O castelo de Tomar num desenho de José Inácio da Costa Rosa

No âmbito do Dia de Tomar, que se celebra a 1 de março, o mediotejo.net publica um Suplemento Especial com reportagens, entrevistas e um passeio guiado pela cidade templária, traçando também o retrato das 11 freguesias que compõem o concelho.

Fazer um retrato de Tomar na altura da fundação da urbe é o desafio a que nos propomos neste trabalho. Para isso consultámos bibliografia sobre a história da cidade e falámos com historiadores e investigadores.

Uma primeira conclusão é que eram tempos muito difíceis, quer por causa das constantes batalhas entre cristãos e mouros, quer pelas carências económicas e sociais da época.

O século XII em Tomar é marcado por avanços e recuos das tropas cristãs e muçulmanas. Segundo o investigador Ernesto Jana há registo para uma derrota em Tomar em 1137. Os relatos falam num “infortúnio” nesta zona considerada de fronteira entre os dois contendores. Em 1190 as tropas mouras voltam a tentar conquistar o castelo Templário mas, depois de vários dias de combate, são derrotadas num episódio que consta dos anais das batalhas militares.

Com base numa lápide existente na parede de um lanço de escada que sobe para o terraço da Charola do Convento de Cristo, os historiadores apontam para dia 1 de março de 1160 o início da construção do castelo por D. Gualdim Pais e suas tropas.

“ERA 1198 (1160, era de Cristo) REINANDO AFONSO, ILUSTRÍSSIMO REI DE PORTUGAL, GUALDIM PAIS, MESTRE DOS CAVALEIROS PORTUGUESES DO TEMPLO, COM SEUS FREIRES, COMEÇOU NO PRIMEIRO DIA DE MARÇO, A EDIFICAR ESTE CASTELO, CHAMADO TOMAR QUE, CONCLUÍDO, O REI OFERTOU A DEUS E AOS CAVALEIROS DO TEMPLO…”, lê-se na referida lápide.

Tomar no tempo dos Templário. Desenho de José Inácio da Costa Rosa

Para conseguir edificar as muralhas do castelo, Gualdim Pais trouxe consigo artífices e famílias que ajudaram a povoar esta região. Ou seja a população local, por volta de 1160, era constituída por construtores e povoadores, conforme refere Carlos Trincão, autor do livro “História de Tomar para os mais novos”.

O castelo, com os seus três círculos de muralhas, terá demorado 44 anos a ser concluído, ou seja, as obras terminaram em 1204.

Um aspeto importante a referir neste monumento são as inovadoras soluções de construção do alambor e da torre de menagem, trazidas da Palestina. O autor Mário Barroca diz que o castelo de Tomar é um dos 10 melhores castelos da Europa.

As muralhas terão sido construídas entre 1160 e 1170, seguindo-se a edificação da torre de menagem, alambor e charola. Os historiadores identificam três zonas de casario na época, cuja população oscilaria entre os mil e 2 mil habitantes.

O Convento de Cristo no início do séc XX. Fotografia de Alberto Carlos Lima

A primeira zona habitada foi a chamada Almedina, no interior do castelo e com entrada pela porta com o mesmo nome ou também conhecida como “porta do sangue”, numa alusão ao sangrento combate de 1190. Ligava à zona baixa da urbe através da Riba Fria, que corresponde em certa medida à atual avenida Cândido Madureira.

O segundo arrabalde (palavra de origem árabe), chamado de S. Martinho, estaria localizado junto à zona muralhada onde se encontram atualmente os claustros do Convento de Cristo.

Uma terceira zona habitada, segundo Ernesto Jana, ficaria na zona do Pé da Costa, um conjunto de casas entre a Riba Fria e S. Gregório.

O mesmo investigador aponta a possibilidade de existência de um quarto arrabalde, chamado da Ribeira, na zona da atual rua de S. Gião, onde começavam os Lagares del Rei.

A Corredoura (atual rua Serpa Pinto) seria a artéria de ligação do sopé da encosta ao rio Nabão.

Tomar numa gravura do séc. XIX

Ernesto Jana refere dois registos históricos que informam a compra de uma casa na Corredoura, em 1178, por parte dos Templários. No mesmo ano D. Tomás ofereceu casas na rua de S. João aos Templários.

O historiador Amorim Rosa, nos Anais do Município, escreve que esta zona, em 1159, “estava despovoada e deserta”.

Opinião diferente têm Carlos Trincão e Ernesto Jana, para quem existia nessa época algum povoado moçárabe e pessoas a viverem de forma não organizada. Aliás, na zona onde foi edificado o castelo, já haveria restos de uma fortaleza árabe, conforme defendem os arqueólogos Carlos Batata e Sallete da Ponte.

Gualdim Pais terá aproveitado os restos dessa fortaleza para edificar o castelo Templário, conforme provam algumas pedras embutidas na torre de menagem.

Era uma “vida de construção e de sobrevivência”, conforme faz notar Carlos Trincão. Os moradores dedicavam-se à edificação do castelo e à agro-pecuária de sobrevivência familiar.

A pouco e pouco a população foi crescendo e estabilizando o que levou Gualdim Pais a conceder dois forais, o primeiro em 1162 e o segundo em 1174. São documentos que estabelecem regras jurídicas e económicas.

Com a pressão demográfica, a população tende a descer do alto da colina para o vale do rio Nabão. E é na baixa que foi construído o primeiro pelourinho, o primeiro cartório e a primeira câmara municipal. É também nesta zona que funcionavam os celeiros. O centro cívico passou a ser a praça da Ribeira onde atualmente está a rotunda Alves Redol.

Em termos urbanísticos, Tomar já na segunda metade do século XII apresentava uma malha reticular que depois foi desenvolvida no tempo do Infante D. Henrique. Aliás o arquiteto Costa Rosa, no livro “Tomar Perspetivas” publica um mapa de como seria Tomar no tempo dos Templários e nele constam as principais ruas do centro histórico da atual cidade.

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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