Quinta-feira, 14 de julho. O distrito de Santarém entra no 12º dia de uma onda de calor, com risco máximo de incêndio e em situação de “alerta vermelho” decretado pelo IPMA e pela Saúde Pública. Em Abrantes, pelo segundo dia consecutivo a estação meteorológica de Hélder Silvano Neves emitiu um aviso raro: o “Alerta dos Três Trintas”.
“Quando se atinge uma situação de temperatura mais de 30 graus, humidade a menos de 30%, vento a mais de 30 km/hora, temos o Alerta dos Três Trintas. Significa que estão reunidas condições para a ‘tempestade perfeita'”, especifica este professor reformado, mostrando os valores registados.
Esse avisos da plataforma MeteoAbrantes seguem para a Proteção Civil e para o Comandante dos Bombeiros de Abrantes, que recebe a informação automática, por chamada telefónica, ou através do envio de mapas.
12/7/2022 – 14:45 | Alerta dos Três Trintas | 41.0 ºC | 11 % | 32.2 km/h
13/7/2022 – 13:34 | Alerta dos Três Trintas | 38.9 ºC | 17 % | 32.2 km/h
13/7/2022 – 13:37 | Alerta dos Três Trintas | 39.0 ºC | 16 % | 30.6 km/h
13/7/2022 – 16:06 | Alerta dos Três Trintas | 42.9 ºC | 13 % | 30.6 km/h
Registos de alerta dos Três Trintas ocorreram esta semana, pela primeira vez no ano, sendo algo raro.
Fonte: Meteo Abrantes
A MeteoAbrantes é seguida pelas autoridades locais e por muitos habitantes da região, e na última semana tem atraído naturalmente mais visitantes. Helder Silvano crê que nestas alturas, quer por curiosidade, quer por preocupação, as pessoas tendem a procurar justificações para os fenómenos e formas de se tentarem defender.
Avaliando as condições atmosféricas, diz que será esta quinta-feira, dia 14 de julho, que o pico de temperatura máxima da atual onda de calor será atingido. Se esta manhã fazia crer que o tempo havia melhorado, e que até domingo as temperaturas iriam baixar progressivamente já a partir desta quinta-feira, de repente o vento rodou e veio mudar o panorama.
Hélder Silvano já comunicou, como habitualmente faz no seu Facebook, a previsão para a tarde de quinta-feira, 14 de julho. Diz que o vento sopra de sudeste, trazendo “más notícias”; ajudou a limpar as nuvens e a neblina de fumo que invadiu todo o território nas últimas horas, mas agora outros parâmetros estão a influenciar o quadro. “Já ultrapassámos 40°C, a humidade relativa está já abaixo de 15% e as rajadas de vento estão bastante erráticas. Haverá melhoras, sim, mas não hoje”, conclui.
Pelas 15h45 a MeteoAbrantes regista 42.7 graus. A estação automática de Alvega, gerida pelo IPMA, registou às 14h00 os 44.4 graus. A previsão indica que se atingirá uma temperatura máxima a rondar os 45.2 graus.
A partir de sexta-feira e até domingo, o tempo irá amenizar, mas durante a próxima semana o calor deverá voltar em força novamente.
Tudo começou com um susto
Helder Silvano Neves nasceu em Abrantes, em 1961. Ali residiu durante a infância e adolescência até concluir o ensino secundário. Licenciou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1983, em Línguas e Literaturas Modernas. Foi professor de ensino secundário de Português e Francês nas Escolas Secundárias Francisco Rodrigues Lobo (Leiria), e Solano de Abreu e Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes, tendo-se reformado em 2005.
Entre 1994 e 2002, foi vereador da Câmara Municipal de Abrantes, eleito enquanto independente pelo PS, e no primeiro ano chegou a contar com 14 pelouros atribuídos. Durante os dois mandatos autárquicos passaram pelas suas mãos as áreas da Cultura, do Desporto, da Educação e nomeadamente a da Proteção Civil – área que lhe foi sendo cada vez mais cara, sobretudo após um episódio que despertou esse interesse com intensidade tal que não mais perdeu de vista as questões relacionadas com a meteorologia, o clima e os fenómenos atmosféricos.

Aliás, conta com dois hobbies – e mais tempo houvesse e provavelmente outros acrescentaria. Além da música, uma vez que é mentor e diretor artístico do grupo Vox Populi, de Abrantes, a paixão e fixação pela meteorologia tornou-se algo muito sério.
