A Liga dos Combatentes está a assinalar os seus 100 anos de existência que se fundem com a criação do Núcleo de Abrantes, que também comemora o seu centenário este ano. No arranque das comemorações, no Castelo de Abrantes, foram apresentados os objetivos do Núcleo e inaugurada a exposição “Centenário da Liga dos Combatentes, 1923-2023, com um programa comemorativo que se estende até outubro.
A exposição agora inaugurada apresenta uma cronologia histórica sobre a criação desta instituição que se tem dedicado à defesa dos direitos dos antigos combatentes em Portugal.
A mostra conta com 31 painéis, e demonstra o percurso da Liga dos Combatentes em quatro períodos da História nacional, desde o Nascimento (1923-1934) onde é retratado todo o período de arranque do funcionamento e assistência aos combatentes com a oficialização, passando também pelo período do Condicionamento (1934-1974) no regime do Estado Novo, com nomeação das direções e intervenção e controlo quer dos combatentes, quer das suas famílias.
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Segue-se a fase de Adaptação (1974-2003) na transição do regime de Estado Novo para o regime democrático em Portugal, aquando a Revolução do 25 de Abril, uma altura em que também a instituição passa por um processo de democratização da administração e ação no território.
Por fim é espelhado o período de Renovação, desde 2003, altura em que a instituição passa a contar com Joaquim Chito Rodrigues como presidente e começa a definir novas estratégias de atuação, criando programas estratégicos e medidas concretas a implementar em diversas frentes, desde o apoio social e na área da saúde, à preservação da memória e à manutenção do património, bem como a transmissão dos valores entre combatentes e gerações futuras, além das diversas ações comemorativas e de homenagem anuais, por exemplo.
Criada oficialmente em 29 de janeiro de 1924, após uma primeira Reunião Magna a 16 de outubro de 1923 onde são eleitos os primeiros corpos diretivos e assinada a primeira ata, a Liga dos Combatentes é atualmente uma pessoa coletiva de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos, de ideal patriótico e de caráter social. Goza de benefícios inerentes às Instituições de Utilidade Pública e IPSS, exercendo a sua atividade sob tutela do Ministério da Defesa Nacional.
O presidente do Núcleo de Abrantes da Liga dos Combatentes, Fernando Lourenço, falou no compromisso de a instituição continuar a trabalhar especialmente no “desígnio de honrar os mortos, mas principalmente dignificar os vivos. Aqueles que, agora já na casa dos 80 anos, praticamente a desaparecer todos os dias. Mais uma década e não teremos combatentes da Guerra do Ultramar. Mas enquanto cá estiverem, queremos dar-lhes alguma dignidade na capacidade que tiveram de se oferecer, outros nem por isso, para a defesa do país, sem pensar muitas das vezes no que lhes poderia acontecer. Eles merecem esse carinho da nossa parte”.

O responsável pelo núcleo local da Liga dos Combatentes notou que o trabalho é feito de forma voluntária para os combatentes, e salientou existirem atualmente algumas dificuldades no percurso, nomeadamente o facto de “cada vez mais ser difícil o pessoal jovem integrar este tipo de instituições”.
É por isso que um dos objetivos passa por “trazer mais gente”, que não precisa ser antigo combatente, e levar a Liga por diante, “por mais 100 anos”.
Neste âmbito, pretende a Liga intervir nas escolas, sensibilizando e informando os alunos sobre o porquê de existir esta instituição. “Não somos uma instituição para jogar às cartas no núcleo. Somos uma instituição para apoiar aqueles que precisam e também para que se mantenham vivos os valores e os princípios que a instituição defende desde 1923”, salienta.
No caso particular de Abrantes, Fernando Lourenço indica que existem 1400 sócios na casa dos 70 a 80 anos, e frisa que um dos papéis do núcleo passa pelo apoio social aos combatentes e famílias, mantendo contacto próximo, visitando as suas casas e listando necessidades, desde auxílio médico a apoios de cariz social, nomeadamente pagando medicamentos ou as faturas da água ou luz.
Estes valores são pagos com a verba que resulta do pagamento de quotas dos sócios do Núcleo, pelo que se torna imperativo manter sócios ativos e participativos, sendo este também o intuito de uma outra campanha de angariar mais sócios e de regularizar quotas com os já existentes.
O presidente do Núcleo de Abrantes quer tornar os sócios “ativos, participativos” permitindo que prossigam os apoios dados e os serviços prestados, caso dos 25 combatentes e famílias que são seguidos para apoio psicológico e consultas médicas no Entroncamento, através do Centro de Apoio Médico, Psicológico e Social (CAMPS) da Liga dos Combatentes, ou até permitindo atendimentos ao domicílio quando existem dificuldades de deslocação.

