Coronel Arlindo Neves Lucas, Comandante do RMan. Foto: mediotejo.net

Em setembro de 1993, a Porta de Armas da então Escola Prática de Serviço de Material recebia o Tenente Arlindo Neves Lucas pela primeira vez e viria a tornar-se elemento constante do percurso militar marcado por regressos à unidade localizada no Entroncamento. Volvidos 25 anos, a 9 de outubro de 2018, o agora Coronel de Material voltou mais uma vez, trazendo consigo o sentimento de “honra” e o “peso da responsabilidade” associados ao novo cargo de Comandante do Regimento de Manutenção (RMan).

Até à primeira passagem pela cidade ferroviária, a vida do atual responsável máximo pelo Regimento de Manutenção do Entroncamento (RMan) fez-se no distrito da Guarda. As memórias mais antigas incluem os caminhos da Serra da Estrela que o Coronel diz ter começado a percorrer “desde muito cedo”, assim como os acampamentos na Lagoa do Vale do Rossim e a vista do miradouro do Vale das Éguas.

A estas aventuras de infância e juventude juntaram-se outras das voltas de bicicleta com os amigos e das atividades realizadas nos Escuteiros. À espera estava sempre a casa da família em Manteigas que conhece desde que nasceu, em 1965, e onde cedo revelou à mãe que queria ser “médico do coração”. O mesmo lar recebia-o no final dos dias da escola que a partir do décimo ano passou a ser a Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda.

As saídas profissionais ligadas à Saúde direcionaram-no para Cientifico-Natural. O Português e a História de que também gostava não ficavam esquecidos, mas seriam as disciplinas de Matemática, Física e Química as eleitas no 12º ano. Chegava uma nova fase e a escolha pela Academia Militar avivava as cores das fotos antigas dos avós paterno e materno, ambos militares.

Coronel Arlindo Neves Lucas durante a entrevista no seu gabinete. Foto: mediotejo.net

A opção possibilitava conciliar os estudos com o gosto pelo futebol que fez a bola passar-lhe pelos pés em diversos jogos, como os da distrital da Guarda. Concorreu em 1984 motivado, igualmente, por “querer prestar serviço à Pátria” e acabaria por escolher o Serviço de Material com o objetivo de ser engenheiro mecânico.

Outro motivo apontado pelo Coronel terão sido os valores familiares, como a disciplina e a vertente humana, que a experiência do Escutismo reforçou. A última é associada ao cargo que assumiu oficialmente há pouco mais de quatro meses no RMan: “procuro exercer a minha ação de comando com muito humanismo”, pois “antes de tudo, somos seres humanos. Nascemos todos iguais e vamos morrer todos iguais”.

O tirocínio para oficiais foi feito quando a Escola Prática de Serviço de Material ainda se localizava em Sacavém e em setembro de 1993 passou a sediar-se no Entroncamento. O então Tenente Arlindo Neves Lucas passava a porta do atual RMan pela primeira vez com a missão de comandar uma companhia de instrução, passando depois pela Direção de Estudos de Instrução e o comando de uma companhia de Manutenção de Material Auto.

Regimento de Manutenção, no Entroncamento. Foto: mediotejo.net

O ano de 1993 foi duplamente simbólico devido ao casamento e início da vida em família que se foi fazendo cada vez mais próxima do RMan. Começou com a mudança, em 1996, para o concelho vizinho de Vila Nova da Barquinha e, mais tarde, para o do Entroncamento. Atualmente, as viagens fazem-se entre a casa de Coimbra e a unidade militar à qual foi regressando ao longo dos anos “porque gosto”, afirma.

Entre as várias saídas e regressos andou pelo país e o estrangeiro para alimentar a sua sede de conhecimento e contrariar a sensação de que “vivemos muito pouco, a vida é muito curta”. O atual Comandante do RMan defende que “devíamos viver 500 anos” e assume como postura de vida sermos nós a passar por ela e não ela a passar por nós.

Esse caminho levou-o além-fronteiras e, em trabalho, passou pelo quartel-general da NATO na Bélgica, pelos Estados Unidos durante o curso de Logística, como docente no Instituto Superior de Estudos Militares em Luanda (Angola) e pelo Brasil no Curso de Estado-Maior. Regressou ao primeiro local em 2013 para uma missão de três anos da NATO em que foi adjunto do representante do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas no Supreme Headquarters Allied Powers Europe (SHAPE).

Viagens que foi intercalando com as do território nacional, nomeadamente rumo ao atual Instituto de Estudos Militares, onde fez os cursos de promoção a oficial superior e de Estado-Maior, a par da docência da cadeira de Investigação Operacional e Logística, em 2003. Outro destino foi a divisão de Logística do Estado-Maior do Exercito na qual foi colocado como Capitão na Repartição de Cooperação Militar e Alianças e, mais tarde, fez estágio na Repartição de Estudos.

Coronel Arlindo Neves Lucas na tomada de posse. Foto: Exército Português

Os regressos ao RMan foram-se sucedendo, em 1999, 2001 e 2010, o ano em que transpõe a Porta de Armas como 2º Comandante. Antes da entrada oficial como Comandante, a 9 de outubro de 2018, a carreira militar ainda lhe reservava passagem pelo Gabinete do Vice-Chefe de Estado-Maior do Exército, a Academia Militar enquanto regente, e o Ministério da Defesa Nacional como assessor, em 2016.

No ano em que se assinalavam 25 anos do seu percurso no RMan, o Coronel Arlindo Neves Lucas assumiu a responsabilidade máxima da unidade militar que conhecia bem e considera ter “muito potencial”. A nomeação foi encarada com “honra” por se tratar da “unidade que queria comandar”, à qual se juntou o “peso da responsabilidade”.

O Comandante salienta estar entregue à sua nova missão de “de corpo e alma, com muito empenho” e defende que “a nossa obrigação é deixar sempre melhor tudo o que encontrámos”. A gestão de recursos assume um papel de relevo neste processo e os humanos são apontados como a sua primeira prioridade, sobretudo no que respeita ao seu bem-estar.

Regimento de Manutenção, no Entroncamento. Foto: mediotejo.net

Esse, por sua vez, está associado à segunda prioridade, a segurança das cerca de 240 pessoas, militares e civis, que passam grande parte do seu dia-a-dia no RMan. A terceira prioridade indicada é a gestão global, envolvendo os recursos materiais e financeiros, sem esquecer a otimização dos processos para, segundo o Comandante, tornar o RMan “num regimento de referência”.

As expetativas de futuro passam pela possibilidade de melhorar as condições das infraestruturas e dos postos de trabalho que permitam “produzir mais manutenção com qualidade” nas três das quatro companhias de manutenção do Exército que o RMan engloba – a quarta está localizada na Brigada Mecanizada, no Campo Militar de Santa Margarida, em Constância.

O Coronel tem consciência de que existe “um grande caminho a percorrer” e o desafio é assumido quando sublinha que “todos nós vamos sentir-nos melhor e contribuir com o nosso empenho, força, dedicação e disponibilidade para que possamos ajudar o Exército a tornar-se mais credível, mais moderno e mais atrativo, com elevada prontidão e competência”.

Presentes estarão os valores pelos quais diz que os militares se pautam, nomeadamente a disponibilidade, disciplina, honra, lealdade e coragem. Para o Coronel Arlindo Neves Lucas ser militar é “ser um cidadão como outro qualquer, mas com esta responsabilidade acrescida, pautando-se por estes valores que nos distinguem”.

A missão, diz, é “nobre” e conclui sublinhando que “o militar existe para haver a paz, não para fazer a guerra”.

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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