Maria Lamas, nascida em Torres Novas, foi jornalista, escritora e uma das mais notáveis vozes do feminismo em Portugal. Foto: DR

O grupo português de teatro  ‘Pó da Terra’ estreou na quarta-feira em Berlim uma peça de teatro sobre a ativista política portuguesa Maria Lamas, natural de Torres Novas, contando a História de Portugal através das mulheres, que “ficam sempre, se calhar, um bocadinho postas de lado”.

Depois da estreia na Alemanha, o grupo quer divulgar o espetáculo em Portugal, “principalmente na cidade onde ela nasceu [Torres Novas], pelas cidades onde ela passou e teve algum tipo de influência, nomeadamente também em sítios em que esteve exilada”.

O grupo, criado em Sintra pelos atores Ana Estevão e Diogo Gil Morgado, escolheu Maria Lamas para ilustrar alguns capítulos da História portuguesa, “mas também trazer à baila o nome de uma pessoa que foi muito importante, mas que nem toda a gente conhece”.

“Queríamos trazer alguma coisa que tivesse a ver com a cultura portuguesa. A História está contada através de muitos eventos mas as mulheres ficam sempre, se calhar, um bocadinho postas de lado”, disse a atriz Ana Estevão à agência Lusa, em Berlim.

O espetáculo baseia-se na biografia de Maria Lamas, que “nasceu no período da monarquia, viveu durante a Primeira República, Estado Novo, e faleceu já após a revolução do 25 de Abril”, referiu Diogo Gil Morgado, divagando pelas alucinações de um investigador académico que quer descobrir mais sobre a vida da feminista.

“Ela aparece, fica no ar se ela está ali, se é um sonho dela, se é uma alucinação, se é um sonho dele. Entram numa espécie de jogo em que ele está a tratar de conseguir algumas informações sobre a vida dela, ela vai dando e ele vai assumindo as personagens masculinas que apareceram na vida dela”, explicou Ana Estevão.

A vida de Maria Lamas está “recheada de pormenores muito interessantes”, garantiu a atriz, destacando episódios como o trabalho na revista Modas e Bordados, onde a escritora usava o pseudónimo Tia Filomena, e “respondia a milhares de cartas que chegavam à redação, dando conselhos às jovens portuguesas, e incentivava-as a estudar e, no fundo, a emanciparem-se um bocadinho.”

A atriz relembrou ainda o trabalho de Maria Lamas sobre as mulheres portuguesas nos anos de 1940, o exílio na Madeira, na Argélia e em Paris, o trabalho da ativista em congressos da paz, tal como as cinco vezes que esteve presa durante o regime salazarista.

A peça “Maria Lamas – sempre mais alto” será apresentada em português e está inserida no festival de teatro Origins, que decorre em Berlim, até 28 de agosto, organizado pela Yacaiste, uma associação de artes performativas, que quer pôr em contacto as visões artísticas de vários países.

Maria Lamas nasceu a 06 de outubro de 1893 e morreu aos 90 anos, em dezembro de 1983, ficando conhecida pelo seu trabalho como escritora, tradutora e jornalista, assim como pela atividade política a favor das causas feministas.

Fez parte da direção do Movimento de Unidade Democrática, que combateu a ditadura, participou nos Congressos Mundiais da Paz, presidiu o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e foi presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres, após o 25 de Abril de 1974.

Foi presa pela polícia política da ditadura, várias vezes, entre 1949 e 1962, altura em que se exilou em Paris.

Escreveu “As Mulheres do Meu País”, “A Mulher no Mundo” e “O Mundo dos Deuses e dos Heróis”, investigação sobre as mitologias grega e romana, além de obras de poesia, ficção e de literatura infantil, como “A Montanha Maravilhosa”, “Brincos de Cereja” e “A Ilha Verde”, entre outros títulos.

Maria Lamas recebeu a Ordem da Liberdade, em 1980, e foi distinguida pela Federação Democrática Internacional de Mulheres, em 1983, organização que acompanhou, quando da sua criação, no final da década de 1940, após a II Guerra Mundial.

c/Lusa

Mário Rui Fonseca

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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