Rogério Roque Amaro nas "Conversas com Café...". Foto: mediotejo.net

As “Conversas com Café…” regressaram esta sexta-feira, dia 7, à Biblioteca Municipal após o habitual interregno de verão com o tema “Entroncamento – Cidade Inclusiva”. No público estiveram elementos de entidades públicas e sociais do concelho para ouvir Rogério Roque Amaro, docente universitário e investigador nas áreas da pobreza e exclusão social.

O regresso das “Conversas com Café…”, ciclo de tertúlias temáticas promovidas pelo município do Entroncamento na Biblioteca Municipal, após o interregno de verão fez-se com um momento de reflexão e debate sobre a inclusão social. Problemática à qual Rogério Roque Amaro, professor no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, tem dedicado a vasta carreira profissional através da realização de estudos realizados em contextos nacionais e internacionais.

Entre eles encontram-se os que está a desenvolver atualmente, um em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e outro com os municípios de Abrantes, Entroncamento e Tomar, o último focado na etnia cigana e que será apresentado até ao final do mês de novembro. O tema foi referido durante a sua intervenção na tertúlia desta sexta-feira, ainda que a mesma tenha abordado o tema escolhido numa escala mais alargada.

Rogério Roque Amaro partilhou a sua experiência profissional. Foto: mediotejo.net
Rogério Roque Amaro partilhou a sua experiência profissional. Foto: mediotejo.net

A experiência nesta área do investigador nascido em Torres Novas permitiu que o público, maioritariamente constituído por elementos de entidades públicas e sociais do concelho, aprofundasse os conhecimentos sobre pobreza e exclusão social. Duas situações diferentes que agonizam a sociedade atual e foram agravadas pelo contexto socioeconómico global dos últimos anos.

Se o primeiro caso está associado ao indivíduo e a falta de recursos, o segundo abrange a comunidade e implica a quebra dos laços entre o indivíduo e a sociedade. Rogério Roque Amaro destacou a importância dos agentes sociais, técnicos, políticos e da própria comunidade na resolução destes problemas através da adoção de práticas e políticas que, no caso da pobreza, assegurem os recursos necessários e, no caso da exclusão, restabeleçam os laços sociais.

As cadeiras na biblioteca municipal estiveram quase todas ocupadas. Foto: mediotejo.net
No público estiveram elementos de entidades públicas e sociais do concelho. Foto: mediotejo.net

Contrariando o provérbio chinês que diz para ensinar a pescar em vez de dar o peixe, o professor da Escola de Ciências Sociais e Humanas defendeu que “por vezes, temos de começar por dar o peixe” ainda que a ação deva significar “um ponto de partida e nunca de chegada”. A grande questão é o passo seguinte após se ter ensinado a pescar, que passa por “garantir que o rio ou mar tenham peixes”.

A título de exemplo, referiu as atuais políticas de combate ao desemprego focadas no empreendedorismo que são, na sua opinião, “uma armadilha” pois nem todos os desempregados têm perfil empreendedor. Este grupo é um dos vários que a sociedade excluí e Rogério Roque Amaro trabalha ao nível do ser (perda da autoestima), do estar (relacionamento com a família e a comunidade), do fazer (sentir-se útil na sociedade), do saber (infoexclusão), do criar (capacidade de sonhar e ter iniciativa) e do ter (acesso a recursos).

Os café e os bolos estão presentes em todas as sessões. Foto: mediotejo.net
Os café e os bolos estão presentes em todas as sessões. Foto: mediotejo.net

Seis dimensões que podem mudar a sociedade e contribuir para a melhoria de vida de desempregados, imigrantes e refugiados, idosos, pessoas portadoras de deficiência e doenças mentais e minorias étnicas, entre outros. Outro grupo referido foi o das crianças que sofrem uma forma de exclusão social nem sempre considerada como tal e é provocada pelos próprios pais, “workaholics que os vão levar à escola cedo, buscar tarde e os deixam na casa dos avós ao fim-de-semana”.

Em qualquer um dos casos, a resposta de Rogério Roque Amaro para a integração implica trabalhar no sentido de garantir a inserção das pessoas e a inclusão no sistema. Um processo complexo que apenas terá resultados a longo prazo. No caso da etnia cigana, o período abrange duas gerações, sendo a primeira a do professor universitário nascido na década de 50 do século passado.

O presidente do município ofertou uma lembrança ao investigador no final da tertúlia. Foto: mediotejo.net
O presidente do município ofertou uma lembrança ao investigador no final da tertúlia. Foto: mediotejo.net

Foi este grupo social que motivou maior discussão no período em que a palavra passou para o público. As questões focaram-se nas diferenças entre as comunidades cigana e não-cigana e na forma como a primeira é erroneamente considerada “uma vítima” numa sociedade que atribui subsídios “a quem é mais ágil na burocracia e não a quem mais necessita” e cujo respeito pela diferença resulta, muitas vezes, na perpetuação de situações nocivas para os elementos daquela cultura.

Rogério Roque Amaro respondeu de forma sucinta às diversas questões que lhe foram colocadas devido ao avançado da hora. Para o investigador que nunca quis ser “um académico puro”, a exclusão social da etnia cigana é uma questão com mais de cinco séculos e a agressividade muitas vezes apontada a estas pessoas trata-se de um mecanismo de defesa. Um cenário cuja mudança está “em curso”.

A atribuição de subsídios foi desvalorizada com a apresentação dos “baixos valores” do RSI – Rendimento Social de Inserção, não deixando de destacar que “não devemos ser generosos, devemos ser solidários”.

Segundo Rogério Roque Amaro, independentemente do grupo social, existe muito trabalho para fazer por parte de todos os atores sociais de modo a garantir “respostas integradas para problemas e integrados” pois “mesmo que haja apenas uma pessoa a sofrer, não devemos ficar sossegados”.

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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