É logo atrás do edifício da Câmara Municipal de Sardoal que encontramos o espaço onde decorre o Festival Estimulo. O próximo está marcado nas agendas da juventude sardoalense e da região envolvente para os dias 26 e 27 de maio. O evento conta já com 13 anos mas continua em constante aperfeiçoamento. Atente-se na zona Vip que surgiu apenas no ano passado sendo que este ano o Festival tem no espaço um chão em relva sintética, com o objetivo de dar maior conforto a quem escolhe divertir-se ali durante dois dias.
Adriano Martins acaba de nos abrir os portões. O espaço, com árvores e edificado, é do município, embora não sendo demasiado amplo vai albergar um palco e três bares. Outro bar estará fora dos portões bem como roulottes com comida e algodão doce e uma banca da associação de defesa dos animais de Sardoal. Adriano Martins é presidente da direção desde 2015 mas na realidade já perdeu a conta aos anos de envolvimento na Associação de Jovens de Sardoal. Hoje tem 27 anos.
“Na verdade pertencemos à Associação quase desde sempre, a malta da minha idade. Porque eram os nossos amigos que iam passando pela direção da Associação e acabávamos por os seguir, por estar sempre com eles e ajudá-los nas festas e nas outras atividades”, explica.

A Estímulo – Associação de Jovens de Sardoal (AJS) nasceu de uma conversa causal entre amigos, no final do ano de 2009, tendo sido legalizada em 23 de dezembro deste mesmo ano. Segundo os estatutos que regem a Estímulo, os seus principais objetivos passam por desenvolver a cooperação e solidariedade entre os seus associados com a realização de iniciativas de âmbito cultural, desportivo, lúdico/recreativo, social, e pedagógico/formativo, e implementar a cooperação com todas as entidades públicas e privadas visando a interação social e cultural dos sardoalenses. Anualmente, a Associação promove, entre outras atividades, o Festival Estímulo com música e atividades desportivas.
Adriano entrou logo para presidente “mais para começar a desenvolver a base da Associação que temos hoje e também para começar a cativar a malta que estava comigo”, explica.
A Estimulo conta atualmente com 15 membros nos órgãos sociais – todos voluntários dos 18 aos 37 anos – e 129 sócios num concelho pequeno mas no qual considera existir “muitos jovens”. Para justificar os números refere o Grupo Desportivo de Alcaravela ou Os Lagartos, ou ainda a Filarmónica União Sardoalense, coletividade onde também integra a direção.
Diz que os “herdeiros” estão garantidos para dar continuidade à coletividade e às atividades que a Associação se propõe realizar, mas, para prolongar a juventude, recentemente os estatutos foram alterados, com o objetivo de ampliar a idade dos seus membros. “Antigamente era dos 16 aos 30 anos e agora não metemos limite. Há pessoas que consideramos jovens, têm mais de 30 anos e gostam de nos ajudar. Estamos numa fase que gostamos de ter ajuda de toda a gente, a Associação está aberta a isso”.
Percebe-se porque, afinal, a Estímulo nasceu num grupo de amigos para promover festas e eventos destinados aos jovens, ou seja, à geração de quem a criou. “Havia bares mas não havia uma festa. Queríamos ter em Sardoal palestras, workshops, atividades que víamos em Lisboa e queríamos trazer para Sardoal e não havia nenhuma estrutura para fazer isso. Assim surgiu a ideia da Associação”, refere o presidente.

Assegura que a AJS já viveu “fases muito boas” e “fases muito más” e agora atravessa uma fase de transição para um futuro que se apresenta positivo. Na época em que Adriano se juntou a coletividade teria cerca de 40 elementos, desde os 18 anos aos 40 anos “que, não sendo membros ativos da direção, eram sócios e voluntariavam-se para ajudar e portanto havia uma grande comunidade”.
