Fotografia registada a 13 de outubro de 1917, dia do "milagre do sol", e então publicada no jornal "O Século".

Há 100 anos, num país em crise política, ainda a sofrer as dores de parto da República, a tentar sarar as feridas da I Guerra Mundial e chorar os mais de 60 mil mortos causados pela gripe espanhola (entre eles dois dos três pastorinhos), os jornais da época falavam ora com paixão ora com desdém de “umas aparições” em Fátima. A administração concelhia tentava calar os videntes e a Igreja Católica fazia por ignorar os relatos de fé, mas o povo fez da Cova da Iria o seu templo. Primeiro, organizando o espaço, construindo uma capela e começando a distribuir e a vender toda a espécie de artigos relacionados com Fátima; depois, encomendando uma imagem para venerar e apelando às entidades religiosas que legitimassem o fenómeno. Relembramos a importância de algumas figuras locais nos primeiros anos deste culto e que, depois de estabelecida uma narrativa oficial sobre os acontecimentos, foram caindo no esquecimento – mas sem elas, Fátima hoje provavelmente nem sequer existiria.
*Artigo originalmente publicado no centenário das Aparições, em 2017.

A casa de “Maria da Capelinha” ainda pode ser encontrada. É um terreno com uma edificação quase em estado de ruína, por trás da escola primária da Moita Redonda. Segundo nos informam os herdeiros, a estrutura encontra-se atualmente na posse de vários elementos da família e sem um destino concreto a oferecer-lhe. Há algumas décadas o Santuário de Fátima terá chegado a mostrar-se interessado no património, mas o negócio não se efetivou.

A sua relevância para a história de Fátima não é pequena. Quando a capelinha das Aparições foi dinamitada, em 1922, a escultura original de Nossa Senhora de Fátima – a mesma que ainda hoje é alvo de culto no Santuário – ficava ali guardada durante a noite. Só essa medida de zelo de Maria Carreira (1872-1949) salvou da destruição a imagem. 

A Capelinha das Aparições foi construída com donativos do povo, em 1919. Fotografia: Arquivo do Santuário de Fátima

Maria Carreira e o seu filho, conhecido por João da Capelinha, podem definir-se como os primeiros “funcionários” do Santuário de Fátima. Ela acabou por tornar-se zeladora da capelinha das Aparições, ele foi o primeiro sacristão. A família ficaria encarregue de recolher e entregar à diocese as esmolas que os peregrinos deixavam ao longo dos anos, vendendo também artigos religiosos numa loja anexa, que já não existe. Destes episódios narra a história, contada pela família ante várias dezenas de artigos de jornais e revistas que foram recolhendo ao longo dos anos, alguns inclusive de que se desconhece já a origem.

Um desse artigos terá sido escrito nos anos 40, da autoria de M de Freitas, e a família já não sabe bem como surgiu, embora as referências do texto deixem a entender que se trata de uma entrevista realizada pela revista “Stella”. Nele conta Maria Carreira que, vendo-se diagnosticada pelos médicos com pouco tempo de vida, decidiu acorrer à Aparição prometida por Nossa Senhora para alturas do Santo António, a do 13 de junho, tendo com ela levado o seu “aleijadinho”, o João.

Maria dos Santos Carreira, Maria da Capelinha, deu ao Santuário de Fátima uma capelinha, terrenos para edificar a Basílica, os primeiros funcionários da estrutura e até uma quarta vidente Foto: D.R./Fonte: Diário da Manhã

Refere o artigo, citando Maria Carreira:

“Desde que punha os pés neste sítio abençoado nem me doía nada, nem me nada sentia a minha doença. Olhe que logo passado êsse dia treze me pús a trabalhar em volta da azinheira, a tirar a pedra, a roçar mato, a cortar rente alguma coisa que não podia arrancar, que até trazia para isso um serrote de podar as oliveiras, e, a pouco e pouco, eu que não podia nada mas que aqui podia tudo, fiz assim a modos uma eira grande que ficou com a azinheira ao centro…”

Maria Carreira presenciou os acontecimentos da segunda Aparição e foi divulgando pela terra o sucedido – que tinha Lúcia dos Santos como principal protagonista, uma vez que era a única que interagia com Nossa Senhora – começando a acorrer com frequência à Cova da Iria com os filhos para rezar junto da azinheira e convivendo de perto com os três pastorinhos de Fátima. A Lúcia terá então pedido que interpelasse junto de Nossa Senhora para que curasse o filho, João, que tinha uma deficiência nas pernas.

