Mundial Sub-19. Foto: mediotejo.net

Luísa Burguette Cunha nasceu em Lisboa, mas aos cinco anos os pais regressaram às origens e mudaram-se para a cidade abrantina, onde a jovem começou a dar os primeiros passos na prática desportiva. Com uma carreira de mais de uma década soma já diversos títulos nacionais e pódios em competições realizadas pelos quatro cantos do mundo, destacando-se a sua prestação em pelo menos seis Campeonatos da Europa e do Mundo.

Atualmente a competir pela Casa do Benfica em Abrantes, Luísa Burguette foi convocada pela Federação Portuguesa do Pentatlo Moderno para representar Portugal no Mundial Sub-19 que vai decorrer em Istambul, na Turquia, de 25 a 30 de julho, pretexto para conhecermos melhor a jovem atleta abrantina numa conversa que juntou também o seu treinador, o avô Nuno Burguette.

Vídeo/Entrevista a Luísa e ao treinador Nuno Burguette:

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O pentatlo moderno é um desporto olímpico que compreende cinco modalidades diferentes: natação, esgrima, equitação, tiro e corrida. A atleta abrantina integra a comitiva de três atletas que vão representar Portugal no Campeonato do Mundo de Sub-19 da modalidade, tendo sido também convocados Carolina Souto (Leixões Sport Clube) e- Filipe Lavos (Bairro dos Anjos). O treinador da seleção é Sérgio Souto.

A atleta abrantina começa a competir no próximo dia 27, quinta-feira. Pelas 11h00 terá lugar a prova de esgrima, a que se seguem os obstáculos, a natação e, por último, a corrida com tiro laser. As atletas que irão participar na competição encontram-se divididas na qualificação A (33 atletas) e qualificação B (32 atletas), sendo que Luísa Burguette integra esta última. As primeiras 16 atletas de cada grupo são apuradas para disputarem a final.

Nas vésperas de rumar à Turquia, deslocação que aconteceu esta manhã, o mediotejo.net esteve à conversa com a jovem que encontrou no pentatlo moderno uma paixão. Lembrando o passado e as grandes conquistas do seu percurso desportivo, Luísa falou dos objetivos e das expectativas para a prova, deixando um desejo para o futuro: a participação nos Jogos Olímpicos.

Créditos: Nuno Burguette

Contavas ser selecionada para representar Portugal no Mundial Sub-19 de pentatlo moderno? Como é que recebeste essa informação?

Primeiro nós tivemos de ficar apuradas para o Campeonato da Europa que se realizou na Lituânia, em junho, salvo erro. Nesse campeonato europeu, quem conseguisse os mínimos para o Alto Rendimento, que consiste em ficar numa certa posição, seria qualificado para ir ao Campeonato do Mundo. Eu e mais dois colegas de equipa, uma rapariga e um rapaz, conseguimos essa qualificação para o mundial. Recebemos a convocatória esta semana. Já estava à espera, porque sabia que tinha conseguido ficar nos lugares, mas fico sempre feliz por saber.

Quais são os teus objetivos para esta competição, em que vais estar a competir com os melhores atletas a nível mundial?

Quero fazer uma esgrima muito boa, porque a esgrima é a disciplina que vale mais pontos no pentatlo. Ou seja, ganhar bastante experiência, com outras atletas também de outros países. Gostaria de ficar no Top 15 mundial… Vão ser cerca de 50 atletas, porque vão participar também atletas dos Sub17, uma vez que já foi o Campeonato do Mundo de Sub17, vêm também ao de Sub19.

Qual é a preparação que tens realizado para o mundial? Continuas a treinar com o teu avô ou tens mais algum apoio?

O meu avô está mais ligado ao atletismo, mas ele também treina a natação. Porém, no último mês, tenho tido a ajuda de um outro treinador, o senhor João Mendes, que também me ajudou muito. À esgrima eu tenho tentado ir mais vezes, porque eu tenho de treinar em Leiria uma vez que cá, em Abrantes, não há possibilidade de treinar. Tenho ido a Leiria mais frequentemente e tento focar-me mais nas lições pessoais com a minha treinadora, a Carina.

Créditos: Nuno Burguette

Nas vésperas de iniciar a competição como é que te encontras, não só a nível físico como também psicologicamente?

