“Quem é Serpina?”, perguntam. Serpina é a personagem da ópera bufa (cómica) “La Serva Padrona” que encantou o público do Cine-Teatro Ivone Silva esta quinta-feira, dia 04, em Ferreira do Zêzere, durante o espetáculo integrado no festival ZêzereArts. O nome significa “pequena serpente” em italiano e ao assistirmos à peça criada por Pergolesi no início do século XVIII descobrimos porque razão a criada é considerada “tão sinuosa como as curvas do Tramagal”.

Serpina é uma jovem a quem ninguém atribui 283 anos. Sim, 283 anos começados a contar na estreia de “La Serva Padrona” em Nápoles, inicialmente apresentada como dois intermezzi (interlúdios) da ópera seria “Il Prigionier Superbo”. O seu compositor, Giovanni Battista Pergolesi, viria a morrer três anos depois, aos 26, e não precisou que fosse aos 27 para se tornar um mito pois a história que retrata o triunfo da astúcia do povo sobre a sovinice da burguesia passou de “animação” entre atos a um ícone da ópera bufa (cómica) italiana.

Quase três séculos depois, o festival ZêzereArts incluiu a peça no programa iniciado a 19 de julho e transformou o Cine-Teatro Ivone Silva no “Ninho de Serpina”, bar com o nome da nova dona onde não faltaram as mesas de café. Alguns elementos do público foram convidados a ocupar estes lugares privilegiados e foi daí que assistiram à ópera com a soprano Iria Perestrelo (Serpina), o barítono José Corvelo (Uberto) e o ator F. Pedro Oliveira (Vespone).

O palco do Cine-Teatro Ivone Silva foi transformado no "Ninho de Serpina". Foto: mediotejo.net
O palco do Cine-Teatro Ivone Silva foi transformado no “Ninho de Serpina”. Foto: mediotejo.net

Numa das mesas estava também Jorge Alves, elemento da “Banda de Serpina” composta por Eliot Lawson (violino), Luís Pacheco Cunha (violino), Paul Wakabayashi (música de câmara), Catherine Strynkx (violoncelo) e Adriano Aguiar (contrabaixo). Brian MacKay, o diretor artístico do ZêzereArts, “convenceu-o” a pegar na violeta e a juntar-se aos restantes músicos que foi dirigindo sentado ao piano durante os 45 minutos de “La Serva Padrona”.

Tempo suficiente para testemunhar a criada subir na vida ludibriando o patrão e revelar ser “tão sinuosa como as curvas do Tramagal”. As palavras são de Vespone, o empregado mudo que “perde a voz” minutos depois de contar a trama: Uberto, o patrão avarento, pede para lhe encontrar uma esposa e se livrar de Serpina, a criada insolente. Sobre esta ficamos a saber que é perigosa como uma pequena serpente, mas ajuda-a fazendo-se passar pelo Capitão Tempesta, um futuro marido inventado, que exige a Uberto o pagamento de um dote avultado. Caso contrário, o patrão é obrigado a desposar a criada.

Iria Perestrelo e José Corvelo interpretaram Serpina e Uberto. Foto: mediotejo.net
Iria Perestrelo e José Corvelo interpretaram Serpina e Uberto. Foto: mediotejo.net

No final, Uberto decide casar com Serpina por amor ao dinheiro e… a ela. Se o sentimento é correspondido não sabemos. Apenas confirmamos que a criada se torna patroa no final do espetáculo encenado por Roberto Recchia durante as duas semanas em que o ZêzereArts passou por Tomar, Vila Nova da Barquinha, Batalha e Ferreira do Zêzere.

O festival termina no último concelho a 10 de agosto, não no “Ninho de Serpina” mas no Hotel Casa do Adro, durante um jantar de gala que terá Rossini como prato principal.

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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