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“O que vale um voto em Santarém?” foi o mote do debate com os cabeças de lista dos partidos que se candidatam às eleições legislativas de 6 de outubro pelo círculo eleitoral de Santarém. A iniciativa da Plataforma Academia, constituída por jovens de Abrantes, e à qual o mediotejo.net se associou, reuniu 10 dos 19 candidatos na passada sexta-feira à noite, no auditório da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes.

Durante cerca de três horas, Rui Paulo Sousa (Aliança), Fabíola Cardoso (BE), Patrícia Fonseca (CDS-PP), João Pita Soares (Iniciativa Liberal), Pedro Mendonça (Livre), Cristina Barradas (Nós Cidadãos!), Carlos Teles (PNR), Duarte Marques (PSD) – em substituição de Isaura Morais -, Alexandra Leitão (PS) e Pedro Machado (PAN), apresentaram as suas ideias sobre temas como a educação, juventude, agricultura, ambiente, acessibilidades, entre outros.

O debate, o único realizado no distrito de Santarém, integrou-se no projeto Eleições em Rede 2019, que junta o podcast Perguntar Não Ofende aos meios digitais Fumaça, Sul Informação e Médio Tejo, os semanários Jornal de Leiria e Jornal do Fundão e ainda os projetos universitários RUM – Rádio Universitária do Minho, RUC – Rádio Universidade de Coimbra e Rádio Universitária da Beira Interior em conjunto com o Urbi et Orbi – Jornal Universitário da Beira Interior (coordenados pelo Remedia.Lab – Laboratório e Incubadora de Media Regionais).

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O debate foi moderado por Mário Rui Fonseca, pelo mediotejo.net, e por João Gaio e Silva, da Academia. Foto: mediotejo.net

Rui Paulo Sousa (Aliança), 51 anos, empresário agrícola residente perto de Santarém, aficionado e caçador, promete lutar “por um governo que respeite a liberdade individual de cada um”.

Fabíola Cardoso (BE), 46 anos, professora de ciências em Santarém, ativista LGBT+, é a primeira vez que integra uma lista à Assembleia da República. Consciente de que “a política faz parte da vida”, mostra-se determinada em lutar por “continuar a mudar”.

Patrícia Fonseca (CDS-PP), 47 anos, engenheira agrónoma, dedicou toda a sua vida à agricultura e é deputada desde 2015. Foi dirigente de uma associação de agricultores e entrou na política para “ajudar os agricultores do lado onde se fazem as políticas”. Considera que, num próximo mandato, pode fazer “mais e melhor”.

João Pita Soares (Iniciativa Liberal), gestor, de 31 anos, é formado em engenharia e gestão industrial. O seu partido, que identifica como sendo “do centro”, surgiu em 2017. Defende que “deve ser o Estado a servir os cidadãos e não estes a servir e a alimentar o Estado”.

Pedro Mendonça (Livre), 46 anos, do Cartaxo, gestor cultural em Santarém, acredita piamente na democracia uma vez que vem de uma família de políticos de quadrantes políticos diferentes. Faz questão de dizer que é o único candidato que não foi escolhido, teve de se candidatar a eleições primárias.

Carlos Teles (PNR), reformado de 68 anos, explica que aderiu ao partido há mais de 16 anos “ao ver o descalabro em que o país estava a entrar e continua, em todos os aspetos”. Apresenta o seu partido como “não federalista” que defende “uma Europa Unida, mas de nações”.

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Duarte Marques (PSD), de Mação, deputado há oito anos, fez referência às organizações que fundou como a ONG Helpo e a Cooperativa Cupérnico. “Apresento-me com vontade de dar a cara por esta região de que tanto gosto”, salienta reafirmando a sua intenção de defender a região e “sobretudo esta parte do Médio Tejo”.

Alexandra Leitão (PS), 46 anos, é Secretária de Estado Adjunta e da Educação desde há quatro anos. Professora universitária, doutorada em direito, reside em Lisboa.

À semelhança do que fizeram todos os candidatos, elogiou a organização como “um belo exemplo de cidadania”. Candidata-se porque considera que se deve “sujeitar ao escrutínio dos votos por aquilo que fizemos e pelas propostas de futuro”.

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Pedro Machado (PAN), chef e formador de cozinha vegetariana, tem 40 anos. Nasceu no Porto mas vive há três anos em Fátima, onde gere um restaurante. Daquilo que conhece da região, dá ênfase ao potencial que representam a agricultura e os recursos hídricos. “Modificar a forma como vivemos e como produzimos energia e cuidar dos nossos ecossistemas” são algumas das suas propostas.

A candidata independente pelo partido Nós Cidadãos!, Cristina Barradas, que chegou com um ligeiro atraso ao debate, é advogada e tem 48 anos. É ativista cívica, sendo esta a terceira vez que se candidata a deputada, mas pela primeira vez pelo Nós Cidadãos!.

Terminada a primeira ronda com a apresentação dos candidatos, avançou-se para os temas em debate, sendo os primeiros mais genéricos, como a juventude, a participação cívica e cidadania, ou a educação.

