Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Jaime Marta Soares. Créditos: mediotejo.net

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses disse no domingo, em Gavião, que a Assembleia da República “é vesga” em relação aos Bombeiros Portugueses. Numa chuva de críticas, Jaime Marta Soares dirigia-se aos dois deputados da Nação, o socialista Luís Testa e o social democrata Cristóvão Crespo, presentes nas comemorações do Dia Distrital do Bombeiro 2019. Também do presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Portalegre as palavras não foram mais suaves. Francisco Louro, distinguido durante a cerimónia com o Crachá de Cidadania e Mérito, deu ainda conta do seu último ato como comandante dos bombeiros de Gavião: no dia 1 de junho entra para o Quadro de Honra.

O presidente da Liga dos Bombeiros acusou, este domingo 19 de maio, a Assembleia da República de “ser vesga em relação aos Bombeiros Portugueses”, dizendo que os deputados “nunca fizeram nada para os defender”.

Jaime Marta Soares, que falava durante a cerimónia oficial de comemoração do Dia Distrital do Bombeiro 2019, no concelho de Gavião, dirigiu-se aos dois deputados da Nação presentes, eleitos pelo círculo de Portalegre, Luís Testa do Partido Socialista e Cristóvão Crespo do Partido Social Democrata, lamentando que nenhum grupo parlamentar avance com propostas de lei que defendam os bombeiros.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Créditos: mediotejo.net

A Assembleia da República “só fala nos bombeiros em termos de questões de polémica política, e os bombeiros não querem nem se metem nisso. Querem é que falem dos bombeiros procurando fazer projetos e desenvolver projetos que ajudem os bombeiros portugueses. Ainda não vi um!”, afirmou, pedindo “ajuda” aos deputados.

“Criaram um observatório e esse permitiu a criação de uma AGIF [Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais] e permitiu a criação de um conjunto de situações envolventes quer na área das florestas como das universidade, permitindo a criação de lobbies sectários para onde são transferidos milhões e milhões de euros que efetivamente fazem falta aos bombeiros portugueses, as associações humanitárias”, censurou.

Numa chuva de críticas, que também atingiu o secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, por não comparecer e ter-se feito representar em Gavião pelo diretor nacional dos Bombeiros Portugueses, Pedro Lopes, o presidente da Liga lembrou tempos difíceis aquando da discussão da Lei Orgânica da Autoridade Nacional de Proteção Civil agora Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Créditos: mediotejo.net

“Era um atentado à nossa própria dignidade e ao papel que têm os bombeiros portugueses […] uma reforma que tem de entender que a razão de existência da ANEPC está na razão da existência dos bombeiros”, disse, sublinhando que a lei “está muito aquém daquilo que desejamos mas muito melhor que a anterior”.

Jaime Marta Soares referiu ainda a diretiva financeira, a lei do financiamento afirmando que “os bombeiros portuguesas não são ressarcidos minimamente do trabalho que prestam à comunidade portuguesa”.

Contudo, o caminho faz-se através da “negociação”, com a Liga a deixar o compromisso de “continuar a lutar” por uma legislação que dignifique os bombeiros portugueses, nomeadamente avançar para outras reformas como o estatuto social do bombeiro e “agir”. Para tal Jaime Marta Soares pediu unidade. “Temos de ser solidários para fora e para dentro” frisou.

Por seu lado, o presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Portalegre, Francisco Louro, começou por enaltecer o trabalho daqueles que “de dia e de noite arriscam a sua vida” na defesa de pessoas e bens e declarou que “estes homens e mulheres” estão sujeitos “à crítica mal intencionada e por maledicência dos muitos treinadores de bancada que se gostam de fazer ouvir na comunicação social, inclusive alguns académicos, pronunciam-se pela teoria fácil sem terem a noção da realidade quando nunca estiveram no terreno e nem sequer sabem o que é estar na frente de fogo”.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Francisco Louro. Créditos: mediotejo.net

Lembrou que os bombeiros portugueses “têm o saber e sabem combater o fogo mas também são humanos, pessoas que por vezes por revolta própria se sentem impotentes para enfrentar tal violência” situação “que é aproveitada por esses treinadores para se promoverem e denegrirem a imagem dos bombeiros que são voluntários de dedicação mas profissionais na intervenção”, disse, notando serem os bombeiros “o verdadeiro braço armado da Proteção Civil em Portugal”.

Francisco Louro indicou que no final do ano “vão abrir concursos” e espera por uma alteração à lei para que “não ponha entraves aos competentes, aos dedicados, aos líderes que não têm seis anos de elemento de comando”, considerando a atual lei “injusta” porque “os bombeiros querem continuar a lidar com os seus e não com outros que caem de paraquedas na Autoridade Nacional de Proteção Civil”.