Eu tinha pedido à Lúcia se ela mo deixava ficar ao pé de si no dia 13 de julho. E assim foi. O meu João sentou-se numa pedra mesmo à beira dos três e quando Nossa Senhora veio, vimo-lo assim a cair para a banda. Ainda diz que não sabe o que foi que o empeçou e que o fez tombar. Mas percebemos que a Senhora tinha abalado, fui das primeiras a perguntar a perguntar à Lúcia o que é que Ela tinha dito, mas nessa ocasião, sem me lembrar do meu aleijadinho. O que eu queria era saber das outras coisas… Mas a Lúcia vai logo assim: «Que rezem o têrço todos os dias e que ou o melhora ou lhe dá auxílios para êle se governar»”.

Com “Ti João”, como também ficou conhecido, para sempre ligado ao Santuário de Fátima, onde foi sacristão e também tesoureiro, Maria Carreira consideraria posteriormente a promessa cumprida, apesar deste ter permanecido deficiente motor. Continuou a ir com frequência à Cova da Iria, principalmente nos dia 13, limpando o espaço e enfeitando-o. De tanto por ali a verem, foi a ela que os peregrinos começaram a deixar as esmolas: primeiro 30 reis e frutas, depois uns castiçais e velas trazidos por uma família de longe no 13 de agosto.

Mas, quando chegou a notícia de que as crianças tinham sido presas, o dinheiro começou a chover numa mesita que eu lá tinha pôsto com flores e era tudo a pedir-me que tomasse conta no dinheiro que, com os encontrões que davam na mesa, estava em jeitos de ir ao chão e se perder.”

Pastorinha Jacinta Marto ao colo de um desconhecido aquando o milagre do sol, em outubro de 1917. FOTO: D.R.

Nessa manhã de agosto, em que os pastorinhos foram levados ao engano para casa do administrador do concelho de Ourém, ouviu-se um trovão na Cova da Iria quando a multidão reunida se apercebeu que as crianças não iriam aparecer para a quarta Aparição. Gerou-se então o pânico junto à azinheira, com pessoas aos gritos e a chorar.

O dia estava lindíssimo, assim como o ambiente em redor, recordava Maria da Capelinha em entrevista à “Stella”, e num estado de comoção geral as pessoas começaram a deixar cada vez mais dinheiro. No dia seguinte, a 14 de agosto, Maria e o marido foram a Aljustrel com a intenção de entregar o saco “pesadico – que era no tempo dos vinténs” aos pais dos pastorinhos, que o recusaram. A mesma resposta chegou do pároco, a quem repetidas vezes Maria Carreira viria a pedir que ficasse com o dinheiro.

“Vamos a ver no que isto dá!”, terá afirmado o sacerdote, confiando o dinheiro à paroquiana, mesmo quando surgiram pessoas que se disponibilizaram para ficar com o montante com o objetivo de fazer uma capela.

Eu já andava tão enfadada que mais não podia ser: a quem eu queria entregar o dinheiro não o queria receber e a quem o queria receber não o queria eu entregar. «Espere mais uns dias», disse-me duma vez o sr. Prior. Passados não sei quantos, mandou-me chamar e leu-me uma carta do sr. Cardeal Patriarca, onde dizia que estivesse o dinheiro bem guardado fôsse onde fôsse menos em pessoa da família dos videntes: não que êles não fôssem capazes, mas para que o mundo não tivesse que falar.”

Foto de Maria Carreira a rezar na capelinha junto à imagem de Nossa Senhora Foto: D.R.

A capelinha das Aparições acabaria por ser edificada entre 28 de abril e 15 de junho de 1919, tendo como encarregado da obra o marido de Maria Carreira, Manuel Carreira. Antes disso, a 6 de agosto de 1918, iniciou-se a construção de um “oratório”, segundo relata um outro artigo, referente a uma entrevista de 1954 ao bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, no “Diário da Manhã”. Numa carta ao bispo, o pároco dava conta que para a obra da desejada capelinha a zeladora das esmolas já reunira 357 mil réis em dinheiro e 40 litros de azeite.

