Numa noite eleitoral que fez jus ao título de terra dos fenómenos, o Partido Socialista renovou a liderança na Câmara Municipal do Entroncamento mas perdeu a maioria absoluta (com 32,45% dos votos), com menos de 1% de vantagem perante o Partido Social Democrata – a segunda força mais votada (31,71%) que conquistou mais um lugar na vereação. Os entroncamentenses deram ainda um voto de confiança ao Chega, com a eleição de um vereador para o executivo camarário e a possibilidade de uma coligação PSD-Chega não está descartada. Rui Madeira (PSD) afirma que “está tudo em cima da mesa”, embora Diamantino Graça (Chega) se escuse para já a comentar o assunto.
A confiança dos entroncamentenses no PS mostrou-se tremida com a divulgação dos resultados das eleições autárquicas de domingo. Com a perda da maioria absoluta que detinha na Câmara Municipal e nas duas Assembleias de Freguesia, o PS perdeu eleitos em todos os órgãos autárquicos, numa noite em que a vencedora foi a abstenção – dos 17.012 eleitores inscritos no concelho, apenas 8.454 foram às urnas (o que representa uma taxa de abstenção de 50,31%, superior à de 44,81% registada em 2017).
Mais concretamente, na Câmara Municipal o PS arrecadou 2.743 votos (ou seja 32,45% dos votos contra os 45,43% de 2017) e passou de quatro para três eleitos (Jorge Faria, Ilda Joaquim e Carlos Amaro), na Assembleia Municipal perdeu dois eleitos, à semelhança do que aconteceu na Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima. Já na de São João Baptista perdeu um eleito.
Em reação a estes resultados, o reeleito presidente da Câmara Municipal, Jorge Faria, admite “serenidade para assumir as responsabilidades, sempre em prol da cidade e das pessoas do Entroncamento”, mas não escondeu o lamento pela abstenção. “Lamento que 50% das pessoas não tenham votado, porque a taxa de abstenção foi superior a isso, o que é lamentável”, disse Faria, consciente de que cada um dos eleitos terá de “assumir as suas responsabilidades em resultado daquilo que foram as escolhas das pessoas”.
O autarca mostrou-se ainda surpreendido com o resultado alcançado pelo Chega – que conseguiu eleger um vereador na Câmara. “De facto, é uma situação que não vejo de forma positiva para a cidade, mas as pessoas votaram, nós estamos cá para trabalhar”, disse Jorge Faria que, não obstante a perda de votação, deixa o agradecimento à população que depositou o seu voto no projeto socialista. “Tudo faremos para honrar essa confiança, trabalhar em nome da cidade e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”, disse.
ÁUDIO | Jorge Faria (PS), presidente reeleito da CM Entroncamento:
PSD CONQUISTA TERCEIRO VEREADOR E CHEGA ENTRA NA CÂMARA MUNICIPAL

