Foto: mediotejo.net

Este fim-de-semana foi marcado pelas cerimónias do 70º aniversário da corporação de Bombeiros Municipais de Gavião, sendo um dos pontos altos o lançamento do livro solidário, a reverter para o Centro Social dos Bombeiros de Gavião, da autoria de João Florindo e com ilustração de José Heitor. Na sessão, que decorreu este sábado, dia 16 de dezembro, e que contou com apresentação de António Sala, na presença do Secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, o presidente da Câmara distinguiu a corporação com a Medalha de Ouro municipal.

Após receção às entidades com formatura geral, na Avenida José Marcelino, em Gavião, e à chegada do secretário de Estado, a cerimónia iniciou-se com largas dezenas de gavionenses no público, que quiseram vir celebrar e apoiar a corporação da sua terra.

Francisco Louro, comandante dos Bombeiros de Gavião, corporação que integra há 46 anos, começou por recordar, saudoso, as várias gerações de membros que passaram pelo quartel que lidera, lembrando “os onze” fundadores.

O comandante frisou ainda que, ao longo dos 70 anos, a corporação “sempre” tem sido integrada por voluntários, “inclusive o Comando”.

“Os Bombeiros Municipais de Gavião são de administração municipal mas totalmente voluntários na sua missão”, começou por dizer Francisco Louro, aludindo ainda ao verão passado, marcado por trágicos incêndios florestais que assolaram o interior do país, e que deixou marcas inclusivamente no próprio concelho de Gavião.

O comandante da corporação gavionense referiu ainda lamentar “com profundo pesar as vítimas destes incêndios”, mas prestando igualmente homenagem aos “225 bombeiros que morreram ao longo dos últimos 25 anos dando a sua vida, largando as suas famílias, para salvar bens e pessoas”.

Comandante dos Bombeiros Municipais de Gavião, Francisco Louro, há 46 anos nesta instituição, recordou emocionado os fundadores da corporação, aqueles que ainda vivem e os que já partiram. Foto: mediotejo.net

Referindo que “hoje em dia os bombeiros não sabem o futuro que têm à sua frente”, Francisco Louro deixou claro que a corporação que lidera, ao comemorar 70 anos ao serviço da comunidade, o orgulho de “pertencer a esta corporação de bombeiros, composta por homens e mulheres que dão tudo o que sabem, o que podem e a até a própria vida em defesa de pessoas e bens, tal como aqueles que já partiram nessa missão”.

Prestando a sua “gratidão” pela coragem dos fundadores ao darem os primeiros passos na constituição desta estrutura, tendo sido os construtores de “alicerces”, mencionando Serafim Alves Faca e José Severino Marques, ambos presentes na iniciativa, e homenageados com uma forte salva de palmas, juntamente com aqueles que já partiram: António Machado, Emílio Arez, Francisco Rafael, José Estevinha, Alberto Pereira, José Pedro, José Batata e António Porfírio.

“Estamos conscientes da missão cumprida ao longo destes anos, desde sempre até à presente data”, frisou o mesmo responsável do Comando da corporação gavionense, ao passo que se dirigiu ao Secretário de Estado referindo “aqui não se passou fome”, aludindo ao apoio prestado pela população na confeção das refeições para os operacionais durante o combate aos fogos.

“Queríamos reforço a horas, tínhamos reforço a horas. Queríamos uma refeição a horas, tínhamos refeição a horas. E aqui as contas sempre foram todas certinhas. É pena quem diz que as contas nalguns sítios não estão certas… Terá que dizer em que sítio não estão certas, porque nós não nos metemos todos dentro do mesmo saco”, afirmou, certeiro.

Por outro lado, José Pio, presidente da Câmara Municipal de Gavião, e presidente da direção da corporação de Bombeiros Municipais, deu as boas-vindas ao Secretário de Estado, José Artur Neves, referindo optar por não aproveitar a sua presença para falar nos vários problemas do território a vários níveis e no âmbito da Proteção Civil. “Não o farei, há momentos para tudo. E este é um momento de festa, de alegria, mas também de saudade dos tantos e tantos bombeiros que já serviram nesta corporação”, justificou.

