A realizadora Sofia Teixeira-Gomes com as atrizes Margarida Carpinteiro e Natalina José, nas gravações do telefilme "As Vizinhas" Créditos: RTP

Inspirado num dos contos do livro “Prantos, amores e outros desvarios”, de Teolinda Gersão, o telefilme “As Vizinhas” foi gravado em diversos locais do concelho de Ferreira do Zêzere, entre os dias 28 de junho e 13 de julho. No elenco constam os nomes de Margarida Carpinteiro, Natalina José, Joana Seixas, Catarina Rebelo, Beatriz Frazão, Sofia Espírito Santo, Madalena Aragão, Inês Fouto, Miguel Amorim, Lucas Dutra, Lourenço Mimoso e Gustavo Alves.

É em Avecasta que moram “As Vizinhas” (Maria João e Maria José, dupla de amigas interpretadas pelas atrizes Margarida Carpinteiro e Natalina José), mas as cenas vão igualmente mostrar outros locais de Ferreira do Zêzere, como o moinho e as grutas de Avecasta, locais das freguesia de Dornes e Beco, a zona da barragem e do rio, e também o Açude do Pego, local com uma paisagem lindíssima, tal como o define a realizadora Sofia Teixeira-Gomes.

A responsável pela realização desta película, quando soube por parte da produtora que iria filmar naquela zona, combinou logo com o marido (o diretor de fotografia) passar um fim de semana em Avecasta. E foi assim que Sofia se “apaixonou” por aquele que é, diz, “um lugar mesmo especial”.

“O moinho, a gruta, as casas, as pedras. As pessoas… as pessoas são muito amorosas, generosas, e têm muitas histórias para contar, das lendas locais, das civilizações que por aqui já passaram. Avecasta ficou no meu coração, é muito lindo”, disse Sofia Teixeira-Gomes ao mediotejo.net.

Toda a equipa elogiou a pacatez do local das filmagens e a simpatia com que foram recebidos pela população de Ferreira do Zêzere. Créditos: RTP

Avecasta e a região enquadraram-se para a realização deste telefilme, uma vez que esta é uma história rural, sobre um regresso às raízes, algo que “esta zona nos dá”, garante a realizadora.

Nesta história, as protagonistas tinham o sonho de ir para Lisboa, nos anos 60. Somente uma delas leva adiante esse sonho, mas logo depois quer retornar quando se apercebe que na verdade Lisboa não era o que ela achava que ia ser, e que era na sua aldeia e com a sua amiga que estava bem.

“Há muito essa narrativa do voltar às raízes, à aldeia onde se nasceu e onde está uma amizade que é insubstituível. É também um telefilme sobre a importância da família e de uma vida mais fraternal, menos individualista e mais em comunidade”, adianta Sofia Teixeira-Gomes.

A atriz Joana Seixas é responsável por interpretar uma das personagens do telefilme. Alfredo Faya | Ukbar Filmes

Também Joana Seixas, uma das atrizes do elenco, considera que o telefilme salienta a ligação afetiva dos conterrâneos às suas raízes. “Neste caso, a personagem da minha mãe nunca chega a sair da terra, é uma pessoa da comunidade local, muito enraizada, com uma ligação muito próxima, muito ligada, e tem dificuldade em encarar a ideia de ir para fora”, diz Joana Seixas.

Já a sua personagem “vive em Coimbra, tem uma relação mais distante da terra, e por isso tem uma visão mais exterior”, embora acabe também por perceber que “é muito importante que a mãe não perca essas ligações, numa fase tão sensível como é o envelhecimento, e neste caso particular a Alzheimer, que é uma doença com características muito especiais. É muito importante ela manter a ligação às coisas que lhe trazem boas memórias”.

A atriz diz ainda que o enquadramento da região se faz igualmente pelas várias referências, como ao moinho, às grutas, ao cemitério e a várias outras coisas à volta de Avecasta.

Margarida Carpinteiro, no set das filmagens, em Ferreira do Zêzere. Créditos: RTP

Para Miguel Amorim, que entrou na recente série da Netflix, The One – filmada em Londres e Tenerife – a experiência de filmagem é muito diferente, pelo clima mais quente, as pessoas que são “diferentes”, e principalmente ao nível da arquitetura, que em Avecasta “não existe”, disse, divertido, o jovem ator ao mediotejo.net, ao falar daquela que foi para si uma experiência “muito agradável”.

Mesmo na questão do trabalho, considera positivo as gravações decorrerem num sítio calmo, como é aquela região de Ferreira do Zêzere. “É muito bom trabalhar fora de casa, parece que nos concentramos mais e conseguimos criar laços mais familiares com a equipa e esse ambiente é muito bom para trabalhar, pois até parece que não estamos a trabalhar, parece que estamos só a conviver e que somos todos uma família”, constatou a realizadora.

A jovem atriz Catarina Rebelo concorda com este ponto de vista, dizendo que a zona “tem uma energia diferente”.

“Nós sentimos isso, acolhemos essa energia, e tentamos usá-la, tentando que neste filme essa energia passe também para o ecrã e também para o público.”