A 1 de janeiro de 2000 lançou para a Internet a sua plataforma MeteoAbrantes, apesar de já em outubro de 1999 ter começado a recolher dados com a sua primeira estação meteorológica, uma Davis Weather Monitor II. É no telhado do centro comercial Chafariz, por cima do apartamento onde reside, que a tem instalada e conectada ao seu computador e demais dispositivos, permitindo a produção de dados e a sua recolha e tratamento, bem como o arquivamento em base de dados.
E é precisamente neste local que nos encontramos, abrigados do calor que se faz sentir esta semana, para um café na pastelaria ali ao lado.
A conversa começa pela origem deste interesse que virou hobby, mas que se revela um verdadeiro serviço público prestado graciosamente à comunidade, a quem acede de qualquer parte do país e do mundo – e também à Proteção Civil local e distrital. Tudo começa com um episódio da sua juventude, tinha então 16 ou 17 anos.
“Eu passava os verões no parque de campismo de Castelo de Bode. Houve um verão em que um grupo de compinchas desafiou a fazer campismo selvagem, na ilha que se avista na estrada até Vale Manso. Mas acontece que um dos meus companheiros era enfermeiro no hospital, e eu vinha trazê-lo do acampamento à margem para ele ir trabalhar, e fazia o inverso para ele vir dormir à ilha. Usávamos um barquito pequeno, com um motor muito fraquinho”, começa por contar, já fazendo antever que algo não correra como planeado na altura.
Hélder Silvano Neves tinha ido cumprir com a missão de dar boleia ao camarada, quando na tentativa de regresso o motor do barco começa a falhar. “E eu a dar à corda… lá pegava, depois ia abaixo. E eu no meio da barragem, quando a certa altura se aproxima uma daquelas tempestades de verão, que é uma coisa assustadora, com granizo, com relâmpagos, etc. E começo a olhar para a água à minha volta e começo a discorrer coisas que tinha estudado na escola, parei e pensei… ‘Espera lá! Então mas nesta situação o pára-raios sou eu. Estou feito ao bife!’. E começo a pensar e cismar naquilo e a ficar com medo”, prossegue.
“Cada vez que caía um relâmpago, eu via os peixes todos iluminados. Parecia uma cena de ficção científica.”
Após rápida reflexão, optou por deitar-se no barco “para baixar a gravidade”, mas mesmo deitado, e como o barco era de dimensão pequena, que só daria para três pessoas no máximo, conseguia espreitar e ver o nível da água. “Ao espreitar, e cada vez que caía um relâmpago, eu via os peixes todos iluminados. Parecia uma cena de ficção científica. Eu só pensava ‘é hoje, é hoje’… Mas a certa altura ouvi o barulho de um motor, e quando levanto o gargalo deparo-me com um senhor que permanecia no parque de campismo de Castelo de Bode praticamente todo o ano, e tinha um barco com um motor bastante potente. Estava ele aos gritos a pedir para eu agarrar a corda, e lá me levou a reboque até à margem. Só ouvia coisas a cair-me em cima. Mas lá chegámos à margem, e o susto passou”, adianta Hélder Silvano.

A partir daquele dia, e tal não foi o susto, decidiu que tinha de perceber os fenómenos da natureza, que têm tanto de magnífico como de assustador.
Acontece que na altura – e que segundo o próprio ainda hoje se aplica – não era permitido ter estações meteorológicas. Tudo porque existe uma lei obsoleta, do Estado Novo, emanada do gabinete de Salazar, que diz que “só o Instituto de Meteorologia é que pode vender e autorizar estações meteorológicas”.
Resolveu procurar junto do Instituto quanto custava uma estação, e pediram-lhe 11 mil contos pela mais barata. “Obrigadinho, não quero. Fiquem lá com ela (risos). E desisti da ideia de comprar uma estação”, conta.
Mas em 1999, em conversa com pessoa amiga, conseguiu a solução para aquilo que ambicionava. “Essa pessoa tinha um familiar que era comandante da TAP, e disse que ele já tinha trazido duas ou três estações da América. Eu falei com ele, e quinze dias depois tinha cá a primeira estação. Ilegal, sob todos os pontos de vista, porque não se pagou importação e vinha lá escondida num sítio que eles sabem. Mais tarde, começaram a surgir firmas e hoje em dia ninguém liga à lei que proíbe a venda de estações meteorológicas, e toda a gente compra e vende”, contextualiza.
