A História de um concelho não se limita aos atos heróicos que aparecem nos livros. A História também se escreve (e sobretudo) pelas suas gentes, os rostos com quem nos cruzamos nas ruas. São estas pessoas que inspiraram a obra “Mação, Retrato Falado”, de Vera Dias António, editado pela Médio Tejo Edições e a lançar publicamente este sábado, dia 1, no âmbito da XIX Feira do Livro e da Feira Mostra de Mação.
O stand do município na 24ª Feira Mostra de Mação recebe a autora e o público a partir das 21h00 para conhecer melhor os próprios maçaenses. O mediotejo.net quis descobrir antes o que motivou (e continua a motivar) a socióloga de 38 anos que escreve sobre a terra onde nasceu, pouco antes do fecho do hospital existente na vila.
Podíamos contar a sua história de vida, mas (para já!) revelamos apenas alguns pormenores contados na primeira pessoa.
Quem é a Vera Dias António?
Nasci em Mação (mesmo antes de fechar o hospital e os partos passarem a ter lugar em Abrantes) a 28 de outubro de 1978, tenho 38 anos. Fiz o secundário em Abrantes, na Manuel Fernandes, no curso profissional de Comunicação, seguiu-se a licenciatura em Sociologia no ISCTE com passagem pela Universidade Livre de Bruxelas, no âmbito do Erasmus.
No 4.º ano da Universidade, o então Vereador Saldanha Rocha chamou-me para criar o Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Mação e vim a correr, queria muito vir para Mação, o que implicou prolongar o curso por mais 2 anos.
Na Câmara conheci o meu marido, que é técnico de Informática, e que tinha vindo, entretanto, da África do Sul para Mação, de onde os pais eram naturais e para onde tinham voltado. O Rui é mais calado, pensa mais nas coisas, eu falo (de)mais, preciso que me puxem à terra, parece-me uma boa combinação! Temos 3 filhos, por enquanto!
Quando e como surgiu a inspiração para escrever o livro?
No âmbito do trabalho na Câmara tive o privilégio de acompanhar o Dr. Armando Fernandes na concretização da Carta Gastronómica “À Mesa em Mação” e, nos quase 3 meses de entrevistas por todo o concelho, percebi que as pessoas têm percursos de vida maravilhosos e querem contar as suas histórias.
Ficou a ideia, o Rui, o meu marido, achou que era interessante e deu-me aquele “empurrão” e comecei a fazer entrevistas a pessoas que conhecia, com quem me cruzava, algumas que nem conhecia bem mas que foi um prazer conhecer. Criei um blogue, o Ouvir Dizer, e percebi que as pessoas gostam de conhecer melhor os outros. Com a entrada dos meninos na escola primária o tempo passou a ser mais curto pois o tempo após o trabalho que dedicava às entrevistas passou a ser para os TPC!
Algumas entrevistas foram publicadas no jornal Abarca e, mais tarde, no mediotejo.net.
É uma estreia literária?
Não é exatamente o meu primeiro livro. Em Mação sim, mas há 3 anos fiz um outro, um retrato sociológico, cultural e das tradições para a Associação das Atalaias, em Proença-a-Nova. Não pensava editar as histórias em livro mas, com o início da colaboração no mediotejo.net, foi algo natural, por terem outro projeto, a Médio Tejo Edições, e, em conversa com o Mário e a Patrícia Fonseca, foi-se encadernando a ideia.
Existe algum momento que a tenha marcado durante o processo de escrita?
Cada entrevista foi uma descoberta incrível. Recebi vários comentários e emails e houve um, em particular, que me fez perceber que havia ali um sentido maior, um email em que uma conterrânea me dizia que as histórias eram uma lição de humildade pois tendemos a julgar, de certa forma, os outros sem os conhecer realmente, sem conhecer os seus sonhos, a vida que tiveram, as dificuldades por que passaram…
De facto, não conhecemos ninguém, julgamos pelo que aparentam, o que não é nada, zero. A essência das pessoas é algo que nos falha, que nos falta. Tendemos muito a julgar os outros superficialmente e as maiores vítimas disso somos nós. Conhecer os outros, ter tempo para o fazer, conversar, perceber que há uma pessoa que teve sonhos, que passou dificuldades, que teve uma vida e que é a soma de tudo isso, com as suas alegrias e frustrações. Percebi também que a maior dádiva para muitas pessoas é a família que criou.
Algumas pessoas falam em Fé, falam nas energias que passamos uns aos outros, falam no seguir em frente apesar de tudo, há muitas referências a um Mação que não conheci e que foi interessante descobrir, há muitas experiências de emigração… Todas as histórias têm algo diferente, cada pessoa é única e teve a sua vida.
Penso que a “falha” deste livro é o facto de ser sempre um livro incompleto. Há tantas histórias que nunca foram nem serão contadas, há tantas histórias por contar… esta é uma amostra pequena de um universo imenso de pessoas.