Joana Seixas garante que é uma experiência “pacificadora”, e que “é ótimo podermos estar em regiões longe da confusão, com um lado da natureza ainda muito por explorar, para podermos estar mais em sintonia com ela”, algo em abundância em Avecasta e que “permite também ter um estado de espírito condizente com o ambiente”.

Sofia Teixeira-Gomes é a responsável pela realização do telefilme. Foto: mediotejo.net

A casa em Avecasta, que o mediotejo.net foi convidado a visitar para conhecer alguns dos atores do telefilme, é uma segunda residência de João Carlos e Maria Emília. Compraram e restauraram a casa que pertencia a um familiar por afinidade, já lá vão mais de 20 anos, e desde então consideram aquele o seu “cantinho”.

Quando contactados pelo presidente da junta da União das Freguesias de Areias e Pias – uma vez que a produção andava à procura de uma casa com aquelas características para as gravações – João Carlos e Maria Emília logo aceitaram o desafio pois acharam que era “muito interessante e uma oportunidade de divulgar a região e a aldeia” de Avecasta.

“Tudo o que seja divulgar a região, que atraia pessoas e movimento, é muito importante, tanto do ponto de vista económico como cultural para qualquer região, e este tipo de localidades um pouco ‘perdidas’ no meio do nada só têm a ganhar com esta divulgação”, disse Maria Emília.

As gravações em Ferreira do Zêzere terminaram a 13 de julho e o telefilme deverá ser transmitido na RTP no último trimestre do ano. Créditos: RTP

A equipa de filmagens, assim como o elenco, ficou hospedada na região, no Centro de Férias e Formação do Sindicato de Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), na localidade do Beco.

Ali “temos tudo, matraquilhos, ping pong, snooker, estamos muito à vontade e toda a gente se dá bem”, disse Miguel Amorim. Catarina Rebelo acrescenta que “todas as pessoas têm sido muito acolhedoras, são sempre muito prestáveis, e dizem as coisas e informações com bom coração”, além de que a comida não fica atrás: “é deliciosa, é mesmo aquela comida caseirinha que aconchega o coração e a alma”, disse a jovem atriz.

“As Vizinhas”, insere-se no projeto “Contado por Mulheres”, uma parceria entre a Ukbar Filmes e a RTP1, em coprodução com a Krakow Film Klaster (Polónia), onde dez telefilmes, todos produzidos por mulheres, serão posteriormente exibidos na RTP1, em horário nobre.

O telefilme gravado em terras ferreirenses deverá ser dado a conhecer ao público no último trimestre de 2021. “As Vizinhas”, que conta a história de Maria João e Maria José, que se preparam finalmente para recuperar a sua amizade quando a família da primeira decide interná-la num lar para a terceira idade é inspirada num dos contos do livro “Prantos, amores e outros desvarios”, de Teolinda Gersão, e conta com argumento adaptado por Ana Brito e Cunha, Mário Cunha e Valéria Carvalho.

Todos os dez telefilmes são inspirados em livros e realizados na região Centro onde foi encontrada “a diversidade histórica, cultural e paisagística que os telefilmes precisam”, como se pode ler no documento de apresentação do projeto.

Corta! Dez telefilmes, todos realizados por mulheres. Ação!

O “Contado por Mulheres”, projeto de produção de dez telefilmes todos realizados por mulheres de diferentes gerações, é descrito na sua apresentação como “um programa audiovisual inédito de empowerment que permitirá fazer chegar dez talentosas profissionais ao mercado nacional e internacional, corrigindo um profundo desequilíbrio no mercado português e seguindo a tendência europeia”. O objetivo, tal como está explícito na mesma apresentação é “enriquecer o mercado com obras audiovisuais dinâmicas” e igualmente “colmatar uma assimetria no acesso das mulheres realizadoras ao meio audiovisual” naquela que é uma “ação inovadora e que constitui algo nunca feito em Portugal”.

Joana Seixas, com um vasto reportório de participações em telenovelas, acha que é “fundamental nesta fase e época em que vivemos que as oportunidades sejam claras e mesmo diferenciadas”, uma vez que historicamente “os filmes e séries têm uma tendência para serem contadas no masculino e com um elenco predominantemente masculino”, considerando que é preciso fazer “uma viragem de página e começar a contar as histórias com uma perspetiva e visão feminina, e também com elencos mais femininos”.

Sofia Teixeira-Gomes corrobora este ponto de vista, considerando que este tipo de iniciativas representam um aumento de “equidade e igualdade”, pelo que se sente muito grata pela confiança que viu ser depositada em si, na sua experiência e talento. A realizadora acha que “é muito importante que quem conta e narra a histórias que as pessoas vão ver e ouvir, pertença a diferentes classes sociais, géneros, e que consiga realmente narrar o mundo desde o seu lugar de fala”.

“É importante quem conta as histórias, porque quando contamos histórias estamos também a criar o futuro e a nossa sociedade, em conjunto”, disse a realizadora de “As Vizinhas”.

Rafael Ascensão

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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