Luis Forinho, o número dois da lista do Chega à Câmara Municipal do Entroncamento, toma hoje posse, após a renúncia do vereador eleito, Diamantino Graça. Em declarações ao mediotejo.net, a Comissão Política Distrital do Chega admite não quer “tornar a Câmara ingovernável”. Já a presidente da concelhia, Isabel Sousa, assegura que este episódio de renúncia em nada altera “a vontade de trabalhar” da “boa equipa” para os próximos quatro anos.
O anúncio da renúncia de Diamantino Graça, o número um da lista do Chega à Câmara Municipal do Entroncamento, chegou ainda antes da tomada de posse para o mandato 2021-2025, que acontece esta quinta-feira à noite no Cineteatro Municipal do Entroncamento. Na altura, a concelhia do partido Chega apontava “motivos de força maior” para a renúncia, embora o próprio renunciante admitisse ao mediotejo.net que essa é a justificação que tem de ser divulgada, embora “a verdade não seja essa”.
Em declarações à agência Lusa, Diamantino Graça acrescentou esta quinta-feira que “aconteceu algo grave” que o levou a renunciar ao cargo, frisando que nada tem a ver com o partido, mas sim “com pessoas do partido”.
“Não consigo lidar com a mentira, as ameaças, a coação”, disse, sem querer detalhar. Também as várias publicações que o agora renunciante tem feito nas redes sociais têm demonstrado o sentimento de desagrado com a situação.
Diamantino Graça afirmou sentir-se mal para com quem votou em si, frisando que explicou a situação aos eleitores que o contactaram pessoalmente e que o fará igualmente ao presidente do Chega, André Ventura, se este quiser conhecer os motivos na origem da sua renúncia.
O antigo ferroviário afirmou que a sua militância ativa vai depender da existência de um contacto do partido, sublinhando que poderia ter assumido o cargo como independente, mas não o fez.

“Não cuspo no prato onde comi”, declarou, acrescentando estar “de consciência tranquila” e com a noção de que trabalhou “imenso” para que o Chega tivesse o resultado obtido no Entroncamento. “Só posso dizer que se passou algo para eu sair”, afirmou.
Nas eleições de 26 de setembro, o Partido Socialista renovou a liderança na Câmara Municipal do Entroncamento mas perdeu a maioria absoluta (com 32,45% dos votos), com menos de 1% de vantagem perante o Partido Social Democrata – a segunda força mais votada (31,71%) que conquistou mais um lugar na vereação. Os entroncamentenses deram ainda um voto de confiança ao Chega, com a eleição de um vereador para o executivo camarário.
CONCELHIA E DISTRITAL DO CHEGA NEGAM DESENTENDIMENTOS DENTRO DO PARTIDO
Por outro lado, tanto a Comissão Política Distrital como a concelhia do partido negam a existência ou conhecimento de situações de desentendimento que terão levado à renúncia, apontando “motivos pessoais”.
“A renúncia do Sr. Diamantino é algo que, pelas razões que nos foram apresentadas, não podemos controlar e compreendemos perfeitamente (…) resulta de motivos pessoais, como nos foi oficialmente comunicado. No mesmo sentido, o Chega não se revê noutras declarações ou afirmações que venham dar uma outra razão para a renúncia”, adiantou ao mediotejo.net a Comissão Política Distrital do Chega.
Já Isabel Sousa, presidente da concelhia do partido, afimou à Agência Lusa desconhecer qualquer situação com qualquer pessoa do partido que pudesse ter originado a renúncia, frisando que esta lhe foi comunicada com o argumento de um “motivo de força maior”, que associou a questões pessoais.
A presidente da concelhia afirmou encarar esta renúncia “com naturalidade”, assegurando que em nada altera a “vontade de trabalhar” da “boa equipa” do Chega no Entroncamento.
LUIS FORINHO ASSUME LUGAR DEIXADO POR DIAMANTINO GRAÇA
“Não me desviarei da matriz identitária do Chega, assim como farei de tudo para que o nosso programa eleitoral seja executado. Serei um vereador com um mandato de proximidade com a população, de maneira a levar às reuniões do executivo o Entroncamento real, aquele em que os entroncamentenses vivem”. É assim que se apresenta Luís Forinho, de 55 anos, numa apresentação enviada ao mediotejo.net.
