Os resultados no distrito de Santarém espelham o que se passou no país nas eleições deste domingo: um resultado histórico para o PS, uma derrota pesada para o PSD, o crescimento do Chega, que se impõe como terceira força política, e uma queda no abismo para o Bloco de Esquerda e para a CDU.

Perante as sondagens da última semana já era previsível que o Bloco de Esquerda e a CDU perdessem a sua representação parlamentar, e tudo ficou perdido assim que o 5º deputado do PS foi eleito. Para o Chega eleger o seu deputado teve de superar a fasquia dos 10% de votos. Os 5% da CDU ditaram que, pela primeira vez na história da democracia, não fosse eleito um representante no distrito de Santarém. António Filipe sentava-se no Parlamento desde 1989 e ontem foi, tal como Fabíola Cardoso, do BE, vítima do “voto útil” à esquerda, que se concentrou no Partido Socialista.

Em 21 concelhos, o PS ganhou em 20 – só em Ourém se manteve a vitória do PSD. Com 41, 19% dos votos, elegeu 5 deputados: Alexandra Leitão, Hugo Costa, Maria do Céu Antunes, Mara Lagriminha e Manuel António Afonso. O PSD, com 26,87% dos votos, manteve os três lugares das últimas legislativas. Os deputados agora eleitos são Isaura Morais, João Moura e Maria Inês Leiria Barroso. O vice-presidente do Chega, Pedro Frazão, assegurou a sua estreia no Parlamento com 10, 91% dos votos. A CDU conseguiu superar as previsões das últimas sondagens, ultrapassando o Bloco de Esquerda, obtendo 5,43% dos votos, quando o BE se ficou pelos 4,59%. 

Fonte: Ministério da Administração Interna

A abstenção no distrito de Santarém baixou dos 45,7% de 2019 para os 42,3%, tendo votado 218.192 dos 353.885 eleitores inscritos.

Ao mediotejo.net, Hugo Costa, presidente da Federação Distrital de Santarém do PS e segundo eleito por este círculo eleitoral, diz que o resultado obtido no distrito é “um resultado claro” e “que responsabiliza”.  Ter um quinto deputado eleito pelo distrito “era um resultado que ambicionávamos e que parecia difícil”, e “acaba por ser um resultado praticamente histórico, pois desde 2005 que não elegíamos tantos deputados.”

ÁUDIO | HUGO COSTA, 2º DEPUTADO ELEITO PELO DISTRITO DE SANTARÉM

 

O presidente da distrital de Santarém do PSD disse hoje à Lusa que as eleições legislativas de domingo vieram demonstrar que o caminho que a liderança do partido escolheu “não estava totalmente correto” e que é momento de “reconstruir”. Instado a comentar os resultados das legislativas, que deram uma maioria ao Partido Socialista (PS), com 41,7% dos votos, ficando o Partido Social-Democrata (PSD) em segundo lugar, com 27,8%, João Moura afirmou que o presidente do partido, Rui Rio, “foi coerente” no discurso que fez na noite eleitoral, ao afirmar que não vê como possa ser útil. Lembrando que o líder social-democrata havia afirmado que só permaneceria até ao momento em que achasse que fazia falta, João Moura disse que “foi isso que disse, claramente”, no discurso de domingo à noite. “Ele percebeu que esta estratégia que ele tinha se esgotou. Foi coerente”, afirmou o presidente da distrital laranja de Santarém.

ÁUDIO | JOÃO MOURA, DEPUTADO ELEITO PELO PSD EM SANTARÉM:

Em reação à sua estreia como deputado por Santarém, Pedro Frazão afirmou ao mediotejo.net a sua “satisfação” e “muita honra” em ser o primeiro deputado do Chega eleito pelo distrito. “A principal mensagem foi a dos valores e tradições do Ribatejo e isso demonstra que a nossa mensagem conservadora e corajosa deu na minha eleição”. Pedro Frazão destacou ainda o facto do Chega ser a terceira força política mais votada a nível nacional e de, no distrito de Santarém, “apesar da vitória do PS”, a eleição de um deputado do Chega significar a “erradicação da extrema esquerda do distrito”.

ÁUDIO | PEDRO FRAZÃO, DEPUTADO ELEITO PELO CHEGA

Já António Filipe, perante a perda de representação parlamentar da CDU pelo distrito de Santarém, admitiu um resultado “claramente negativo”, e que o afasta do Parlamento onde trabalhava desde 1989. “Vários fatores” contribuíram para este resultado, segundo António Filipe, “desde logo todo o ambiente eleitoral que se gerou através de uma bipolarização artificial e com as sondagens a indicarem um empate técnico que era um embuste. Mas o que aconteceu, de facto, é que a operação desencadeada pelo PS, de forçar eleições antecipadas procurando responsabilizar a CDU pela rejeição do Orçamento de Estado acabou por produzir os seus resultados, associado ao receio das pessoas que pudesse haver um governo de direita”, afirmou.

ÁUDIO | ANTÓNIO FILIPE, CABEÇA DE LISTA DA CDU POR SANTARÉM

Fabíola Cardoso, cabeça de lista por Santarém, assumiu ao mediotejo.net que o Bloco de Esquerda teve no distrito “um resultado que é uma derrota. Perdemos a representação parlamentar e, pior, vemos um deputado do Chega assumir uma representação pelo distrito na Assembleia da República. Isto é um mau resultado e, do nosso ponto de vista, não só para o BE mas também para o distrito e para o país”, afirmou.

ÁUDIO | FABÍOLA CARDOSO, CABEÇA DE LISTA DO BE POR SANTARÉM

A nível nacional, e faltando ainda apurar os 4 lugares eleitos pelos círculos da emigração, a maioria absoluta do PS está garantida com 117 deputados (mais um do que os 116 necessários), o PSD tem 71 lugares, e o Chega forma um grupo parlamentar com 12 deputados. A Iniciativa Liberal assume-se como 5ª força política, conseguindo passar de 1 para 8 deputados, a CDU elegeu apenas 6 representantes (todos do PCP, ficando de fora o partido Os Verdes) e o Bloco de Esquerda fica reduzido a 5 deputados.

A outra grande surpresa da noite eleitoral foi a perda de representação parlamentar do CDS-PP, o que sucede pela primeira vez na história e levou já ao pedido de demissão do seu líder, Francisco Rodrigues dos Santos. O plenário da Assembleia da República completa-se com mais uma deputada eleita pelo PAN (Inês Sousa Real) e a entrada de Rui Tavares, pelo Livre.

Fonte: Ministério da Administração Interna

Patrícia Fonseca

Sou diretora do jornal mediotejo.net e da revista Ponto, e diretora editorial da Médio Tejo Edições / Origami Livros. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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