Numa hora e meia de conversa, o mediotejo.net acompanhou o atual presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela, numa volta ao concelho que gere desde 2013. Na semana em que arrancou a vigésima quarta edição da Feira Mostra do Concelho, que quer mostrar o que Mação tem de melhor, fomos falar com o autarca e saber quais os pontos fortes do território, quais os desafios e as oportunidades que ainda estão por explorar. Tempo ainda para refletir sobre o concelho que Vasco Estrela definiu rapidamente socorrendo-se de números: um território com 400 km2 de extensão, mais de 3000 km de estradões e 14 km de rio por descobrir.
A entrevista decorreu no Parque de campismo de Ortiga, local junto à Praia Fluvial de Ortiga e relativamente perto da Barragem de Belver. O parque tem campistas o ano inteiro, notando-se maior afluência entre abril e setembro. No balanço do ano de 2016, contabilizou-se um total de 2061 utentes ao que acresce 367 de nacionalidade estrangeira, onde se incluem crianças. Ainda assim, importa saber um pouco mais. Que balanço se faz do turismo em terras maçaenses? Em termos de oferta turística, o que falta fazer e o que há a potenciar neste aspecto?
VE: Acho que o que há a fazer dependerá muito também daquilo que for a iniciativa privada, uma vez que a Câmara tem neste momento um conjunto de infraestruturas já com alguma relevância e que podem e devem ser usufruídas, e que podem ser potenciadas. Há um trabalho de base que foi feito e que agora tem de ser aprimorado. Existem outras infraestruturas que irão surgir, e que faltam fazer por parte da Câmara, caso da construção do Núcleo Museológico ligado à arte da pesca, na antiga Escola Primária de Ortiga (cujo projeto está concluído e que se aguarda que possa ser lançado concurso para a sua construção) e a recuperação das margens do rio, cerca de 9 km de reconstrução com recuperação de pesqueiras, o Núcleo Museológico ligado à produção do presunto, a maior potenciação do Ocreza e do Pego da Rainha. São infraestruturas que importa melhorar, consolidar, pôr mais disponíveis e com melhores condições para os utentes. Mas há outro trabalho que deverá ser feito e que compete a outros, eventualmente privados, caso de infraestruturas físicas para que os turistas possam ficar. Este nunca é um trabalho completo. Há sempre algo mais a fazer nesta matéria, e é um trabalho sempre em contínuo.

Quanto à requalificação das margens ribeirinhas, e no âmbito das rotas e percursos pedestres… Mação tem ainda muito caminho a fazer no que toca às rotas pedestres? Há ambição no sentido de desenvolver projeto neste âmbito?
VE: O concelho tem a ambição de nos próximos tempos, a curto prazo, ver como sendo realidade a implementação da Grande Rota do Tejo, que se inicia em Mação, com o apoio da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e com os municípios que têm margens no rio Tejo – Mação, Abrantes, Constância e Vila Nova da Barquinha – no sentido de criar uma rota que una estes concelhos. Neste aspecto há muito para fazer, nomeadamente no concelho de Mação, de maior aproveitamento do rio e das suas potencialidades, recuperação das pesqueiras e do saber destas gentes, nomeadamente da freguesia de Ortiga, que deverá ser colocado ao serviço do concelho e da região. Há uma cultura singular ligada à arte da pesca, e compete-nos a nós não deixá-la morrer, pelo contrário, ser cada vez mais reconhecida e ser motivo de interesse e ser uma forma de chamar pessoas ao concelho.
Falando do rio Tejo, inevitavelmente temos de falar sobre as questões que têm transtornado a região em termos de poluição e de baixo caudal do rio. Como é lidar com este flagelo? O concelho sofreu na pele com esta situação de “publicidade negativa”?
