Madalena Jesus,de Belver (Gavião, é a presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social. Créditos: ESCS

Madalena Marcelino Jesus, 21 anos, natural do concelho de Gavião, Alto Alentejo, tomou posse como presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social em fevereiro de 2020, um mês antes da pandemia chegar a Portugal. A covid-19 fechou as portas da universidade em Lisboa, o país encerrou e mudou tudo, incluindo a forma de alguns projetos e planos, mas não a vontade de fazer diferente e abrir janelas à criatividade. Madalena a terminar o curso de Jornalismo acredita que, afinal, o seu futuro está no Marketing Digital e em Belver. Desde sempre envolvida no associativismo considera-se uma mulher de causas e garante que a maior é a sua terra.

Jovem, otimista, comunicativa, de pequena estatura mas parece que tem em si toda a vontade do mundo. Madalena de Jesus foi eleita em fevereiro para presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social (AE ESCS), um titulo que assumiu também para desmistificar a ideia de que a Associação de Estudantes é uma coisa de elites. Projetos e atividades que ultrapassavam o recreativo pairavam na sua cabeça, até porque Madalena não é uma caloira na nobre missão do associativismo nem mesmo na AE ESCS onde chegou em 2018. A verdade é que pouco depois de assumir a presidência da Associação a pandemia de covid-19 chegou a Portugal e “todos os planos e ambições que tínhamos caíram um bocadinho por terra”, confessou ao mediotejo.net.

A solução passou pela “muito grande” readaptação relativamente às aulas, que mudaram para um formato à distância e, na verdade, “a tudo o resto”.

Embora com um formato e estrutura algo profissional na AE ESCS “não passámos a trabalhar em teletrabalho – porque não trabalhamos com essa frequência nem com essa obrigatoriedade – mas todo o plano de atividades que estava desenhado para ser posto em prática no terreno, com contacto físico, teve de ser readaptado para um plano online e à distância, através das redes sociais”, explica.

Madalena Jesus, a presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social. Créditos: DR

A aldeia de Madalena é Belver, concelho de Gavião, e por lá deu os primeiros passos também na comunicação, no trabalho associativo que desempenhou e continua a desempenhar mirando-se no exemplo familiar. Sempre soube que queria trabalhar em comunicação, está prestes a concluir uma licenciatura em Jornalismo mas ser jornalista não está nos seus planos. Ao longo do tempo, e do curso, foi descobrindo outros interesses e aponta o marketing digital como a profissão do futuro. A covid-19 reforçou esta convição. “O digital tem cada vez mais peso e as pessoas têm de ter as ferramentas para conseguir tudo à distância”, observa.

Descreve-se como “uma pessoa muito esforçada” e defende que a liderança surge “nunca com base no status mas no trabalho”. Liderar a AE apresentava-se como “uma causa” que a motivava. “Sempre me movi por causas” característica com elo de ligação às suas raízes. “Sou muito bairrista, vivo muito Belver”, notou.

Desde muito jovem que Madalena Jesus se dedica ao associativismo. Atualmente integra os corpos sociais do Clube Recreativo e Desportivo Belverense, como tesoureira, uma associação de jovens responsável, por exemplo, pela organização do maior evento da comunidade: a Festa das Santas Relíquias.

Madalena considera que os líderes “também se constroem” e na AE ESCS diz ter sido posta à prova. A “boa” adaptação aos tempos de covid-19 mostrou “o reflexo do meu esforço. Dedico-me muito às causas em que acredito e quanto mais puder dar de mim, melhor. A minha maior causa é Belver: elevar a minha terra a outro nível para que toda a gente consiga ver um bocadinho daquilo que vejo. Sou muito nova mas se conseguir dar de mim aos outros, a vários níveis, ao longo da minha vida serei uma pessoa muito mais realizada”.

Portanto, participa em todas as iniciativas que possam dar destaque a Belver. No Centro Social Belverense realizou recentemente um vídeo para a Junta de Freguesia, com imagens que gravou a promover o retomar das visitas no contexto da pandemia.

“Por norma sou sempre eu quem faz os cartazes, que ajudo na parte mais gráfica, embora não domine mas esforço-me apenas pela causa”, vinca.

Madalena Jesus no Clube Recreativo e Desportivo Belverense. Créditos: DR

Desconhece o local onde viverá o futuro, atualmente está em Lisboa onde pretende continuar a formação… talvez trabalhar numa agência de comunicação mas sempre ligada a causas que lhe digam respeito, que defende e precisam de apoio. Para já sente viver a fase de “aproveitar a juventude” por isso quer ligações diversificadas. “Não sei, acho que daqui a uns anos gostava de voltar para o interior…”.

Também ignora se para Belver, sendo certo que “gostava de poder marcar a diferença num meio rural. Trazer alguma juventude e desenvolver um projeto”, indica.

Acredita que a pandemia também terá reflexo nas mentalidades, e no futuro seja mais fácil fixar pessoas no interior, se o teletrabalho se revelar uma realidade que veio para ficar.

