“Isso é um absurdo!!!”, afirma uma lojista de Fátima, indignada. “Não tem lógica nenhuma… Ar!!! Tem que haver um limite!!!” O mediotejo.net visitou várias lojas de artigos religiosos da cidade de Fátima ao princípio da tarde desta quinta-feira, 30 de junho, e não encontrou à venda a pequena lata de três euros que vende “Ar abençoado de Fátima”, como hoje foi noticiado pelo Jornal de Notícias.
Ao que apurámos junto de alguns comerciantes, a empresa responsável pelo produto passou há alguns meses pela cidade com um catálogo, mas não obteve aceitação dos lojistas, que consideram o produto fora do limite aceitável para venda ao turista religioso.
Terços, imagens de vários santos e de variados materiais (de plástico a metais preciosos), pulseiras, canetas, porta-chaves, corta-unhas, garrafões/imagens/peixes de plástico para levar água de Fátima, ímans, imagens de Nossa Senhora que mudam de cor conforme a temperatura, relógios, quadros, almofadas, lembranças para “Tio”, “Sobrinho”, “Mãe”, etc, com a imagem de Nossa Senhora, canecas, pisa-papéis, terços que cheiram a rosas… Em Fátima vende-se de tudo, menos as latas de “ar abençoado” que uma empresa da Venda do Pinheiro anda a comercializar no país.

Em Fátima, ser comerciante de artigo religioso está hoje envolto num certo estigma. A par do julgamento moral pelo negócio feito à conta da religiosidade popular, há as múltiplas polémicas que já causou, nomeadamente com os artigos expostos nos passeios. Atualmente o cenário está mais composto e tende-se a evitar abusos, mas os comerciantes mostram receio, ninguém se deixa fotografar e poucos aceitam dar o nome ao seu testemunho.
O mediotejo.net falou com vários lojistas, a maioria de forma informal, tentando perceber como foi recebido o produto de ar enlatado e outros produtos sui generis que passam pela cidade.
Maria do Carmo pensava que a pequena lata com “ar abençoado” era apenas um rumor e que tal não existia. Na sua loja vende as ditas imagens que mudam de cor conforme a temperatura, água de Fátima e dezenas de pequenos artigos que fazem referência à cidade. “A lata não tenho”, refere, comentando que tem na sua loja à venda o Terço do Centenário, produto esse sim certificado com marca Fátima.

O mesmo cenário é-nos relatado por Emília Narciso, outra lojista, que desconhecia inclusive a existência do produto. Os turistas compram sobretudo terços, imagens e pulseiras com imagens de Fátima, mas tudo em ponto pequeno. Longe vai o tempo, reflete, em que se vendiam artigos caros e grandes, com as Nossas Senhoras que tem à venda na sua loja. “Quem compra mais é o espanhol e o português. Mas pouquinho”, explica.
O mediotejo.net passou por mais lojas, que confirmaram a passagem do vendedor do “ar abençoado”, mas preferem não dar a cara. Muitas polémicas já viveram, muitas entrevistas que depois deram mau resultado e má fama ao comércio. O julgamento moral do negócio do artigo religioso é o que mais ressente os comerciantes. Ainda assim, “ar enlatado” parece ter sido a gota de água. “É uma estupidez”, afirmaram vários vendedores. “Mesmo os clientes dizem que é um absurdo.”
A ideia não é de todo “peregrina”. Por diversas vezes, em várias partes do mundo, outros “empreendedores” já tiveram a mesma ideia, como poder ver nestas imagens…