Adriano confessa que poucos anos antes da pandemia a Associação sentiu algumas dificuldades na cativação de elementos e também financeiras, tendo a direção “herdado” uma dívida que acabou por ser saldada através da realização de festas e outras atividades. “Nesse momento surgiram mais jovens a querer juntar-se a nós e com outra pré-disposição”.
Apesar do tempo, do trabalho e dedicação que o associativismo impõe, sabe que o faz unicamente “por amor à camisola”. Continua por prazer, a razão que faz Adriano e todos os outros jovens que o acompanham na AJS, participar nesta azáfama constante de realizar eventos, desenvolver projetos, pensar em ideias que digam algo e sejam úteis à sua geração.
“Gosto muito disto, sempre gostei e sempre arranjei tempo, só não arranja quem não quer, na verdade. É por vontade e por amor que se tem a isto. Gosto imenso de organizar e planear os eventos”, declara.
Recorda que, aquando da chegada da pandemia, reuniam online mas foi numa continuidade porque na realidade era prática anterior à crise pandémica, não fossem eles de uma geração digital. “Era muito mais fácil para nós jovens. Mesmo assim noto que, sendo online, e estando em casa naquele dia àquela hora, preferem estar a fazer outra coisa do que estar na reunião. É chato tentar gerir esta máquina e não ter as pessoas todas a colaborar, acaba por ser um bocado individual e com os mais próximos”, desabafa.
Confessa, contudo, não se importar de tratar das questões mais burocrática deixando as atividades para os companheiros. Lembra-se de quando entrou para a AJS também não gostava de papéis, preferia tirar imperiais dentro da festa, estar com os artistas e não estar preocupado com licenças, seguros e fornecedores. Isto porque organizar um Festival como o Estimulo implica a realização de muitas tarefas e da logística.
Mas os principais obstáculos do associativismo são definidos por Adriano de forma simples: pessoas e vontade. Embora exista também dificuldade na cobrança das quotas aos sócios – que pagam 12 euros por ano.
“Há pouca gente, mas sempre houve. Acaba por ser uma queixa geral. Juntar um grupo de pessoas era um grande obstáculo que tínhamos. Para o grupo privilegiamos pessoas que estejam ligadas às artes, que tenham motivação”, indica.
Aponta ainda a questão monetária. “Muitas vezes não é fácil. Isto é uma associação sem fins lucrativos portanto trabalhamos nos eventos e contamos com a sorte do público aderir às atividades. Felizmente o público adere muito bem. E temos apoio financeiro da Câmara Municipal”, acrescenta.

Embora antes da pandemia da covid-19 a Associação, que tem sede na Rua Mestre Sardoal, apresentasse um plano de atividades mais ambicioso, com workshops de fotografia, encontros de buldogue francês, feiras do livro, feiras de emprego, organizaram torneios de jogos de computador e consolas, festa de halloween, festa na Páscoa e uma tasquinha nas festas do concelho.
Quanto ao Festival Estimulo, o voluntariado é levado tão à séria que Adriano tira férias para trabalhar no evento. Assegura que não dificulta o trabalho da Associação o facto de muitos elementos estarem fora a estudar na faculdade, porque “vêm sempre passar o fim-de-semana a casa. É aí que se nota também isto do amor à camisola”.
O jovem presidente dá como exemplo a sua própria experiência ao ter ido estudar Turismo para o Coimbra – que não gostou -, depois Desporto em Lisboa – também não gostou -, e finalmente a paixão pela Fotografia e Cultura Visual, igualmente em Lisboa, no IADE.
Atualmente acaba o mestrado em Marketing e Publicidade. “Voltava ao Sardoal todos os fins de semana. O associativismo tem um requisito: gostar do Sardoal”, afirma. Sendo que o teletrabalho facilita estar no interior do país e não obriga a presença na capital, onde reside.
Portanto, foi a amizade que despertou o interesse para o associativismo e é a sua solidez que retira desse trabalho voluntário. “Um bom núcleo de união das pessoas do Sardoal”, criando interligação entre vários grupos de pessoas, designadamente entre as próprias coletividades com quem criam parcerias, explica. A ideia passa por criar uma dinâmica entre todas as associações.