“Já vemos isso traduzido na questão das férias. A maioria dos alojamentos turísticos do Alentejo e do interior estão a ficar esgotados porque as pessoas estão à procura de soluções que lhe tragam alguma tranquilidade e segurança. E acho que isso também se vai traduzir no futuro, ou seja, houve o fenómeno do êxodo rural, toda a gente procurava as cidades onde se encontram mais oportunidades. Mas a verdade é que no interior encontra-se mais liberdade, outras condições, outra flexibilidade. Depois deste ‘aperto’, as pessoas perceberam que nas grandes concentrações existe maior probabilidade de propagação, refletiram sobre isso… especialmente ao viverem confinados num apartamento sem espaço exterior”, nota.

Chegada à capital de uma pequena aldeia do Alto Alentejo, logo no primeiro ano do curso, Madalena envolveu-se num projeto de voluntariado no bairro social do Rego em Entrecampos, onde semanalmente ajudava crianças a fazer os trabalhos de casa. Desenvolveu o projeto ‘Volta do Mundo’ onde semanalmente “explorávamos um país novo. Uma coisa muito criativa, simulávamos um avião e apresentávamos um país. Porque são crianças de uma realidade completamente diferente”, conta-nos.

Entretanto entrou na Associação de Estudantes e o tempo “começou a ficar mais concentrado na mesma coisa. O associativismo é bom mas reduz-nos um bocadinho àquilo e é difícil ter outros projetos em paralelo”, observa.

Madalena Jesus entre amigos. Créditos: DR

Explica que os estudantes da AE ESCS dividem-se por seis áreas: comunicação, cultura, desporto, educação e relações externas, recreativa e recursos humanos. “Tínhamos atividades a vários níveis, não organizamos só festas como a maioria das pessoas pensa que as AE fazem. Temos um recrutamento muito profissional que acabou por acontecer online, e entre 40 candidatos recrutamos novas pessoas para a equipa. Organizamos debates, por exemplo íamos ter uma debate sobre a sustentabilidade com uma deputada do Bloco de Esquerda. Organizamos uma viagem anual, a CulTur, este ano seria em Valência nas férias da Páscoa. Não foi, mas organizamos através das redes sociais um roteiro pelo Continente e Ilhas onde mostramos sugestões de coisas que as pessoas podem fazer em Portugal”.

E ainda definiram rubricas semanais, plano de exercício físico, vídeo de culinária, fizeram uma bolsa de voluntariado onde apresentaram vários projetos que surgiram no âmbito da covid-19. Trabalharam conteúdos no sentido de dar alguma oferta aos estudantes da ESCS.

Aliás esse é o primeiro propósito da Associação, conta: “contribuir para que os estudantes tenham um experiência académica melhor, ainda que à distância” e “no meio das Associações de Estudantes temos marcado a diferença. Esse era o nosso slogan inicial e acabou por ser mesmo um mandato muito diferente do normal”.

E se inicialmente as contingências da pandemia pareciam uma desvantagem “acabaram por se transformar numa vantagem” ou seja, apresentando ideias originais que provavelmente não teriam surgido não fosse a covid-19 e o confinamento, comprovando mais uma vez que a necessidade aguça o engenho.

Segundo a jovem “foi muito bom porque trabalhámos de uma forma adaptada mas completamente inesperada e diferente de tudo aquilo que estávamos habituados”.

Nesta nova realidade, sendo Madalena finalista, sente falta da componente prática. “Não estamos a falar de um curso teórico e a componente prática é muito importante porque nos prepara para o mercado de trabalho”, diz, apesar de considerar que a Escola Superior de Comunicação Social “se adaptou muito bem. Não é a mesma coisa porque a situação é absolutamente extraordinária e é difícil encontrar soluções ótimas. A prática à distância, no fundo transformada em teoria, não é a mesma coisa”, considera.

Alguns exames serão realizados também à distância. A Escola disponibiliza quatro cursos de licenciatura e “só três exames obrigatoriamente presenciais. Mas aquilo que é uma falha, de contacto com os materiais, acaba por ser uma vantagem. A Escola está a proteger-nos e não estavam reunidas condições para voltarmos à vertente presencial. Havemos de recuperar de outras formas aquilo que estamos a perder agora” diz.

Madalena explica que a falha da vertente prática e da atividade escolar se reduzir a “trabalhos” abriu espaço a outras possibilidades. A jovem tem aproveitado o tempo para fazer workshops e formações na sua área de interesse. “Como eu, sei que os meus colegas têm feito o mesmo!”.

A belverense Madalena Jesus, presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social. Créditos: DR

Confessa ser “grande consumidora” de documentários. “Gosto de tudo o que retrata as realidades de outros sítios”. Além disso, gosta de cozinhar, de viajar, de samba, toca saxofone alto e tocava na Banda Juvenil de Gavião onde esteve durante uma década. “Os projetos são ciclos e chega uma altura em que temos de dar o lugar a outros e também não devemos fazer de nós figuras eternas”, defende Madalena, que sonha ainda em desenvolver uma marca de biquínis.

Madalena Jesus termina o mandato na AE ESCS em fevereiro de 2021, ficando na memória um ano de presidência sem festas académicas às quais também Portugal se habituou. Um ano absolutamente extraordinário, de reinvenção.

“Apesar de termos ambição, e de querermos, não vamos poder fazer muito mais mas temos orientações e recomendações superiores. É isso que respeitamos acima de tudo”.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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