Arlindo Homem. Foto: mediotejo.net

As fotografias de Arlindo Homem já correram mundo e o fotógrafo das Limeiras (Barquinha) acaba de obter mais um reconhecimento de vulto ao conquistar a 1ª edição do Concurso de Fotografia “Património Mundial em Portugal”, da Comissão Nacional da UNESCO. A sua fotografia da Biblioteca do Palácio Nacional da Mafra foi considerada a melhor de entre as centenas de participantes no concurso.

Reconhecido, Arlindo Homem diz que a sua melhor fotografia é “aquela que eu vou tentar fazer amanhã ou depois”, sempre numa ótica de aprendizagem, de “dar e receber”, e percorrendo um caminho que “se faz caminhando”.

No âmbito do 1º Concurso de Fotografia “Património Mundial em Portugal”, promovido pela Rede do Património Mundial de Portugal e que decorreu de 28 de abril a 30 de setembro, o júri distinguiu três fotografias, tendo atribuído o 1º lugar a Arlindo Homem, com uma fotografia da Biblioteca do Palácio Nacional da Mafra, e duas menções honrosas, uma a João Oliveira, intitulada ‘Douro de ouro – Alto Douro Vinhateiro’ e uma outra a António Tedim, com a foto ‘A escada – Convento de Cristo em Tomar’.

Neste concurso da Comissão Nacional da UNESCO foram recebidas 698 fotografias, das quais 244 cumpriram os critérios estipulados pelo regulamento. O júri apreciou as fotografias elegíveis de acordo com os seguintes critérios: enquadramento na temática do concurso; originalidade da abordagem ao tema; qualidade técnica da fotografia e valor estético da fotografia.

“Caros amigos, é com grande orgulho que recebi a notícia que a minha foto tinha sido a vencedora da 1ª edição do Concurso de Fotografia “Património Mundial em Portugal” promovido pela Rede do Património Mundial de Portugal, que decorreu de 28 de abril a 30 de setembro de 2023”. Foi assim, de forma simples e humilde, que Arlindo Homem deu a conhecer um importante reconhecimento público do seu trabalho enquanto fotógrafo.

As fotografias de Arlindo Homem já correram mundo e algumas abrandaram o passo na região para serem conhecidas de perto na exposição “Futebol, Fátima, Fado e… Facebook”, inaugurada em 2018 na Galeria Arte Graça e que esteve no ano seguinte no Espaço Memória Payo Pelle (antiga escola primária da Praia do Ribatejo). São mais de 20 imagens que juntam diversos “Fs”, reunidas pelo comissário João Nuno Reis com a essência do grande F da vida de quem consegue parar o tempo: a Fotografia.

No entanto, estes não são os únicos. A eles junta-se o de uma Filosofia de vida marcada por pela visão humana e humilde do que o rodeia, o amor pela terra natal (em especial na altura das festas), a beleza dos momentos, a pureza da partilha e uma aprendizagem constante. Pormenores que as fotografias não revelam e que descobrimos na conversa, enquanto a exposição esteve patente na Praia do Ribatejo, com o fotógrafo das Limeiras em que se destaca outro “F”, o de Felicidade pelo que faz.

Arlindo Homem. Foto: Sónia Leitão/mediotejo.net

Depois da inauguração em Lisboa durante a qual Luísa Amaro, antiga companheira de Carlos Paredes, dedilhou as cordas da guitarra portuguesa, as fotografias de Arlindo Homem já passaram por Vila de Rei, Oleiros, Sertã e Tomar. No futuro, é provável que o público se cruze com elas em Torres Novas, Ferreira do Zêzere, no Santuário de Fátima (Ourém) e Peniche. Confirmado está o local do encerramento, o Casino Estoril.

Ter o concelho onde nasceu, Vila Nova da Barquinha, neste itinerário esteve sempre nos planos e Arlindo Homem sublinha o “carinho” com que foi recebido como um verdadeiro “filho da terra” por Benjamim Reis e Rita Inácio, da Junta de Freguesia da Praia do Ribatejo. Ambos estiveram connosco durante a manhã de domingo em que se falou das reportagens fotográficas que fixaram no tempo milhares de caras e lugares de eventos religiosos, desportivos, institucionais e culturais.

