Pilar del Rio, António Costa, Vitor Guia e Veiga Maltez. Foto: mediotejo.net

O Primeiro-Ministro, António Costa, visitou o Concelho da Golegã pela primeira vez neste domingo, dia 7, durante as comemorações dos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, escritor português nascido em 1922 naquela que é considerada a aldeia mais emblemática do Ribatejo.

Este facto foi realçado pelo presidente da Câmara da Golegã, José Veiga Maltez, para quem “foi uma honra e um orgulho” receber o governante que “não podia entrar por sítio melhor que não fosse pela Azinhaga”.

A visita começou com um passeio pelo passadiço junto ao rio Almonda onde estão 13 painéis preenchidos com excertos de textos do autor alusivos àquela comunidade ribatejana. Um percurso ao longo do qual, António Costa foi cumprimentando as pessoas e ouvindo alguns protestos acerca da poluição do rio Almonda.

António Costa esteve este domingo na Azinha, terra natal de José Saramago. Foto: mediotejo.net

Chegados à Fundação José Saramago na Azinhaga, a professora Catarina Betes leu partes do discurso de José Saramago proferido em 1998 no momento da entrega do Prémio Nobel da Literatura, um texto alusivo aos avós e à Azinhaga do Ribatejo. Seguiu-se o apontamento musical “Ergo uma Rosa” interpretado pelo grupo cénico Casa da Comédia, após o que a comitiva visitou o polo local da Fundação José Saramago, tendo o Primeiro-Ministro assinado o livro de honra.

Na hora dos discursos intervieram o coordenador da delegação José Saramago na Azinhaga, Vitor Guia, atual presidente da Assembleia Municipal e ex-Presidente da Junta que se mostrou orgulhoso pela “justa homenagem” ao escritor ribatejano.

Pilar del Río, viúva do escritor e presidente da Fundação José Saramago, agradeceu a iniciativa lembrando as duas informações “obrigatórias” que qualquer editora tem de escrever quando se refere a José Saramago: “nasceu na Azinhaga e viveu em Lanzarote”.

O presidente da Câmara da Golegã realçou o facto de José Saramago, escritor por quem tem “uma admiração enorme”, ter sido homenageado em vida na sua terra natal. “Fomos bafejados pela sorte por termos um escritor prémio Nobel da literatura”, exultou José Veiga Maltez.

António Costa esteve este domingo em Azinhaga, Golegã. Foto: mediotejo.net

Saramago poderia ter recebido um segundo Prémio Nobel

A fechar a série de intervenções, o Primeiro-Ministro, António Costa, defendeu que José Saramago poderia ter recebido um segundo Prémio Nobel da Literatura.

“José Saramago conseguiu assegurar a intermitência da morte, que é a vida dele que devemos sempre continuar a encontrar na leitura de cada uma das páginas que ele legou e que legou à humanidade. A humanidade reconheceu com o seu Prémio Nobel, mas que poderia seguramente voltar a merecer um segundo Prémio Nobel por aquilo tudo que escreveu, depois de ter recebido o primeiro”, assegurou António Costa.

O primeiro-ministro lembrou que a “maratona” que tem feito – visita a Lanzarote (dia 6), Azinhaga do Ribatejo e Lisboa (dia 7) – procura acompanhar “aquilo que foram os locais marcantes da vida de José Saramago e que de alguma forma formataram a sua própria obra”.

“Ontem em Lanzarote pudemos sinalizar o universalismo que foi reconhecido para a atribuição do Prémio Nobel. Hoje, aqui na Azinhaga, estamos ao regresso das suas origens na qual se formou como menino, como homem, mas onde seguramente germinaram muitas das ideias que o formaram como cidadão, como político e como escritor”, acrescentou.

Segundo António Costa, esta é uma forma de “homenagear Saramago após os 20 anos do seu Prémio Nobel e prestar também uma homenagem a todas as terras, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para o formar como homem, como político, como escritor”.

António Costa sublinhou que era inevitável a passagem pela Azinhaga, “onde tudo começou”.

O primeiro-ministro lembrou que “um dos momentos mais solenes da vida dele [Saramago], foi quando discursou perante a academia que lhe atribuiu o Prémio Nobel ao começar logo por recordar que a pessoa com quem mais aprendeu tinha sido o seu avô Jerónimo”.

“Ele [José Saramago] disse que aqui encontrava o outro eu que algures ficou encalhado, mas precisava de regressar aqui à Azinhaga para acabar de nascer. Temos uma ideia de que vamos nascendo todos os dias ao longo da vida e, ao longo da vida, vamos adquirindo novos eus”, afirmou o chefe do Governo.

António Costa constatou que José Saramago “não precisou de desdobrar os seus eus em heterónimos, como outros tiveram de fazer, e pode condensar na sua obra e sob o seu nome José Saramago toda esta formação”.

“Foi aqui [Azinhaga] que construiu a visão do mundo, seguramente a experiência que aqui teve, dos seus avós, dos trabalhadores rurais, da realidade social da Azinhaga que foi determinante na sua formação ideológica, na sua formação como cidadão e na sua afirmação como homem do mundo”, acrescentou.

O primeiro-ministro sublinhou que Saramago “nunca separou aquilo que era ser o escritor daquilo que era ser o homem que tinha diversas dimensões e que sempre as manifestou”.

Foram algumas centenas os moradores da Azinhaga que se quiseram associar à festa dos 20 anos do Nobel da literatura. No fim dos discursos, a organização ofereceu o almoço a todos os presentes, refeição confecionada  e servida pelos alunos dos cursos profissionais de restaurante / bar e cozinha do Agrupamento de escolas de Constância.

O evento contou com a presença de vários autarcas do Concelho e Freguesias e também de Municípios vizinhos, além do deputado Hugo Costa, da filha de José Saramago, Violante, e da neta, Ana Saramago Matos, entre outras personalidades do meio cultural.

Da Azinhaga, o Primeiro Ministro e a sua comitiva seguiu para Lisboa onde se realizou uma sessão evocativa da vida e obra do escritor, na Casa dos Bicos, em Lisboa, sede da Fundação José Saramago.

Para o presidente da Câmara, Golegã viveu “três dias em cheio” com o Congresso Internacional de Turismo Equestre no dia 5, o Concurso Internacional de Atrelagem de Tradição no dia 6 e no dia 7 com “esta manifestação extraordinária que é a grande exaltação da memória de José Saramago”. A juntar a tudo isto, Veiga Maltez teve neste dia mais um motivo para celebrar: os seus 62 anos.

José Saramago viveu na Azinhaga até aos dois anos, deixando a aldeia com os pais, que se mudaram para Lisboa. Até aos 15 anos voltava anualmente à aldeia para passar as férias do Verão.

Foi serralheiro, desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, jornalista e desde 1976, escritor. Em 1998, a Academia Sueca atribui-lhe o Prémio Nobel da Literatura. Faleceu a 18 de junho de 2010.

Com Lusa

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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