Falar de caminhadas no Entroncamento e até mesmo na região é falar de Pedro Pimenta. Mas quem é este homem que caminha milhares de quilómetros e consegue pôr muita gente a praticar a modalidade? Foi isso que tentámos saber, agora que se assinala o 4º aniversário da atividade “Entroncamento Night Runner’s”. O Município do Entroncamento, através do seu Gabinete de Desporto, em parceria com o CLAC – Clube de Lazer e Aventura do Entroncamento promovem uma caminhada e uma corrida esta quarta-feira, dia 24 de janeiro. A concentração está prevista às 20h15 no Pavilhão Desportivo Municipal e a atividade é dirigida à população em geral e a participação é livre.
Há cerca de 24 anos, Pedro Pimenta veio de Sintra para o Entroncamento por via do casamento e, a pouco e pouco, no princípio com pequenos passeios, foi descobrindo, a pé, a beleza da região sobretudo a zona à beira do rio Tejo. Aderiu ao CLAC – Clube de Lazer, Aventura e Competição e há nove anos passou a coordenar e guiar os passeios pedestres do clube.
“Dá-me prazer levar as pessoas a passear a locais desconhecidos, esteja sol ou esteja chuva”, e chegar ao fim de uma caminhada e ver o ar de satisfação de todos”, confessa o caminheiro de 50 anos que não se cansa de enaltecer as vantagens das caminhadas.
Trabalha como fiscal de obras na câmara de Lisboa, atividade que o obriga também a caminhar bastante, o que faz sempre com gosto.
As caminhadas das manhãs de sábado no Entroncamento começaram com 13 pessoas, mas ao longo dos últimos anos registaram uma crescente adesão ao ponto de virem pessoas de Tomar e de Santarém, por exemplo. Hoje em dia chega a levar 120 a 200 pessoas em cada caminhada. “Como uma árvore que vai ganhando ramos”, o “êxito excecional” das caminhadas resultou na criação de outros grupos de caminheiros na região.

“Uma caminhada é um bom escape”
É visível a satisfação e entusiasmo com que Pedro Pimenta fala das caminhadas. “Dá-me um grande prazer sobretudo pensar que estou a ajudar a saúde das pessoas”. Pedro não tem dúvidas de que “as caminhadas funcionam como terapia e mudam o quotidiano das pessoas porque estas passam a encarar as dificuldades de outra forma”. Além da componente psicológica, é uma forma de combater à solidão, de socialização e de partilhar conhecimentos, sublinha o nosso interlocutor que acrescenta a vantagem de fazer emagrecer. Mas para se perder peso é preciso que a caminhada seja feita de forma mais esforçada, a um ritmo mais acelerado, por exemplo, com o auxílio de bastões. Fala alguém que pesa 100 quilos, apesar de se preocupar com a alimentação. “Mas já pesei mais”, ressalva a sorrir, explicando que tem um problema de colesterol “altíssimo” que o obriga a estar “sempre a mexer”.
Caminhar permite descobrir a natureza e interagir com os outros, por exemplo quando é necessário ultrapassar obstáculos em que há sempre interajuda. Aliás, quando Pedro Pimenta define os percursos e faz o prévio reconhecimento dos terrenos, procura sempre criar obstáculos para que aconteça essa interação entre os participantes e também com o objetivo de criar mais adrenalina na aventura.
Outro aspeto que realça na atividade é que “o impacto a nível muscular é quase nulo”. “Qualquer pessoa pode praticar caminhada”, refere.
Apesar da satisfação pessoal de envolver centenas de pessoas nas caminhadas, em agosto deste ano, Pedro Pimenta pediu à direção do CLAC para suspender por um ano as suas funções como responsável. Isto porque tem um projeto pessoal no qual se está a empenhar: caminhar 100 quilómetros em 24 horas. Outro fator é que pretende dedicar mais tempo à família (casado, tem uma filha de 20 anos que está a estudar).
Para aquela prova continua a treinar pelo menos três vezes por semana, às quartas, sábados e domingos. Aos sábados percorre 15 a 20 quilómetros sem grande esforço. Outras vezes, quando tem mais tempo, caminha 50 quilómetros.
Uma das caminhadas que destaca este ano – “a cereja no topo do bolo” – foi a Rota do Zêzere, entre a Serra da Estrela e Constância em que durante 11 dias os caminheiros percorreram 400 quilómetros, cerca de 40 km/dia.
O CLAC organiza caminhadas mensais em vários pontos do país. Os participantes saem do Entroncamento em um ou dois autocarros e chegados ao destino, fazem a caminhada ao mesmo tempo que vão descobrindo locais aprazíveis e deslumbrantes.
Todas as semanas às quartas feiras à noite o CLAC organiza a prova “Night Runners” (corrida e caminhada) que no início chegou a envolver 200 pessoas. A pouco e pouco os participantes vão ganhando o hábito de caminhar e começam eles próprios a definir os seus horários, calendários e percursos. “O importante é meter o bichinho e depois que caminhem de acordo com a sua disponibilidade”, refere Pedro Pimenta.
O trabalho realizado ao longo destes anos “deu os seus frutos” e hoje em dia “vê-se muito mais gente a caminhar”.
Reconhece que há maior participação de mulheres nas caminhadas mas acrescenta que estas acabam por trazer os maridos, os vizinhos, as amigas numa “bola de neve” que acaba por resultar em convívios, festas de aniversário e outros eventos. “É viral”, assegura.
Além da Rota do Zêzere, Pedro Pimenta destaca na região os Trilhos do Almourol como outro itinerário de referência. Já fez também os “caminhos de Santiago” em troços como de Lisboa a Golegã ou do Entroncamento a Coimbra, em dois dias.
“Caminhar permite descobrir coisas que não se vê de carro”, salienta. A crescente desertificação do interior faz com que os caminhos estejam cada vez mais tapados e aqui os caminheiros têm um papel importante porque ajudam a manter os caminhos abertos, funcionando como vigilantes da floresta.
Todos os anos no início de maio, o CLAC organiza uma peregrinação a Fátima (34 quilómetros), “sempre a fugir ao alcatrão”, com a participação, em média, de 100 pessoas. Foi Pedro que definiu o percurso traçando uma linha reta entre o Entroncamento e Fátima e depois definindo os caminhos mais próximos dessa linha.
A componente solidária também está presente como aconteceu este ano na sequência dos incêndios dos últimos meses. Pedro lançou uma campanha solidária, conseguiu envolver outras pessoas que recolheram bens (alimentos e ração para animais) em três dias e distribuíram na localidade de Álvaro, distrito de Castelo Branco.
Todas estas atividades têm maior visibilidade e adesão graças às redes sociais. Pedro Pimenta faz questão de partilhar sempre as caminhadas e iniciativas no facebook.
Antes de terminar a entrevista, Pedro alerta para a necessidade de uso de equipamento adequado nas caminhadas. A escolha das sapatilhas é muito importante sendo desaconselhável o calçado mais barato porque por norma não tem qualidade. Fazendo as contas, as sapatilhas, de qualidade, podem custar entre 80 a 100 euros, a roupa técnica (que seca a transpiração) custa cerca de 70 euros e os bastões (facultativos) podem ir de 20 a 100 euros cada.