Na direita, o cenário foi diferente, com o ganhar de terreno por parte do PSD em todos os órgãos autárquicos. Com 2.681 votos (ou seja, 31,71% dos votos – mais do que os 24,97% alcançados em 2017), os sociais-democratas aumentaram a sua posição na Câmara Municipal passando de dois para três eleitos (o mesmo número de eleitos conquistados pelo PS).
Já na Assembleia Municipal, o PSD conquistou mais um eleito, à semelhança do que aconteceu na Assembleia de Freguesia de São João Baptista. Por sua vez, na Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, o partido ganhou mais dois lugares.
Com menos de 1% de distância relativamente ao PS, o PSD mostra “alguma mágoa” por ficar “a uma distância muito pequena de concretizar um dos grandes objetivos destas eleições que era a vitória”, conforme assume Rui Madeira, eleito vereador (assim como os sociais-democratas Anabela Carvalho e Rui Gonçalves).
No entanto, o PSD assume a vitória de outras batalhas, nomeadamente o facto de ter tirado a maioria ao PS. “Temos que agradecer os resultados que obtivemos às pessoas do Entroncamento que mostraram de forma significativa que estávamos num fim de ciclo com o executivo anterior, que o executivo anterior estava de alguma foram desgastado e que optaram por nos dar a sua confiança, por escolher o nosso programa, as nossas propostas, verificaram que nós podemos ser uma alternativa à força política do PS. (…) Esta confiança que depositaram nas nossas propostas é muito gratificante”, disse ainda Rui Madeira, em declarações ao mediotejo.net.
ÁUDIO | Rui Madeira (PSD) eleito vereador na Câmara Municipal:
Outra das surpresas da noite foi a conquista de um lugar na vereação por parte do Chega. Arrecadando 7,18% dos votos, o partido de extrema-direita conquistou ainda três mandatos na Assembleia Municipal, numas eleições em que não apresentou candidatos às juntas de freguesia. Diamantino Graça, eleito como vereador, agradeceu a confiança daqueles que votaram no partido, expressando “a certeza que faremos tudo o que nos prometemos fazer em prol dos entroncamentenses”.
ÁUDIO | Diamantino Graça (Chega), eleito vereador na Câmara Municipal:
Mas a questão levanta-se e é imperativo questionar: vai ou não haver uma coligação PSD-Chega? Rui Madeira (PSD) não descarta diretamente essa hipótese, admitindo ao nosso jornal que “neste momento, está tudo em cima da mesa”.
“Ainda é muito cedo para de uma forma clara dizermos que vamos avançar por esse caminho. É um quadro político local que nunca existiu (…) e não nos vamos precipitar. Vamos pensar, vamos refletir sobre estes resultados, sobre as suas implicações (…) vamos tentar verificar quais os equilíbrios que poderemos estabelecer no próximo executivo, e depois então agir em conformidade”, sublinhou. Diamantino Graça (Chega), por sua vez, admitiu não estar ainda em condições para falar sobre o assunto.

BLOCO DE ESQUERDA PERDE REPRESENTAÇÃO NO EXECUTIVO CAMARÁRIO
Ainda nesta noite eleitoral, o Entroncamento fica marcado pela perda na Câmara Municipal da representação bloquista, com o Bloco de Esquerda a perder o único vereador eleito em 2017. Com 6,72% dos votos, menos do que os 12,21% registados em 2017, o BE ficou atrás do CDS de Pedro Gonçalves (que conseguiu 7,18% dos votos), e apenas à frente da CDU de Telma Jorge (a força política menos votada no concelho, com 5,95% dos votos).
“Os resultados ficaram muito aquém dos nossos objetivos. Foram dececionantes em relação ao nosso programa, às nossas propostas”, disse Álvaro Góis Santos (BE), admitindo ter havido na votação uma “influência grande em termos do que tem sido um movimento nacional de ganhos com propostas populistas de direita, isso notou-se no Entroncamento”.
“Poderemos considerar que [isso] seja um voto de protesto, é difícil de perceber de outra forma”, acrescentou, referindo-se à chegada do Chega à Câmara Municipal, mas deixando a mensagem à população de que o BE não vai deixar de “perseguir aquilo que achamos ser propostas importantes para a cidade e para os munícipes do Entroncamento”.
ÁUDIO | Álvaro Góis Santos, do Bloco de Esquerda:
RESULTADOS ELEITORAIS
Câmara Municipal:
PS – 3 eleitos; PSD – 3 eleitos; Chega -1 eleito.

Assembleia Municipal:
PS – 8 eleitos; PSD – 7 eleitos; Chega – 3 eleitos; BE – 1 eleito; CDS-PP – 1 eleito; CDU – 1 eleito.

Assembleia de Freguesia de São João Baptista:
PS – 5 eleitos; PSD – 5 eleitos; BE – 1 eleito; CDS-PP – 1 eleito; CDU – 1 eleito.

Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima:
PS – 5 eleitos; PSD – 5 eleitos; BE – 1 eleito; CDS-PP – 1 eleito; CDU – 1 eleito.

É triste ver tamanha abstenção. É triste ver o voto de confiança no Jorge Faria esse Senhor que se candidatou se retirou e voltou a ser candidato. É triste ver o voto de confiança naquele que dizia Entroncamento é uma cidade segura e que para as eleições se rendeu as evidências para ter votos.