Fico sempre um pouco nervosa, mais quanto à esgrima, porque não é o que eu treino mais e não é só de mim que depende, depende também do adversário. Eu fico sempre muito nervosa em todas as provas, mas sei que nesta prova é muito difícil ir ao pódio. Tentamos sempre, mas é muito difícil… Mas vou dar o meu melhor.

Sendo o pentatlo moderno um desporto olímpico que compreende cinco modalidades diferentes (natação, esgrima, equitação, tiro e corrida), a preparação e obter estes resultados requer uma exigência e uma polivalência muito grande. Como fazes para conciliar os estudos com a preparação física e mental?

Conjugar com a escola é um pouco mais difícil porque este ano, especialmente, tínhamos uma carga horária maior do que nos outros anos anteriores, então foi um pouco mais difícil. Eu tento sempre empenhar-me em todos os treinos e fazer o melhor possível para que, quando tenho menos tempo, consiga tirar melhor proveito.

Entre estudos e treinos, há tempo para ser jovem e sair com amigos?

Sim. Eu não gosto muito de sair à noite… prefiro, por exemplo, ir ao cinema ou ir passear com as minhas amigas. Mas há sempre espaço. Por exemplo, esta semana, veio cá uma amiga minha treinar comigo. Eu costumo treinar sozinha e ela veio cá treinar e conseguimos passear entre os treinos. Relaxar também é importante.

Créditos: Nuno Burguette

E os teus amigos compreendem e apoiam-te quando tens menos disponibilidade?

Sim, eles conseguem compreender. Por vezes combinamos coisas e já desmarcámos datas por minha causa, mas compreendem mais que os professores, de facto.

Que outros hobbies e atividades gostas de realizar nos teus tempos livres?

Eu gosto bastante de cinema então, no momento, estou a tentar escrever um roteiro de um filme. Gosto bastante de ver os roteiros dos filmes e criar o meu. Por exemplo, aprender mais como é que se trabalha no backstage, tudo sobre filmes. Gostava de aprender a tocar guitarra… isso surgiu este mês, mas eu ainda não disse a ninguém, vão saber assim em primeira mão [conta entre risos]. E gosto de cozinhar doces.

Com um horário semanal bastante preenchido, por vezes sentes-te cansada ou desejavas ter mais tempo para ti?

Eu tenho bastante tempo para mim, eu acho, e se eu estiver cansada penso que o meu avô compreende.

Tens algum segmento preferido e algum onde sintas que podes evoluir mais?

São 5 disciplinas, o atletismo, o tiro, a esgrima, a natação e agora os obstáculos… Mas eu dedico-me mais ao atletismo e à esgrima em competições individuais. A corrida é combinada com o tiro e, por vezes, sou um pouco irregular no tiro, ou seja, faço por exemplo um alvo, que são 5 tiros verdes em 10 segundos e depois faço outro a 20. Mas gosto muito de laser run que é o combinado e também gosto muito de esgrima. Eu não praticava esgrima então não sabia bem os movimentos, mas quando se começa a descobrir um pouco, comecei a gostar mais. A esgrima e o laser run estão ali empatados.

Ainda te recordas de como e quando é que despertaste para a prática desportiva e para o pentatlo moderno?

O meu avô era o treinador da Casa do Benfica de Abrantes de atletismo e houve um dia que lhe disse que queria ir com ele. Eu fui com ele, estive lá a treinar e gostei. Depois comecei a ir mais regularmente e aí comecei o atletismo. Eu já fazia natação e o pentatlo tem várias vertentes. Tem, por exemplo, o biatle que é a natação e o atletismo. Houve uma prova que era cá em Abrantes e eu soube, era de natação e atletismo. Como eu fazia as duas modalidades, disseram-me que eu podia participar. Participei e gostei ainda mais do que praticar individualmente cada uma. Eu só podia fazer os biatles porque não fazia o tiro. Não tinha pistola nem o alvo… não treinava mesmo tiro. Até que cheguei a um escalão em que o presidente da Federação na altura, o Manuel Barroso, me disse se eu queria experimentar uma prova de tiro.

Eu estive com um colega em casa dele a treinar, com duas mãos e depois cheguei à prova e era com uma mão e de muito mais longe. Mas eu gostei da prova e pedimos à Federação se nos podiam emprestar pistola e alvo, visto que aqui ainda ninguém treinava. O clube ainda não estava bem desenvolvido no pentatlo. Eles emprestaram a pistola e o alvo e eu comecei a treinar. Depois comecei a fazer o laser run, que é só corrida e tiro e a esgrima, obrigatoriamente, só comecei a ter este ano, porém já comecei a praticar há mais tempo.