VE: Não foi fácil, nem sequer é fácil, não é um processo que esteja resolvido, aliás, acho que vai ser um processo que se vai arrastar ao longo de vários anos e cada vez mais daqui para a frente vai estar na ordem do dia. Temos de ter algum sangue frio e alguns nervos de aço para tentarmos manter alguma compostura relativamente a algum tipo de situações que vão surgindo, a algum tipo de injustiças que vamos sentindo. Ao longo dos últimos 2 ou 3 anos, sempre tentamos ter uma postura colaborativa e estar do lado da solução e não do problema. Mas obviamente fomos muito confrontados durante este tempo com situações que prejudicaram a população do concelho, nomeadamente a freguesia de Ortiga, que é a freguesia que mais vive ligada ao rio em termos históricos, económicos, sociais, e sentiram mais na pele este tipo de problemas. Acresce a tudo isto a ampla publicidade negativa que foi dada ao rio, e que ainda hoje estamos a pagar. Durante o ano passado foi muito visível na afluência ao parque de campismo, e obviamente não é fácil recuperar deste processo. Quando no Google, fazendo pesquisa sobre o rio Tejo, tudo o que aparece são notícias relativas à poluição. É muito difícil fazer o contraditório, é muito difícil passar a imagem de que o rio não está poluído, que o peixe que é apanhado no rio está em perfeitas condições… Tudo isto tem consequências negativas para o turismo, para a restauração, e é o próprio nome do concelho, e de todos os outros relacionados, que fica em causa. Caso do Festival da Lampreia, onde não se notou uma diminuição significativa da afluência, sendo certo que foi transmitido que muitas vezes as questões que se colocavam prendiam-se com de onde era o peixe, e o que era dito é que não era, e a lampreia não chegou aqui como era tradição, mas os operadores sentiam que era uma questão colocada pelos visitantes. A poluição recorrentemente vinha a lume. E estando atentos às redes sociais, verifica-se que não há semana em que não haja qualquer problema no rio relacionado com a poluição, e portanto é um problema que está muito longe de ser ultrapassado…

Outro sector igualmente “caro” a Mação prende-se com a floresta. Recentemente o modelo de gestão florestal e de prevenção/combate a incêndios do concelho tem estado no foco nacional, com várias participações do vice-presidente António Louro, também presidente do Fórum Florestal, em momentos informativos sobre o dramático incêndio de Pedrógão Grande. A certa altura foi dito que “falta coragem política para fazer de Mação um projeto piloto que seja replicável a nível nacional”. O que tem a dizer sobre isto? Concorda?
VE: Sim, obviamente que concordo. Felizmente o António Louro já o tem dito imensas vezes. No início desta semana terminarei uma carta para o Presidente da República sobre esta situação. Tudo aquilo que defendemos para a nossa floresta, fruto muito do extraordinário trabalho do António Louro, e honra lhe seja feita e os respetivos créditos lhe sejam concedidos, evidentemente só pode ter essa leitura de falta de coragem política. Estamos a falar de um conjunto de ideias, de pressupostos, que tinham por base a valorização do território, o ordenamento da floresta, a humanização do território, a devolução de vida a estas terras, no limite, a prevenção dos incêndios, o estancar ou ajuda a suster o êxodo populacional, enfim… Um conjunto de vetores, não só de ordenamento e reforma da floresta, um conjunto de questões que o Governo fala como sendo algo que vai resolver profundamente esta questão do território. Quando o António Louro e o anterior executivo começaram a trabalhar estes processos, quando o resultado desse trabalho foi validado por alguns Secretários de Estado, Ministros, Primeiros-Ministros, na Europa, por vários especialistas da matéria, que vêm cá e comprovam… quando as coisas estão devidamente estruturadas, orçamentadas, se perante tudo isto se se reconhece que é uma necessidade do país, se estão a falar com uma autarquia que está disposta a investir parte do dinheiro dos seus munícipes neste projeto, porque acha que é um projeto de futuro… Se perante tudo isto não há um único político que tenha a coragem de dizer ‘Vamos apoiar, muito ou pouco, este projeto’, obviamente estamos a falar de manifesta falta de vontade política, para não chamar pior, como incompetência ou hipocrisia, no sentido de dizerem que não está tudo bem mas não queremos saber disso para nada. Assim vamos caminhar mais do mesmo, e portanto, vamos andar com mais uma reforma, as coisas vão ardendo, provavelmente de hoje para amanhã há outro município que tem esta ideia e que tenha outro tipo de padrinhos políticos e as coisas são concretizadas, ao contrário daquilo que em Mação tivemos.