Outro ponto que está no programa estratégico da Liga trata-se da recuperação de combatentes que se encontram sepultados nas províncias ultramarinas e cujas famílias desconhecem o paradeiro há longos anos. Fernando Lourenço reconhece a dificuldade de trasladação dos corpos para Portugal, desde logo pelo custo que acarreta esse sistema, estando a Liga em coordenação com o Ministério da Defesa a criar a Operação Embondeiro, para trazer todos aqueles cuja localização se conheça até às suas famílias.
“Estou a lembrar-me de Sardoal, onde há gente que não sabe onde está o seu ente querido. Vamos lá buscá-los dentro das possibilidades do Estado e trazemo-los de novo a casa”, explica Fernando Lourenço.
Quanto à comemoração do centenário, esta contará com diversas iniciativas, começando por esta exposição da Liga dos Combatentes a nível nacional, e estendendo-se o programa até outubro.
Além da exposição, o Núcleo pretende reunir todos os combatentes e sócios, com a projeção do filme “Guerra” no auditório da Biblioteca Municipal António Botto, dia 26 de setembro, às 18h00, seguindo-se a 29 de setembro uma missão pelos sócios já falecidos, a decorrer na Igreja de São João Baptista pelas 9h30, seguida de palestra na Biblioteca Municipal pelo historiador Coronel Luís Albuquerque, que virá a Abrantes falar da ligação da Liga dos Combatentes a Abrantes e do seu papel na comunidade.
A 30 de setembro haverá cerimónia militar no Jardim da República, junto do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, com acompanhamento musical pela banda da Sociedade de Instrução Musical Rossiense.
Pelas 12h15 os participantes deslocam-se ao RAME (Regimento de Apoio Militar de Emergência) no Quartel de Abrantes, para homenagem aos mortos e descerramento de placa, bem como fotografia de grupo, antecedendo um almoço-convívio no Restaurante A Cascata.
A 20 de outubro, integrado na Feira Nacional de Doçaria Tradicional, o Núcleo de Abrantes da Liga dos Combatentes brinda toda a população com um concerto pela Banda da Força Aérea, a ter lugar no Largo 1º de Maio, numa ação que pretende aproximar a comunidade em geral desta instituição e sensibilizando para a sua importância e papel na sociedade.

Durante a visita inaugural, a comitiva liderada pelo presidente do Núcleo de Abrantes da Liga de Combatentes, Coronel Fernando Lourenço, apreciou toda a exposição passo a passo, com uma explicação completa e minuciosa na presença de demais elementos do Núcleo abrantino bem como do presidente de Câmara, Manuel Jorge Valamatos, e do vereador com o pelouro da Cultura, Luís Dias.
O autarca reconheceu que seria bom que não tivessem existido motivos para que existisse uma Liga dos Combatentes, referindo-se às consequências graves trazidas pelas guerras e pela forma como se repercutem nos próprios combatentes, na sociedade e nas famílias e na economia.
Manuel Jorge Valamatos destacou o serviço prestado pela Liga, frisando o trabalho feito pelo Núcleo de Abrantes nas diversas vertentes, referindo aperceber-se disso e acompanhando nos últimos 20 anos enquanto vereador e autarca.

“O trabalho extraordinário que fazem (…) quero-vos felicitar pela vossa capacidade de trabalhar, de ajudar quem mais precisa nos diferentes momentos, e dizer que a Câmara vai apoiando e estando atenta aos vossos propósitos e haveremos de encontrar os melhores momentos para encetar ações que estão prometidas (…) para concretizar alguns dos nossos projetos comuns, para valorizar verdadeiramente os combatentes, [os falecidos e] os vivos também. Estamos atentos, sem me comprometer com datas”, disse, agradecendo o local escolhido para a exposição, junto ao Panteão dos Almeida, na Igreja de Santa Maria do Castelo, cuja musealização foi reconhecida internacionalmente.
Até dia 3 de setembro, no Palácio dos Governadores, dentro da fortaleza de Abrantes, poderá conhecer-se toda a história da Liga dos Combatentes, documentada desde a sua criação em 1923, numa iniciativa igualmente integrada nas comemorações do centenário do Núcleo de Abrantes.
A exposição do Centenário da Liga dos Combatentes pode ser visitada de terça a domingo, no horário das 10h00 às 18h00 (encerra à segunda-feira) e tem entrada gratuita.

Boa tarde, lamento que, tenham retirado a placa de mármore alusiva aos mortos na Grande Guerra oriundos de Abrantes, que estava na entrada do Real Convento de S. Domingos de Abrantes e que o arquitecto eliminou da história da cidade. o MIAA assim apagou a memória daqueles que cairam na defesa da Pátria. Os museus fizeram-se para construir identidades e não o contrário. Era fundamental que recolocassem a referida placa no antigo Quartel hoje Museu da cidade. Paulo Falcão Tavares