O ministro da Educação considerou que a evolução do ensino em Portugal deve orgulhar, mas admitiu que o retrato traçado no mais recente relatório da OCDE mostra que há muito a fazer pela valorização da via profissionalizante. Relativamente ao investimento, João Costa destacou uma subida de 36% entre os Orçamentos de Estado (OE) de 2015 e de 2023, “trajetória ascendente” que afirmou ir continuar em 2024.
“Partimos com um défice de qualificações esmagador. O salto que Portugal deu em 50 anos é um salto absolutamente extraordinário”, sublinhou o ministro da Educação, no final da sessão de apresentação do relatório ‘Education at a Glance 2023’, divulgado na terça-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Em reação às conclusões do relatório que analisa e compara os sistemas de ensino de mais de 40 países, João Costa defendeu que os dados sobre Portugal são, no geral, “muito animadores”, referindo, por exemplo, o crescente número de jovens a frequentar o ensino superior ou a cada vez maior cobertura do ensino pré-escolar.
Ainda assim, acrescentou, o relatório aponta também os aspetos em que o país tem de melhorar, como a igualdade de género no mercado de trabalho, o investimento no setor da educação ou a valorização do ensino profissional.
Segundo o relatório, Portugal gastou em Educação um valor semelhante à media dos países da OCDE, mas a despesa por estudante é 14% mais baixa em Portugal, rondando os dez mil euros contra 11.700 euros da média da OCDE, situação que o ministro João Costa ontem justificou em Alcanena, à margem da inauguração da requalificação da Escola Básica Professor Abílio Madeira Martins.
O governante salientou, por outro lado, que os dados indicam um “aumento do investimento público” na Educação em Portugal, tendo referido uma subida de 36% entre os Orçamentos de Estado (OE) de 2015 e de 2023, “trajetória ascendente” que afirmou ir continuar em 2024.
ÁUDIO | JOÃO COSTA, MINISTRO DA EDUCAÇÃO:
Entre outras conclusões, o estudo Education At a Glance 2023, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico nota também que a maioria dos professores portugueses do 3.º ciclo ganha menos oito mil euros anuais do que a média da OCDE.
Na edição deste ano, o ‘Education at a Glance’ destaca, precisamente, o ensino e formação vocacionais e mostra que, em Portugal, apenas um quarto dos jovens entre 15 e 19 anos estão matriculados no ensino secundário profissional.
Quando terminam o curso, apenas uma minoria desses jovens (18%) continua a estudar e, para o ministro da Educação, a discrepância em relação aos estudantes em cursos científico-humanísticos que seguem o mesmo percurso, e que representam a esmagadora maioria, está relacionada com um certo estigma em relação ao ensino profissional. E esse estima, acrescenta, alimenta-se da desinformação.
“Achar que um ensino mais orientado para a prática e que confere uma qualificação profissional não é uma porta de acesso ao ensino superior não passa de puro desconhecimento sobre o que se faz no ensino profissional”, argumentou.
João Costa defendeu também a necessidade de melhorar a orientação vocacional nas escolas e lamentou que sejam ainda frequentes relatos de jovens a quem um professor aconselhou que não fossem para o ensino profissional “porque são bons alunos”.
Da parte do Governo, também o secretário de Estado do Ensino Superior sublinhou a importância de captar mais alunos do ensino profissional, referindo que a porta ficou mais aberta com o concurso especial de acesso para os alunos diplomados de vias profissionalizantes.
“É muito importante que haja perspetivas de futuro para esses estudantes e que haja uma fileira que valorize o esforço de mais de duas décadas de consolidação e de valorização política, social e económica desta via de ensino”, afirmou Pedro Teixeira, que explicou que essa foi também uma das prioridades da revisão do sistema de acesso ao ensino superior.
Sublinhando também que o perfil dos estudantes de ensino superior em Portugal continua a ser tradicional, o secretário de Estado insistiu ainda na necessidade de diversificar mais ainda as vias de acesso.
“Temos muita dificuldade em voltar a atrair para o sistema de ensino superior estudantes que não prosseguiram os estudos quando terminaram o ensino secundário ou que saíram do sistema de ensino”, referiu.
C/LUSA