Espetáculo de música e dança quinhentista em Belver. Créditos: mediotejo.net

Conferências, o (re)lançamento de um livro, a homenagem a ex-autarcas, a recriação histórica, a reunião da ANAFRE e a presença do Bispo de Portalegre e Castelo Branco na missa solene de encerramento foram as iniciativas que marcaram um programa de três dias das comemorações dos 500 anos do Foral Manuelino em Belver. A presidente da Junta de Freguesia, Martina Jesus, fez um balanço “muito positivo” e em 2019 quer de volta a Companhia de Teatro Viv’Arte pela “qualidade do espetáculo” que “faz a diferença” na Feira Medieval de Belver.

As celebrações dos 500 anos do Foral de Belver terminaram este domingo, 20 de maio, com alguma instabilidade meteorológica mas em ambiente de tranquilidade na Igreja Matriz com a missa solene presidida pelo Bispo de Portalegre e Castelo Branco, Antonino Dias. Antes do momento religioso destaque para a conferência “as plantas aromáticas e medicinais na época quinhentista” apresentada por Fernanda Delgado, o torneio de armas a cavalo na praça de armas do Castelo e a dança quinhentista pela Universidade Sénior de Gavião.

O espetáculo apontado no programa como de encerramento com acrobacia aérea na frontaria da Igreja Matriz foi antecipado. Aliás, o programa da Feira Quinhentista de Belver, por ocasião das celebrações dos 500 anos do Foral Manuelino, sofreu algumas alterações durante os três dias de festa. A previsão de chuva, levou a organização precavida a antecipar o Teatro de Fogo para sábado à noite. E o cancelamento da apresentação do desdobrável turístico da Freguesia de Belver, devido a “erros de impressão”, alterou ainda mais o programa do dia 20.

Ainda assim, tais transtornos foram incapazes de retirar alegria aos festejos e a data do quinto centenário do Foral de Belver celebrou-se “com a dignidade merecida” num balanço “muito positivo” disse a presidente da Junta de Freguesia de Belver, Martina Jesus, em declarações ao mediotejo.net.

António Marques, a presidente da Junta de Freguesia de Belver Martina Jesus e Paulo Ventura

“Conseguimos comemorar com dignidade os 500 anos do Foral, uma data importantíssima para Belver. A ideia que tinha para este fim de semana, os objetivos foram alcançados: juntar os dois eventos, a feira medieval com a comemoração dos 500 anos”, referiu a autarca.

Martina Jesus salientou o junção de duas vertentes “a lúdica, de animação, com a cultural que enriqueceu o evento”. Destacou ainda a homenagem aos antigos presidentes de Junta de Freguesia do pós 25 de Abril, referindo ser “noutra época, uma forma de autonomia do poder local, ligada à descentralização. Esta festa conseguiu ter várias vertentes desde a cultural, à lúdica, artista, turística, passando pela desportiva e religiosa”.

O apoio da Câmara Municipal de Gavião considerou “importante” tal como “o envolvimento do Agrupamento de Escolas de Gavião”. Inicialmente um projeto pensado pela autarca que apresentou ao presidente da Câmara, José Pio. “Imediatamente se disponibilizou a apoiar. A ideia era envolver todos, inclusive a Universidade Sénior” com participação incluída no programa de domingo.

Dança quinhentista pela Universidade Sénior de Gavião, na Feira Quinhentista de Belver

Os alunos do Agrupamento que “este ano letivo têm o projeto de autonomia e flexibilidade curricular, precisavam de um tema e pensavam num musical. Lancei o desafio para as celebrações do Foral”. A ideia foi acolhida com entusiasmo quer pelos alunos quer pelos diretores de turma e do Agrupamento.

“Começamos a trabalhar nesse sentido. Contactei a Companhia de Teatro Viv’Arte” dirigida por Mário Costa, explica Martina, manifestando “gosto” em que a Viv’Arte “voltasse a fazer as feiras medievais em Belver. Nota-se a diferença!”, assegura. A Companhia deslocava-se “uma vez por mês à Escola para ensaiar os alunos” inclusive do curso profissional de restauração.

“Desta vez também envolvemos os restaurantes de Belver que confecionaram o banquete quinhentista e os alunos foram servir” o que contribuiu ainda mais para o desenvolvimento económico da terra.

O banquete quinhentista contou com 165 pessoas, “esgotou logo”, disse Martina, para degustarem os pratos tradicionais de Belver tendo em conta a época quinhentista. Portanto, foram servidos enchidos, tâmaras e queijo, peixe frito de escabeche com açorda de ovas, cabrito assado no forno e biscoitos de mel e azeite, e uvas.