Créditos: Nuno Burguette

E triatlo, nunca praticaste?
Triatlo em si não. Já fiz duatlo, mas o pentatlo tem uma vertente que é o triatlo moderno que é corrida e natação, mas em vez do ciclismo tem tiro laser. Essa já participei… Triatlo mesmo não, não sou muito boa a andar de bicicleta, não é o meu forte.

Embora tenhas apenas 16 anos, contas já com uma longa carreira desportiva. Quais as principais conquistas que destacas do teu percurso?

Consegui os apuramentos tanto para os campeonatos da Europa, como para os campeonatos do mundo. Ter conseguido medalhas e pódios internacionalmente e ter conseguido o estatuto de alto rendimento, já há três anos.

Créditos: Nuno Burguette

É difícil a obtenção do estatuto? Em que é que consiste?

Este ano eu diria que foi mais fácil, visto que adicionaram uma disciplina nova ao pentatlo moderno que são os obstáculos e muitas das pessoas que praticavam a modalidade faziam com hipismo. Então muitas pessoas foram eliminadas nos obstáculos, o que deixava uma margem de três minutos na corrida e eu não perdi essa margem… Também teve muito esforço, porque eu não sabia se elas seriam eliminadas ou não. Não podemos subvalorizar as nossas adversárias.

Por exemplo, para entrar na universidade, as universidades têm algumas vagas para os atletas que têm o estatuto de alto rendimento. Como eu ainda me encontro no ensino secundário não tenho muitas vantagens porque às vezes os meus professores não entendem bem que eu vou representar o meu país e não porque eu quero ir passear. Mas, alguns professores entendem e tenho essa pequena vantagem, de ter as faltas mais justificadas se for a outro país representar Portugal.

Créditos: Nuno Burguette

Em que ano é que estás a estudar? Esperas, no futuro, manter-te ligada ao desporto a nível profissional?

Passei para o 12° ano de Ciências e Tecnologias. Ainda não sei o que é que eu pretendo seguir, mas a nível desportivo eu gostaria de conseguir qualificar-me para os Jogos Olímpicos. Para os de 2024 já não é muito possível, mas para os de 2028 em Los Angeles gostaria muito. Enquanto área profissional ligada ao desporto não sei… Eu gosto de praticar desporto, mas acho que estar a estudar desporto em si iria fazer-me cansar do desporto e eu não quero isso. Ainda não sei se quero seguir alguma coisa ligada ao desporto, mas em princípio não. Quero, sim, continuar a praticar.

E um futuro enquanto atleta profissional, está nos teus planos?

Em Portugal diria que não, porque é um país muito focado só no futebol e tudo o que não seja futebol não recebe tanta atenção, o que eu acho mau. Mas por exemplo, na Alemanha, em França e até mesmo em Espanha, conheço atletas que apenas praticam pentatlo porque recebem dinheiro, tanto da Federação como de outros patrocínios que eles terão.

Que mudanças é que gostarias de ver no panorama nacional ao nível desportivo?

É uma pergunta um bocadinho difícil, mas gostava que as pessoas ligassem mais a outros desportos sem ser só o futebol. Por exemplo, na natação também temos atletas excelentes, o atletismo também, no pentatlo também, puxando aqui um bocadinho a brasa à minha sardinha. Gostava que existissem mais espaços para nós trabalharmos tudo junto. Porque temos os centros de alto rendimento, mas não podemos treinar tudo lá. Por exemplo, os obstáculos são uma coisa nova e só há quase no Jamor e talvez no norte também haja. Não conheço muitos mais sítios onde tenhamos. Gostava que tivéssemos mais instalações. A Câmara Municipal de Abrantes (CMA) tem apoiado bastante, mas talvez a construção de uma pista de obstáculos, mesmo que pequenina, ajudava bastante também.

Créditos: Nuno Burguette

Sonhas ser campeã do mundo de pentatlo moderno ou a tua presença no mundial já é uma grande vitória?

É uma expectativa demasiado alta, mas nunca se sabe o que é que acontece com as outras atletas. Se me corre muito bem a esgrima, se faço um tempo muito bom na natação, nos obstáculos e no tiro conseguir fazer bem, nunca se sabe.

Costumas acompanhar os resultados e o desempenho das tuas adversárias?

