Danny Luís: um talento escondido no design de relógios. Foto: DR

Chama-se Danny Luís, é um discreto designer na Câmara do Entroncamento, mas o seu talento e trabalho criativo na criação de relógios para marcas famosas tem projeção internacional, tendo alcançado a posição de designer oficial do maior grupo internacional de colecionadores de relógios (Divers Watches Group). A sua mais recente criação surge em plena pandemia. É o relógio “Field Medic”, para a reputada marca de relógios BOLDR, criado em colaboração com um amigo médico na Índia, que por sinal, está na linha da frente no combate ao vírus.

Este “Medic Watch” tem como público alvo médicos, enfermeiros e paramédicos, mas um nicho de mercado que anda sempre à procura destas novidades exclusivas e normalmente em edição limitada: os colecionadores.

A pouco e pouco, o trabalho deste designer do Entroncamento começa também a ser conhecido e reconhecido em Portugal. Um bom pretexto para uma conversa com Danny e para ficarmos a conhecer o seu percurso profissional, o seu processo criativo e a sua paixão pelos relógios.

Danny Luís, 40 anos, nasceu em Esch-sur-Alzette, no Luxemburgo, país onde os seus pais estavam emigrados. Regressam definitivamente a Portugal ainda Danny era uma criança. Cresceu em Vila Nova da Barquinha mas a sua adolescência foi passada no Entroncamento, onde fez o percurso escolar e onde já na altura pensava residir.

Desde miúdo que revelou paixão pelo Design de Produto, nomeadamente o Automotive Design, chegando a ter uma pequena ligação à École Espera Sbarro, escola de formação de tecnologia automóvel.

Danny mostra a sua mais recente criação. Foto: DR

Mas foi em Portalegre que fez a sua formação académica na vertente de Design Gráfico. O fascínio por desenhar coisas, em particular criar novos objetos ou renovar objetos já existentes dotando-os de novas funcionalidades é algo que já vem de tenra idade.

“Lembro-me de observar e analisar o mais variado tipo de objetos e pensar: “o que é que tu poderias fazer mais para além disto?” ou de criar designs arrojados de automóveis e motos e é curioso que a entrar nos 40 dou por mim a usar sketches e ideias que desenhei há cerca de três décadas”, recorda Danny, que confessa ter caixas de velhos sketchbook’s por todo lado.

Passou por várias áreas profissionais mas o Design esteve sempre consigo. Como Designer, a sua carreira iniciou com um breve estágio no Município de Vila Nova da Barquinha. Daí saltou para o Cartaxo para o atelier de Design Gráfico e Editorial A.R.D. Cor, onde criava design editorial para as mais variadas editoras Portuguesas.

Passou dois anos no Mercado do Escritório em Abrantes como Designer Gráfico de Interiores e Produto. Seguiram-se cerca de quatro anos como Professor na Escola Profissional Gustave Eiffel no Entroncamento e no Agrupamento de Escolas de Vila Nova da Barquinha, sempre na área das artes e do design, experiência que considera “enriquecedora”. Em paralelo sempre trabalhou como Designer freelancer até surgir a oportunidade de regressar ao Município de Vila Nova da Barquinha.

No início deste ano surgiu “uma inesperada oportunidade de abraçar este desafio que era também como um velho desejo, de trabalhar no design e grafismos da minha Cidade, no Município do Entroncamento”, onde se encontra atualmente.

O seu trabalho na Câmara Municipal do Entroncamento vai desde a produção de imagens de suporte para as publicações do Gabinete de Comunicação, passando pela foto-reportagem, até à criação de identidades gráficas para os mais variados fins, e produção gráfica/ audiovisual para conteúdos vídeo e web. “É uma equipa fantástica que me recebeu muito bem”, faz questão de realçar.

A sua paixão pelos relógios já vem da adolescência. Foto: DR

O fascínio pelos relógios

A relojoaria foi “um bichinho” transmitido pelo seu pai. O seu gosto por relógios peculiares levava-o a sorrateiramente usá-los no dia-a-dia. Restaurar relógios passa a ser um hobby e é precisamente quando recorre à ajuda de um relojoeiro no Chipre para restaurar uma peça que dá por si num concurso internacional de design que lhe abriu as portas a este mundo da relojoaria, com um 1º lugar entre mais de 2 mil candidatos que culmina na sua nomeação para Designer Oficial do maior grupo internacional de colecionadores de relógios (Divers Watches Group).

Desta nomeação fazia parte a criação de algumas edições limitadas com várias marcas o que lhe trouxe a experiência e os conhecimentos. Este reconhecimento internacional permitiu que Danny continuasse a colaborar com diversas marcas até hoje.

Quando lhe perguntamos se o relógio passou a ser mais um objeto de ostentação e não tanto utilitário, uma vez que os telemóveis substituem-no, o designer reconhece que “para muitos, o telemóvel e os chamados “smartwatches” vão de facto substituindo o relógio conhecido como analógico. Como um instrumento de precisão e medição, e não só de tempo, na minha opinião a tecnologia nunca conseguirá sobrepor-se ao relógio mecânico, pois falha com muito mais facilidade”.

E dá alguns exemplos: para um mergulhador, no caso de avaria no computador de mergulho, a sua salvação pode passar pela leitura do tempo restante de oxigénio no relógio. Para muitos profissionais, quer na área da medicina, aviação, náutica ou desporto, pode representar uma importante e útil ferramenta. Acaba por concordar que “para muitos colecionadores vai um pouco à ostentação” e confessa que já viu gastar-se uma fortuna num relógio sem saber usar as suas funções.