O montante das esmolas acabaria por ser entregue ao bispo, responsável pelo início do processo canónico que resultaria depois no Santuário de Fátima. Maria Carreira e a família permaneceram ligados ao lugar, trabalhando esta e o filho João na recolha das esmolas, na venda de artigos e velas e na vigilância da capelinha, até morrerem.

O empreendedor torrejano: o legado polémico de Gilberto Fernandes dos Santos 

O Santuário de Fátima perdeu o rasto à família de Gilberto Fernandes dos Santos. Entre as fontes oficiais de Torres Novas e alguns contactos que empreendemos, pouco mais se sabe do que o facto de ter nascido em 1892 e ser natural do concelho. A dada altura mudou-se para Lisboa com a mulher e os filhos, tendo tentado a sua sorte num conjunto variado de negócios. Para a memória deixou um testemunho em livro, cuja edição de 1956 consultámos no arquivo do Santuário: “Os grandes fenómenos da Cova da Iria. A história da primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima”.

Gilberto Fernandes Santos encomendou em 1919 uma imagem da Nossa Senhora, escultura que chegou a Fátima a 13 de junho de 1920 Fotos: mediotejo.net/D.R.

Se Maria Carreira foi a primeira “funcionária” do Santuário de Fátima, Gilberto Fernandes Santos foi o primeiro grande comerciante da Cova da Iria. O empreendedorismo parecia ser resultado de um misto de real convicção no milagre preconizado pelos três pastores e olho para o negócio, não obstante não haja registo de ter feito particular fortuna com as suas incursões pela exploração comercial do fenómeno de Fátima. O pragmatismo fê-lo, no entanto, deixar um legado, apropriado rapidamente de forma menos ética – segundo afirmava –, pelos que se seguiram.

Na ausência de familiares a quem pudéssemos pedir testemunho, restam-nos as suas memórias, escritas mais de 30 anos depois dos acontecimentos. Afirmava então Gilberto Fernandes Santos que decidira empreender tal tarefa de redação para desmentir uma conjunto de boatos que corriam a seu respeito. Nomeadamente de que era “um ateu, anti-clerical, perseguidor da Igreja”, que foi a Fátima “com bombas explosivas nos bolsos para matar os pastorinhos”, e que “ao retirar as bombas explosivas dos bolsos estas se transformaram num rosário”, e que este “milagre” o convertera, e que por este motivo ele teria, então, oferecido a imagem para a capelinha. O torrejano nunca terá descoberto o inventor de tal “calúnia” que motivou esta narração das suas memórias.

Não desmente, porém, que fez campanha “pró-Fátima”, afirmando que as suas motivações se prenderam ao facto de acreditar profundamente nos acontecimentos. “Desde 13 de maio de 1920 (data em que ofereci a Imagem) até 23 de janeiro de 1923, fiz toda a minha propaganda pró-Fátima gratuitamente”.

À Capelinha das Aparições ofereceu o primeiro missal, afirma, “encadernado, dos melhores que encontrei à venda naquela altura”, e, em 1932, mandou fazer 10 mil postais em torno da fotografia da Imagem para serem vendidos a favor do Santuário de Fátima.

Antes de 1923, garante, nunca vendera artigos religiosos, nem pensava fazer disso vida. O seu espírito mudou quando começou a constatar o aproveitamento alheio da sua iniciativa. “Só na data acima mencionada – quase seis anos depois das Aparições – é que comecei a vender artigos religiosos: porque, um pouco antes daquela data, começaram a aparecer em Fátima e nos arredores da Cova da Iria vários comerciantes a venderem ao público algumas das estampas que eu distribuíra ‘grátis’, e ainda muitas outras estampas da autoria deles, também com a fotografia da Imagem. Começaram assim a desenvolver a venda de artigos religiosos, em Fátima e na Cova da Iria, o que deu origem a que eu, então, resolvesse parar com a minha distribuição gratuita”.

Na década que se seguiu, intentou a sua sorte também noutras áreas de negócio, avançava, como a fabricação de refrigerante vínico, sociedade e gerência na exploração de um café e de uma mercearia, entre outros pequenos empreendimentos, com os quais, afirma, só teve prejuízo. A dada altura resolveu por tal dedicar-se apenas à venda de artigos religiosos.