Costumo acompanhar sim, de algumas de outros países, e nota-se bastantes diferenças, até nos treinos, por exemplo. Acho que há uma menina egípcia que vai competir comigo, tem 11 anos e é muito boa, ganhou agora as Sub 17.

Luísa junto do seu avô e treinador, Nuno Burguette. Foto: mediotejo.net

Como é que é treinar ao lado de alguém que além de um treinador é também uma figura importante na família?

Eu acho que é muito bom, gosto muito de treinar com o meu avô. Temos sempre mais confiança para dizermos se está alguma coisa a chatear-nos ou não. Às vezes é chato porque, por vezes, estamos a jantar e o meu avô começa “ela hoje não treinou bem” e eu respondo “eu treinei sim”… essa parte é mais chata, mas no geral eu gosto bastante. Se algum dos outros atletas que o meu avô treina lhe diz que dói alguma coisa, o meu avô diz “coitadinho”, já se for eu ele diz “isso não é nada, vai lá treinar” [brincou].

Quais é que são as principais dificuldades com que os teus pais se deparam para te conseguir proporcionar as condições que necessitas para evoluir?

No caso da aquisição de material não diria tanto, visto que a Federação apoia bastante quem está no alto rendimento, como o equipamento de esgrima, por exemplo, que é caro mas a Federação empresta. Isso não diria que é tão dispendioso. Como eu tenho o alto rendimento a Federação cobre tudo, a não ser que nós queiramos ir passear, ou assim, é claro que a Federação não vai pagar. Mas por exemplo, hoteis, viagens, alimentação, cobre praticamente tudo. O que é mais dispendioso são, por exemplo, as viagens a Leiria para treinar a esgrima e às vezes terem de equacionar um pouco as reuniões do trabalho comigo. Mas também muitas vezes o meu avô vai comigo.

Como é que tem sido o apoio por parte de amigos e conhecidos e até mesmo dos abrantinos, em geral, relativamente à tua participação no mundial?

A Câmara Municipal de Abrantes sempre apoiou muito e até divulgaram. Como eu já tinha todas as despesas pagas também não havia muito que pudessem fazer, mas divulgaram e tentaram criar soluções para todos os obstáculos encontrados. Os meus amigos mais próximos apoiam-me, já os mais afastados não dizem nada, não é futebol…

Sabes que Abrantes e os teus amigos vão estar de olhos neste mundial e a torcer por ti. Queres deixar alguma mensagem ou dedicar esta presença a alguém em particular?

Eu gostava de agradecer ao meu avô que é o meu treinador, aos meus pais e à minha família em geral, agradecer a toda a gente. Gostaria de agradecer também ao senhor João Mendes que me tem ajudado na natação, à Carina, que é a minha treinadora de esgrima de Leiria, do Bairro dos Anjos, a todos os meus colegas também do pentatlo que fizeram isto ser possível, à Casa do Benfica de Abrantes, à Câmara Municipal, e à Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno.

Lado a lado, avô e neta treinam juntos há mais de uma década

É lado a lado que avô e neta somam mais de uma década na prática desportiva. Treinador na Casa do Benfica em Abrantes há cerca de dez anos, o septuagenário abrantino foi um dos grandes impulsionadores da carreira desportiva da neta.

Nuno Burguette contou ao mediotejo.net como tudo começou, quando Luísa decidiu experimentar a prática de atletismo, modalidade que já treinava na CBA. De prova em prova, as conquistas foram surgindo, sempre sob o olhar atento do avô que continua a ser o seu principal treinador.

Engenheiro agrónomo de profissão, Nuno Burguette conta com diversas formações na área desportiva, nomeadamente um mestrado em Treino Desportivo, bem como um curso de pentatlo moderno, o que lhe permite dar formação à neta e aos restantes atletas da CBA que treina.

Quanto à prestação de Luísa Burguette no campeonato que se realiza esta semana em Istambul, na Turquia, o técnico mostra-se confiante, tendo dito ao nosso jornal que, embora seja difícil pensar em pódios, uma colocação nos 15 ou 20 primeiros lugares já seria muito bom.

Luísa Burguette junto do avô e treinador, Nuno Burguette. Créditos: Nuno Burguette

Como define a Luísa Burguete enquanto pessoa e enquanto atleta?

