A expressão “Tudo como dantes no quartel de Abrantes” vem dos tempos das Invasões Francesas e foi apropriada pela população para fazer referência a situações em que pouco ou nada mudou. No entanto, a frase tornou-se obsoleta em novembro de 2016 com o início da atividade operacional do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) no Quartel de São Lourenço, que passou a acolher a unidade militar mais recente do exército português.
É nos 37ha que constituem as infraestruturas do RAME (20ha de área militar e 17ha de quartel), que se prepara e coordena uma resposta efetiva no apoio em situações de emergência que envolvam um número elevado de desalojados, riscos tecnológicos, atos terroristas, contaminação do meio ambiente, incêndios florestais, cheias e inundações, sismos e erupções vulcânicas.
Uma missão com abrangência nacional que ficámos a conhecer durante uma visita guiada pelo Coronel de Artilharia César Reis, empossado há pouco mais de sete meses como responsável da nova unidade militar. O comandante do RAME divide os dias entre Lisboa, onde nasceu e reside com a esposa e as duas filhas, e a cidade que hoje integra a carreira iniciada na Academia Militar, em 1984, com o curso de Ciências Militares, especialidade de Artilharia.

O primeiro passo nesta visita guiada foi compreender o que motivou a criação da unidade regimental mais recente do exército português. A sua origem tem como enquadramento legal os Conceitos Estratégicos de Defesa Nacional (CEDN 2013) e Militar (CEM 2014) que expressaram a necessidade de levantamento de uma “capacidade de apoio militar de emergência”, materializada nas missões das Forças Armadas, no Sistema de Forças e no Dispositivo de Forças.
As instruções gerais para a criação e entrada em funcionamento surgiram na diretiva n.º 114/CEME/16, de 10 de agosto, depois da fase de transição em que existiu o Núcleo Preparatório do RAME, entre 2013 a 2016, e que coincide com a extinção das Escolas Práticas e a sua fusão em Mafra na atual Escola das Armas do Exército. A 1 de novembro de 2016, o RAME instalava-se oficialmente em São Lourenço e no dia seguinte o Coronel César Reis assumia o cargo atual.
Até chegar a Abrantes, desempenhou funções de instrutor, comandante de pelotão, chefe de secção, professor, comandante de companhia, secretário, adjunto, delegado e relações públicas em diversas instituições militares como o Colégio Militar, o Regimento de Artilharia Antiaérea de Queluz e o Ministério da Defesa Nacional. Na conversa que tivemos falou-nos do RAME, da Unidade de Apoio Militar de Emergência (UAME) e do trabalho desenvolvido no primeiro semestre que ficou marcado pela visita do Ministro da Defesa Nacional, José de Azeredo Lopes, no dia 19 de abril.

O que faz então com que no quartel de Abrantes nada seja “como dantes”? À semelhança de outros regimentos, o RAME tem concelhos específicos na sua área de responsabilidade, mas é também o regimento que apronta a UAME, uma força que apenas entra em ação quando a Proteção Civil solicita o apoio às Forças Armadas e estas, por sua vez, o pedem ao Comando das Forças Terrestres, investido pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, que acionará os meios militares necessários para intervir em cenários de emergência associados a acidentes graves ou catástrofes.
O COAME – Centro de Operações de Apoio Militar de Emergência está sediado em São Lourenço e funciona em estreita articulação com o centro de operações táticas do Comando das Forças Terrestres, assegurando “toda a estrutura de ligação”. É em Abrantes que se trabalha no sentido de assegurar uma resposta rápida e eficaz através da coordenação dos recursos disponíveis nas 30 unidades com responsabilidade de apoio de área (27 no continente e 3 nas regiões autónomas).