Gilberto Fernandes dos Santos vendeu ainda latas de água de Fátima e compôs o primeiro Avé à Virgem Foto: D’outro Tempo Exposição de 2017

Em busca de melhor condições de vida, fixou-se em 1939 em Lisboa, onde abriu uma loja de santos junto à Igreja paroquial de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (na Avenida de Berna).

Nas memórias de Gilberto Fernandes Santos encontram-se as suas impressões sobre as duas aparições que assistiu, em setembro e em outubro, quando tinha 25 anos, e as conversas que teve com Lúcia dos Santos, ainda adolescente, inclusive numa ocasião em que ficou em sua casa, e com Maria Carreira, que ficou encarregada de zelar pela Capelinha das Aparições. Na troca de palavras com esta última, observou que não fazia sentido haver na capelinha um nicho apenas com um crucifixo, sem uma imagem de Nossa Senhora, e comprometeu-se a comprar uma em Lisboa.

Só quando chegou à capital é que o torrejano se apercebeu que Nossas Senhoras havia, afinal, muitas… e ficou preso ao dilema de saber qual delas representaria melhor a aparecida em Fátima. Resolveu então questionar os pastorinhos sobre qual a imagem que mais se aproximava, contactando também com o Padre Formigão, que os interrogou, e encomendando depois a imagem à Casa Fânzares, de Braga. Uma imagem de madeira, de primeira qualidade, com um metro de altura e vários detalhes sobre as características indicadas pelos três pastorinhos terão ido nessa carta.

A escultura, da autoria de José Thedim, inspirada na imagem de Nossa Senhora da Lapa, venerada em Ponte de Lima, chega à então vila de Torres Novas na primeira semana de maio de 1920, com a intenção de ser entregue na Cova da Iria no dia 13. O plano não corre como previsto, uma vez que Gilberto Fernandes Santos é chamado à presença do administrador do concelho de Torres Novas, onde lhe é apresentada uma carta do Ministério do Interior a proibir a “procissão” que se previa entre Torres Novas e Fátima.

A imagem acabaria por apenas chegar à Cova da Iria a 13 de junho, depois de um mês na paróquia de Fátima.

O testemunho deixado pelo torrejano evidencia alguém com forte convicção nos acontecimentos de Fátima, que agiu sempre com o intuito de promover a acreditação dos mesmos e não tanto para benefício próprio, tendo porém acabado por retirar dos eventos o seu sustento. Um artigo publicado no jornal O Torrejano, da autoria de João Carlos Lopes, dá porém uma perspetiva mais materialista à narrativa.

Gilberto Fernandes dos Santos fez pagelas e santinhos, mas o que causou mais polémica foi o negócio da “água de Fátima” (que não menciona no livro), através de “chapas litografadas”, encomendadas possivelmente no Porto, que depois um latoeiro de Torres Novas chumbava, concluindo o objeto. “Foi um visionário”, expõe João Carlos Lopes, e “a venda que se faz atualmente de garrafinhas de ‘ar de Fátima’ deve muito à inovação de Gilberto, há quase cem anos, de imaginar e concretizar elegantes latinhas de água de Fátima, embora água fosse aquilo que de mais raro havia na altura naquele descampado inóspito da Cova da Iria, onde nem um poço se vislumbrava num raio de quilómetros”.

A fama das suas negociatas envolveu-o nas teorias de conspiração sobre Fátima. “Na tradição popular torrejana, Gilberto teria maquinado o ‘teatro das aparições’ com um espelho de guarda-vestidos, onde desenhou uma boneca e depois, com umas lanternas, ‘enganou os cachopos’. A má língua popular também inscreveu a teoria de que Gilberto até era inicialmente anarquista, e que esteve no primeiro grupo que colocou bombas na Cova da Iria. E que virou o bico ao prego das suas convicções só com a mira do negócio que anteviu antes de toda a gente.

Esta tese do “teatrinho” foi avançada por Tomás da Fonseca: os cachopos viram uma senhora, sim, mas não era senão a mulher do coronel Genipro, que ali andava em missão cartográfica – para além disto, dizia Tomás da Fonseca, os pastorinhos viram depois “o que a lanterna mágica projectava sobre a azinheira”.

