A cerimónia solene comemorativa do 44º aniversário da Revolução dos Cravos realizou-se esta quarta-feira, dia 25, em frente ao edifício dos Paços do Concelho. Às palavras das músicas entoadas pela Associação Concórdia Música e dos poetas citados ao longo da manhã juntaram-se as dos políticos. O 25 de Abril foi recordado como uma conquista importante, mas cujos valores estão longe de ser totalmente cumpridos.
O programa comemorativo do 25 de Abril no Entroncamento começou no início desta semana com atividades infantis na biblioteca e o concerto do grupo “Vozes da Rádio” na noite de terça-feira, no Centro Cultural. Para o feriado ficou reservado o momento oficial no Largo José Duarte Coelho, enquanto se corria na Corrida da Liberdade junto ao Pavilhão Desportivo Municipal.
O hastear das bandeiras, em que participou a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento (AHBV), foi acompanhado pelo Hino Nacional com as vozes da Associação Concórdia Música e os instrumentos da Associação Filarmónica e Cultural do Entroncamento. O coro continuou a sua atuação com temas alusivos à data comemorada e seguiu-se a declamação do poema “25 de Abril, Cidade do Entroncamento 2018” por Mário Rodrigues.

As palavras de Zeca Afonso, de José Gomes Ferreira (autor da letra do tema composto por Fernando Lopes Graça) e de Mário Rodrigues deram então lugar às dos representantes das forças políticas com assento na Assembleia Municipal do Entroncamento. Telma Jorge (CDU), fez a primeira intervenção, seguida das de Pedro Gonçalves (CDS-PP,) Fátima Roldão e Henrique Leal (BE), Manuel Faria (PSD) e Manuel Martins (PS).
Da esquerda à direita, todos os partidos destacaram a importância da Revolução de 25 de Abril 1974 para o desenvolvimento do país sem deixar de apontar que, apesar das conquistas a diversos níveis, os valores de Abril estão longe de ser totalmente cumpridos. Consensos à parte e as diversas cores políticas acabaram por também se distinguir do vermelho dos cravos oferecidos ao público presente.

Telma Jorge destacou o contributo comunista no processo revolucionário e nas conquistas sociais e afirmou a necessidade de rotura com as políticas que levaram à situação atual do país. Pedro Gonçalves fez o discurso mais crítico no qual salientou que a revolução ocorrida há 44 anos não tinha como objetivo a Liberdade, mas “uma verdadeira democracia” deturpada por interesses próprios.
O BE fez uma intervenção menos convencional que levou o público numa “viagem pelo mundo” através das palavras de poetas, como Miguel Torga ou Wystan Hugh Auden, que terminou num Entroncamento onde “o capitalismo cego tenta engolir a nossa EMEF” e integrado numa região com “caos” em alguns serviços de urgência das unidades hospitalares.

No seu discurso, Manuel Faria apelou ao respeito das singularidades de cada um. A nível nacional, apontou a inércia do governo e dos “partidos que o apoiam” e, a nível local, criticou as más condições da esquadra da PSP e da estação ferroviária. Manuel Martins também deixou um apelo, o da preservação da memória coletiva para perpetuar os valores conquistados e fez referência à evolução do país, onde também aumentou entretanto o “fosso entre ricos e pobres”.
A palavra passou para Jorge Faria, presidente da Câmara Municipal, que partilhou onde estava no 25 de Abril de 1974, ou seja, ia de comboio a caminho da escola secundária para fazer um teste. A revolução, disse, tornou Portugal num país com mais justiça, solidariedade, liberdade e direito democrático. O mesmo país onde o poder local é importante, destacando a transferência de poderes para os municípios que, na sua opinião, não é acompanhado pelos meios financeiros adequados.

A última intervenção foi do presidente da Assembleia Municipal que recordou “os dias cinzentos” e do “silêncio desconfiado” e deixou uma homenagem aos militares e civis que lutaram. Para Luís Antunes, a democracia conquistada perdeu “qualidade” devido aos interesses próprios, aos “debates ruidosos e sem conteúdo” e a uma cultura de massas assente na futilidade.
Uma vez concluídas as intervenções, foi feita a largada de pombos e o público seguiu para o Centro Cultural, onde teve lugar a palestra “A Medalha Digital” com Vítor Santos, no âmbito da exposição “A Medalha e o 25 de abril” do escultor João Duarte. Ambos ofereceram medalhas aos presidentes da Câmara e Assembleia municipais. A mostra com trabalhos do escultor foi inaugurada de seguida e fica patente no Centro Cultural até 20 de maio.
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