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Pedro Machado (PAN) defende que a educação com fomento da reflexão crítica é a base para a preparação dos jovens para a cidadania. Falou ainda da precariedade no trabalho dos jovens, problema que para o candidato tem de ser prioridade.

Como membro do atual Governo, Alexandra Leitão (PS) aproveitou para referir o que tem sido feito a nível das políticas educativas para os jovens, focando aspetos como a reabilitação urbana para jovens e o reforço das residências para estudantes.

Duarte Marques (PSD) defende que se deve dar voz aos jovens e exemplifica com a sua participação nas listas desde há oito anos. Fala do impacto geracional e da dificuldade que os jovens sentem em entrar no mercado de trabalho.

Para o candidato do PNR os jovens são o futuro do país, salientando a importância da educação e do apoio aos jovens.

Pedro Mendonça (Livre) diz que o seu partido tem uma lógica diferente na escolha dos candidatos. Defende que os jovens possam votar aos 16 anos, é contra a democracia “refém dos partidos” e apela à participação dos cidadãos, sob o lema alargar a democracia de raiz.

O mais jovem dos candidatos na mesa, João Pita Soares (IL) (31 anos) desafia que se traga os jovens para a política e que fiquem a trabalhar em Portugal no fim da sua formação em vez de emigrarem.

Enquanto Patrícia Fonseca (CDS-PP) realça o empreendedorismo no rol das propostas do seu partido para a juventude, Fabíola Cardoso (BE) manifesta-se contra os contratos a prazo e a precariedade do emprego.

Rui Paulo Sousa (Aliança) lamenta que a política tenha perdido credibilidade o que, na sua opinião, tem afastado os jovens da política.

Para Cristina Barradas (Nós Cidadãos!) “os jovens são o futuro e o futuro são os jovens”. Educar para a cidadania e combater o bullying são algumas das propostas que apresenta.

No tema educação, houve opiniões para todos os gostos. Enquanto a maioria dos candidatos é a favor da autonomia escolar, Carlos Teles (PNR) defende “ensino igual para todas as crianças” e contra “uns aprenderem umas coisas e outros outras”. Na sua opinião, a flexibilização e o facilitismo são aspetos negativos, manifestando-se contra a “politização da escola”.

Aproveitando a presença do membro do Governo com responsabilidades na área da educação, alguns candidatos criticaram aspetos como os manuais escolares ou o financiamento do ensino privado, tema que gerou maior discussão.

O tema seguinte centrou-se no rio Tejo e no ambiente, sendo inevitável a abordagem das temáticas das alterações climáticas, gestão da floresta e a seca, isto num dia em que decorreu a greve climática em todo o mundo.

Pedro Machado (PAN) é contra a construção de novas barragens e contra o Projeto Tejo. Defende que se deve rever os caudais ecológicos e a existência de um plano para o Tejo e outros rios reconstruindo a vegetação ripícola. Manifestou-se contra a agricultura intensiva mas a favor de uma agricultura sustentável mais adequada ao nosso clima.

Alexandra Leitão (PS) defende a valorização dos recursos hídricos e a negociação da a redução das descargas poluentes, aumentando a responsabilização dos prevaricadores, ao mesmo tempo que valoriza a aposta nas energias renováveis.

“É preciso coragem para penalizar as empresas que poluem”, afirma Duarte Marques (PSD) lembrando que “a guerra pelo Tejo” começou no tempo do Governo PSD. Reconhece que a qualidade da água está melhor. Aproveitou para defender a central do Pego, que é a menos poluente das centrais de carvão. Sobre o projeto Tejo o candidato de Mação considera a iniciativa interessante mas dentro de condições sustentáveis e gerida.

Radical foi a opinião de Carlos Teles (PNR), questionando se há mesmo aquecimento global. Critica o encerramento da central do Pego e o governo por baixar o nível de prioridade na investigação da origem dos fogos.

Cristina Barradas (Nós Cidadãos!) defende a redução das descargas poluentes e considera interessante o Projeto Tejo. Dá os parabéns pela iniciativa ambiental dos estudantes numa referência à greve pelo clima. Sobre a floresta mostra-se preocupada com a quantidade de fogos, fenómeno que considera “catastrófico”.

Em defesa acérrima do Tejo fala Pedro Mendonça (Livre), criticando o projeto Tejo e questionando o seu interesse. Sem “diabolizar” o eucalipto, diz que o problema são as celuloses.

Também João Pita Soares (Iniciativa Liberal) questiona o projeto Tejo e o impacto que pode vir a ter. Sobre os incêndios, propõe que se premeie a sua não existência.

Patrícia Fonseca (CDS-PP) é de opinião que a falta de gestão florestal é o principal problema. Dá o exemplo de Mação que era um concelho modelo, mas que ardeu quase na totalidade. A candidata apoia o reforço do armazenamento de água para combate à seca e aponta como prioridade o combate às alterações climáticas.