Pagelas distribuídas na Cova da Iria a 13 de outubro de 1917 por Gilberto Fernandes dos Santos Fonte: Documentação Crítica de Fátima

“Gilberto Fernandes dos Santos, que em 1920 viu mais longe ao pensar que uma imagem de Nossa Senhora, com presença frequente na capelinha pobre e rudimentar, seria fundamental para dar colorido às romarias e alegrar os negócios que por ali já floresciam, raramente é lembrado com o devido destaque pela historiografia oficial de Fátima”, conclui.

O facto é que no Santuário de Fátima a personagem é reconhecida, encontrando-se as suas cartas à Casa Fânzeres expostas na exposição “Vestida de Branco“, que celebra até 15 de outubro de 2020 o centenário da escultura que este torrejano tanto se esforçou por comprar. O seu livro encontra-se no arquivo do Santuário e pode ser consultado mediante requisição.

Mas a instituição admite que perdeu o rasto à família, permanecendo desconhecido o paradeiro de uma imagem em miniatura que Gilberto Fernandes dos Santos mandou fazer para si próprio, ao mesmo tempo que a escultura principal.

“É um devoto da primeira hora de Fátima”, frisa Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima e do Departamento de Estudos, destacando que este se tornou um difusor do culto de Fátima através de gestos concretos, obrigando inclusive a Igreja Católica a tomar decisões. Foi ele o criador, por exemplo, do primeiro “Avé de Fátima”. “É um homem altamente empenhado” e deixou a primeira marca laical na institucionalização de Fátima, frisou.

Uma escultura com 100 anos de história

A estátua que chegou a Fátima em 1920 já raramente sai do Santuário. Fotografia de Arlindo Homem

Com 1,04 metros de altura, a escultura original de Nossa Senhora do Rosário de Fátima foi produzida em cedro do Brasil, com aplicação de policromia e dourados, na Casa Teixeira Fânzeres, de Braga.

Pesa 19 kg, os olhos são de vidro e, nas vestes e no manto, foram incrustadas pedras de cristal de rocha, de vidro e diamantes.

A estátua foi benzida a 13 de maio de 1920 pelo pároco de Fátima, padre Manuel Marques Ferreira, na Igreja Paroquial, tendo sido levada para a capelinha das aparições a 13 de junho de 1920.

Durante a noite, a imagem era recolhida pela zeladora Maria Carreira, conhecida como Maria da Capelinha, razão pela qual a estátua escapou incólume ao atentado de 6 de março de 1922, que destruiu parcialmente a capela que havia sido erguida três anos antes.

Foi solenemente coroada pelo Legado Pontifício, o cardeal Aloisi Masella, em 13 de maio de 1946. Foi restaurada pelo seu autor em 1951 e, desde então, tem sido retocada várias vezes.

A coroa, que a estátua ostenta apenas nos dias das grandes peregrinações, foi oferecida pelas mulheres de Portugal, em 13 de outubro de 1942, e é de ouro, pesa 1,2 quilos e tem 313 pérolas e 2679 pedras preciosas. Em 1989 foi nela colocada a bala extraída do corpo de João Paulo II após o atentado em Roma.

Desde maio de 1982, com a renovação da Capelinha das Aparições a tempo da primeira visita de João Paulo II, a imagem assenta no exterior da Capela, numa peanha que assinala o local exato onde se encontrava a azinheira (entretanto desaparecida) sobre a qual Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos.

Depois de muitas viagens pelo mundo, a estátua passou a ficar protegida em Fátima, só saindo para o Vaticano a pedido especial do Papa (o que aconteceu por três vezes, nas últimas décadas). Da capelinha sai apenas nos dias 15 de agosto e 8 de dezembro bem como na noite dos dias 12 e nos dias 13 das grandes peregrinações internacionais aniversárias, de maio a outubro.

Protegida por uma redoma de vidro à prova de bala, a imagem era recolhida para o interior da capelinha todos dias, poucos minutos antes da meia-noite, por uma questão de segurança, até à manhã seguinte. Essa prática foi abandonada em 2009, quando o Santuário de Fátima passou a transmitir vídeo em tempo real, 24 horas por dia. Desde então, a escultura que representa Nossa Senhora de Fátima está permanentemente à vista de todos – na Cova da Iria e onde quer que exista sinal de internet.

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

Patrícia Fonseca

Sou diretora do jornal mediotejo.net e da revista Ponto, e diretora editorial da Médio Tejo Edições / Origami Livros. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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