Olhando para o “álbum global” encontramos figuras mundialmente conhecidas e outras apenas identificadas por familiares e amigos em casamentos e batizados. Os últimos tiveram estreia na terra natal e até à data ultrapassaram a barreira dos 1000, entre os quais se destaca a fotografia impressa em grande formato que está numa das duas mesas preparadas com as publicações do fotógrafo que assume ter feito “o trabalho de casa” e selecionado alguns dos muitos trabalhos que já realizou.

Alguns dos trabalhos realizados ao longo da carreira. Foto: mediotejo.net

Junto da fotografia dos noivos com um carro vermelho em primeiro plano, que integrou a exposição de Joaquim Veríssimo na Biblioteca Nacional, estão outras publicações literárias. As mesas não chegam para a quantidade que anda de mãos dadas – tal como os noivos da imagem – com a qualidade. Pormenores que apenas alguns têm o dom de detetar e que, no caso de Arlindo Homem, tem sido partilhado com os leitores de jornais como o Expresso ou o Público ou enquanto fotógrafo oficial da Agência Ecclesia e da Direção Geral do Património Cultural.

Um olhar que fica apurado quando se conhece o lugar, refere, e se torna redobrado quando o espaço faz parte das primeiras imagens mentais, aquelas que a máquina não registou, mas o cérebro guarda para sempre. Entre elas estão as dos festejos anuais das Limeiras, que se realizam no primeiro fim-de-semana de agosto. Ganha-se “amor às coisas” do sítio onde se nasce e as festas eram dias de maior alegria, com “comidinha melhor”, peça de roupa a estrear no dia da procissão e as casas meticulosamente preparadas para receber visitas.

Os pais tiveram motivos extra de felicidade nestes festejos há 60 anos quando naquela segunda-feira, dia 6, Arlindo Homem nascia na maternidade da freguesia vizinha de Vila Nova da Barquinha. Os de outro ano seriam conhecidos, mais tarde, pelo Papa Francisco quando recebeu das mãos da comitiva portuguesa, no Vaticano, o livro comemorativo da sua vinda a Portugal com uma fotografia da procissão religiosa com as gentes da pequena aldeia onde cresceu e foi “feliz”.

Benjamim Reis, Rita inácio e Arlindo Homem no no Espaço Memória Payo Pelle. Foto: mediotejo.net

Um marco importante da carreira de Arlindo Homem, que assume a fotografia como um legado para as gerações futuras. As capas vermelhas ostentadas que se transmitem de ano para ano surgem na imagem da procissão de S. João Batista e de Nossa Senhora da Conceição na rua cheia de devoção até perder de vista. Rua essa à qual se juntam as outras das Limeiras. Por elas seguiu caminho para o Externato de Santa Bárbara, em Tancos, até ao 5º ano, e, mais tarde para Tomar no 6º e 7º anos.

Fez o sentido inverso vezes sem conta, até ao “centro do Universo”, como a sua amiga Rita Inácio descreve as Limeiras, e do qual destaca o “sítio fantástico” junto do depósito da água que merecia honras de miradouro, as galeotas no Cafuz e a foz do rio Nabão. Foi também por ali que fez os primeiros “clicks” da carreira inesperada, quando terminou o percurso académico que tinha a universidade como passo seguinte.

O pai, funcionário da Base Aérea n.º 3, em Tancos, pediu então ao “mestre Brogueira”, como lhe chama, para o jovem “ir para ao pé dele”. Mestre porque “foi ele quem me ensinou todos estes princípios da fotografia, todas estas coisas”, diz Arlindo Homem, reconhecendo o papel fundamental do primeiro “professor”, e que esteve presente na inauguração da exposição no Espaço Memória Payo Pelle, em 2019, embalada pelo fado de Rita Inácio.

Arlindo Homem com o mestre Brogueira e Fernando Freire na inauguração da exposição na Praia do Ribatejo. Foto: DR

Defensor de que a vida é uma aprendizagem constante, foram muitos os outros “professores” com os quais se foi cruzando desde aquela altura em que o “mestre Brogueira” lhe passou para as mãos a primeira máquina fotográfica e o desafiou a eternizar milésimos de segundo junto dos que lhe eram mais próximos. Surgiram os primeiros casamentos e batizados, acompanhados de outros momentos captados nos concelhos vizinhos.