Deixando uma palavra de agradecimento aos gavionenses autores do livro apresentado pela “paciência, disponibilidade e obra”, mas também se dirigindo aos Bombeiros de todo o país, por quem assumiu ter orgulho.

“Orgulham-me os Bombeiros de Portugal, mas tenho uma profunda estima e um particular orgulho nos Bombeiros Municipais de Gavião, onde vejo em cada um, um profissional voluntário, dedicado, altruísta, com um investimento grande em formação e atualização, com um corpo de Comando sempre atento a todas as necessidades e onde a disciplina sem elegância é uma prática que os distingue”, declarou.

Por fim, informando ainda da proposta aprovada por unanimidade, em reunião de executivo camarário de 6 de dezembro, José Pio procedeu à atribuição de Medalha de Ouro do Município aos Bombeiros Municipais pelos seus 70 anos de existência.

José Pio, autarca da CM Gavião, procedeu à atribuição de Medalha de Ouro à corporação de Bombeiros, da qual é presidente da direção. A proposta foi aprovada por unanimidade em reunião de Câmara, a 6 de dezembro. Foto: mediotejo.net

“Os Bombeiros Municipais de Gavião pela Câmara Municipal a 11 de dezembro de 1947. Desde então, até aos dias de hoje, têm cumprido de forma exemplar todas as funções que lhe são atribuídas. Neste trágico ano de 2017, em que a floresta do nosso país e muito particularmente a do nosso concelho foi terrivelmente dizimada, a ação dos nossos bombeiros contribuiu decisivamente para que a tragédia não assumi-se proporções ainda maiores, desdobrando-se em intervenções em todo o país. Porque seria impossível destacar individualmente cada um dos nossos soldados da paz, entendeu a Câmara Municipal por unanimidade atribuir à corporação de Bombeiros Municipais de Gavião a Medalha de Ouro do Município, comemorando o seu 70º aniversário e ao mesmo tempo registando na fita do tempo o altruísmo, a coragem, a dedicação, o saber, a organização, a disciplina, e sobretudo, o estarem sempre disponíveis para ajudar o próximo”, leu o autarca, a proposta aprovada pela CM Gavião, convidando depois o Secretário de Estado da Proteção Civil a entregar o respetivo diploma e a colocar a medalha no estandarte da corporação.

O governante, por sua vez, deixou uma abordagem ao que se espera em termos de reestruturação da legislação em vigor no âmbito da política florestal nacional, fazendo também referência aos inesquecíveis momentos trágicos que marcaram o ano de 2017.

José Artur Neves mencionou as leis e as estratégias que se pretendem ser cada vez mais rigorosas no âmbito do combate, mas acima de tudo, na prevenção e na proteção, sendo esta determinação do Estado considerada “uma emergência”.

Fez ainda apelo aos proprietários para que sejam preventivos, que colaborem na proteção das aldeias e que não deixem terrenos ao abandono.

“Prevenir para depois não lamentarmos pelo que tem vindo a acontecer”, afirmou o Secretário de Estado, na sessão onde estiveram também presentes o vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Adriano Capote, e o Comandante Operacional de Agrupamento Distrital do Centro Sul da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Luís Belo Costa.

José Artur Neves, Secretário de Estado da Proteção Civil, coloca a Medalha de Ouro municipal no estandarte da corporação, depois de entregar o diploma ao Comandante Francisco Louro. Foto: mediotejo.net

“Este é um livro importante para ler”

Encarregue de apresentar a obra, e fazendo parte da mesa, António Sala fez referência à importância, nos dias que correm, de existir um objeto físico, palpável, que permita preservar a memória e passá-la às gerações seguintes.

Para o locutor e cantor, bem conhecido do público português, esta obra solidária, um livro evocativo dos 70 anos da corporação de Bombeiros de Gavião e que reverte a favor do Centro Social destes, é a “narrativa cronológica de há 70 anos para cá” feita de testemunhos e “histórias muito interessantes que têm que nos tocar o coração”. Este é, segundo o comunicador, também um livro “que fala de esforço, dedicação, de homens que já cá não estão, de homens e mulheres que ainda cá estão”.

