O Cineteatro Francisco Ventura, em Gavião, foi o palco de uma Conferência subordinada ao tema: “Caça como valorização do Território”, numa organização conjunta do município local e da Federação Portuguesa de Caça (FENCAÇA). No dia 18, estiveram presentes em Gavião cerca de uma centena de caçadores em representação de várias Associações do sector e Clubes de Caçadores.
A condução dos trabalhos ficou a cargo do Dr. João Galinha Barreto, figura sobejamente conhecida na terra (foi presidente de Câmara e Governador do Distrito) e vice-presidente da FENCAÇA que a todos saudou e apresentou as boas vindas.
As comunicações foram iniciadas pelo vice presidente da Câmara Municipal de Gavião, António Severino, tendo relevado a actividade cinegética como motor de desenvolvimento do mundo rural, gerador de riqueza e com benefícios noutros sectores.
Seguiu-se a Eng. Ana Perdigão, da Fencaça-Évora, que duma forma esquemática, recorrendo à multimédia, elencou os problemas mais usuais nas zonas de caça e as propostas para os solucionar. Para além das dificuldades burocráticas de licenciamento, as zonas de caça debatem-se com gastos incomportáveis na gestão como taxas, rendas, seguros e coimas, havendo menor rendimento por diminuição do número de caçadores.
Fez notar ainda a diminuição da caça sedentária e as alterações das rotas migratórias quando se verifica um aumento da caça maior, principalmente javalis.
Propôs maior rapidez nos processos burocráticos, a compatibilização com outras actividades, a monitorização de proprietários, o controlo de predadores e de doenças, a criação de comedouros e parques de reprodução.
Galinha Barreto, como organizador e médico, não podia deixar passar este evento sem que se abordasse um tema preocupante para a saúde.
Para abordar o tema “Tuberculose na Caça Maior” convidou a veterinária municipal de Nisa e Gavião, Drª Esmeralda Almeida. Conhecedora do terreno e da problemática, conseguiu, de forma pragmática, prender a atenção da assistência com os seus conselhos. Alertou para os sinais que se podem observar nas vísceras das rezes abatidas, portadoras de tuberculose e os cuidados a ter no manuseamento dessas rezes e o destino das carcaças.
Fez algumas criticas aos caçadores pela deficiente manipulação das rezes, acesso das matilhas às mesmas e abate indiscriminado de fêmeas prenhes.
Terminou lançando um repto à autarquia para a construção de um comedouro para grifos, que nidificam na zona, como destino dos restos dos abates sanitários.
Seguiu-se um coffee break, breve momento de repouso e convívio.
No retomar dos trabalhos usou da palavra o Eng. Gonçalo Lopes, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que começou por criticar alguns movimentos nas redes sociais tendentes a denegrir a imagem dos caçadores e da actividade venatória. Exortou os caçadores a contrariar essa ideia divulgando a actividade da caça e seus benefícios.
Apelou à boa relação entre caçadores e proprietários e disse ser urgente legislar sobre a necessidade da existência de técnicos nas zonas de caça, a criação de campos de treino de caça, sobre o registo de matilhas e a existência de guardas da caça.
Uma das comunicações mais aguardada era a de Jacinto Amaro, decano presidente da FENCAÇA. E não defraudou as expectativas.
Começou por referir o caçador como “factor de equilíbrio no ordenamento do território”, evitando a desertificação e como gerador de riqueza noutras actividades económicas como hotelaria, restauração, venda de produtos regionais como queijo, enchidos e vinhos.
Apesar do envelhecimento dos caçadores, a falta de jovens a caçar e o abandono do interior e das zonas de caça ainda há espaço para o optimismo, referiu.
Depois “municiou a caçadeira” e começou a disparar em várias direções. Naqueles que, no seu entendimento, são prejudiciais à actividade de Santo Huberto.
Criticou os partidos parlamentares como o PAN e o BE, favoráveis à não caça, que impedem alterações legislativas. Acusou alguns ecologistas, nomeadamente a Quercus, de “intoxicar a opinião pública”.
Teceu duras críticas aos serviços emissores de licenças de caça, às novas Federações que em sua opinião “nasceram para dividir o sector”, à corrupção e promiscuidade entre direções de algumas zonas de caça e alguns funcionários do ICNF, GNR pela pouca tolerância e a alguns caçadores que “enterram o sector”.
A comunicação social não escapou exortando a noticiar com melhor conhecimento e propondo uma boa relação com os órgãos de comunicação social.
Deixou ainda a proposta para a revitalização do coelho-bravo e da lebre e a criação de empresas para abate, desmanche e comercialização de produtos da caça.
Terminou apelando ao cumprimento das regras associativas: “Façam propostas, peçam-nos coisas…”
Entre cada orador houve espaço para perguntas que iam sendo respondidas pelos intervenientes. De referir a presença de Arlindo Cunha, ministro da Agricultura do XI Governo,dirigente da Fencaça e caçador de reconhecidos méritos.
Encerrou a conferência José Fernando da Silva Pio, presidente do município de Gavião, que fez vários agradecimentos: às Juntas de Freguesia, à equipa de apoio ao presidente, às Associações de Caça do concelho, ao Centro Social de Margem, à FENCAÇA na pessoa do seu presidente Jacinto Amaro e a João Galinha Barreto pela excelente organização.
Convidou os presentes para o almoço, servido pelo Centro Social de Margem, que a todos satisfez e foi aproveitado para grandes conversas de caça e caçadas.