Para além disso, “dá uma perspetiva de responsabilidade porque lidamos com dinheiro e as chamadas soft skills para o futuro. Quando terminei a faculdade ainda contava para o currículo, por exemplo por obrigar a gerir pessoas”.
Não poder residir e trabalhar em Sardoal – a sua terra natal a que chama carinhosamente posto de abastecimento – é das coisas que mais o entristece.
“Gostava muito que isto fosse ao contrário; ir a Lisboa buscar marmitas para estar no Sardoal durante a semana. Mas é muito difícil… desde a oferta cultural e o dinamismo que Lisboa tem. Vivemos num país tão pequeno que não me custa ir a Lisboa jantar ou ver um concerto mas existe a mentalidade que ‘é tudo longe’. Não percebo! Gostaria que se desmistificasse essa questão da distância em Portugal. Porque é muito más fácil morar no interior”, opina.

Em 2023, para além do Festival Estimulo e das Festas do Concelho, surgiu recentemente o desafio do BasketArt, o Festival Zen, numa parceria com as Aldeias do Zêzere, o Torneio Inter Associações em parceria com a Associação de Valhascos, e está pensado um evento na semana da Juventude bem como uma festa de passagem de ano.
Já o Festival Estimulo iniciou com o mote de trazer até Sardoal “o fora da caixa”. A AJS assume-se como “pioneira”, na região, no que toca a festivais de música e até a associações de jovens. Recorda que nos primeiros festivais levaram a palco os Bizarra Locomotiva, uma banda de metal industrial, uma banda de reggae e bandas emergentes do Sardoal e “sempre se pautou um bocado por marcar a diferença, ou seja, por uma coisa que não havia na zona Centro”, afirma Adriano.
No cartaz, música progressiva, tecno, comercial “para agradar a toda a gente, duas noites com música variada”. Arranca na sexta-feira, 26 de maio, das 22h00 às 04h00, e no sábado começa com sunset a partir das 16h00 até às 04h00.
O programa do Festival apresenta 9 artistas nos dois dias, são eles: Mi Sanga, Los Chicos, Brix (no dia 26), Secas, David Quinas, Melmann, Rose, Von Di e Progressivu (dia 27).
Para assistir ao Festival Estimulo nas pré-reservas uma pulseira geral custa 7 euros sendo 4 euros a diária. No dia custará 9 euros a pulseira geral – ou seja para os dois dias – e 6 euros a diária. A pulseira permite entrar e sair do recinto do Festival.
Em termos de público, o Festival contou com 1200 pessoas no ano passado. “Este ano esperamos cerca de 800 pessoas. Uma possível redução porque já não é ano pós pandemia, as pessoas não estão tão ávidas de festas, as coisas estão mais caras e portanto vão-se recatar mais”.
O evento ainda não teve lugar mas o planeamento para 2024 é já uma realidade. Esperam poder contar com a área do estacionamento para ter uma zona de restauração em parceria com outras associações do concelho. Este ano não é possível devido à tradicional Feira da Primavera marcada para essa data.
Além disso a AJS concorreu ao Orçamento Participativo Municipal com uma ideia de um Festival de Artes, não só de música, que “atravessa a vila toda, começando no Chafariz das Três Bicas, com quatro ou cinco palcos. Inspirado no que é Bons Sons, na questão que têm de viver a aldeia, e nós aqui é pegar nisso. Temos pontos estratégicos na vila que são muito bons e gostávamos de os explorar para planos de festival”.
Adriano está otimista que surja uma candidatura vencedora e certo que os jovens da AJS conseguem montar um festival com 10 mil euros. “No ano passado conseguimos montar o Festival Estimulo com mil euros. Com as pré-reservas pagámos os artistas todos. Estamos habituados a trabalhar com muito pouco”.