A paralisia das cordas vocais é um dos problemas de voz com maior impacto na qualidade de vida dos doentes. A cirurgia de reinervação laríngea é uma das soluções e está pela primeira vez disponível no distrito de Santarém, no Hospital CUF. Em entrevista ao mediotejo.net, o otorrinolaringologista Tiago Porfírio Costa explica o que é esta doença e de que forma a equipa de que faz parte tem inovado na resposta aos doentes da região.
O que é a paralisia das cordas vocais e porque acontece?
A paralisia das cordas vocais consiste numa alteração do seu movimento normal, podendo ir desde uma ausência completa de movimento (paralisia) ou alteração parcial (parésia). Pode acontecer após uma infecção respiratória, um traumatismo, ocorrer associada a um cancro localizado na região da cabeça, pescoço e tronco ou, ainda, após algumas cirurgias. Neste último caso, as principais cirurgias que colocam em risco as cordas vocais são a de remoção da tiróide (tiroidectomia), as cirurgias à coluna, as cirurgias aos vasos do pescoço e cirurgias torácicas/cardíacas.
A que sintomas devemos estar atentos?
No caso de a paralisia atingir apenas uma corda, tipicamente as queixas são de rouquidão, uma voz mais fraca e menor capacidade para falar por longos períodos seguidos, sentindo a necessidade de parar várias vezes. Se a paralisia for bilateral, as queixas principais serão a dificuldade em respirar, o cansaço fácil para esforços de pequena intensidade e fazer barulho quando se respira. Em ambos os casos, os sintomas também se podem manifestar ao nível da alimentação, com engasgamento, tosse ou, mesmo, aspiração de alimentos. O surgimento destes sintomas, logo após uma cirurgia, reforça ainda mais a suspeita, devendo motivar uma ida ao médico otorrinolaringologista o quanto antes.
É possível reverter esta condição? Que opções terapêuticas existem?
A possibilidade de reverter esta condição depende da causa e do tempo de evolução. Ou seja: uma paralisia associada a uma infeção tem uma maior possibilidade de recuperação, do que uma paralisia associada a um cancro ou cirurgia. Quanto ao tempo de evolução, se a paralisia já estiver presente há mais de 9-12 meses, a probabilidade de recuperação espontânea é, praticamente, inexistente.
São vários os tratamentos disponíveis, apesar de um número significativo de casos melhorar espontaneamente. Os mais comuns são a terapia da fala; injeções de ácido hialurónico ou gordura, na corda vocal, de forma a restabelecer, temporária ou definitivamente, a voz e diminuir a aspiração de alimentos; colocação de próteses, para reforçar a corda vocal; ou, ainda, tratamentos de urgência, como a traqueostomia (abertura cirúrgica na zona da traqueia), para garantir que a pessoa consegue respirar sem dificuldade. Contudo, mais recentemente, têm sido desenvolvidos novos tratamentos, como é o caso da reinervação laríngea.
Face aos tratamentos mais comuns, quais são as vantagens da reinervação laríngea para a qualidade de vida dos doentes?
Esta técnica cirúrgica inovadora consiste na tentativa de restabelecer o movimento e/ou a força das cordas vocais, através da transferência de estímulos nervosos. Face às restantes opções de tratamento, tem a vantagem de resultados mais duradouros e estáveis.
O Hospital CUF Santarém dispõe dos equipamentos e dos meios técnicos necessários para o acompanhamento e tratamento desta patologia?
Todos estes tratamentos são realizados no Hospital CUF Santarém, incluindo a cirurgia de reinervação laríngea, disponível pela primeira vez na região de Santarém. Temos médicos otorrinolaringologistas e terapeutas da fala dedicados a estas doenças e com vasta experiência no tratamento das mesmas, e, através de uma abordagem multidisciplinar, centrada no doente e nas suas queixas, procuramos garantir os melhores resultados possíveis para os doentes.
É possível prevenir a paralisia das cordas vocais?
A prevenção da paralisia apenas é possível quando esta ocorre em consequência de uma cirurgia, como a tiroidectomia. Neste caso, a prevenção passa pela optimização das técnicas cirúrgicas para preservação da função das cordas vocais. O mais importante é o diagnóstico e o tratamento precoce, no sentido de identificar a causa e, se possível, tratá-la. Pretende-se com isso reduzir as sequelas dos tratamentos cirúrgicos, optimizar a recuperação da função vocal ou tentar restabelecer a mesma.