Após visitas de governantes, para memória futura, é o que ficou. Só espero que ninguém venha a poder usufruir daquilo que nós queríamos usufruir por prejuízo próprio, nosso, direto na ocasião. Mas, no limite, aquilo que Mação quer é que aquilo que defendemos ou parecido se concretize. Não queremos os louros. Continuamos a manifestar a nossa disponibilidade, já o disse ao senhor Presidente da República, e é o que direi esta semana ao Ministro da Agricultura. Estamos disponíveis, temos os estudos, o projeto pode ser implantado em Mação amanhã. Se por acaso quiserem ir para outro lado, obviamente ficaremos tristes com isso, mas por outro lado ficaremos contentes se isso for uma busca de solução que resolva o problema de Mação e do problema de grande parte dos territórios do Interior.
Em termos do projeto desenvolvido em Mação, o que há a destacar neste trabalho?
VE: A grande virtude de todo este processo foi precisamente a relação que foi possível estabelecer com os proprietários dos terrenos na altura. O facto de perceberem que tínhamos acabado de bater na parede e que havia necessidade de criar aqui algo diferente, a relação de confiança que foi estabelecida entre a autarquia, as associações de produtores florestais e os produtores individualmente, perceberam que tinham de avançar para algo diferente. Isso tem permitido que ao longo do tempo tenha sido possível um conjunto de boas práticas, demonstrações, para as pessoas perceberem como seria possível irmos mais além se tal nos fosse possibilitado, leia-se, se tivéssemos fundos para o fazer.
Mas deixe-me dizer uma coisa, que é o que sinto: não fico nada contente no sentido de ver este envolvimento de Mação nos últimos dias nesta questão do fogo de Pedrógão. Pode transmitir uma sensação de tranquilidade e de estar tudo feito às pessoas, que é ilusório. Estamos muito longe disso, meu Deus, estamos a léguas disso! Infelizmente em Mação as coisas estão preparadas para acontecer uma desgraça e uma tragédia. Apesar das circulares de segurança à volta de algumas aldeias, das motobombas distribuídas, da questão da primeira intervenção a custas próprias da CMM, com uma série de atores no terreno, as máquinas que saem e o autotanque, do conhecimento que temos do terreno, do MACFire… Apesar de tudo isto, não chega. Porque o essencial está por fazer: retirar carga combustível do território, criar compartimentação, uma série de coisas que falta fazer. Não podemos dizer que estamos a salvo, muito pelo contrário, se se reunirem condições as coisas vão correr mal e corremos o risco de arderem 20 ou 30 mil hectares em dois dias. Há poucos dias assinei mais de 900 cartas para proprietários de habitações no concelho que estão em incumprimento da lei relativamente à limpeza em volta das suas habitações, estamos a falar de cenários de aldeias com 10 ou 15 pessoas com média de idades de 80 anos… Perante isto que aconteceu em territórios bem perto de nós, não podemos dizer que estamos tranquilos. A mensagem que temos que passar é a contrária. No que depende de nós está feito, temos ideias extraordinárias e muitas implantadas no terreno, mas o essencial falta fazer. A Câmara está a fazer muito para lá daquilo que é habitual.

Outra marca do concelho são as gravuras rupestres no vale do Ocreza e o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo. No fundo é uma ligação entre academia, valorização do território e atração turística, não é verdade?