Quanto à lei, “não tem jeito nenhum” e “é para deitar fora”, até porque já ninguém se lembra dela, diz.
Foi através de estudo em regime autodidata, comprando livros e enciclopédias, revistas científicas e até revistas sobre barcos e iates, e mais tarde com formação no IPMA, que se foi debruçando sobre os fenómenos meteorológicos e da natureza.
“Há quem colecione isqueiros, pacotes de açúcar, caricas, caixas de fósforos. Eu coleciono dados [meteorológicos] há mais de 20 anos”
“No início comprava muitas revistas estrangeiras, na maioria americanas, e lia artigos sempre que saía algo fora do normal. E revistas sobre barcos, sobre a vida no mar, foi algo que me ajudou muito, porque trazia imensa informação”, afiança.
No final da década de 90, mesmo com um ligação muito ténue à internet, lançou o site sobre meteorologia e com disponibilização de dados, e crê ter sido dos primeiros a fazê-lo. Com a evolução da internet, tudo desabrochou, e foram sendo produzidos e difundidos cada vez mais dados.

Optou por ter uma estação da marca Davis, que tem uma manutenção fácil, e tem ligação estreita com o importador da marca em Lisboa. “Sempre que há algum problema recorro a ele, desmonta-se a estação e levo-a lá. Mas não sou eu que a desmonto, obriga a ir ao telhado e é um processo complexo. E isso permite ir fazendo manutenções. Já não é a mesma que tinha; em 2005 comprei uma nova. É um equipamento que não perde atualidade rapidamente, mas perde alguma. E de vez em quando é preciso ir renovando”, explica.
Quanto à estação, diz que é das mais completas, apesar de não ter dados para a agricultura, a não ser a previsão sobre o míldio. “Tem um sensor de temperatura e de humidade relativa do ar, tem um sensor de velocidade de direção do vento. Um termómetro, um higrómetro, um anemómetro, um pluviómetro. A minha tem também um sensor de pressão atmosférica e tem dois sensores que são poucos usuais: com medição da radiação solar e dos raios ultra-violeta”, enumera.
Em termos de software, é praticamente todo produzido na América, e “permite com todos os dados emitir projeções num quadro que depois são comparadas com outros quadros obtidos, através de organismos que fazem previsão baseando-se nos meus dados”. Ou seja, há uma troca e partilha entre quem produz e emite os dados e quem os aglomera e organiza.
Para quem queira entrar nesta atmosfera, estudando os fenómenos, poderá investir uma média de 3 mil euros para uma estação meteorológica, contando ainda com o custo de uma ligação à internet “com qualidade e poderosa”, e ainda “software a rondar cem euros cada peça que se junta a algum freeware de qualidade”.
Na MeteoAbrantes disponibiliza três previsões de organismos diferentes. “Vão buscar os dados da minha estação, cozinham aquilo tudo e dão os prognósticos”, refere, notando que a sua previsão é mais fiável em termos de pluviosidade e as outras são mais fidedignas no que diz respeito à temperatura. “É por isso que gosto de ter as três, assim as pessoas escolhem qual seguir”, indica.
Quanto a impedimentos de funcionamento ou recolha de dados, estão ligados ao normal funcionamento das telecomunicações. E no dia em que falávamos com Hélder Silvano Neves, estava precisamente sem acesso à internet ou telefone em sua casa, por problemas da operadora, e impedido de aceder à estação meteorológica, mas esta prossegue o seu trabalho e quando a ligação é retomada todos os dados são carregados.
“As nossas infraestruturas são muito frágeis, e por isso temos blackouts a torto e a direito. Pode acontecer com ondas de calor, muito frio, e a maior parte das vezes até sucede por causa do vento”, afirma.
“Fenómenos extremos vão ser cada vez mais frequentes e devastadores”
Depois de conhecida a sua história e o modo como funciona a sua estação meteorológica, tempo para perguntar sobre o que tem assistido e previsto ao longo de 22 anos de recolha e análise de dados, além do registo de fenómenos da natureza.
Habituados que estávamos a assistir na TV às grandes ondas de calor e incêndios na Califórnia ou na Austrália, ou a cheias no Brasil e tempestades agrestes de neve nos Estados Unidos… acontece que hoje em dia há uma certa imprevisibilidade no que toca a catástrofes naturais e a fenómenos extremos cuja intensidade não era habitual em território nacional ou em solo europeu.
