Já alguém viu os novos anúncios do Pingo Doce?
Não são estes em particular que me incomodam. São todos aqueles anúncios que passam mensagens de discriminação de género, ou que criam imagens erradas do papel do homem, da mulher e da criança na nossa sociedade.
A ideia que a cadeia de hipermercados quer passar é que “Juntos fazemos da mesa um lugar melhor”, mas para isso, sublinha e enaltece as diferenças de género da nossa sociedade. Um idoso que ao fim de 40 anos faz o jantar, um pai divorciado que faz panquecas para a filha, uma criança que tenta perder peso e fazer uma alimentação saudável e que toda a família ignora. Isto até poderia ter um lado positivo de tentar criar novas imagens sobre os papéis de cada um, não fosse servir apenas para vender mais qualquer coisa.
Todos os dias somos invadidos na TV por anúncios machistas e preconceituosos. Publicidades de detergentes onde aparece uma dona de casa feliz, anúncios de carros onde dois homens se desafiam para ver quem tem o veículo mais moderno e com mais “extras”. A mulher está por isso associada a anúncios de beleza, estética, de actividades domésticas, de cuidados à família e ao lar, enquanto a imagem do homem está associada ao sucesso profissional, a carros ou actividades desportivas.
Vemos ainda o uso de crianças e bebes em anúncios que não lhes são dirigidos, para atestar a eficácia de determinados produtos, por exemplo que este ou aquele detergente é o melhor para tirar as nódoas.
Outro uso abusivo é o da imagem de idosos, associada a planos de saúde, medicamentos, tratamentos estéticos, entre outros que tentam amenizar os terríveis efeitos do envelhecimento, como se isso tivesse de ser necessariamente uma coisa má.
Os nossos criativos andam muito pouco “criativos” para fazerem anúncios verdadeiramente interessantes e que não promovam os estereótipos da nossa sociedade. Mesmo quando tentam inverter os papéis do homem ou da mulher nas publicidades, a conotação é sempre feita a uma tentativa de “limpar a imagem” e nunca porque deve ser mesmo assim, onde homens e mulheres, idosos e crianças têm as suas características e valores individuais e por isso devem ser apreciados.