A Junta de Freguesia de Belver em coordenação com a Câmara Municipal de Gavião, na pessoa do vereador António Severino, contou ainda “com o apoio do Clube Recreativo Desportivo Belverense, da Pegop e do Instituto Politécnico de Portalegre”.

Da conferência “Belver na Idade Média. A construção do Castelo na conjuntura da época. Os Hospitalários” por Maria Helena Coelho, entendeu a presidente que “faria falta um registo escrito do momento e do evento”. Contando com a disponibilidade da professora, será agendada uma data para o lançamento em Belver.

Também será agendada para data a definir a apresentação do desdobrável turístico de Belver, adiado por motivos de ordem técnica, que contará com a presença, como estava inicialmente programado, do presidente da Entidade Regional do Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia.

Torneio de armas a cavalo na praça de armas do castelo de Belver

Martina Jesus destacou ainda a importância e “a honra de termos a reunião do conselho diretivo da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) em Belver, na sexta-feira” e ainda a apresentação da terceira monografia da vila, “muito importante para a terra, aborda toda a História de Belver. Estava esgotado há anos com muita procura e conseguimos que o autor [José Carlos Lobato] viesse fazer a apresentação da terceira edição com algumas atualizações”.

Quanto ao investimento da Junta nas festas, Martina explicou que o espetáculo destinado ao encerramento que acabou antecipado para a noite de sábado devido à previsão de chuva, Teatro de Fogo “Belo Ver” com a lenda das Santas Relíquias e acrobacia aérea na frontaria da Igreja Matriz “foi suportado na íntegra pela Junta no valor de 3500 euros”.

A autarca quer a Viv’Arte de volta a Belver, mostrando-se “convicta que no próximo ano a Companhia de Teatro esteja na Feira Medieval” para que “volte a ser aquilo que era. É assim que tem de funcionar: em parceria com a Câmara Municipal e com a Junta de Freguesia. A parceria funcionou muito bem”, concluiu.

Conferência “As plantas aromáticas e medicinais na época quinhentista”. Fernanda Delgado. Celebrações dos 500 anos de Foral de Belver

Do dia do encerramento o destaque vai ainda para a conferência “as plantas aromáticas e medicinais na época quinhentista” com apresentação de Fernanda Delgado que abordou as plantas utilizadas na região arraiana pelo médico naturalista Amato Lusitano. Judeu português, médico e escritor do século XVI, nascido em Castelo Branco em 1511, batizado como João Rodrigues, o primeiro a estudar, cientificamente, as plantas ibéricas, contribuindo para a Biologia, Farmacopeia e Botânica Médica.

As plantas para Amato eram os remédios para aliviar e curar os seus doentes. Os estudos efetuados durante séculos sobre o potencial das plantas designadas atualmente como medicinais, têm permitido comprovar cientificamente a eficácia das mesmas, relativamente a efeitos antimicrobianos, anti-inflamatórios e muitos outros. Entre as plantas referidas encontram-se o alecrim, a alfazema, a salvia, o poejo, a erva cidreira, o absinto, a malva, a murta, a giesta, a esteva ou o rosmaninho.

Fernanda Delgado, professora na Escola Agrária de Castelo Branco, mencionou os incêndios e as plantas existentes nesta região “que nascem depois do fogo, deviam ser valorizadas, podendo significar um rendimento para as pessoas” como a giesta rica em azoto que poderia servir para enriquecer os solos se “em vez de queimadas as pessoas enterrassem” as plantas, obtendo um solo muito mais composto. Ou a esteva que só existe nos solos “não trabalhados pelo homem”.

Segundo a professora deveriam ser incluídas “manchas de plantas” aquando do Ordenamento do Território como a esteva, o potencial de utilização na indústria de perfumes. “É muito utilizada a sua goma para colar os aromas” e “um manancial de potencialidades”, referiu, sugerindo que se passe “à produção das plantas que possam ser geradoras de rendimento económico”. Como também o rosmaninho menor “apenas existente nesta região” do globo, disse.

Defende um outro olhar para as plantas num “século em que o saudável é muito importante” bem como “a valorização das nossas regiões”.

Missa solene presidida pelo Bispo de Portalegre e Castelo Branco, Antonino Dias

A missa solene presidida pelo Bispo de Portalegre e Castelo Branco, Antonino Dias, em conjunto com o padre Cristiano, numa Igreja Matriz cheia de fiéis, encerrou as celebrações oficiais. A festa com espetáculo de música e dança quinhentista continuou nos largos da Igreja.

 

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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