“Retrato muito daquilo que são os Bombeiros e a história dos Bombeiros em Portugal, que eu penso que não diferenciará muito de uns para os outros. Uns com mais dificuldades, outros com menos. Uns com mais ajudas estatais, outros com menos. Mas de uma forma geral, aquilo que está na génese, naquela que é a grande força motriz que faz com que os bombeiros sejam o que são e representem o que representam na nossa sociedade está aqui, neste livro. Comprem-no”, disse, durante a sua apresentação da obra escrita por João Florindo.

António Sala deixou, por fim, um apelo à comunidade, tendo dito “que nós os possamos ajudar não só nas alturas de crise, nas alturas de catástrofe, que saibamos estar disponíveis para permanentemente dizer presente e ajudá-los, e cada um pode ajudar da sua maneira”, recordando que durante os seus 52 anos de carreira sempre tem colaborado com os bombeiros portugueses, de todos os pontos do país.

João Florindo, recorde-se, é professor natural de Gavião e autor de várias obras sobre personalidades de referência na história do concelho. Fez este livro, em colaboração com o amigo e conterrâneo José Heitor, cujas ilustrações são de sua autoria. O livro surge como ato de “gratidão”, recordando o dia em que, com três anos de idade, viu a sua moradia ser salva das chamas por estes “heróis anónimos”.

Agradeceu a colaboração de todos os que ajudaram na recolha de informação e materiais para o livro, bem como testemunhos que fizeram perceber “a difícil vida dos bombeiros”.

“Todos nós aqui devemos alguma coisa aos bombeiros. Podemos até pagar os seus serviços, mas nunca pagaremos as dívidas de gratidão que temos para com eles. Se isto não for verdade, podem levantar-se e sair. Estas dívidas para com os bombeiros são eternas, nunca serão pagas”, afirmou o autor.

O objetivo do livro é “homenagear os bombeiros, as suas famílias, que ao longo destes 70 anos deixaram os seus trabalhos, as suas vidas, as férias, para segundo lugar”, explicou, fazendo ainda notar que “os bombeiros são homens, logo sujeitos ao erro e à crítica, não poderão ser vacas sagradas como por vezes se quer fazer crer, nem culpados nesta conjuntura dos prejuízos. Há que encontrar o ponto de equilíbrio para estes homens que tudo deixam em prol do outro”.

Na foto, ao centro, José Florindo, autor do livro de testemunhos e vida e obra da corporação de bombeiros gavionense, acompanhado do presidente de Câmara, José Pio, e de António Sala. Foto: mediotejo.net

A sessão contou ainda com momento musical por António Eustáquio, músico que trouxe consigo o famoso e épico guitolão, construído pelo mestre Gilberto Grácio, e um dos três exemplares que existem no mundo. Fez soar obra de Carlos Paredes, embalando os presentes numa tarde de emoções à flor da pele.

No final da sessão, o cantor José Reza brindou tanto os Bombeiros Municipais, com o público presente, com os temas “Parabéns (Pelo teu aniversário)” e “Bombeiro Amigo”, que se fizeram acompanhar de palmas e vozes da comunidade gavionense, ao que se seguiu um “Gavião de Honra” e, à saída do auditório, as filas prolongavam-se já, imbuídas de espírito solidário e orgulho, para aquisição do livro que ajuda, contando a vida e obra dos soldados da paz da sua terra.

Este domingo as cerimónias encerraram com hastear das bandeiras e a guarda de honra no quartel do bombeiro, seguida da entrega de condecorações a elementos do quadro ativo e a entrega de certificados de mérito.

Às 11h30 decorreu a romagem ao cemitério e missa solene na Igreja Matriz como homenagem aos bombeiros falecidos. Antes do almoço de confraternização foram benzidas duas viaturas novas para a corporação gavionense.

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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