A pequena aldeia de Chãos, em Ferreira de Zêzere, continua a manter a tradição de sair, a pé, na segunda-feira de Páscoa, da Igreja da localidade em Círio rumo ao Santuário de Nossa Senhora do Pranto, em Dornes. Este ano, foram em grupo seguindo a promessa da jovem Sandra Cátia Graça Gonçalves, natural de Jampestres mas que mora em Lisboa. Era ela que levava a bandeira na dianteira.

Este foi apenas um dos muitos círios a Dornes que se concretizam sempre entre a segunda feira de Pascoela e o 3.º domingo de setembro. O ponto mais alto destas peregrinações religiosas acontece no dia 15 de agosto, dia de grande festa em Dornes.

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Sandra Gonçalves ostentava a bandeira deste grupo de fiéis

Na segunda-feira de páscoa, este grupo de fiéis rumou a Areias, indo depois pela Serra de S. Saturnino fora, direitos a Galeguia e Frazoeira. O primeiro registo conhecido que atribui um milagre a Nossa Senhora do Pranto, data de finais do século XVII (1697).

Reza a Lenda, replicada por vários historiadores, que foi graças a um milagre da Rainha Santa, que teve início o culto a Nossa Senhora do Pranto, em Dornes. Aquando do seu casamento com D. Dinis, D. Isabel teria recebido como dote estas terras de Dornes. Aqui seria seu feitor Guilherme de Pavia, homem tão crente e bondoso que era tido como santo. Vivia perto da ermida de S. Guilherme, junto à ribeira com esse nome, já perto da vila.

Durante a noite, o feitor começou a ouvir um choro e gemidos dolorosos que vinham do outro lado do rio. De dia, por mais que buscasse entre os matos da Serra Vermelha, de onde parecia chegar aquele pranto noturno, nada encontrava. Intrigado, resolveu dar conta à rainha do estranho acontecimento e pôs-se a caminho de Coimbra, para tudo lhe contar. Porém, assim que chegou e antes dele falar, já D. Isabel sabia a razão que ali o levara. Indicou-lhe o local exato onde devia procurar e logo lhe disse que iria encontrar uma imagem da Virgem com o Filho morto nos braços.

Guilherme voltou a Dornes e logo partiu para o outro lado do rio (Vila Gaia, freguesia de Cernache do Bonjardim), indo encontrar a imagem, exatamente no local indicado pela rainha. Veio depois a rainha admirar o achado e foi quem mandou erguer uma capela.

À terra chamou Vila das Dores, a atual Dornes.

Da outra margem do rio (Cernache) o povo contestou e revoltou-se porque reclamavam para si a imagem que tinha sido encontrada na Serra da Vermelha, pertencente àquela localidade e termo da Sertã e não a Dornes.

Por diversas vezes a quiseram levar e outras tantas vezes a imagem de Nossa Senhora do Pranto com seu filho nos braços desapareceu misteriosamente e voltou a aparecer em Dornes, no seu lugar, no altar da Ermida.

De acordo com a Paróquia de Chãos, ao longo do tempo, o número de Círios em peregrinação à igreja/Santuário de Nossa Senhora do Pranto tem oscilado entre as três e as quatro dezenas. Um Círio é uma peregrinação religiosa de um grupo de romeiros, formado pelos habitantes de uma povoação, que culmina com a visita a um templo/Santuário, como forma de pagamento de uma promessa coletiva.

De acordo com José Leite de Vasconcelos, a designação de Círios (aplicada a romagens do mesmo tipo em outros santuários da Estremadura) deve- se ao facto de, inicialmente, e ainda no começo do século XX, cada grupo de romeiros transportar o resíduo do Círio Pascal que ardera durante a Semana Santa na igreja paroquial da respetiva povoação.

Em meados do século XX vinham até Dornes, entre vários outros, Círios de concelhos como Miranda do Corvo, Condeixa, Penela, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Ourém, Tomar ou Sertã. Já aqui se deslocavam no século XIX e continuam a fazê-lo no século XXI.

Vários concelhos, distritos diferentes e dioceses diferentes mas com a mesma fé por Nossa Sra do Pranto.

Foto: Direitos Reservados

Elsa Ribeiro Gonçalves

Aos 12 anos já queria ser jornalista e todo o seu percurso académico foi percorrido com esse objetivo no horizonte. Licenciada em Jornalismo, exerce desde 2005, sempre no jornalismo de proximidade. Mãe de uma menina, assume que tem nas viagens a sua grande paixão. Gosta de aventura e de superar um bom desafio. Em maio de 2018, lançou o seu primeiro livro de ficção intitulado "Singularidades de uma mulher de 40", que marca a sua estreia na escrita literária, sob a chancela da Origami Livros.

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