Assertiva, Fabíola Cardoso (BE) critica PS e PSD no que toca a estes temas, considerando “gravíssima” a situação de poluição dos rios e ribeiras no distrito. “Este Projeto Tejo não”, defende, criticando a agricultura intensiva. Propõe uma ecopista ciclável ao longo do Tejo e o fecho da central do Pego.

Rui Paulo Sousa (Aliança) concorda com o Projeto Tejo. Como agricultor, diz que na nossa região a agricultura de sequeiro não resulta, mas sim a de regadio. Quanto à floresta, defende melhor ordenamento e apoio aos proprietários idosos na limpeza dos terrenos.

No tema das acessibilidades, enquanto há quem defenda que os residentes e os trabalhadores no distrito deviam estar isentos de portagens (Rui Paulo Sousa, do Aliança), Duarte Marques (PSD) lembra que tal exceção é ilegal. Mas quase todos concordam com a redução das portagens na nossa região.

O reforço da aposta na ferrovia foi um tema praticamente consensual entre os 10 candidatos, tal como a necessidade de ligação do IC3 com a construção de uma nova ponte sobre o Tejo na zona da Chamusca, e a necessidade de reforço e valorização dos transportes públicos.

Menos pacífico foi o tema da localização do novo aeroporto. Enquanto o PS defende a opção de Montijo, Duarte Marques diz que já se perdeu demasiado tempo com Montijo e aposta em Alcochete para solução definitiva de novo aeroporto. O deputado do PSD defendeu ainda requalificar Tancos como estrutura de apoio ao aeroporto da Portela, como uma espécie de terceiro terminal. Patrícia Fonseca (CDS) propõe a abertura da base de Tancos à aviação civil, Cristina Barradas (Nós Cidadãos!) apoia o desenvolvimento do aeroporto de Beja e Pedro Machado (PAN) só aceita a opção Montijo com uma avaliação ambiental estratégica.

Na reta final do debate deu-se ainda oportunidade ao público para colocar algumas questões, das quais as que causaram mais clivagens entre os candidatos foi a tauromaquia e a polémica sobre o consumo de carne.

Convergente foi a opinião dos candidatos acerca da necessidade de uma nova NUT (Nomenclatura de Unidade Territorial) entre Coimbra e Lisboa sobretudo para efeitos de fundos comunitários. Enquanto os partidos mais conservadores defendem o regresso da região do Ribatejo como una (Aliança e PNR, por exemplo), os mais moderados propõem a criação de uma região (CCDR) que abranja o Ribatejo e Oeste.

Maria do Céu Albuquerque, atual Secretária de Estado e ex-presidente da Câmara de Abrantes, esteve entre o público que assistiu ao debate. Foto: mediotejo.net

O debate terminou com um minuto para cada candidato em que podiam fazer o apelo direto ao voto.

Pedro Machado (PAN) considera que o mais importante é votar e que se escolham os melhores. Lembra a filosofia do PAN em defesa dos ecossistemas e do planeta com vista a um futuro mais risonho

Alexandra Leitão (PS) espera que os próximos quatro anos sejam “ainda melhores”. Aponta algumas metas como a melhoria dos serviços públicos, a fixação dos jovens e fazer mais, com contas certas.

O PSD não quer tutelar a vida das pessoas, Duarte Marques (PSD), candidato que ocupa o terceiro lugar na lista de deputados. “Votem em quem acharem que melhor vos defenda”, desafiou.

Carlos Alberto Teles (PNR) aproveitou para criticar o Governo por “criar uma máquina tributária que asfixia as famílias” ao mesmo tempo que perdoa milhões a algumas empresas. Como representante de um partido nacionalista, defende a soberania de Portugal e uma Europa forte.

Cristina Barradas (Nós Cidadãos!) realça a importância da cidadania. “O melhor futuro e o melhor de Portugal” é o que promete defender no Parlamento.

Pedro Mendonça (Livre) aposta num programa de esquerda, ecológico que, segundo diz, “não existe na geringonça”. “O PS não fez quase nada pelo ambiente”, denuncia. na sua opinião o Ribatejo precisa de ter uma voz que o Livre pode protagonizar.

Pita Soares (Iniciativa Liberal) quer “fazer diferente”, elencando uma série de setores onde isso é possível. Assume a IL como alternativa e aponta o cidadão como o centro da decisão.

Iniciativa privada, empresas, humanismo, pessoas, valores da vida, foram alguns dos tópicos da intervenção final de Patrícia Fonseca (CDS-PP).

Fabíola Cardoso (BE) afirma ter uma visão estratégica para a região. “Temos de mudar o chip”, defende, em áreas como a juventude, educação, ambiente, emprego e saúde.

Rui Paulo Sousa (Aliança) assume que o seu partido defende a cultura, a tradição, a caça e a tauromaquia.

Já passava da meia noite e meia quando o debate terminou, mas muitos dos presentes ficaram ainda à conversa com os candidatos, no auditório e nos corredores do antigo liceu.

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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