“Um vicio saudável”

É com à-vontade que Danny nos fala dos diferentes segmentos na relojoaria. “Temos os “fashion watches”, “vintage watches” ou “tool watches” entre outros. Em alguns segmentos como “fashion watches” ou “luxury watches” verificamos uma maior ligação à moda e alguma (muita) ostentação, já nos “tool watches” procuram-se necessidades mais específicas. Em qualquer dos casos, é sempre um objeto de coleção”. Danny costuma dizer que “é um vicio saudável para o qual não existe terapia”.

Ao contrário do que possa pensar, os relógios não são objetos predominantemente masculinos.

“Muito pelo contrário, vemos surgir cada vez mais mulheres no meio dos colecionadores, e não se pense que usem apenas linhas femininas, a maioria coleciona e usa no seu dia-a-dia peças que seriam vulgarmente caracterizadas como “masculinas”. Nós mesmo encorajamos a que as mulheres mostrem o seu gosto pela relojoaria”, revela.

Sem conseguir precisar uma data aproximada, Danny começou a desenhar relógios sempre muito focado na indústria automóvel e relojoeira ainda na pré-adolescência. Mas o primeiro “concept render” que criou foi o Tag Heuer Monaco Minimalist em 2015. “Infelizmente não passou da fase concept, mas para mim marcou o início deste percurso mais a sério”, confessa.

Mas como funciona o processo criativo de relógios?, perguntamos.

“Depende muito se o projeto parte de iniciativa minha ou da marca, mas uma coisa é sempre certa, nunca começo a trabalhar nada num computador sem analisar bem primeiro o que pretendo criar, e anotar todos os pontos essenciais ou que quero dar mais foco. De seguida, sempre, mas sempre, muito “lápis e sketchbook””, explica. Considera que nenhum computador ou software traz criatividade.

“Se não se conseguires criar ou desenhar à mão primeiro, não o vais conseguir num computador, como eu sempre disse aos meus alunos “já existiam designers muito antes de existirem computadores”!”, sublinha. Voltando ao processo criativo, numa última fase passa-se do sketch ao design em vetores e aos chamados renders (imagens com fotorealismo em 2D ou 3D) com recurso ao computador.

Nem sempre o meu trabalho envolve a criação integral do relógio, por vezes as marcas reutilizam o design da “case” (caixa/corpo do relógio) para reduzir custos e tempo na prototipagem e produção ou apenas porque o design foi bem sucedido, pelo que por vezes alguns projetos apenas requerem o design do “dial” (mostrador) e “caseback” (tampa da caixa).

No seu percurso pelo universo da relojoaria já colaborou com marcas como a Marc & Sons, Aquadive, Doxa, Borealis, Prometheus, BOLDR e Mitch Mason.

Algumas são marcas históricas como a DOXA, que se tornou célebre no pulso de celebridades como o explorador Jacques Cousteau, o ator Robert Redford e nos livros do autor Clive Cussler no pulso do célebre herói Dirk Pitt (dos livros e do filme “Sahara”).

No caso da Borealis e Prometheus, Danny explica que são duas “micro-brands” de topo Portuguesas cujas edições costumam esgotar em semanas. A minha maior ligação tem sido, no entanto, com a BOLDR, micro-brand de topo no seu segmento com uma filosofia muito jovem e sempre disposta a apostar e explorar novos desafios, uma marca de referência com a qual colabora há cerca de dois anos.

O sonho de lançar a sua própria marca

Parte destas marcas lançaram as tais edições limitadas no grupo para o qual Danny foi nomeado Designer Oficial. A experiência de trabalhar com o grupo internacional de colecionadores de relógios e os resultados que se conseguiram tornaram possível esta continuidade na ligação, hoje em dia já são as marcas que o procuram, o que considera “magnifico”.

Para que as pessoas fiquem a conhecer o seu trabalho, Danny Luís faz questão de convidava os leitores a visitarem o seu portfólio na página: www.facebook.com/eschdesign

Das suas criações, salienta as que mais o orgulham. O concept que não chegou à produção (ainda) da Parker Vector II (sim, ele também tem o vício das canetas), a Moto-Guzzi “OTTO”, o “Chameleon” da Marc & Sons, o “Globetrotter” da BOLDR, e destaca o seu mais recente projeto com a BOLDR, o “Field Medic” criado com o nobre objetivo de ajudar os médicos e fundações sem fins lucrativos no combate a esta crise pandémica da Covid-19.

Da lista de prémios de design que já conquistou consta o do concurso internacional de design para identidade gráfica do Divers Watches Group, finalista no Yamaha Yardbuilds “SR400” Challenge e distinção pela HOREX pelo seu projecto “ESCH/Horex VR-6 Carbon”.

Os relógios criados por si, variam de preço consoante os mecanismos e especificações que têm. Podem ir desde os 300 euros aos mais caros onde trabalhou que foram vendidos por 1.250 euros. Estes eram uma edição limitada de apenas 25 unidades da DOXA, que esgotou num quarto de hora!

Quanto ao público-alvo dos seus relógios, comercializados online maioritariamente por “micro-brands”, Danny fala numa “enormíssima legião de fãs”. “O público são sempre sobretudo colecionadores, e para tal talvez pese muito o facto de se tratarem quase sempre de edições (muito) limitadas e exclusivas”, concretiza.

Como em qualquer outro negócio, o segredo faz parte da estratégia, até porque Danny já foi vítima de plágio mesmo com um “concept” que já estava registado. Por isso, e porque se trata de “um segmento muito sensível neste aspeto”, há que manter em segredo os seus futuros projetos.

Mas dos seus sonhos faz parte criar nem que seja apenas um projeto com cada uma das suas marcas preferidas (Yema, Tag Heuer, Tissot), e lançar a sua própria “micro-brand”. “Quem sabe um dia”, conclui.

José Gaio

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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1 Comentário

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