Enquanto pessoa a Luísa tem o seu feitio muito próprio, muito característico de uma miúda que tem 16 anos e que está sempre a contestar tudo e todos, é normal [conta entre risos]. Em relação aos treinos, treina bem, é aplicada, mas tem de ir mais aos limites dela ainda. Eu digo isto porque é aquilo que eu digo a ela e aos outros também que treino também pela CBA, embora na prática do pentatlo estejam um pouco limitados.

Limitados em que sentido? Devido à falta de condições para evoluir na prática da modalidade?

Sim. Estão limitados à corrida, ao tiro laser e à natação. Não há mais nada que possam fazer, porque não há condições. Tentei arranjá-las, a Federação apoiou com equipamentos e com material, a Câmara arranjava as instalações, eu inclusivamente arranjei um professor de esgrima que vinha cá de Santarém. Era preciso pagar ao professor e a Câmara e a Federação disseram que já tinham dado o que podiam, o restante era com o clube, mas não houve muita vontade da Casa do Benfica, portanto por aí morreu.

Sendo engenheiro agrónomo de profissão, como é que surgiu esta ligação ao desporto?

Sempre me dediquei ao desporto e tenho formação na área desportiva. Andei nas Escolas Superiores de Educação, em Rio Maior, em Lisboa, frequentei o Mestrado em Treino Desportivo, para além dos cursos de formação que são ligados ao futebol, ao atletismo e este que tenho para poder acompanhar a Luísa e outros. Tive de fazer formação e tirar também o curso de pentatlo moderno, que é como se chama a modalidade completa, embora seja por fases, em função dos escalões das idades dos atletas.

Quando é que começou a treinar os atletas da Casa do Benfica de Abrantes?

Aqui comecei mais foi com o atletismo… depois apareceu também a Luísa, mas já há mais de 10 anos que treino a CBA. Primeiro o atletismo, depois surgiu a Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno e começámos a fazer algumas das disciplinas que se fazem no pentatlo e que são cinco. Embora os escalões sejam divididos por fases. A pouco e pouco os atletas vão evoluindo nas disciplinas, até que chega a fase dos Sub17 em que têm de ter as disciplinas todas.

Infelizmente, aqui na Casa do Benfica não vai acontecer isso, porque não estou a ver como vão incluir as duas disciplinas que não têm. Não vejo também grande vontade em avançarem com isso. Refiro-me concretamente à esgrima e a esta que surgiu para substituir o hipismo e que começou este ano que são os obstáculos. É preciso ter um campo de obstáculos, é preciso treinar e não é fácil encontrar… As únicas pistas de obstáculos que conheço cá são no Centro de Alto Rendimento do Jamor.

Créditos: Nuno Burguette

Como é que têm contornado estes obstáculos na preparação física da Luísa?

Vamos fazendo as provas e treinamos aquilo que podemos. Tenho de agradecer também ao RAME – Regimento de Apoio Militar de Emergência, aqui de Abrantes, que nos tem permitido que se possa lá ir treinar, principalmente agora para o campeonato do mundo, utilizando os obstáculos que não são os mesmos, mas têm um ou outro que se podem adaptar. Também temos feito estágios noutros Centros de Alto Rendimento e já utilizámos este ano o Centro de Alto de Rendimento de Barcelona, onde treinamos com outros países também. Acabámos agora um estágio, na semana passada, no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior em que se juntaram, pela mão da Federação, outros atletas de outros clubes. Estivemos 2 ou 3 dias a fazer treinos, aquilo que era possível, natação, tiro e esgrima. Portanto, a Federação, dentro da medida do possível, vai apoiando.

As grandes dificuldades prendem-se, essencialmente, com a falta de equipamentos?

Sim, equipamentos, instalações e vontade. Por exemplo, para fazer esgrima, não me sinto com qualificações suficientes para, a partir de um determinado nível, dar esgrima. Daí que a Luísa já faz esgrima há cerca de 2 ou 3 anos em Leiria, no Bairro dos Anjos. Faz desde 2019, depois meteu-se a pandemia e esteve quase 2 anos sem fazer e, portanto, lá tem uma professora que é quem lhe dá esgrima.

Créditos: Nuno Burguette

Ainda se recorda dos primeiros passos e conquistas da Luísa na prática desportiva?