Admitindo “seguir com todo o rigor as indicações e normas do partido”, o prestes a ser vereador do Chega na Câmara Municipal do Entroncamento refere que trabalhará “em prol da melhoria da realidade da cidade e sua população, assim como no reforço do número de militantes, de forma a preparar a grande conquista nas próximas eleições”.
A escolha de Luís Forinho mereceu a luz verde da Comissão Política Distrital que assume a nomeação do número dois da lista por reunir “as qualidades necessárias”.
“Vemos que ao nível municipal, com a tomada de posse do Sr. Luis Forinho e com o trabalho da presidente da concelhia, a D. Isabel Sousa, o Chega está cada vez mais coeso, com um grande espírito de solidariedade e cooperação, de forma a que o nosso mandato no executivo seja o melhor e que supere as expectativas dos nossos militantes e apoiantes”, disse a distrital em resposta ao mediotejo.net.
“Não contem connosco para tornar a Câmara Municipal ingovernável, nem para entrarmos no sistema que corrompe Portugal há décadas, viemos para colocar o Município do Entroncamento no mapa do desenvolvimento económico e social”, acrescenta ainda a resposta da Comissão Política Distrital, sublinhando o papel de charneira” que o vereador do Chega vai ter no executivo camarário entroncamentense.
“Cremos que o Chega assume neste momento um dos principais lugares na política do município, sendo aquele que terá o poder de desempatar uma votação. Pode até parecer algo de pouca influência, mas no desenrolar do mandato veremos que haverá muitas decisões que irão depender do Chega”, concluiu.
EX-VICE PRESIDENTE DA CONCELHIA DO CHEGA EXPÕE SITUAÇÃO INTERNA DO PARTIDO NO ENTRONCAMENTO
Procura de protagonismo, ações à margem das normas e desentendimentos com a Comissão Política Distrital. São algumas das situações que fazem parte da história do Chega no Entroncamento desde o início, com a Comissão Instaladora, no verão de 2020. Quem o diz é Rafael Costa, ex-vice presidente da Comissão Política do Chega, que se demitiu em bloco em maio passado.
Em entrevista ao mediotejo.net, o militante do Chega refere que já esperava que esta renúncia por parte de Diamantino Graça “mais dia menos dia ia acontecer”. Embora sem saber os reais motivos que levaram à desistência, Rafael Costa não poupa críticas ao renunciante, defendendo que “se ele fosse uma pessoa vertical ele dizia, doesse a quem doesse, nem que doesse ao doutor André Ventura”.

Dando conta de que Diamantino Graça fora escolhido para número um da lista à Câmara Municipal após insistência de forma indireta por parte da presidente da Comissão Política Distrital do Chega, Manuela Estevão – que recusou outros candidatos apresentados pela concelhia apontando “falta de perfil”, Rafael Costa admite mesmo que na altura “não tínhamos outra hipótese [senão meter Diamantino Graça] porque estávamos a ser indiretamente pressionados”.
O ex-vice presidente da concelhia política do Chega mostrou inclusive ao nosso jornal o email enviado pela concelhia à distrital aquando da demissão em bloco, documento no qual consta a assinatura de Diamantino Graça (bem como os nomes de Roberto Pinto, Fernando Correia, Rafael Costa e Rafael Martinho). Após essa demissão, Diamantino Graça surge ao lado de André Ventura enquanto representante do Entroncamento no Congresso Nacional, em Coimbra.
Quanto a Luis Forinho, que vai agora assumir o lugar de vereador, Rafael Costa refere que “conseguiu, através de Diamantino Graça, aquilo que queria”.
“Garanto a 90% que ele não vai cumprir os quatro anos de mandato, por vários motivos que não posso dizer agora aqui”, acrescenta Rafael Costa, que termina: “Isto não vai dar nada e é triste que daqui a quatro anos o partido Chega tenha perdido muito daquilo que já teve no Entroncamento”.
C/LUSA