VE: As gravuras são um património importantíssimo que o concelho tem, está a ser gerido pelos serviços do Museu Municipal, um serviço da Câmara Municipal. O que tentamos fazer é dar autonomia a esses serviços, fruto da competência da liderança exercida pelo Professor Luiz Osteerbeek mas também por um conjunto de técnicos de reconhecido valor. O que há aqui a fazer é a compatibilização que terá de ser feita entre a parte científica, a parte académica e o museu. São duas realidades distintas, a parte académica e a do museu e das gravuras, que são alvo de visitas esporádicas ou em passeios pedestres. O museu que está visitável com a coleção e que no futuro prevê a recuperação do piso zero. Julgo que é um projeto que está em velocidade cruzeiro no concelho, que é compatível mantê-lo com orçamento municipal e que pessoalmente me sinto muito confortável com ele. Era importante que o museu aprofundasse a relação com a envolvente concelhia, isto porque a determinada altura sentiu-se algum virar de costas do Museu em relação à população, porque o antigo museu deixou de existir. As pessoas não perceberam muito bem o que acontecia aqui, e o museu teve de ir ter com as pessoas, daí os espaços de memória que foram sendo criados nas aldeias, o Instituto Terra e Memória que também ajudou a consolidar essa relação, a participação dos técnicos do museu na Universidade Sénior, no Clube Sénior, nas Férias de Verão das crianças. Houve uma maior interligação, houve um inverter, mas não está completo ainda. Quanto melhor as pessoas do concelho percebessem o que se passava no museu, acho que mais valorizavam aquilo que lá era feito e mais deixavam confortáveis os decisores políticos para tomar as decisões apropriadas que levassem ao sucesso.
Falando em marcas… Fale-nos da Marca Mação e sobre a aposta na potenciação e divulgação dos produtos endógenos. É uma luta para continuar?
VE: Entendemos que é o caminho desejável se for essa a vontade dos empresários do setor, nesta matéria como noutras, a Câmara assume que não são suas, e as coisas só podem resultar se houver da parte dos empresários do setor das carnes a vontade de manter a Marca Mação. Se assumirem os compromissos que têm de assumir relativamente à produção dos enchidos, dos queijos, do presunto, do mel, do azeite, etc… O que não pode acontecer é que o presidente da CM e os vereadores sejam acusados de não haver presunto da Marca Mação à venda. Já caímos, às vezes, neste ridículo… como se fôssemos nós responsáveis por produzir o presunto e vendê-lo. Compete a outros, estamos disponíveis para, se depois as coisas resultam ou não, é outro problema.

E com isso está a ser posta em causa a imagem de Catedral do Presunto?
VE: Quando a Câmara em 2007/2008 o executivo agarrou este assunto, tinha a ver com o facto de sentir que em relação ao setor do presunto poderiam existir alguns problemas, fruto da crise que se fazia sentir, do facto de Espanha e Itália estarem a inundar o mercado nacional, e pensou-se que seria importante potenciar Mação através do presunto da Marca Mação, partindo do pressuposto óbvio de que Mação era e é o maior produtor de presunto a nível nacional. E criou-se um presunto não topo de gama, mas lá muito perto, no fundo tinha um selo de qualidade. Nesse sentido foi também criada a associação AmarMação para que os produtores carnes e todos os outros pudessem associar-se, tirarem sinergias, podendo haver vendas em comum. Mas as coisas avançam na medida em que aqueles que as têm de fazer avançar entendem que devem fazê-lo. Se acharem que faz sentido continuar com este projeto, acho que deve continuar, se acharem que não fazem sentido, amigos como dantes, e não valerá a pena continuar pelo menos nestes termos e a fazer investimentos. É, num futuro muito breve, algo que deverá ter uma resolução, após as eleições, quem estiver na Câmara deverá tomar decisões sobre esta matéria.