Sim, foi mais ou menos no primeiro ano. Começou a correr na escola, vi que ela tinha habilidade e comecei a levá-la às corridas do 25 de abril. Devem ter sido das primeiras que fez e começou a ficar nos primeiros lugares. Depois surgiu também, pela Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno, um biatle que consiste numa competição só de natação e corrida. Foi daquelas onde ela se destacou melhor ao princípio e ficou logo em primeiro lugar na prova que disputou. Comecei a ver interesse e entretanto, como a idade dela foi avançando, os escalões foram subindo e foram introduzindo mais algumas disciplinas. Chegou agora ao limite, está no máximo de disciplinas que existem.

Só ainda não se sabe, vai ser decidido até ao final do ano, como é que vai ser em termos futuros. Ainda há uma hipótese do hipismo poder ficar… Eu pessoalmente é uma das disciplinas que gosto, porque também vivi muito ligado ao hipismo e aos treinos dos cavalos, mas acho que não se vão decidir pela continuidade do hipismo. Tenho quase a certeza, por causa de uma coisa estúpida que aconteceu nos últimos Jogos Olímpicos (…). Mas nestes Jogos que vão acontecer em Paris em 2024 ainda vão ter a modalidade.

Créditos: Nuno Burguette

Quais os pontos que destaca como estando na base desta convocatória para a Luísa representar Portugal no campeonato do mundo sub-19?

É sem dúvida o bom feitio dela, dá-se bem com as outras atletas. Além disso é aplicada, tem bons resultados e está no alto rendimento. Portanto, é uma atleta que eles acompanham, ela e mais dois, e isso está na origem do apoio que a Federação dá e vamos vendo o que é que se vai conseguindo dentro da medida do possível.

O que seria para si uma boa prestação neste mundial?

Ela é sempre um bocadinho ambiciosa. Como também ela já referiu, é muito difícil pensarmos em pódios, mas dentro dos 15 ou 20 primeiros lugares era muito bom, muito bom mesmo.

Créditos: Nuno Burguette

O pentatlo moderno é muito exigente e é caso para perguntar se a Luísa é uma superatleta e se tem margem para ir até onde?

É muito exigente, sim. Quem anda no atletismo treina só o atletismo, a especialidade que tem, seja corrida, lançamentos ou saltos. Mas no pentatlo moderno é muito complicado, porque tem de treinar cinco coisas diferentes e não é muito fácil conseguir, a partir de uma determinada altura, atingir resultados muito bons. A Luís tem margem para evoluir mais. Em relação aos treinos, precisa de ir mais aos limites dela. Os limites dela é saber até onde é que pode ir, depois em prova já sabe o que é que pode fazer. Quando não atingimos nos treinos os nossos limites é isso que acontece e digo isto sobretudo em relação a uma das disciplinas que ela até faz muito bem, mas não sei porquê, não é das que ela mais gosta, que é a natação.

Uma coisa é certa. O pentatlo ganha visibilidade na região de Abrantes com a convocatória da Luísa, sendo também uma boa propaganda para a modalidade e para a prática desportiva. Sente-se realizado com esta convocatória ou quer ir mais além?

Podemos sempre ir mais além. Realmente é isso, dar a conhecer, essencialmente. É uma das funções que a Federação pretende que os clubes ou que alguns clubes tenham com os atletas melhores, é precisamente dar a conhecer em termos internacionais, para importar depois esses desempenhos para as provas nacionais. Não quer dizer que a Federação esteja a trabalhar 100% bem. Não, há coisas que têm de ser melhoradas, pode sempre fazer melhor. Mas está a fazer bem e apoia os melhores atletas, embora haja quem goste disso e quem não goste. Está a criar um certo elitismo, a criar atletas de altos rendimentos para servirem de exemplo a outros. A aposta depois está nos clubes, deixa isso aos critérios do clube de fazer a sua promoção e trazerem atletas para esse nível.

Qual é o futuro que ambiciona para a Luísa Burguette enquanto atleta?

Eu gostava que ela pudesse atingir, de facto, aquilo que ela já falou que é conseguir ir a uns Jogos Olímpicos. Estes de 2024 em Paris é complicado já, até porque já estão em marcha, embora ela tenha sido convocada para fazer uma participação num evento ligado a isso. Mas para participar nestes jogos é muito difícil, agora nos próximos tudo depende dela.

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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1 Comentário

  1. Entrevista muito bem conduzida. Soube tocar nos pontos fulcrais e vestir a roupagem da entrevistada. Muito interessante o tipo de perguntaste. Auguro um bom futuro profissional. Felicito-a pela paixão demonstrada.

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