Resposta essa que exige do Comando, Controlo e Comunicações um trabalho prévio com o desenvolvimento de planos de intervenção que prevejam o que deve ser feito quando forem chamados e constante no COAME que permite acompanhar o que se passa a nível nacional. Para César Reis, a questão do comando e controlo é “extremamente importante” para que obter os resultados desejados da “ação complementar integrada” gerida pela Autoridade Nacional de Proteção Civil e que envolve os restantes agentes.
Ao longo do primeiro semestre, acrescenta, trabalhou-se no sentido de adequar os recursos do exército a cada cenário e responder aos riscos estabelecidos como prioritários, conjugando os cenários mais prováveis e os mais perigosos e sem esquecer que outros podem ocorrer de forma inesperada. A lógica de emprego dos meios militares é dual, acrescenta, na medida em estão preparados para serem utilizados em missões militares e intervir neste tipo de situações.
No âmbito da UAME, o RAME assume-se como o “vértice de um conjunto de recursos” do exército que se encontram localizados em todo o país, preparados e treinados através de simulacros. A estrutura modular potencia a rápida mobilização dos meios necessários e permite a adaptação a cada cenário de intervenção, envolvendo as valências de engenharia militar, manutenção e transportes, apoio sanitário e psicossocial, reabastecimento e serviços, segurança e vigilância, apoio ao combate a incêndios, defesa NBQR (Nuclear, Biológica, Química e Radiológica) e busca e salvamento terrestre.

A formação é outra vertente do RAME que o Coronel César Reis destaca. Segundo o comandante, trata-se de “umas das missões mais nobres e relevantes de uma unidade militar e por isso tem de ser gerida de acordo com esta mesma importância” uma vez que incide no “saber fazer” e no “saber ser”. Os formandos que cumprem serviço militar nos regimes de voluntariado e de contrato são preparados através do Curso de Formação Geral Comum de Praças do Exército, seguindo depois para outras unidades militares onde concluem a instrução na parte da especialidade.
Este período de adaptação exige “alguns cuidados acrescidos” por coincidir com “a socialização militar dos jovens que decidem ingressar nas Forças Armadas” e no qual têm o primeiro contacto com o “cerimonial militar”. Além do “dever de memória”, é também uma fase em que são desenvolvidas as dimensões dimensões física, técnica e moral, incutindo valores como a disciplina, a liderança e a resiliência e capacitando os recrutas de competências “transversais” que diz serem uma “mais-valia” para o percurso profissional dentro ou fora da instituição militar e para a vida social.

A atividade dentro dos muros do quartel não se esgota no apoio militar de emergência, nem na formação. Às quartas-feiras e sextas-feiras a Porta de Armas do RAME abre-se para cerca de 25 alunos dos agrupamentos de escolas de Abrantes e Sardoal para sessões de hipoterapia e nos restantes dias, mediante marcação, à população em geral para visitas à exposição permanente “Memórias e Perspectivas da Cavalaria Portuguesa”.
Os adeptos da equitação entram uma vez por ano durante a Competição Nacional Combinada Preliminar (disciplina Concurso Completo), que se realiza no campo de obstáculos da antiga Escola Prática de Cavalaria, criada nos finais do século XIX e desativada em 2013. A próxima prova realiza-se em breve e voltará a reunir cavaleiros das unidades militares do país e dos centros hípicos da região.
Em suma, o ano do centenário da elevação de Abrantes a cidade não foi apenas altura de mudança de calendário. Foi, igualmente, o momento em que o seu quartel militar mudou para acolher a unidade regimental mais recente do país. Por aqui, pouco ou nada está como dantes e a prová-lo estão as palavras do Coronel César Reis, às quais se juntam no vídeo as do Tenente Luís Freire, comandante da Companhia de Formação, do Tenente João Salavessa, adjunto oficial de operações do COAME, e do Capitão Marco Ordonho, chefe de secção de Operações, Informação e Segurança.
Por favor, para pedido de contagem de tempo do serviço Militar, passado na ex colónia de Angola, agradecia o especial favor de me informarem endereço Email do DRM Abrantes