O Médio-Tejo está inserido numa região onde a Floresta tem grande significado na ocupação do território.

A Floresta nesta região, tal como em grande parte do Pais, foi evoluindo para grandes manchas de monocultura de pinheiro e eucalipto, com um crescimento desordenado na sua maioria, ocupando cada vez com maior expressão os antigos terrenos agrícolas agora abandonados, sendo a floresta autóctone de Quercíneas (carvalhos, azinheiras, sobreiros e carrasco) sujeita a um declínio preocupante.

Nos tempos mais recentes a praga do nématodo tem desequilibrado a cultura do pinheiro em benefício relativo do eucalipto, que é a espécie que maior implantação tem conseguido não só através das plantações industriais, mas também de forma dispersa pela mão dos pequenos proprietários.

Associada a uma forte presença humana, a floresta, é conhecida sobretudo pelo drama dos incêndios que a assolam no Verão, com graves prejuízos para o património natural e para a economia da região, mas também para as suas populações, na sua segurança e bens materiais.

Os incêndios acarretam também problemas secundários graves como a erosão do solo durante a época de chuvas e a possibilidade de ocorrência de cheias em determinadas áreas de risco.

No atual quadro de alterações climáticas em curso a situação tende a complicar-se com ocorrências catastróficas em função de fenómenos meteorológicos extremos como as ondas de calor e as chuvas com carater torrencial.

Numa perspetiva mais abrangente temos de estar atentos para os resultados divulgados pelos nossos investigadores em que chamam a atenção para a subida média da temperatura e para uma diminuição dos valores de precipitação.

Estamos perante cenários cujo efeito cumulativo deve merecer uma especial atenção no âmbito da definição das políticas públicas, e dos instrumentos de gestão territorial e apoio financeiro que lhes conferem real expressão no território.

Mais do que lamentar com base na análise dos factos com que estamos a ser confrontados, a situação exige respostas das entidades responsáveis e talvez um avaliar dos resultados de algumas medidas de política que nos últimos anos alteraram de forma incompreensível a gestão florestal. São disso exemplo: a suspensão do Plano Regional de Ordenamento Florestal do Ribatejo; a fragilização da organização dos serviços técnicos com base numa reestruturação ineficaz; o regime jurídico de arborização e rearborização; as opções de financiamento no âmbito dos fundos europeus para o desenvolvimento.

Estamos em tempo de avaliar e agir com a rapidez necessária.

Tal como alertava Al Gore na sua ‘Verdade Inconveniente’: “estamos quase a passar para lá da fase em que é possível remediar a situação, brevemente entraremos na fase das consequências.”

José Manuel Pereira Alho
Nasceu em 1961 em Ourém onde reside.
Biólogo, desempenhou até janeiro de 2016 as funções de Adjunto da Presidente da Câmara Municipal de Abrantes. Foi nomeado a 22 de janeiro de 2016 como vogal do Conselho de Administração da Fundação INATEL.
Preside à Assembleia Geral do Centro de Ciência Viva do Alviela.
Exerceu cargos de Diretor do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, Coordenador da Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, Coordenador do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, Diretor-Adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste, Diretor Regional das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo na Autoridade Florestal Nacional e Presidente do IPAMB – Instituto de Promoção Ambiental.
Manteve atividade profissional como professor convidado na ESTG, no Instituto Politécnico de Leiria e no Instituto Politécnico de Tomar a par com a actividade de Formador.
Membro da Ordem dos Biólogos onde desempenhou cargos na Direcção Nacional e no Conselho Profissional e Deontológico, também integra a Sociedade de Ética Ambiental.
Participa com regularidade em Conferências e Palestras como orador convidado, tem sido membro de diversas comissões e grupos de trabalho de foro consultivo ou de acompanhamento na área governamental e tem mantido alguma actividade editorial na temática do Ambiente.
Foi ativista e dirigente da Quercus tendo sido Presidente do Núcleo Regional da Estremadura e Ribatejo e Vice-Presidente da Direcção Nacional.
Presidiu à Direção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza.
Foi membro da Comissão Regional de Turismo do Ribatejo e do Conselho de Administração da ADIRN.
Desempenhou funções autárquicas como membro da Assembleia Municipal de Ourém, Vereador e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ourém, Presidente do Conselho de Administração da Ambiourem, Centro de Negócios de Ourém e Ouremviva.
É cronista regular no jornal digital mediotejo.net.

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