E em termos de tecido empresarial e do desenvolvimento económico do concelho. Vem aí um momento importante por estes dias, com Mação a ganhar mais uma infraestrutura, o Centro de Negócios…
É um trabalho que tem de ser feito, porque da parte da Câmara temos de ficar com a consciência de que se fez tudo o que era possível fazer para tentar inverter as coisas. A questão do ninho de empresas e da reformulação do GEMA (Gabinete de Apoio aos Empresários) veio muito por aí. Eu tinha noção que o GEMA não estava a funcionar da forma que devia estar, devido a lacunas de funcionamento e era necessário dar ali um novo impulso e acho que está a ser feito. Por outro lado, surgiu a oportunidade que, aquando do início do mandato era só uma oportunidade que não tinha a certeza se podia concretizar, que foi o Centro de Negócios/Ninho de empresas. Porque entendíamos que devias oferecer mais qualquer coisa no sentido de desbloquear o início de atividade de uma empresa, uma vez que me apercebia que havia dificuldade de instalação, de montar a empresa, de fazer o pavilhão, o banco que não emprestava dinheiro,… Enfim, uma série de questões burocráticas, financeiras, logísticas e outras que podiam ser ultrapassadas. E o facto de podermos disponibilizar espaços e condições a preços muito reduzidos para darmos o empurrão para que as coisas possam acontecer, contando com o apoio do GEMA, com consultadoria, com apoio para submissão de candidaturas a quadros comunitários de apoio. Mas outras questões terão de ser vistas, caso da expansão da Zona Industrial de Mação, porque é nossa intenção que as empresas possam sair do ninho e possam ter outras instalações próprias. É um processo que se quer de evolução contínua. É uma experiência nova, o espaço é inaugurado esta semana, pelo que nos foi dado a ver e pelo tempo que perdemos a tentar elaborar as normas de funcionamento, não há nada igual. No princípio acredito que hajam diversas dificuldades para que as coisas possam evoluir, mas é um projeto em que acredito muito, é estrutural, compete agora a outros poderem aproveitar. Por outro lado, prevê-se o alargamento da Zona Industrial para que seja possível evoluir para o lado da A23, já temos uns terrenos e vamos, penso eu, num futuro relativamente próximo iniciar esse processo.
Reflitamos agora sobre o retrato social do concelho. Mação tem um território disperso, vincado pela desertificação e envelhecimento populacional, mas o que é certo é que é na vila que se concentram os serviços, o que gera uma certa centralização. Este representa um dos grandes desafios de gestão autárquica?
VE: Esse é sempre um desafio em territórios como estes. Não podemos pensar que as pessoas vêm a todo o lado quando temos a população com as caraterísticas que tem. O que tentámos, ao longo dos 4 anos, foi aprofundar essa relação, chamar mais as pessoas, fruto da localização dos espaços, obrigá-las a sair mais de casa. Mas em qualquer dos casos houve sempre essa tentativa de que as pessoas não perdessem a sua ligação ao concelho e àquilo que fazemos e prestamos. Quer através do Clube Sénior, Espaço Memória, através do transporte gratuito para as piscinas, tentamos envolver muito as pessoas naquilo que é o viver e o sentir do concelho diariamente.
Isso também vem justificar o porquê de o seu executivo ter optado por descentralizar nas Voltas ao concelho e correr as freguesias para ouvir os munícipes?
Entendemos que era necessário percorres as freguesias porque as pessoas não estavam bem sintonizadas com o que andávamos a fazer. Entendemos ir ao local, a todas as terras, a todas as portas se fosse preciso, e estar num encontro com a população para que as pessoas, olhos nos olhos, nos pudessem transmitir o que traziam na alma. E tivemos também uma oportunidade de explicar o nosso projeto, o que andávamos a fazer. Onde gastávamos o dinheiro delas, o porquê de gastar aqui ou ali. E acho que foi muito aliciante, com estas 16 voltas que demos, deu para estabelecer uma relação de maior proximidade.
Costuma citar uma previsão do INE para os próximos 40 anos, que diz que seremos menos 3 milhões no país e que 80% da população irá viver no litoral e as aldeias estarão esvaziadas de gente… É sabido que este é um tema que lhe causa algum transtorno. E Mação? O que será do concelho daqui a 40 anos?
Tenho a noção clara de que caminhamos para sítio nenhum. Criamos todos um conjunto de infraestruturas, de redes de estradas, abastecimento de água, de luz e saneamento, em grande parte territórios que a continuar a este ritmo, e sem que nada seja feito, têm muito pouca viabilidade. Acho que este devia ser um assunto que inquietasse mais as pessoas, e é nesse sentido que falo. Esses dados são ditos de uma forma completamente normal. Em 2040 seremos menos 2 milhões e desses 7 milhões que seremos, estará 80% no litoral. Isto é dito assim… como quem diz que o Benfica foi campeão. Ainda bem que o Benfica foi campeão, mas ainda mal que aquilo é dito desta maneira. Eu pergunto-me: temos no concelho de Mação mais de 100 aldeias, muitas delas com 20/30 pessoas, na casa dos 70 anos, pela lei normal da vida em 2040 infelizmente muitas já não viverão lá… Partindo do pressuposto que não vem ninguém, suponho que aquelas aldeias estarão desertas, não é? E aqui levanta-se um conjunto de questões a montante. E as casas que lá estão, das pessoas que as recuperaram, quem é que as mantém, a electricidade mantém-se lá, em meses e meses, e meses em que não está ninguém. A recolha do lixo, a água… Há um conjunto de questões que têm de ser levantadas. Não nos podemos é admirar de, depois de dizermos que as aldeias estão desertas, que só lá vivem idosos, e depois ficamos muito admirados das aldeias arderem. Isto é que eu acho estranho. Depois de aceitarmos tudo como normal, ficarmos muito incomodados porque ardeu uma aldeia. Mas o que é que esperariam? Se não está lá ninguém, se não vive ninguém, se ninguém cuida de nada… O que era de esperar? Se não se fizer ordenamento do território, se não se fizer o que Mação defende ou outra coisa parecida, daqui a 3 ou 4 anos, vão arder mais 5 ou 6 aldeias. Isto passa tão ao lado de outras mentes, que é assustador. Tenho a sensação que há muita gente em Portugal que pura e simplesmente desistiu disto. O tempo há-de resolver o problema… Este devia ser um assunto que nos devia preocupar a todos. Que modelo de desenvolvimento territorial é que queremos, quando vemos distritos e capitais de distrito a perderem população desta maneira. Sabendo tudo isto, temos de saber se há alguma forma de equilibrar ou não. Quando no Médio Tejo, 12 de 13 municípios perdem população isto não nos deve inquietar?
O futuro passa por…?
Percebermos que fatores nos diferenciam uns dos outros, enquanto concelhos e região, que possam ser complementares e possam ser potenciadores de cada uma das regiões. Sabendo nós que temos de ter presente que se as pessoas que cá estavam “fugiram” daqui, por alguma razão foi… É preciso saber o que é que o país entende que deve ser feito destas áreas. Eu acho que Mação, no caso concreto, é um concelho com 400 km quadrados de extensão, com esta riqueza que é a nossa floresta, com o rio e paisagens que conseguimos ter, acho que temos sempre futuro nem que seja para turismo de nichos, não vamos ficar abandonados como o deserto do Sahara. Mas tem de ser algo mais sustentável. E eu acredito que este território, com as suas potencialidades nomeadamente em termos florestais, tem de ter futuro, e esse futuro tem de ser dado pelo território tendo em conta as suas próprias caraterísticas, não pode ser nada aqui imposto.
Mas já percebemos que só isto que está feito não é suficiente. Dá para ir mantendo as coisas mais uns anos, mas temos que ter uma ambição um bocadinho maior. Temos de perceber como este território pode ajudar a fixar mais as pessoas, porque só aquilo que temos feito ao longo deste tempo não é suficiente para manter o concelho sustentável a 20/30 anos.
Grande empenho na reeleição. Apesar de ser um profundo conhecedor do Concelho de Mação (fez parte da Vereação anterior), o actual Presidente peca pelo optimismo cauteloso, apesar de tudo. está tudo por fazer. mação sempres teve Executivos focados no dia-a-dia que provocaram a dramática diminuição de habitantes do Concelho nestes 40 anos de democracia. É a economia que traz pessoas ao Concelho. è no explorara as enormes potencialidades do Concelho, a começar na floresta, no olival, nos produtos tradicionais e no Turismo. Ao esquecer as potencialidades da economia do Rio Tejo votando ao abandono a freguesia de Ortiga, o Concelho perde receitas e pessoas. É altura de dar a volta a esta situação. ‘É urgente resolver os graves problemas que subsistem e que são em primeira análise da responsabilidade da Câmara. Um mandato não se resume a fazer obras no último ano. terão de 4 anos de trabalho contínuo