Tudo registado nos rolos com “cento e tal metros” comprados pela BA3, que eram cortados e carregados nos “cartuchozinhos para dar 12, 24 ou 36 fotografias” e, mais tarde, revelados na câmara escura. Na altura, explica, “já havia cor, mas a estreia foi a preto e branco e se o “liceu” fotográfico foi feito na região, a “universidade” frequentou-se nas ruas da capital, onde os noivos continuaram a surgir regularmente perante a objetiva.

Um percurso que fez conhecer pessoas de todas as áreas. Contacto atrás de contacto, a “aventura”, como apelida a carreira profissional de fotógrafo, foi-se adensando desde o momento em que uma fotografia sua surgiu na capa da publicação comemorativa dos 75 anos das Aparições de Fátima: “a minha aventura nesta história começa com este livro”. A partir daí, acrescenta, “fui tentando sempre abrir o leque e ainda hoje tento porque não podemos estar parados, temos que evoluir”.

Trabalhos e exposição no Espaço Memória Payo Pelle. Foto: mediotejo.net

Os olhos brilham quando afirma “tem sido uma vida muito bonita” na qual a fotografia lhe serviu de passaporte em viagens até “lugares que eu jamais imaginaria”. E se pensarmos em passaporte, a coleção de carimbos inclui os desportivos nos jogos da Seleção Nacional de futebol e provas de outras modalidades, os religiosos nas fotografias da Irmã Lúcia e dos últimos três Papas, os institucionais no encontro de Marcelo Rebelo de Sousa e Angela Merkel ou na visita dos Reis de Espanha e musicais no espetáculo da “Severa” ou no Rock in Rio.

Alguns exemplos entre muitos outros que poderiam ser dados e cujas fotografias ganharam maior visibilidade com o surgimento do Facebook. É no livro das caras que ficaram registadas também as do Web Summit e das celebrações do 13 de Maio no Santuário de Fátima. Foi no último local que a máquina imortalizou a fotografia que considera mais emblemática da sua exposição na terra natal, depois da imagem das pombas brancas a esvoaçarem junto da imagem de Nossa Senhora de Fátima ter corrido mundo.

A áurea celestial que a torna única dá-nos o mote para perguntar o que distingue o olhar de um fotógrafo do dos comuns mortais e Arlindo Homem responde que “depende de pessoa para pessoa”, acrescentando que “muitas vezes, tem a ver com a nossa maneira de estar na vida”.

Quanto aos momentos, não nos revela qualquer segredo pois, para o fotógrafo das Limeiras “quando vou fotografar todos os momentos são especiais”.

Arlindo Homem. Foto: DR

A sua melhor fotografia, diz, é “aquela que eu vou tentar fazer amanhã ou depois”, sempre numa ótica de aprendizagem, de “dar e receber”, e percorrendo um caminho que “se faz caminhando”. A caminhada deste autodidata não tem sido solitária, antes pelo contrário. Privilegia as companhias na vida que quase lhe escapou há anos. Fala do episódio com a garra dos sobreviventes, reforçada quando diz que “temos de transmitir uma mensagem de luta, porque quando lutamos conseguimos”.

A serenidade com que conversa contrasta com a força da grande lição para o Futuro (outro F importante) que vai dando, ilustrada pelas suas fotografias, e na qual é destacada a importância das pequenas coisas. Os tais pormenores que apenas o fotógrafo vê e, no caso dele, foram registados nas últimas três décadas pelas mais de 20 máquinas que lhe passaram pelas mãos. A primeira oficial foi-lhe oferecida pelo irmão e, atualmente, tem cinco para lhe alimentar a paixão pelo que faz.

Paixão não, pois quando Arlindo Homem nos fala do seu dia-a-dia em que procura “mostrar a beleza” sorri quando diz “a fotografia, para mim, é amor. As paixões vão e vêm, o amor fica”. Fica o amor e as imagens, algumas delas partilhadas de seguida:

*c/Sónia Leitão

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *