Frutos e flores cantados por Camões animam Vila Poema nas XXV Pomonas Camonianas. Foto: Ricardo Escada/mediotejo.net

Constância tem com Camões uma muito antiga e arreigada relação de afeto, fundada na plurisecular tradição que o poeta terá vivido na vila durante algum tempo, e ali escrito parte da sua produção poética. Sobre as ruínas que o povo conta ter sido a casa que o acolheu foi erguida a Casa-Memória de Camões que visa perpetuar a memória do poeta em Constância.

Na vila evoca-se igualmente o épico, o monumento a Camões do mestre Lagoa Henriques e o Jardim Horto camoniano desenhado pelo arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles que apresenta a maior parte das plantas referidas por Camões na sua obra e é considerado uns dos mais singulares monumentos erguidos no mundo ao poeta.

As Pomonas Camonianas, a sua XXV edição, arracanram na quinta-feira, dia 9, e decorreram até sábado, dia 11, com um programa de três dias que incluiu história e cultura, a par de um mercado quinhentista, com um dos momentos altos a decorrer no dia 10 de junho, com a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e com a abertura oficial do evento.

A cerimónia oficial de abertura das XXV Pomonas Camonianas iniciou com a deposição de flores junto à estátua de Camões, o momento simbólico que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Constância, Sérgio Oliveira, e com a tesoureira da direção da Associação Casa-Memória de Camões, Manuela Arsénio.

Seguiram-se os discursos oficiais dos representantes das três entidades organizadoras, na margem do rio Zêzere, especificamente junto ao painel de Neptuno.

O presidente da Câmara de Constância, Sérgio Oliveira, começou por dizer que as Pomonas Camonianas reafirmam “a relação intima e estreita que a nossa terra mantém com o poeta maior do nosso país”. Como exemplo disso mesmo referiu o Jardim Horto, a Casa-Memória, o monumento de Lagoa Henriques e a Associação Casa-Memória de Camões.

Destacou o trabalho “conjunto” entre as três entidades que permite desenvolver um programa com música, dança, e a feira quinhentista “sem perder a matriz essencial desta iniciativa”, acrescentou.

As Pomonas são, por isso, exemplo da “possível organização da atividade por várias entidades” do concelho de Constância, frisou o autarca.

No dia de “todos nós”, e considerando “o povo” a “maior riqueza dos país”,Sérgio Oliveira disse ainda que “não podemos confundir critica política, com o amor pelo nosso país” porque “as pessoas passam mas as instituições ficam. Uma democracia constrói-se com todos, promovendo o sentimento de pertença”, e alertou para os “tempos exigentes” que se aproximam, apelando a um otimismo, embora moderado.

“Devemos enfrentar o quadro nacional e internacional com otimismo”, disse, tendo defendido que “a proximidade às populações é fundamental. Não podemos ter decisões de gabinete”. Para Sério Oliveira, “uma terra rica em cultura é também fundamental para o nosso grande desafio: fixar pessoas”.

Sérgio Oliveira, presidente CM Constância. Foto: Ricardo Escada/mediotejo.net

ÁUDIO | SÉRGIO OLIVEIRA, PRESIDENTE CM CONSTÂNCIA:

Presidente da Câmara Municipal de Constância, Sérgio Oliveira

Em 1994 a presidente da Associação Casa-Memória de Camões, Manuela de Azevedo, apresentou à Câmara Municipal a ideia que estaria na origem da realização das Pomonas Camonianas: promover pelo 10 de Junho, Dia de Camões, um mercado quinhentista de flores e de frutos referidos pelo poeta na sua obra, tal como o Jardim-Horto apresenta muitas das plantas que Camões menciona nos seus versos.

A atividade teve por inspiradora Pomona, a divindade romana dos pomares e dos jardins, que Camões também cantou.

Por seu lado, Máximo Ferreira, presidente da Casa-Memória de Camões ,notou que “a saída de uma crise sanitária” permite “uma sã convivência, momentos de partilha com a história e com a cultura”.

Sobre a relação de Camões com esta região, de Tomar a Constância ,“admite-se” porque “antecessores dele teriam sido proprietários de vastas terras das proximidades”, ou seja, “um lugar destinado ao lugar de exílio do nosso poeta”.

A Casa-Memória de Camões em Constância surge para QUE “permanentemente honre o poeta nacional” referindo que no concelho “crianças e jovens, pais e avós se envolvem-se em evocações históricas, refletindo sobre o passado e a forma como ele mudou o nosso presente, dando possibilidades de no futuro sermos melhores cidadãos, mais felizes e solidários com os outros”, concluiu.

Máximo Ferreira, presidente da Casa-Memória de Camões. Foto: Ricardo Escada/mediotejo.net

ÁUDIO | MÁXIMO FERREIRA, PRESIDENTE ASSOCIAÇÃO CASA MEMÓRIA CAMÕES:

Máximo Ferreira, presidente da Casa-Memória de Camões

No seu discurso durante a cerimónia, a diretora do Agrupamento de Escolas de Constância, Olga Antunes, manifestou-se “orgulhosa” pelos quadros vivos que na quinta-feira à noite animaram as ruas da vila.

Sublinhou que a tradição continua em Constância. “Camões viveu aqui e continua aqui a ser festejado e lembrado. Desde o pré-escolar, as crianças e alunos falam do nosso maior com a simplicidade, mas ao mesmo tempo com a responsabilidade de partilhar com o público a grandiosa obra poética, de um poeta que aqui viveu e que nos deixou”.

Olga Antunes vincou que “todos conhecemos eventos medievais, quinhentistas, mas nenhum com o empenho como o destes alunos e desta escola. Vale a pena falar de Camões, vale a pena estudar em Constância”.

Olga Antunes, diretora do Agrupamento de Escolas de Constância. Foto: Ricardo Escada/mediotejo.net

ÁUDIO | OLGA ANTUNES, DIRETORA AGRUPAMENTO ESCOLAS DE CONSTÂNCIA:

Olga Antunes, diretora do Agrupamento de Escolas de Constância

Em pleno Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a Avenida das Forças Armadas recebeu a habitual Feira de Antiguidades e Velharias e o Jardim-Horto de Camões esteve aberto ao público para assinalar a data.

A comunidade escolar, e não só, voltou a marcar presença no Mercado Quinhentista com a venda de hidromel, fruta – cerejas, pêssegos, maçãs, damascos, laranjas e peras -, flores – hortênsias, manjerico, alfazema, petúnias, tagetes e cravina -, brinquedos de época fabricados em madeira, tiaras de flores, vinho, frutos secos, mel e doces.

Como os de Joana que se foca nos modernos cake-pops “pequeninos bolos tradicionais, bolos de caramelo, de cenoura, de chocolate. Utilizámos muito fruta como o poeta refere nos seus poemas”, explicou.

É a primeira vez que Joana participa no Mercado com os seus produtos embora participe nas Pomonas desde o 5º ano de escolaridade. “A primeira vez como bobo, a cuspir fogo e tudo, a segunda vez a vender fruta de outras pessoas e também já me vesti de realeza”, recorda.

Para a jovem “é uma atividade muito engraçada. As pessoas gostam muito de ver, não só os fatos antigos mas mesmo o sentido de comunidade é muito engraçado”.

Outra banca curiosa nesta feira é a Mesa Pedagógica pela ‘Ordo In Armae’ onde se pode observar Sérgio a retificar uma cota de malha de um cavaleiro, embora também faça cotas de malha novas.

Pomonas Camonianas regressaram a Constância após dois anos de pandemia. Foto: Ricardo Escada/mediotejo.net

Rafaela Santos explica tratar-se de um grupo de esgrima cénica e recriação histórica, de Caldas da Rainha, que percorre todo o país. Apresentam três mesas pedagógicas: militar de mostra de armas, de fabrico de cota de malha e de medicina e tratamentos.

“Naquela época uma mulher não podia ser médica, seria até perseguida pela inquisição se fosse curandeira, mas no século XIV já haviam boticárias”, garante.

Na mesa encontramos as ervas utilizadas para tratamentos, como a alfazema, o alecrim, o cravinho, o louro, o orégão e a especiaria canela. E também uma alquitarra, uma espécie de alambique que servia para a extração dos óleos essenciais.

As Pomonas encerraram no sábado à noite com a peça de teatro “A Comédia da Marmita”, pelo Fatias de Cá, acompanhados pela Deusa do Caminho, um dos destaques do presidente da Câmara, Sérgio Oliveira, em declarações ao nosso jornal, que acabou por expressar um “sentimento de felicidade. Todos nós ambicionávamos voltar a esta normalidade”, disse, referindo-se também às Festas da Boa Viagem, durante a Páscoa, como “muito boas”.

As Pomonas “não é mais do que reafirmar a ligação íntima que Constância tem a este vulto maior da nossa língua” que é Luís Vaz de Camões.

Sérgio Oliveira vestiu-se a rigor à semelhança dos alunos e professores do Agrupamento de Escolas. Por tal justifica que “o presidente o exemplo para os cidadãos. Se pede à comunidade educativa e a toda a população que participe nas iniciativas, que se traje a rigor. O presidente deve estar na linha da frente”.

*Fotos: Ricardo Escada/mediotejo.net

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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