Os fenómenos extremos subiram de tom e vieram para ficar. “Ainda há pouco tempo um furacão veio bater às nossas costas com força 1, não é normal… não sei se historicamente haverá registo de algo assim”, nota.

“Cada vez mais estamos a ser atacados por fenómenos extremos. Não seria de admirar que num inverno destes estejamos durante uma semana com gelo por todo o lado, que nem conseguimos sair de casa. Apesar de estarmos num processo de aquecimento global acelerado, esta desregulação que é feita por vários elementos, nomeadamente pela corrente do Golfo, está a fazer com que fiquemos mais sensíveis e à mercê desses fenómenos. Se houver uma frente polar a sério, que desça e chegue às nossas paragens, nós não estamos preparados para isso. A última vez que aqui nevou a sério, em 1983, na Terça-feira de Carnaval, foi inacreditável, com mais de um palmo de neve no chão. Toda a paisagem na zona tinha essa altura de neve, mas por volta do meio dia já não havia nada. Agora? Se nos calha uma coisa dessas, arriscamo-nos a ter algo como nos EUA, com um metro de neve à porta”, teme, pela perda de capacidade de regulação da corrente do Golfo.
Para Hélder Silvano é certo este agravar de fenómenos, com grandes incêndios e ondas de calor no verão, e o extremo frio no inverno.
Tudo isto implica uma nova forma de ser e estar da Proteção Civil, e Hélder Silvano reconhece que muita coisa mudou no modus operandi desde que esteve na Câmara de Abrantes com o pelouro desta área.
Memórias dolorosas
Dos fenómenos que mais o marcaram, destaca as cheias de 1979 e as de 1989, no rio Tejo, que afetaram as populações ribeirinhas do concelho, nomeadamente de Alvega, Rossio ao Sul do Tejo e Rio de Moinhos.
Recorda ainda um dos grandes fogos, era então vereador na autarquia, onde crê ter sido a primeira vez que existiu perda de vidas humanas, três pessoas oriundas do concelho de Sardoal, de Santiago de Montalegre. “Há um conjunto de pessoas em pânico que entra no posto de comando, que não encontravam essas três pessoas em lado nenhum. E acabaram por ser encontrados por bombeiros no terreno. Duas pessoas morreram carbonizadas num casebre e uma outra não conseguiu lá chegar. Foi para mim uma coisa dramática. Perceber que as pessoas foram apanhadas em campo aberto, a tentar refugiar-se dentro de um casebre e morreram. Uma coisa que marca… e que é difícil de digerir”, recorda, entre os múltiplos registos que vai guardando no seu arquivo digital, com imagens, vídeos, com documentação escrita.
Lembra mais recentemente um tornado que ocorreu em 2020, em Bemposta, em que o presidente de junta se deparou com dezenas de sobreiros “de pernas para o ar, uma coisa esquisita”.
“Fui lá e depois tratei do assunto e do reporte ao IPMA. É um fenómeno que é muito perigoso, a chamada super-célula. Neste caso eram cinco, e por acaso só uma deu chatice. A super-célula é algo para fugir”, adverte.
E nisto, lembra ainda um episódio ali perto, quando a torre de telecomunicações de Abrantes estava em construção, e tinha cerca de 8 ou 9 anos. “Ainda não tinha nascido para isto, mas já cá andava um bichinho qualquer… lembro-me que houve um ciclone violento, tinha génese temperada. E houve rajadas de 150 km/hora. Assustador. E o guindaste que estava a apoiar a construção da torre tombou, e nunca mais me esquecerei da imagem, do guindaste partir ao meio uma casa. Foi requalificada, e fica ali no fundo da rua do hotel. Vivia lá o Dr. Simas, que era médico na Casa de Saúde, e que estava muito doente. Aquilo caiu-lhe por sorte na sala, e ele dormia no quarto ao lado, do outro lado da parede”, recorda, ainda com alguma incredulidade.
Quanto aos incêndios, já foram tantos que lhes perde o fio à meada. Mas assume ter flashes, recordações e imagens dos que foram deixando marcas profundas no território e nas pessoas.
Muito ligado à Proteção Civil, defende que “existem pessoas de diferentes origens funcionais a coordenar coisas diferentes, como se fosse tudo a mesma coisa”, e que isso tem originado “disparates”, como a distinção e categorização entre bombeiros, os voluntários e os profissionais/municipais, além da hierarquização de estatutos entre forças especiais.
Por outro lado, crê que as hierarquias no posto de comando muitas vezes também não são abonatórias, porque em muitos casos os comandantes de organismos que estão acima não dispõem de conhecimento do terreno e dispensam o apoio dos comandos locais, que acabam por seguir para o combate juntamente com as corporações, e em muitos casos seriam uma mais-valia no delinear de estratégia de combate ao fogo.
A MeteoAbrantes está ligada ao Serviço Municipal de Proteção Civil de Abrantes e à Distrital, e por isso, todos os alertas emitidos pela estação meteorológica automaticamente seguem para os responsáveis. Por estes dias, admite, não tem dado descanso nos dados recolhidos, porque os parâmetros têm emitido muitos alertas, nomeadamente pela temperatura máxima do ar.
Foi em Alvega, concelho de Abrantes que se registou a temperatura mais alta no dia 12 de julho, com 44,6 graus. O IPMA rege-se por uma estação meteorológica automática, datada de 1999, nos localmente conhecidos “Ventos”, à beira da EN118, e esta tem superado nos últimos anos as temperaturas registadas na Amareleja, no Baixo Alentejo, que detém o recorde de temperatura máxima nacional: 47,3ºC, registados em 2003.
Crê que em Alvega os valores possam ser ligeiramente empolados, uma vez que a estação mereceria mais manutenção do espaço envolvente e, provavelmente, do próprio sistema, e considera que um protocolo com a Junta de Freguesia ou com a Câmara Municipal, juntamente com a colocação de mais estações meteorológicas devidamente mantidas no concelho, poderiam ajudar a aferir e a efetuar previsões com maior exatidão e ajudar na prevenção de episódios e fenómenos extremos locais.
Catástrofes naturais serão mais frequentes
Hélder Silvano Neves aconselha aqueles que queiram estar a par dos fenómenos de natureza a ficarem atentos a canais oficiais, e em primeiro lugar ao IPMA, que é “um serviço oficial e de qualidade, mesmo que tenha os seus problemas como todos os serviços que têm escassez de recursos, mas funciona relativamente bem”. Por outro lado, também nas plataformas de estações meteorológicas locais, como a MeteoAbrantes, se encontra informação fidedigna, e “acedendo a plataformas de Espanha consegue-se aperceber, nestas condições de tempo, o que poderá acontecer aqui, vendo o que sucede na Extremadura”, diz.
Diz que o que mais o preocupa é haver gente que possa pensar que isto que está a acontecer, com esta onda de calor, “é fortuito, acontece uma vez de 50 em 50 anos… Não é bem assim, começamos a ver todas as características de repetição a instalarem-se. E por isso, mais tarde ou mais cedo, isto vai acontecer outra vez, e não só nesta altura”, alerta, referenciando um padrão que está instalado. As condições atmosféricas dão um empurrão para catástrofes, como os múltiplos incêndios a lavrar no país nos últimos dias, aliados a outras questões como negligência ou mesmo crime. “As condições que estão criadas fazem com que isto se torne muito pior daqui para a frente”, sublinha.
Segundo os especialistas do National Hurricane Center – NOAA, na América, este ano deverá ser um dos piores anos dos últimos cinquenta em termos de fenómenos a nível mundial, sendo previsível que aconteçam “com mais regularidade e mais intensidade”.

Outra preocupação que tem prende-se com os sismos. “Devemos estar mesmo à beira de uma nova erupção nos Açores. Houve a situação de São Jorge, que amenizou, mas todos os dias há festa. Todos os dias há atividade sísmica ali…”, menciona, referindo ainda que a periodicidade de sismos em Portugal continental está no limite.
“Pode acontecer outro como de 1755 a qualquer momento. Isso aí é que é assustador. Temos casas muito mal construídas, pode ser muito complicado. Também não estamos defendidos para um tsunami, ainda que no Algarve já exista uma linha de defesa de costa, que alerta as pessoas para abandonarem e fugirem para a serra. Mas muitas provavelmente não conseguem escapar, porque se forem até 100 km da costa, são apanhadas a meio, sem hipótese”. Apesar de todas as previsões, “quando isso acontecer, não estaremos preparados”, lamenta.