O bispo de Leiria-Fátima evocou Sophia de Mello Breyner para explicar aos peregrinos de Fátima qual deve ser a atitude da igreja nos tempos de hoje. Foto: Agência ECCLESIA/PR

O bispo de Leiria-Fátima evocou Sophia de Mello Breyner para explicar aos peregrinos de Fátima qual deve ser a atitude da igreja nos tempos de hoje e que se resume a encarar os problemas de frente. “Vemos, ouvimos e lemos… não podemos ignorar”, citou José Ornelas, na homilia da celebração da palavra no Santuário de Fátima, acrescentando que “esta tem de ser também a atitude da Igreja, que invoca Maria como sua Mãe”.

“Como Igreja, temos de estar na linha da frente do estar atento, do proteger, da estar próximo a todas as fragilidades. Essa é a nossa missão, nascida e modelada pelo amor paterno/materno de Deus presente em Maria, Mãe e modelo do agir humano”, defendeu o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), perante uma assembleia de milhares de peregrinos presentes na noite de quarta-feira no santuário da Cova da Iria.

Segundo José Ornelas, “esta atitude tem de caracterizar particularmente este santuário de Fátima. Cuidar das fragilidades humanas, particularmente no início e no fim da vida, é continuar a solicitude de Maria para com os pastorinhos as vítimas da guerra, os pecadores”.

Sem nunca referir explicitamente a questão dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja Católica, o prelado foi perentório: “Hoje são tantas as situações que precisam desta atitude ativa de atenção e compromisso por uma terra sustentável na sua fragilidade. Particularmente as crianças e os mais jovens têm de ser motivo de um olhar atento”.

E continuou, no que foi lido como sendo uma justificação para a atitude da Igreja perante os casos de abuso: “É nesse sentido que todos nos esforçamos por mudar atitudes e procedimentos, na Igreja e na sociedade, a fim de que as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade, não sejam esquecidos ou, pior ainda, abusados e explorados”.

Mas, de acordo com o desejo de José Ornelas, “possam encontrar corações e atitudes maternas e fortes como as de Maria, que protejam, amparem e lutem, para que este mundo possa oferecer condições de justiça e de dignidade para todos”.

“Que este seja o fruto da nossa peregrinação a este santuário de Fátima e se traduza em gestos concretos de carinho e de enérgica transformação para um mundo melhor”, afirmou, ainda, o bispo de Leiria-Fátima.

Na ocasião, José Ornelas referiu também a “ternura materna de Maria”, que “está bem patente na espiritualidade de Fátima”.

“Aqui ela revela-se carinhosamente a três crianças pobres, sem escola, confusas pela devastação medonha da guerra e pelo grassar de uma pandemia que vitimou muitos milhões de pessoas”, disse o bispo, acrescentado que “a Mãe de Jesus traz-lhes força, carinho, esperança”.

Para o prelado, “esta atitude de Maria replica-se em cada mãe, ao longo da história, em cada família, em cada situação. Este é, concretamente, a atitude das mães ucranianas, muitas das quais se encontram no nosso país, para proteger as suas crianças”.

“Como dizia uma delas, ‘choramos de noite e sorrimos de dia, para dar força aos nossos filhos e filhas”, acrescentou, questionando “quantas outras mães, neste momento, vivem dramas semelhantes, em situações de guerra, de miséria, de penúria”?

“Muitas, como Maria, estão junto das cruzes em que morrem as suas crianças, pela fome, a miséria, os desastres, o terrorismo, a guerra, os abusos de menores”, sublinhou.

Horas antes, José Ornelas, em conferência de imprensa, considerara que os abusos sexuais na Igreja Católica são acontecimentos dramáticos que “não têm desculpa”, adiantando que qualquer “número é sempre demasiado” e uma derrota.

O bispo reconheceu que estes são “acontecimentos trágicos e dramáticos que não têm desculpa nem nunca deviam ter acontecido”.

“Mas, estamos num ponto, também nós, de viragem”, garantiu, assinalando que a constituição da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa “significa um esforço grande” que a instituição está a fazer, porque não se conforma com aquilo que sabe que, “infelizmente, existiu também na Igreja”.

José Ornelas está a presidir à última grande peregrinação do ano ao Santuário de Fátima, na qual participam 110 grupos organizados de fiéis de 26 países.

A peregrinação termina esta quinta-feira, com a missa internacional, seguida da tradicional procissão do Adeus.

Agência Lusa

Agência de Notícias de Portugal

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