Após 48 anos como bombeiro, Francisco Louro deu conta que aquele seria “o último ato como comandante dos bombeiros de Gavião, tendo pedido a passagem ao Quadro de Honra”, o que acontecerá a 1 de junho, tendo já sido nomeado como comandante interino o segundo comandante Fernando Delgado, segundo explicou o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Gavião, José Pio.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Pedro Lopes. Créditos: mediotejo.net

A cerimónia comportou também uma homenagem póstuma ao antigo presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Portalegre, Simão Rebocho Velez e uma condecoração: Francisco Louro foi distinguido pela Liga dos Bombeiros Portugueses com o Crachá de Cidadania e Mérito.

Da parte do diretor nacional dos Bombeiros Portugueses, Pedro Lopes, em representação do secretário de Estado da Proteção Civil, ficou uma palavra de agradecimento e estimulo aos bombeiros, mas considerou o atual momento de “mudança”, que representa uma reforma no modelo de prevenção e combate aos incêndios rurais.

“Procura-se uma melhoria na eficiência da Proteção Civil e nas condições de proteção e socorro. Queremos adoção de medidas no âmbito da prevenção com sistemas de aviso e alerta precoce, criação de comunidades resistentes ao risco associadas à ocorrência de graves incêndios e a melhoria da resposta operacional por via do reforço das equipas de intervenção permanente, dos meios grupo de proteção e socorro, da força especial de bombeiros, da ANEPC e ainda do IPMA [Instituto Português do Mar e da Atmosfera]. Só com a colaboração e esforço de todos será possível levarmos a bom termo o difícil combate que com certeza se avizinha”, afirmou.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. Créditos: mediotejo.net

Reconhecendo que os Bombeiros Portugueses “continuam a ser a grande força musculada no sistema de proteção e socorro”, defendeu “mais apoio” para o cumprimento da sua missão.

Por último, nas intervenções durante a cerimónia oficial das comemorações do Dia Distrital do Bombeiro 2019 no distrito de Portalegre, o presidente da Câmara Municipal de Gavião, José Pio, lembrou que a autarquia “sempre investiu uma fatia substancial do orçamento municipal” nos bombeiros tendo Gavião uma Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários (desde o dia 1 de abril) “bem equipada, homens e mulheres bem treinados, e com boas instalações”.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. José Pio. Créditos: mediotejo.net

Apesar da passagem de Bombeiros Municipais a Voluntários José Pio garante “todas as condições para que seja uma Associação de referência no panorama distrital e mesmo nacional. A Câmara Municipal continuará a assumir todas as responsabilidades e a conjugar esforços para que nada falte aos nossos soldados da paz”, assegurou, fazendo votos para que “os bombeiros continuem a ser a espinha dorsal da Proteção Civil” do País.

“São o verdadeiro espírito de entrega e da mais profunda solidariedade com o nosso semelhante”, concluiu.

Dia Distrital do Bombeiro 2019, em Gavião. José Pio. Créditos: mediotejo.net

As comemorações do Dia Distrital do Bombeiro mereceram ainda um desfile envolvendo forças apeadas e motorizadas das corporações de bombeiros do distrito de Portalegre, permitindo aos bombeiros demonstrar as valências existentes no distrito bem como demonstrar à população a sua imagem de coesão, disciplina, organização e prontidão para as missões que lhe são legalmente atribuídas, na proteção de pessoas, bens e ambiente.

Existem atualmente em Portalegre 15 corporações: Bombeiros Voluntários de Castelo de Vide; Bombeiros Voluntários de Fronteira; Corpo de Bombeiros de Sousel; Corpo de Bombeiros do Distrito de Portalegre; Federação de Bombeiros do Distrito de Portalegre; Associação Humanitária de Bombeiros de Gavião; Corpo de Bombeiros de Elvas; Corpo de Bombeiros de Ponte de Sor; Corpo de Bombeiros de Campo Maior; Corpo de Bombeiros de Marvão; Corpos de Bombeiros de Avis; Corpo de Bombeiros de Arronches; Corpos de Bombeiros de Monforte; Corpos de Bombeiros de Alter do Chão; e Corpo de Bombeiros de Nisa.

Entre outras individualidades estiveram ainda presentes na cerimónia o comandante operacional distrital da ANEPC, Rui Conchinha; o comandante operacional nacional ANEPC, Brigadeiro general Duarte Costa; o primeiro secretário da mesa da assembleia geral da Federação, Mota Lourenço; e o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo, Ricardo Pinheiro.

O Dia Distrital do Bombeiro de Portalegre comemora-se há seis anos como forma de reconhecimento oficial dos corpos de bombeiros no contexto social, humanitário e de proteção civil da região e pretende homenagear as mulheres e homens que integram as 15 corporações de bombeiros do distrito.

VEJA AQUI O VÍDEO:

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *